5.2 Das Questões da Lei 11.441/07
5.2.4 A Gratuidade do Serviço
O parágrafo 3º do artigo 1.124-A, introduzido no CPC determina sobre a
gratuidade no serviço cartorário ” A escritura e demais atos notariais serão gratuitos
àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei.”
A necessidade da contratação de advogado para o ato já confere custo ao
procedimento, visto o volume de trabalho da Defensoria Pública. Mas a principal
reflexão reside no fato de que será muito mais difícil a comprovação de
hipossuficiência junto à esfera administrativa que na esfera judicial, já que a lei não
estabeleceu critérios para a concessão do benefício.
“Diante do judiciário, de acordo com a lei federal 1.060/50, basta a parte declarar que não dispõe de condições
de arcar com as custas do processo sem prejuízo financeiro
-entendimento ratificado pelo STJ em novembro último - que,
em regra, lhe será deferida a gratuidade da justiça. Será que os cartórios aceitarão apenas uma simples declaração?
Dificilmente, afinal, o artigo 1512 do Código Civil prevê a gratuidade da celebração e do processo de casamento para quem se intitula como pobre, entretanto é raríssimo algum casal desfrutar dessa prerrogativa em função das dificuldades impostas.
A Corregedoria de Justiça de cada Estado terá papel fundamental para o sucesso dessa lei. Será fundamental a fiscalização dos trabalhos dos cartórios para que as normas sejam plenamente respeitadas e a lei 11.441 não seja levada ao fracasso.”
(FERREIRA SOARES, 2007. p.2)
Ao se omitir sobre os custos com honorários e emolumentos a lei criou a
necessidade, como em vários de seus pontos, de uma regulamentação sobre o
assunto.
Já existem argumentos quanto ao emolumento ser relativo ao montante da
partilha, já que partilhar um maior patrimônio exige maior responsabilidade e quanto
aos serviços serem prestados à domicílio, já que teoricamente, o casal não precisa
mais nem se dirigir ao cartório.
No silêncio da lei, os honorários advocatícios se submetem aos mesmos
problemas, já que o grau de complexidade na partilha e divisão de bens, assim
como o tempo gasto eventualmente num acordo junto aos cônjuges para que um
desses se convença dos benefícios do procedimento administrativo incidam
diretamente no valor dos mesmos.
6 CONCLUSÃO
Não resta dúvida que a nova lei 11.441/07 - Lei do divórcio, separação,
inventário e partilha administrativos, por todo o exposto veio tornar os ditos
procedimentos mais céleres, atendendo, em parte, aos objetivos propostos e aos
clamores dos grupos profissionais envolvidos, assim como toda a imensa parcela da
sociedade atingida.
Porém, se faz necessário alguns cuidados para que a segurança jurídica e
credibilidade dos atos sejam mantidos, cuidados estes levantados no capítulo
anterior.
Quanto à ausência da “Vacatio Legis”, infelizmente a sociedade, por culpa
do legislador e do executivo, perdeu a chance de reflexão e preparação para a
entrada e vigor da nova lei. Sempre o debate e o conflito de idéias é muito valoroso,
principalmente em novas etapas e processos.
Embora personagens importantíssimos para a credibilidade do ato, a
supressão do Juiz e do representante do Ministério Público são do próprio cerne da
lei. Sugerir a manutenção desses órgãos seria renegar a nova lei e trazer a
discussão para a estaca zero.
Nos casos de separação e divórcio administrativos, a insegurança Jurídica
gerada pela sua ausência poderia ser suprida com a instituição, regulamentada por
lei, de uma audiência interdisciplinar obrigatória no cartório, com a presença de
advogado e psicólogo e demais profissionais que se fizer necessário.
André Luiz Alves de Melo, em seu artigo, opinava sobre o assunto:
“
Acredito que seria melhor que a lei tivesse criado umaaudiência de conciliação obrigatória no cartório com o advogado e um psicólogo. Em tese, assim seria melhor. Inclusive a OAB pode estudar regulamentação administrativa em conjunto com o Judiciário. Contudo, é preciso que esta audiência não vire um mero ato de liturgia como ocorreu com as audiências judiciais de conciliação nesse caso. Seria preciso estudar um meio para que essas audiências de conciliação tenham resultados mais efetivos. Por exemplo, nas cerimônias de casamentos civis há uma audiência extrajudicial.”
(ALVES DE MELO, 2007. p.1)