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1. EMBASAMENTO TEÓRICO

1.4 A interação no ensino e aprendizagem de LE

1.4.2 A Hipótese da Interação

Após discorrer sobre as diferentes compreensões sobre interação nos métodos e abordagens que obtiveram maior destaque na história do ensino de línguas, nos parece igualmente importante avançar naquilo que já foi estudado sobre a interação no processo de aprendizagem de uma LE e por isso, dedicamos esta subseção para discutir sobre a hipótese da interação. Mais adiante, traremos estudos recentes de pesquisas que se direcionaram a esse tema.

Segundo Oliveira e Paiva (2014), a hipótese da interação repercutiu em busca de contradizer a teoria do input40 e enfatizar uma aprendizagem baseada no envolvimento do aluno com outros interlocutores.

40 Teoria que fundamenta uma aprendizagem baseada na exposição auditiva do aluno a amostras da

língua.

Métodos/Abordagem Conceito(s) de interação envolvido(s)

Princípios metodológicos em sala de aula

Método Tradicional Interação pautada predominantemente na transmissão de conhecimento do professor aos alunos e estes em contato com a LE a partir da forma escrita.

O ensino da gramática através de dedução, ou seja, todas as estruturas são explicadas, para depois aplicar o que foi ensinado nos exercícios. Método Direto/Natural Jogo de perguntas e respostas que o

professor deve organizar em sala de aula, relacionadas a temas que envolvam o cotidiano e a fala coloquial.

Todo o processo de ensino e aprendizagem se concentra exclusivamente na prática oral e sempre a partir da língua meta. Método Audiolingual Técnicas orais de repetição,

adaptação e transformações de estruturas linguísticas.

Análise contrastiva entre a LM e LE para a previsão de erros; fundamentação behaviorista de que a língua é um hábito.

Abordagem comunicativa Negociação de significados entre os interlocutores situados num contexto sócio-histórico.

A aprendizagem da LE ocorre a partir da transmissão de conteúdos relevantes e dotada de finalidade comunicativa.

Hatch (1978 citado por OLIVEIRA E PAIVA, 2014, p.99) é a pioneira nesses estudos, embora Michael Long seja bastante reconhecido por defendê-los e expandi-los em seus trabalhos. A autora argumenta que antes de conhecimentos gramaticais, o aluno se infiltra no discurso, ou seja, a partir da própria prática discursiva: “aprende-se como conversar, como interagir verbalmente, e dessa interação se desenvolvem as estruturas sintáticas” (HATCH, 1978, p.404 citado por OLIVEIRA e PAIVA, 2014, p.99). Para sustentar suas hipóteses, Hatch se vale da comparação entre a aquisição da língua materna e da LE, e supõe que o sujeito em ambas as situações se vale de estratégias para estabelecer uma comunicação ou alcançar o que deseja, como é o caso da criança pequena quando chora, por exemplo.

Segundo Oliveira e Paiva (2014) a hipótese interacional para Long engloba dois pressupostos: a necessidade do input argumentado por Krashen e a importância do

output (SWAIN, 1985, 1995, citado por OLIVEIRA e PAIVA, 2014, p.102) que nada mais é que a produção do aluno na língua alvo. Dessa forma, para o autor, e exposição do aluno a um input compreensível se faz necessário para que o mesmo possa interagir concretamente, resultando em uma “negociação de sentido” (OLIVEIRA e PAIVA, 2014, p.103).

As principais críticas à hipótese interativa recaíram sobre o input compreensível de forma que Long (1996) revisasse seu texto e o considerasse insuficiente para a aquisição (LONG, 1996, p.423 citado por OLIVEIRA e PAIVA, 2014, p.104). Essa mudança de pensamento se justifica, pois segundo o próprio autor, é possível que o aprendiz compreenda o dizer do interlocutor mesmo sem se dar conta dos itens sintáticos e lexicais, e, neste caso não haveria possibilidade de uma aprendizagem efetiva da estrutura linguística.

Ellis (1991 citado por OLIVEIRA e PAIVA, 2014, p.106) revisa a hipótese da interação e propõe uma adaptação:

1. Input compreensível facilita a aquisição, mas não é nem necessário, nem suficiente.

2. Modificações no input, especialmente aquelas que acontecem no processo de negociação de um problema comunicacional, tornam a aquisição possível desde que os aprendizes:

a) compreendam o input;

b) percebam os novos aspectos do input e comparem o que perceberam com seu próprio output.

3. A interação que requer do aprendiz a modificação do output inicial facilita o processo da integração.

Ainda que as modificações realizadas por Ellis possibilitassem maiores aberturas para futuras investigações, segundo Oliveira e Paiva (2014) não havia suporte teórico suficiente para sustentar os estudos na área. Além disso, como salientam Schlatter, Garcez e Scaramucci (2004, p.355), sempre houve a dificuldade de medir o processo de aprendizagem, exatamente por esta ter uma “natureza multifacetada e interdisciplinar”, afinal, são muitas as variáveis envolvidas.

Segundo Schlatter, Garcez e Scaramucci (2004) um grupo de analistas41 europeus de universidades dinamarquesas apontavam um problema central para a hipótese: o conceito-chave de interação, equivalente à negociação de significados.

Entende-se por negociação de significados os momentos em que, para tentar resolver uma quebra no fluxo comunicativo em função de uma má compreensão ou compreensão incompleta de um termo da fala do interlocutor, os participantes da interação reparam sua produção, negociando o significado do que não foi bem compreendido. (SCHLATTER, GARCEZ, SCARAMUCCI, 2004, p. 357).

Tal definição implicaria no desentendimento por parte do falante, pois como é possível entender a partir do trecho acima, a negociação sempre envolve uma autocorreção e estratégias para reformular as ideias. Dessa forma, o aprendiz acaba sendo considerado “deficiente” (SCHLATTER, GARCEZ, SCARAMUCCI, 2004, p. 348) por acreditar que este dificilmente atingirá a plena compreensão do dizer de seu interlocutor. Outro fator de discordância levantado pelos críticos é o fato da hipótese descartar gestos e sinais não vocais dos falantes indicadores de um processo interativo, enquanto que para os analistas, a linguagem também incorpora pausas e outros mecanismos extralinguísticos.

Com esse apanhado histórico, pode-se dizer que a hipótese interativa junto de teorias contrárias, contribuíram para despertar interesse de outros pesquisadores, e a partir da década de noventa, muitos se debruçaram neste tema e avançaram com os trabalhos sobre a interação no ensino e aprendizagem de LE.