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EDUCAÇÃO (SNE) EM MOÇAMBIQUE

1.3 A “GRANDE MAPUTO”

Os contrastes identificáveis nas cidades de Maputo e Matola são numerosos. Caminhando dos centros dos municípios em direcção às periferias, a simples observação visual permite captar o atravessamento de diferentes paisagens urbanas. Passa-se de contextos onde a ocupação do solo é total e organizada, o predomínio do betão constitui a marca fundamental e a vida apresenta determinados ritmos, atitudes e comportamentos, a outros espaços onde a ocupação é menos densa, não ordenada, os materiais de construção são diferentes e mais precários e a vida social transmite outros valores e comportamentos (COLONNA, 2012, p. 81).

Devido à proximidade geográfica e à continuidade física entre as cidades de Maputo e da Matola, esses dois espaços urbanos representam uma mesma área, designada por “área urbana de Maputo”, “área metropolitana de Maputo” ou simplesmente “grande Maputo” (ARAÚJO, 2006). De acordo com Araújo (2006, p.2) “não existe descontinuidade alguma entre aquilo que é considerado espaço urbano entre as duas cidades, separadas apenas por um limite administrativo que coincide com o vale do Infulene”.

Maputo é a capital de Moçambique e a maior cidade do país. De acordo com INE (2007), estima-se que tenha pouco mais de um milhão, noventa quatro mil e seiscentos e vinte oito habitantes (1.094.628), correspondente a 5,3% da população (PEE, 2012, p.11) do país. Matola a segunda maior cidade da província de Maputo e vizinha da cidade com o mesmo nome, conta com cerca de seiscentos e setenta e um mil e quinhentos e cinquenta e seis habitantes (671.556) (INE, 2007). Maputo e Matola são as duas maiores cidades em dimensão geográfica. Araújo (2006) argumenta que não é apenas a proximidade geográfica e a continuidade física entre as duas cidades que fazem com que ambas constituam uma unidade espacial a ser pensada como um todo, mas:

As intensas inter-relações sociais e económicas diárias que entre elas se estabelecem obrigam a que qualquer acção desenvolvida numa delas se repercuta directamente na outra. A circulação de pessoas e bens entre as duas é de tal ordem que os

cidadãos têm, como percepção, a ideia de estarem na mesma cidade (ARAÚJO, 2006, p.2).

Segundo Araújo (2006, p.3) a cidade da Matola desde o ano de 1960 apresenta uma taxas de crescimento populacional sempre superior às de Maputo, em particular de 1960 a 1980. Para o autor diversas causas podem estar associadas à origem do crescimento demográfico tão pronunciado, entre elas aponta as seguintes:

1. Nos anos 60 a Matola conhece uma grande explosão industrial, simultaneamente se transforma em uma área urbana residencial apetecida pela burguesia colonial, que sai da antiga cidade de Lourenço Marques (atual cidade de Maputo) e se instala na Matola em amplas moradias com grande espaço;

2. Durante os anos 60 e 80 a política colonial cria, no espaço urbano da Matola, novas áreas de expansão urbana para classes trabalhadoras coloniais, dando incentivos para a construção de casa própria, fato que deu origem ao surgimento de novos bairros, como os atuais Fomento e Liberdade, para onde foram residir muitos operários e quadros médios portugueses que deixaram a cidade de Lourenço Marques (Maputo);

3. A instalação de várias indústrias na Matola e Machava atrai muitos trabalhadores moçambicanos que, vindos de áreas rurais circundantes e dos bairros suburbanos de Lourenço Marques (Maputo), se instalam em áreas suburbanas da Matola. Estes mesmos fatores aliados a um início de retorno à Portugal de colonos estarão na origem do crescimento negativo observado, entre 1960 e 1970, na cidade de Lourenço Marques.

Entre os anos 1970 e 1980 Araújo (2006) explica que:

As taxas de crescimento das duas cidades são marcadas pela independência nacional que fez com que a população urbana em Moçambique sofresse uma transformação radical. Os moçambicanos “tomaram” a cidade e a maior

parte da população colona abandonou-a regressando ao seu país de origem. Este fenômeno foi mais evidente na Matola que em Maputo, pois aquela ficou com mais espaço residencial abandonado pelos colonos, o qual foi ocupado por diferentes estratos de população moçambicana. Além disso, foi neste período que a Matola viu crescer muito os seus espaços suburbanos, tendo funcionado como uma espécie de “tampão” para a migração em direcção a Maputo (ARAÚJO, 2006, p.3).

Para Loforte (2003) e Araújo (2006) o crescimento populacional nas duas cidades a partir de 1980 deve ser compreendido no contexto do que se observou em todas as áreas urbanas do país naquela época e é explicado, não apenas por um crescimento natural, que continua elevado, mas, sobretudo,

Por um fluxo migratório do campo para a cidade muito acentuado devido à insegurança das áreas rurais durante a guerra civil, assim como ao fraco desenvolvimento do campo. Isto fez com que as cidades se transformassem numa espécie de miragem para se conseguir segurança e melhoria das condições de vida para a população rural. Este é um factor social muito antigo que explica as migrações campo-cidade, mas que no caso de Moçambique foi bastante potencializado pela guerra civil que afligiu o país durante longos anos, assim como uma série de calamidades naturais (secas ou inundações) que agudizaram muito as, já de si precárias, condições de vida no campo (ARAÚJO, 2006, p.3).

Esta explicação é partilhada por Espling (1999) que igualmente argumenta que durante a chamada guerra civil, entre 1980 e 1990 a população urbana de Maputo aumentou dramaticamente, em decorrência das grandes migrações dos refugiados internos. Porém, nos anos 90 as condições de vida tornaram-se mais dramáticas. A implementação de programas de reajustamento estrutural e o colapso das oportunidades de emprego levou ao aumento do custo de vida e falta de serviços básicos, bem como, a deterioração das condições de vida nos assentamentos

informais (PAULO, ROSÁRIO & TVEDTEN, 2008; CRUZ & SILVA 2005).

Neste capítulo, apresentei o contexto geopolítico, econômico, social e educacional de Moçambique, com ênfase no período pós- colonial. Meu objetivo foi constituir um pano de fundo para uma melhor compreensão do contexto geral da pesquisa. No próximo capítulo apresento o universo do bairro, a escola, as crianças e suas famílias, bem como as transformações na rotina devido ao início escolar.

2 O CONTEXTO DO BAIRRO, A ESCOLA