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1. EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO: O VALOR DO SOCIAL NO JUDICIAL 24

1.2 A gramática sistêmico-funcional de Halliday: formalização da linguagem em Bateson 28

As idéias de Bateson sobre formalização da linguagem, as operações mentais, bem como o apoio que une a teoria dos sistemas à lingüística, em suas obras, remontam ao que Mathiessen e Halliday chamam de Gramática sistêmico-funcional. Esta última, preocupa-se, dentre outras coisas, com a ideologia do discurso e cuja premissa, segundo Fowler (2004), é que em lingüística, a função determina a forma, pois para Mathiessen e Halliday, a “Gramática é um subsistema de uma linguagem, especificamente um sistema de palavras de uma linguagem” (Systemic Functional Grammar)6, e esse subsistema se utiliza de símbolos que possuem uma referência abstrata – as idéias que representam.

A gramática, inclusive, insere valor e, nesse sentido, ela é função, pois na relação argumento e valor há a função. Então, sistema e função dizem respeito à utilização das estruturas e organizações gramaticais (sistema) por alguém e para algum propósito (função) dentro do processo de comunicação. Nesse sentido, gramática e semântica se conectam.

A relação entre a gramática e outros sistemas de comunicação pode ser mapeada entendendo-a como recurso para criação de significados através de símbolos, como são as palavras. Como assim? Esclareço: o uso convencional da gramática corresponde ao conjunto de regras que orientam o nosso falar e a nossa escrita. Trazendo esse raciocínio ao direito, pode-se pensar o direito como sistema de normas que definem comportamentos sociais.

Nesse sentido, ambos os conjuntos (tanto o de regras da fala e da escrita, quanto o do agir social) referem-se a uma normatividade e esta, por sua vez, está relacionada a outras referências. Assim sendo, a semântica, por exemplo, serve de referência ao conteúdo da gramática, da mesma forma, a sociologia se apresenta como ciência referencial para o direito,

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A referência é: MATTHIESSEN, Christian; HALLIDAY, M. A. K. Systemic Functional Grammar: a first

step into theory. Disponível em: http://minerva.ling.mq.edu.au/resourse/VirtuallLibrary/Publications/sfgfirststep/SFG>Acesso em: 23/05/2007.

pois o social também é normativo, e a vida em sociedade produz várias formas de controle e padrões de comportamentos.

A relação entre gramática e semântica é estreita. Considerando a teoria sistêmico- funcional, a gramática passa a ser entendida como ferramenta para criação de significado. Além da semântica, a sintática também serve de referência, só que organizacional, para a gramática.

Há dois dentre três campos em que a gramática pode atuar. Um é o campo ideacional (campo das idéias) e o outro é o textual (campos do texto ou discurso). A primeira dimensão do quadro tridimensional de análise proposto por Fairclough (apud HALLIDAY; MATHIESSEN, 2007) é a análise textual, que usa o aparato da Lingüística Sistêmico- Funcional (LSF) de Halliday (2007).

A criação de significado, no entanto, conta com o que Halliday chama de estratégias semânticas. Essas estratégias dizem respeito ao uso de recursos gramaticais que nos ajudem a expressar uma função de palavra (ordem e significado de palavra). Isto é, na escolha do modo gramatical (indicativo, imperativo, condicional) que iremos usar para nos expressarmos, encontramos os recursos que indicam o significado do que vamos dizer. Essa escolha é realizada estruturalmente, segundo Halliday, e o modo gramatical funciona como subsistema de referência para a gramática.

De início, poderíamos chamar a gramática de Halliday de funcional, pois ela está baseada no argumento de que os componentes essenciais do significado na língua seriam componentes funcionais. No entanto, firmou-se, em português, a expressão “gramática sistêmico-funcional” porque a proposta de Halliday foi a de identificar a gramática com uma organização de categorias estruturais da língua, e ao mesmo tempo com um modelo de descrição das funções exercidas por estas categorias. É sistêmico porque visualiza a gramática como um sistema de escolhas potenciais, cuja motivação não é aleatória ou

arbitrária, e ao mesmo tempo, é funcional, porque busca explicar as implicações comunicativas das escolhas feitas dentro desse sistema.

Assim, a gramática sistêmico-funcional envolve funções altamente generalizadas (meta-funções), quais sejam: a função interpessoal, a ideacional e a textual, as duas primeiras, “apontam na direção de dois fenômenos lingüísticos, o ‘mundo social’ e o ‘mundo natural’(...) Portanto, construímos um modelo do que cada um pode na ação (ideacional), e estabelecer quem dá as ordens a quem (interpessoal)” (MATTHIESSEN; HALLIDAY). E, a relação que estamos esboçando no âmbito comunicativo é interpessoal, pois envolve a expressão do campo ideacional no mundo concreto através da palavra. Essas estratégias vão da adulação até persuasão (campo da retórica).

Então, o modo gramatical é comumente relacionado à intenção do falante ou emissor. A intenção está no plano ideacional, e, embora pese na relação entre o que se diz e o que se quer dizer, essa ligação nem sempre é perfeita. Mas, a função do modo é indicar o significado ou sentido daquilo que se diz. Em português os modos que utilizamos são o indicativo, o condicional e o imperativo.

Na construção da linguagem vão ocorrendo escolhas de modo ou tipo gramatical, bem como do tempo, forma positiva ou negativa de declaração, e outras peças do quebra- cabeça, que envolvem dezenas de aspectos de formação de conteúdo. Em outras palavras, monta-se uma verdadeira colcha de retalhos a partir do sistema gramatical.

Temos, então, nova relação: estratégia de organização e sistema. Sua relação é, para a linguagem, a mesma existente entre paradigma e sintagma. Trata-se de mais uma relação inter-sistêmica. O sistema paradigmático é o sistema dos significados e o sintagmático é o da estrutura organizacional desses conteúdos, algo mais específico ou que torna o sentido das palavras mais específico.

Todas essas noções são usadas por Bateson para explicar determinados processos cognitivos relacionados a alguma dinâmica reflexivamente social, como na maior parte dos discursos, inclusive o jurídico, em que determinadas noções, como questões de fato e de direito, estão sempre relacionadas a valores e sentidos variáveis.

As mensagens expressas pela gramática possuem funções dentro do processo de comunicação. Isto quer dizer que cada frase ou oração é constituída a partir de um para quê, ligado a estruturas gramaticais e a referências mentais de significados (semântica). Forma e conteúdo estão, nesse sentido, interligados, e a “escolha” pelo uso de uma expressão ou outra dentro de um texto indica a inclusão de certos significados e a exclusão de outros.

Contudo, para entender melhor sobre quais estruturas se fundamenta a epistemologia de Bateson, devemos retornar a análise dos conteúdos da Cibernética adotados para fundamentar a sua postura não-cartesiana, como é sua proposta de análise circular dos fenômenos, da circularidade observador/objeto-observado.