• Nenhum resultado encontrado

A Constituição Federal de 1988, no artigo 206, Inciso VI, instituiu o princípio da “gestão democrática do ensino público” (BRASIL, 2009). Esse princípio da gestão democrática passa a ser pauta de discussões entre educadores como sendo uma alternativa para melhoria da qualidade da educação pública no Brasil.

A complementação deste princípio ocorre em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 9394/1996). O artigo 14 define que:

Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996).

Além disso, no artigo 15, da LDB determina que

Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público (BRASIL, 1996).

Tais princípios impulsionaram mudanças significativas na perspectiva das políticas públicas na área da gestão escolar, pois passou a haver a possibilidade de cada estabelecimento de ensino elaborar o seu projeto político-pedagógico, constituir colegiados, dentre outras prerrogativas, que ensejam a gestão democrática na escola pública.

Após esta abertura para a possibilidade da participação na gestão das escolas, a partir da década de 1990, as políticas públicas em educação, em consonância com a reforma de Estado passam a incentivar a implementação de novas práticas de gestão de unidades escolares. Segundo Dourado (2007), neste período verifica-se uma emergência de programas e ações orientadas pelo governo federal aos estados e municípios para cumprir metas e objetivos considerados urgentes na Educação Básica.

Em 2001 é lançado o Plano Nacional de Educação (PNE) que traz orientações acerca da gestão democrática. Estabelece como um dos objetivos

A democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 2001).

Essa concepção de gestão definida na legislação educacional, recorrente na literatura atual, valoriza a participação dos atores envolvidos no processo educativo. Assim, as pessoas que vivenciam o cotidiano escolar – diretor, vice-diretor, coordenador pedagógico, professores, funcionários, representação de alunos e de pais – são considerados sujeitos sociais que podem usufruir do princípio da gestão da escola, com o poder de se envolver, acompanhar os processos de tomada de decisão.

O princípio da participação possibilita envolvimento das comunidades escolar e local no planejamento e nas tomadas de decisões na escola. A participação é vista como o carro-chefe que pode viabilizar uma gestão democrática na escola. De acordo com Hora (2007, p. 49),

[...] a possibilidade de uma ação administrativa na perspectiva de construção coletiva exige a participação de toda a comunidade escolar nas decisões do processo educativo, o que resultará na democratização das relações que desenvolvem na escola, contribuindo para o aperfeiçoamento administrativo-pedagógico.

Nessa perspectiva, a gestão escolar assume características que podem favorecer o compartilhamento de responsabilidades nas tomadas de decisões na instituição de ensino. A equipe gestora passa a dividir as responsabilidades a partir do momento em que os sujeitos se envolvem na gestão. O contrário desse modelo de gestão democrática tem características de centralização na figura do gestor, normalmente, indicado mediante relações político-partidárias, o qual determina as normas e o funcionamento da instituição, sem favorecer a uma efetiva participação da comunidade local.

É importante salientar que, no processo de implementação das políticas, neste caso orientado pelo princípio da participação, suas ações se materializam segundo as configurações que se estabelecem nas relações dos sujeitos nas escolas.

O modelo de gestão democrática tem um componente político que perpassa as decisões coletivas na escola e envolve as relações entre os sujeitos escolares. A participação como um componente do processo político, por sua vez implica em disputa de poder, significando também a possibilidade de busca por consensos nas tomadas de decisão (perspectiva democrática), e que pode se materializar em transformações da escola à luz de compreensões do âmbito local.

Considerando a importância desse componente político nas práticas de gestão, alguns autores afirmam que este modelo repercute na melhoria da qualidade do ensino nas escolas públicas. Nesse sentido, Paro (2006), ao defender uma concepção de gestão escolar afirma:

[...] uma gestão de escolas estruturada em bases democráticas, fundada na participação da comunidade, terá maiores facilidades de

conseguir a adesão de parcelas significativas dos pais de alunos, para atividades culturais que visem à reflexão mais profunda dos problemas educacionais de seus filhos, e que lhe propiciem, ao mesmo tempo, a apreensão de uma concepção de mundo mais elaborada e crítica (PARO, 2006, p.155).

Verifica-se que para este autor, o conceito de participação adquire centralidade no processo de democratização das escolas. É por meio da participação que a instituição escolar se instrumentaliza para decidir sobre seus rumos. É com a escolha dos diretores e com a criação de colegiados formados tanto por pessoas da comunidade escolar (diretores, vice-diretores, professores, alunos e funcionários) quanto da comunidade local (pais de alunos, movimentos populares, associações de moradores, clubes de mães, grupos culturais), que os sujeitos, na escola, podem se tornar co-responsáveis pela gestão, tendo em vista o cumprimento dos processos pedagógicos da instituição de ensino (PARO, 2006).

Nesse sentido, vê-se a importância de se estudar como a gestão pode contribuir para uma escola de qualidade, nesse caso específico, em instituições de ensino do sistema municipal de Salvador. Para tanto, serão apresentadas a seguir, as determinações e orientações para a gestão escolar na atual política deste sistema de ensino.

2.3 AS ORIENTAÇÕES PARA OS PROCEDIMENTOS DE GESTÃO ESCOLAR NO

Documentos relacionados