3 O VAREJO
3.2 A história do varejo no Brasil e no mundo
3.2.2 A história do varejo na Bahia e na cidade de Salvador
A cidade de Salvador, antiga capital do Brasil, fundada em 1549, é a capital do
Estado da Bahia e a mais antiga das cidades brasileira, e, segundo o IBGE atingirá
em 2017 cerca de 2,9 milhões de habitantes. Por três séculos foi a aglomeração mais
importante do país, tendo seu porto o mais importante do Brasil.
A função portuária de Salvador, existe desde a sua fundação, sendo essa
ca-racterística uma condição necessária para realização de outras atividades. A atividade
comercial e o surgimento do varejo na capital Baiana devem, principalmente, à função
portuária que Salvador exercia (SANTOS, 2008b).
Desde os seus primeiros anos de fundação da cidade de Salvador, a Cidade
Alta vem passando por inúmeras transformações. Essa região da cidade já teve
fun-ções administrativas, religiosas e políticas. Na década de 1950, o processo de
migra-ção do interior, e o rápido processo de industrializamigra-ção levam a cidade a passar por
um grande processo de expansão urbana (HEINONEN, 2005).
No início da década de 1950 o comércio soteropolitano, localizado no centro da
cidade, estava dividido basicamente em 4 tipos de comércio: o grossista, o comércio
varejista, subdividido em o pobre e o rico, o comércio de alimentação e o comércio de
rua (SANTOS, 2008b).
O Comércio grossista, ou mais conhecido hoje como atacadista, estava
locali-zado basicamente na Cidade Baixa. A sua função mais habitual dentro da cadeia de
distribuição é ser intermediário entre o fabricante e o vendedor varejista (SANTOS,
2008b).
O comércio varejista está situado, em sua grande maioria na Cidade Alta,
divi-dido em um setor de luxo e um outro setor de pobre que ocupa uma região diferente
no centro da cidade. A instalação do comércio varejista na Cidade Alta condiz com o
aumento da população nos bairros da Barra, Corredor da Vitória e Graça. O varejo
rico estava localizado nas ruas Chile, Misericórdia, Ajuda, Carlos Gomes, Av. Sete de
Setembro e uma parte da Av. Joana Angélica, bem no centro da cidade,
acompa-nhando as linhas do transporte coletivo, que trafega também, nos bairros ricos. Já o
Comércio varejista pobre ocupa a Baixa do Sapateiro, região onde trafega os ônibus
que se dirige aos bairros de classe média e pobre de Salvador. Nesse tipo de comércio
não se encontrava grandes magazines e casas de artigo de luxo, como no varejo rico,
nessa região do comércio central de Salvador, prevalecia lojas que vendiam artigos
de segunda necessidade (SANTOS, 2008b).
Com a modificação da paisagem urbanística de Salvador, a cidade também
passava por mudanças dos hábitos de consumo. Um acontecimento importante com
relação ao estilo de compras dos baianos, que, durante séculos, frequentava os
ve-lhos armazéns “secos e molhados”, vendas e feiras-livres, que abasteciam as suas
despensas, começou a ceder a nova forma de comprar que surgia na capital baiana:
O serviço de autoatendimento dos supermercados. O Comerciante Raul Schwab foi o
pioneiro nesse estilo de estabelecimento comercial, inaugurou, em meados da década
de 1950, o primeiro supermercado no bairro da Saúde. Mas o grande revolucionário
do varejo baiano de supermercados foi o Sergipano Mamede Paes Mendonça.
Ma-mede, sabendo das dificuldades que o comerciante Raul Schwab passava, comprou
a sua loja no bairro da Saúde, que, no início da década de 1960, inaugurou, nesse
local, a primeira loja da rede de supermercados Paes Mendonça. O sucesso foi
verti-ginoso, chegando, no final da década de 1980, com 156 lojas espalhadas pela Bahia,
Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (ROCHA, 2012).
Nos meados da década de 1970, surge em Salvador, a rede de Supermercado
Unimar, do grupo Correia Ribeiro, voltado para uma clientela mais elitizada, sendo
comprada anos mais tarde pelo grupo Paes Mendonça (ROCHA, 2012).
O início da década de 1960 Salvador começa a passar por grandes
transfor-mações urbanas que mudam por completo toda a estrutura comercial da cidade:
gran-des avenidas são construídas para aliviar os congestionamentos, as formosas
“aveni-das de vale”, abrindo a estrutura urbanas consolida“aveni-das nos morros. A partir desse
período foram inauguradas grandes avenidas que contribuíram para melhorar toda a
mobilidade de Salvador. A Av. Paralela, com 17 km, ligando a região da rodoviária ao
aeroporto, a Av. Bônoco ligando o centro da cidade ao Iguatemi e a Av. Antônio Carlos
Magalhães que liga a Rótula do Abacaxi ao bairro da Pituba. Com todas essas
trans-formações urbanas, é fundado em 1975, o primeiro shopping center do Nordeste, o
Iguatemi, sendo um novo marco para atividade comerciais na capital Baiana. Essa
nova área que se consolida com a construção desse empreendimento, será
proposi-talmente, desenvolvida como o novo centro da cidade (HEINONEN, 2005).
Na realidade a região do Iguatemi começou a ser arquitetada a partir da década
de 1970, fazendo parte do processo de reestruturação urbana de Salvador, gerando,
dessa forma, um processo de descentralização, dando uma nova configuração
urba-nística a cidade, alterando o seu cotidiano, as relações intraurbanas e interurbanas,
fazendo surgir novos equipamentos urbanos colaborando para a mudança daquela
região (SANTOS, 2007).
O processo de reestruturação urbanística de Salvador teve participação do
Es-tado, nos níveis estadual e municipal, trazendo para área alguns fatores de atração,
como, por exemplo, a construção da Estação rodoviária em 1970, a criação do Centro
Administrativo da Bahia, em 1972, a criação do Detran, em 1973. A iniciativa privada
também colaborou para o desenvolvimento dessa nova localidade, uma vez que
gran-des mercados, lojas e escritórios dos mais variados começaram a se instalar A
espe-culação imobiliária também foi um fator importante para valorização da região devido
a construção de vários empreendimentos comerciais (MAIA, 2015).
Mesmo com a nova orientação urbana da cidade de Salvador para a região do
Shopping Iguatemi, já como nova região central da cidade, principalmente, por
assu-mir o novo centro financeiro da capital, o antigo centro comercial de Salvador inicia
uma nova fase de desenvolvimento varejista. É inaugurado em 1985 o Shopping
Pie-dade, construído na antiga área do comércio nobre, ao lado do terminal de ônibus da
Lapa. Na mesma região, em 1996, um segundo shopping center é inaugurado, o
Cen-ter Lapa. A inauguração desses dois novos empreendimentos traz um novo contexto
para o comércio varejista do centro da cidade, quebrando a característica elitizada
dos shoppings centers, que são, estrategicamente projetados para atender as
cama-das populares. A construção desses shoppings, na antiga área central da cidade,
re-flete a importância desse espaço urbano e, demostra o interesse pela revitalização
dessa região (HEINONEN, 2005).
A distribuição do comércio na cidade de Salvador está longe de ser
homogê-nea. No centro e na orla marítima existe uma clara concentração comercial. Nos
bair-ros ricos da cidade, estão os comércios de alta qualidade. Na periferia de Salvador,
no miolo, e ao longo da Av. Afrânio Peixoto (Av. Suburbana), não existem centros
comerciais de grande porte, porém, o comércio de bairro mostra-se bastante
expres-sivos em certos pontos. Normalmente, a estrutura comercial de bairros populares é
formada basicamente por empreendimentos que oferecem produtos de primeira
ne-cessidade, lojas mal equipadas e com uma estrutura empresarial extremamente
pri-mária (GOTTSCHAL, 1997).
No documento
UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
(páginas 71-74)