• Nenhum resultado encontrado

2.2 ESTRUTURA ARGUMENTAL

2.2.1 A HIPÓTESE DO SINTAGMA VERBAL BIPARTIDO V %VP

Conforme proposta de Chomsky (1995) e Hale & Keyser (1993, 2002), assumiremos que os sintagmas verbais são estruturas complexas representadas por um VP interno (VP) articulado a um VP externo (vP), cujos núcleos atribuem papéis temáticos distintos aos argumentos por eles projetados. Assim, DPs com papel temático de agente seriam projetados na estrutura argumental por um verbo leve causativo (vº), núcleo de vP, e os DPs com papel

temático de “tema” ou “afetado” seriam projetos pelo verbo lexical (Vº) núcleo de VP.

Um dos argumentos utilizados pelos teóricos para motivar a hipótese de um sintagma verbal mais articulado é o fenômeno da causatividade. A análise de certas construções causativas do inglês, como por exemplo, as construções que permitem alternância ergativa, são bastante elucidativas e compreendem importante diagnóstico a favor da hipótese de um VP complexo. Vejamos os seguintes exemplos do inglês elencados por Radford (1999) para explicar o fenômeno:

(23) a) We rolled the ball down the hill. b) The ball rolled down the hill (24) a) He broke the vase into pieces

b) The vase broke into pieces (25) a) They closed the store down

b) The store close down

De acordo com Radford (1999), tanto em (23a) quanto em (23b) o DP the ball, exibe o papel temático de afetado relativamente ao verbo rolled, fato que se repete em (24) e (25) no que diz respeito aos DPs the vase e the store e seus respectivos verbos. Em conformidade com a hipótese de atribuição uniforme de papel temático (Uniform theta assignment hypothesis – UTAH)

proposta por Baker (1988), dois argumentos que recebem o mesmo papel temático de um predicado ocupam na sintaxe posição de base idêntica. Em sendo assim, podemos concluir que, em ambas as sentenças do exemplo (23), o DP the ball ocupa a mesma posição sintática, o mesmo raciocínio valendo para os DPs the vase e store, nos exemplos (24) e (25).

No entanto, uma dúvida precisa ser esclarecida. Se em (23a) e (23b), o DP the ball tem origem na mesma posição sintática, por qual motivo o referido argumento se encontra em posição típica de sujeito em (23b), e em (23a) aparece depois do verbo? A resposta é simples se admitirmos a hipótese de um VP com uma estrutura bipartida. De acordo com essa hipótese, o que se observa nos exemplos acima é o movimento do verbo de um sintagma verbal mais interno (VP) para um sintagma verbal mais externo (vP).

O sintagma verbal interno (VP) representado pela oração em (23b) % The ball rolled down the hill se formaria através de uma operação Merge entre o núcleo Vº e o complemento PP (down the hill) constituindo a projeção V’ (rolled down the hill) que, por sua vez, também por Merge, se uniria ao DP The ball. Vejamos a derivação a seguir:

(26) VP

DP V’

the ball

Vº PP

O VP formado se adjungiria por Merge ao núcleo de uma categoria funcional IP, e o sujeito the ball seria alçado à Spec%IP para satisfazer traços, como, por exemplo, o traço de Caso nominativo. É o que demonstra a estrutura a seguir: (27) IP DP I’ The ball1 Iº VP DP V’ t1 Vº PP

rolled down the Hill

Contudo, em (23b) We rolled the ball down the hill verificamos a inserção de um terceiro argumento à estrutura acima: o DP com papel temático de agente we. Nos moldes do que pressupõe a hipótese do VP bipartido, é possível explicar formalmente a referida construção pela união da estrutura em (27) a um verbo abstrato causativo, núcleo (vº) do sintagma verbal vP. Este verbo, tratado como verbo leve (light verb), apesar de nulo nas orações exemplificadas, acarretaria para a sentença interpretação causativa similar àquela de construções com o verbo make. Sendo assim, a sentença em (23b) pode ser interpretada como We made the ball roll down the Hill.

Além de nulo, segundo Radford (1999), o verbo leve seria um núcleo de natureza afixal % ∅, e sua característica essencial seria forçar o

alçamento do verbo lexical (V°) projetando a estrutura v’, que, por sua vez, se adjungiria a um DP com papel temático de agente compondo a estrutura vP. É o que demonstra a derivação abaixo:

(28) vP DP v’ We v° VP

∅ rolled1 the ball V’

Vº PP t1 down the hill

Há que se ressaltar que em sentenças como (23a) o vP une%se ao núcleo da categoria funcional IP. Em seguida, observa%se o movimento do DP we para a posição de sujeito para que o traço ininterpretável de Caso nominativo seja valorado. Por sua vez, o objeto, representado pelo argumento the ball, checa Caso acusativo através do verbo leve, sem que haja movimento. Vejamos a configuração a seguir:

(29) IP DP I’ We2 [Nom] Iº vP DP v’ t2 v° VP

∅ rolled1 the ball V’

[acc]

Vº PP

t1 down the hill

Além das orações com alternância ergativa acima analisadas, também representam forte evidência a favor de um sintagma verbal articulado as construções cujos verbos lexicais (Vº) selecionam argumento de natureza adjetival como complemento. Abaixo, exemplos elencados por Radford (1999): (30) a) The acid turned the litmus%paper red.

b) They painted the house pink.

Nessas construções um verbo lexical, núcleo de VP, seleciona um DP como sujeito e um AP como seu complemento. Em seguida, V° é alçado para adjungir a um verbo leve causativo, núcleo de vP. O sujeito de vº, por sua vez, também é alçado de Spec%vP para a posição Spec%IP para checagem de Caso nominativo. Vejamos a configuração de (30a), a seguir:

(31) IP DP I’ The acid2 Iº vP DP v’ t2 v° VP turned1 ∅ DP V’ the litmus% paper Vº AP t1 red

Ressalte%se, que as sentenças em (30) permitem uma interpretação causativa conforme demonstram as seguintes paráfrases:

(32) a) The acid made the litmus%paper turn red b) They made the house painted pink

Como vimos, as construções abordadas nesta seção compartilham, como característica essencial, a causatividade, fenômeno este que representa forte evidência a favor da hipótese de uma estrutura bipartida v%VP.