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A história da agricultura convencional e a evolução da química agrícola

CAPÍTULO 1 SISTEMAS DE CULTIVO DE HORTÍCOLAS

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 SISTEMA DE CULTIVO CONVENCIONAL

2.1.1 A história da agricultura convencional e a evolução da química agrícola

Segundo EHLERS (1996), a agricultura moderna tem sua origem ligada às descobertas do século XIX, a partir de estudos dos cientistas Saussure (1797-1845), Boussingault (1802-1887) e Liebig (1803-1873), os quais derrubaram a teoria do húmus, segundo a qual as plantas obtinham seu carbono a partir da matéria-orgânica do solo. Liebig difundiu a idéia de que o aumento da produção agrícola seria diretamente proporcional à quantidade de substâncias químicas incorporadas ao solo.

Toda a credibilidade atribuída às descobertas de Liebig deu-se ao fato de estarem apoiadas em comprovações científicas. Junto com Jean-Baptite Boussingault, que estudou a fixação de nitrogênio atmosférico pelas plantas leguminosas, Liebig é considerado o maior precursor da "agroquímica". As descobertas de todos esses cientistas marcam o fim de uma longa data, da Antiguidade até o século XIX, na qual o conhecimento agronômico era essencialmente empírico. A nova fase foi caracterizada por um período de rápidos progressos científicos e tecnológicos.

Para ZAMBRONE (1986), além dos insetos, fungos, ervas daninhas e outros organismos podem comprometer significativamente a produção de alimentos no campo e sua qualidade durante o transporte e armazenamento.

O uso de substâncias químicas para o controle de insetos já era descrito por gregos, romanos e chineses há mais de três mil anos. Produtos como arsênico e enxôfre eram conhecidos por estes povos e comumente utilizados (HASSAL, 1991).

Substâncias, como sais de cobre e hidróxido de cálcio, foram introduzidas na agricultura em 1882 para combater doenças na uva. Extratos aquosos contendo inseticidas naturais da folha de fumo foram utilizados já no início do século XVII e as propriedades inseticidas dos extratos do pyrethrum obtidos das flores do crisântemo foram identificadas no início do século XIX (ECOBICHON, 1996).

No início do século XX, Louis Pasteur (1822-1895), Serge Winogradsky (1856-1953) e Martinus Beijerinck (1851-1931), precursores da microbiologia dos solos, dentre outros, contribuíram com mais fundamentos científicos que fizeram uma contraposição às teorias de Liebig, ao provarem a importância da matéria orgânica nos processos produtivos agrícolas (EHELRS, 1996). Contudo, mesmo com o surgimento de comprovações científicas a respeito dos equívocos de Liebig, os impactos de suas descobertas haviam extrapolado o meio científico e ganhado força nos setores produtivo, industrial e agrícola, abrindo um amplo e promissor mercado: o de fertilizantes "artificiais" (FRADE, 2000).

A partir dos anos de 1930, começou a utilização de pesticidas sintéticos, tais como o herbicida dinitro-ortocresol, na França em 1932, e o primeiro fungicida do grupo dos ditiocarbamatos, o Thiram, nos EUA em 1934 (WHO, 1990). Contudo, a efetiva transição nas técnicas de controle fitossanitário das culturas agrícolas teve como marco a descoberta das propriedades inseticidas do organoclorado DDT, em 1939. No Brasil, a introdução de agroquímicos organossintéticos teve início em 1943, quando chegaram as primeiras amostras do inseticida DDT (TRAPÉ, 1995; SPADOTTO, 2002).

Somente a partir da década de 1950 ocorreu um grande incremento da produção de novos compostos agrícolas (organofosforados), principalmente nos EUA e na Europa, decorrente da estrutura da indústria química alemã desenvolvida para a produção de armas químicas durante o período bélico, de maneira a estabelecer no pós-guerra um padrão agrícola com base tecnológica assentada no uso de agroquímicos (agrotóxicos, fertilizantes e corretivos), na mecanização, nas cultivares de

alto potencial de rendimento e nas técnicas de irrigação, visando a elevação dos índices de produtividade. Existe, portanto, uma estreita relação entre a agricultura moderna intensiva e a utilização de agrotóxicos, a qual serviu também, a partir da década de 1960, de modelo agrícola para as regiões do Terceiro Mundo, num processo conhecido como Revolução Verde (MARTINE, 1987; SPADOTTO, 2002).

Até o final da década de 1950, o sucesso dos agrotóxicos era considerado tão espetacular, que os mesmos eram larga e indiscriminadamente empregados nos países desenvolvidos, sem maiores preocupações com possíveis riscos à saúde ou ao meio ambiente. No início da década de 1960, a publicação de dois livros, Silent Spring, de Rachel Carson, em 1962, e Pesticides and the Living Landscape, de Rudd, em 1964, chamou a atenção para aspectos importantes relacionados aos possíveis impactos dos agrotóxicos à saúde humana, aos animais domésticos, à vida selvagem, à contaminação dos solos e das águas, às interferências nos ecossistemas e na própria agricultura. O reconhecimento desses problemas trouxe o desenvolvimento de complexos sistemas de registro e de controle do uso de agrotóxicos nesses países, embora o mesmo ainda não ocorra em muitos países em desenvolvimento (EHLERS, 1993).

Na década de 1970, completou-se o pacote de insumos químicos: adubos, inseticidas, fungicidas, herbicidas e, ainda, um conjunto de variedades modernas que ao longo do processo haviam sido selecionadas para bem aproveitar esses insumos.

Era um sistema no qual a agricultura se tornara completamente dependente da indústria química. Contudo, ao menos aparentemente, era tão eficiente e produtivo que dispensava explicações. Por essas vantagens, consolidou-se e se transformou, sobretudo nos países industrializados, no modo “convencional” de produção (KHATOUNIAN, 2001).

Nas décadas seguintes, essa revolução se incorporou às mentalidades dos agricultores, dos agrônomos e dos planejadores. Nas cidades, modificou radicalmente os hábitos alimentares, introduzindo produtos pouco adaptados às condições locais de cultivo. Contudo, tendo isso ocorrido ao longo do tempo e visto como a face do progresso, passou como sendo o rumo natural das coisas. Na Europa e nos EUA, até o

início da década de 1980, e no Brasil, até o início da década de 1990, para a maioria dos envolvidos com a produção agrícola, era pura tolice ou bizarrice tudo o que destoasse desse modelo convencional (KHATOUNIAN, 2001).

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