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A História e a (História da) Ciência no limiar do século

Parte II Alexandre Koyré na historiografia tout court

Capítulo 3: A História e a (História da) Ciência no limiar do século

Extemporaneidade: por que Alexandre Koyré como meio de aproximação entre a História e a História das ciências?

Rememoremos. No primeiro capítulo desse trabalho, propus uma análise que denominei de movimento retrógrado na historiografia das ciências. Parti do que poderia ser considerado o “estado da arte” desse campo do conhecimento para, em retrospectiva, problematizar o Internalismo. Essa problematização foi realizada por meio de alguns autores conhecidos e reconhecidos na História das ciências e em sua vertente dita internalista: Rupert Hall, Herbert Butterfield e Alistair Crombie. Três autores que, segundo a análise de Steven Shapin (1992), difundiram uma visão amplamente koyreana da ciência, muito embora haja semelhanças e diferenças entre suas leituras do desenvolvimento científico e suas respectivas imagens da ciência. No segundo capítulo, em contraposição às leituras internalistas da ciência, descrevi o trabalho de alguns autores que também foram considerados ícones, mas ícones da corrente oposta, do Externalismo: Boris Hessen, Robert K. Merton e Edgar Zilsel. Enquanto o soviético Hessen é considerado como sendo o responsável por dar origem ao enfoque externalista, Merton, em maior escala de propagação, apresentou uma visão weberiana do desenvolvimento da ciência que ficou conhecida como Sociologia da Ciência. Edgar Zilsel apresenta uma leitura da ciência moderna atrelada ao surgimento do capitalismo, que propiciaria a união entre diferentes estratos de intelectuais (donde a visão do Galileu artífice, em contraste ao Galileu koyreano e matemático). Em seguida, diante da análise do pensamento de Alexandre Koyré e, também diante da análise comparativa entre aqueles que foram considerados pares (internalistas) e mesmo rivais (externalistas) na dita Querela I/E, acredito ter melhor entendido a trajetória, a obra e o legado, a função autor (FOUCAULT, 1997b) de Koyré, especificamente na tradição da História das ciências. Penso ter melhor entendido qual foi o legado e a batalha travada por Koyré em defesa da imagem de ciência por ele apresentada. Grosso modo, ao longo dos capítulos da Primeira Parte deste trabalho pude perceber e discutir, entre contrastes e similitudes, três características fundamentais, três teses epistemológicas do pensamento de Alexandre Koyré: a imanência teórica, a aplicação histórica do conceito unidade de pensamento e a tese da descontinuidade do desenvolvimento

107 científico. Essas características resumem o pensamento e o legado do autor para a tradição da História das ciências, tal como era a proposta da Primeira Parte deste trabalho.

Realizada essa primeira e necessária etapa de contextualização, caracterização e análise do pensamento e do legado de Koyré, retomo, novamente, a pergunta subjacente que motiva esta pesquisa: “A História das ciências é História?”. Como já foi dito, não pretendo responder essa pergunta como um todo, em seu âmago, mas sim estabelecer um diálogo entre a História das ciências, a História tout court e suas respectivas historiografias a partir de uma reflexão sobre a trajetória, a obra e o legado de Alexandre Koyré. Esse movimento seria justificado pelo fato de que “[a] tendência da “historiografia” das ciências é não dialogar nem com o processo histórico e nem com a historiografia” (REIS, 2010a, pág.16). Contudo, é preciso lembrar, esse problema, esse hiato (MAIA, 2013) entre a História e a História das ciências já possui, em língua portuguesa, trabalhos especializados e de fôlego sobre o tema.118 Outro motivo pelo qual, propositadamente, sequer vislumbro responder aqui essa pergunta denominada subjacente. Mas, para apresentar o problema, o hiato, em linhas gerais, pode-se dizer que

(...) o distanciamento disciplinar da história das ciências do continente História ocorreu graças a uma contaminação sofrida por sua proximidade com as ciências historiadas. E esse contágio propagado pelas ciências naturais contamina também a disciplina história, porém produzindo um movimento em direção oposta. Se, por um lado, a história das ciências aproxima-se das ciências e incorpora seus mitos, por outro lado, a história afasta-se dessas ciências, e o faz incorporando também os mesmos mitos. Isto é, ambos os movimentos possuem a mesma motivação: o cientificismo, ora latente, ora manifesto. Trata-se da crença – generalizada na sociedade – de

que a ciência não tem haver com as coisas humanas, o que produz uma forte ruptura entre Natureza e Cultura. O resultado dessa

incorporação da mitologia cientifista é que a história não toma para si as ciências naturais como objeto por considerá-las como não históricas. Assim, há uma dupla responsabilidade pela ausência de historiadores na história das ciências: uma, da própria história e, outra, da história das ciências (MAIA, 2013, pág.12, grifo meu).

Muito embora a história e a historiografia das ciências não dialoguem com a história e a historiografia tout court, a “periodização da história das ciências coincide, sem fazer-lhe referência, com a periodização da história da historiografia” (REIS, 2010a, pág.18). Ponto que merece destaque. Numa busca rápida pelo estabelecimento desse diálogo entre a

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Em português, por exemplo, pode-se encontrar um debate sobre o hiato entre a História e as Ciências, bem como entre a História e a História das ciências na obra de Carlos Alvarez Maia (2001, 2010a, 2013, 1992, 2010b).

108 historiografia e a historiografia das ciências, seria muito comum vincularmos a história whig das ciências à história dita positivista, metódica, por exemplo. Ambas muito comuns até meados da década de 1930 representam uma história teleológica, evolutiva, progressista, uma narrativa de vencedores, de heróis com seus grandes feitos, fossem políticos ou científicos. Na sequência, teríamos, para a História tout court, as novas propostas do movimento dos Annales; enquanto que para a História das ciências teríamos, nessa breve analogia historiográfica, a visão revolucionária da ciência em Alexandre Koyré. Igualmente, a Estrutura kuhniana poderia, em alguma medida, ser comparada a história estrutural, também dos Annales. Se continuarmos esse rápido movimento de aproximação entre a História e sua filha renegada/renegadora, a História das ciências, poderíamos vincular a Escola de Edimburgo (e também os estudos posteriores a ela vinculados, tal como a proposta de Callon- Latour) ao movimento historiográfico pós-1970, em que começam a surgir as histórias das negociações, dos agentes sociais, da cultura como objeto de destaque, fosse para análise de objetos políticos ou científicos, por exemplo. Assim, não seria estranho considerarmos que

[a] aproximação entre historiografia stricto sensu e historiografia

das ciências quase se consuma com o Programa Forte da Escola de Edimburgo (...). Para estes, a ciência é uma atividade histórica e

socialmente situada, contextualizada. Eles são franca e

assumidamente “externalistas”, pois reconhecem que há muito de

social-político-econômico-cultural no laboratório e muito de científico na sociedade. (...) A atividade científica não pode ser

prescrita, é pragmática. O desenvolvimento científico depende de negociações sócio-econômico-políticas, depende da adesão social. É o reconhecimento social que torna uma teoria válida. (...) Conseguiram reunir processo histórico, historiografia stricto sensu e historiografia das ciências. Eles, sim, fazem “história das ciências” (REIS, 2010a, pág.19, grifo meu).

São, todas essas, relações válidas entre a historiografia das ciências e a historiografia tradicional, sobretudo se considerarmos a existência de um persistente hiato entre ambas. Contudo, o objeto escolhido para realizar a aproximação entre a História e a História das ciências não foi a vertente Externalista ou sequer os Science Studies, que pareceriam o objeto mais adequado (posto que para estes a ciência seria uma atividade histórica). Mas, o objeto de análise escolhido para essa aproximação historiográfica foi a obra e o legado de um internalista, possivelmente o mais conhecido dos internalistas. O que talvez indique a necessidade de justificar o motivo pelo qual considero Alexandre Koyré um caminho possível para realizar uma pesquisa que tem na já citada pergunta subjacente sua motivação. Se avaliarmos que tanto a Escola de Edimburgo quanto os Science Studies, de

109 maneira geral, terminaram por criar uma imagem da ciência que reforça a ruptura entre cultura e natureza, entre a História e a História das ciências, e, em última instância, entre o Externalismo e o Internalismo, teríamos que procurar outros caminhos para realizar a aproximação entre a História e a História das ciências. Para melhor esclarecer o problema que essa aproximação historiográfica entre a História e a História das ciências pós-1970 pode acarretar, conforme descrevi no início do primeiro capítulo deste estudo, cito um caso exemplar e de grande reconhecimento na atualidade. Parece-me que as teses de Callon-Latour – talvez um dos maiores nomes dentre os analistas da ciência na atualidade, referência para a chamada História Cultural das Ciências bem como para os Science Studies como um todo – incorrem num duplo problema de desproporcionalidade histórica ao colocar em simetria humanos e não humanos. Em reação ao relativismo sociológico de David Bloor e da Escola de Edimburgo, e visando ampliar e aprimorar essa proposta, Callon-Latour propõem o princípio da simetria generalizada. Assim, a natureza participaria do processo sociológico, ela seria simétrica aos humanos: natureza se igualaria a cultura numa espécie de solipsismo sociológico (MAIA, 2010a). Não pretendo descrever novamente o argumento já utilizado no primeiro capítulo, mas vale lembrar que a equação callon-latouriana, a despeito de sua grande popularidade, importância e reconhecimento, termina por produzir tanto um humano- mecanizado quanto um objeto-humanizado, ambos, humanóides a-históricos.

Somente um pensamento estrangeiro à história pode imaginar humanos com alguma equivalência ontológica com as coisas materiais. Ora não se nasce humano, humano é algo constituído na

história. Torna-se humano ao ser constituído pela história. O animal designado como Homo sapiens não nasce como humano, só se torna humano na história, em relações societárias com outros já constituídos como tais (MAIA, 2010a, pág.12, grifos meus).

Uma aproximação historiográfica entre a História pós-1989, para sermos mais específicos, e as teses de Callon-Latour não seria uma relação das mais fáceis. Talvez o tiro saísse pela culatra, posto que continuaríamos alimentando, na História das ciências, a velha ruptura entre natureza e cultura. Se, conforme indica Carlos Alvarez Maia (2013), a proposta callon-latouriana seria fruto de uma denegação histórica que tende a reforçar o hiato entre a natureza e a cultura, entre a História e as Ciências, entre a História das ciências e a própria História e, por fim, entre o Internalismo e o Externalismo (visto que, muitas vezes, este é considerado mais histórico que aquele), creio, uma reavaliação do próprio Internalismo poderia ser um caminho viável para uma pesquisa cuja motivação ancora-se na dita pergunta

110 subjacente. Haveria outra forma para pensar historicamente, de fato, a relação entre natureza e cultura, uma forma viável de História das ciências efetivamente histórica (MAIA, 1992)? Como essa se relacionaria com a historiografia propriamente dita? Procurarei, nesta Segunda Parte, demonstrar como o pensamento de Koyré, num viés histórico, pode, com várias limitações próprias de seu tempo, oferecer outra possibilidade analítica acerca da relação entre a História e a História das ciências. Isso justifica a escolha pelo objeto deste estudo, muito embora a leitura koyreana também não responda a pergunta motivadora. Novamente, esse não é o objetivo almejado aqui. Ademais, apesar da receptividade que uma pesquisa acerca de Alexandre Koyré gera, sobretudo por este ser considerado um autor canônico na História das ciências, aproximar o autor da história e da historiografia tradicionais, além de não ser o caminho mais óbvio dentro dos estudos koyreanos, pode motivar, assim espero, futuros trabalhos que entendam o embate entre o I/E como sendo, ainda, um problema fulcral na História das ciências.

Uma vez já tendo realizado uma análise historiográfica acerca da obra e do legado de Alexandre Koyré na tradição da História das ciências, na Segunda Parte deste estudo aproximarei a História das ciências proposta pelo autor, da História propriamente dita. Em outras palavras, buscarei entender o pensamento e o legado de Koyré na História das ciências em diálogo com a História tout court para, desse modo, revisitar a Querela I/E. Quiproquó historiográfico entre a Ciência e a História que não parece estar plenamente superado, como queriam/querem os historiadores das ciências sectários dos Science Studies. Em síntese, estabelecer uma relação entre o processo histórico, a historiografia tout court e a historiografia das ciências de Alexandre Koyré, mais do que responder à pergunta subjacente constantemente presente nesta pesquisa, é o objetivo dessa Segunda Parte. Desse modo, começo por descrever, no campo da História propriamente dita, aquilo que seus correligionários consideram a principal aproximação, a aproximação que funda a própria disciplina “História”, a saber, a relação entre a História e a Ciência na historiografia do século XIX.

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História, ciência (wissenschaft) e a historiografia alemã do século XIX

Que é que temos em mente ao falar da história da ciência como ‘uma disciplina à parte’? Em certo sentido, que quase nenhum estudante de história lhe presta atenção. (...) Cursos sobre a Revolução Científica ou sobre a ciência na Revolução Francesa parecem ser tão atrativos para futuros historiadores como os cursos sobre o desenvolvimento da física moderna. Parece que a palavra ‘ciência’ num título é suficiente para fazer que os estudantes de história lhe voltem as costas (KUHN, 1989b, pág.169-170).

Para estabelecer uma relação possível entre a História das ciências de Alexandre Koyré e a História tout court, começo por analisar o momento em que a ciência se torna inevitável aos estudos históricos. Todo estudante de História, por mais que tente se esquivar de temas relacionados às ciências, conforme lamenta Thomas Kuhn119 (1989b), teria que “suportá-los” ao estudar teoria da História, por exemplo. Nesses momentos, o estudante tem contato com questões próprias da Filosofia da História, estudo filosófico das questões que permeiam a área do conhecimento denominada História. A Filosofia da História faz parte dos questionamentos levantados tanto pela Teoria da História120 quanto pela Historiografia. Trata- se de questões relacionadas ao tempo, ao conceito de História, ao sentido ou à finalidade da História, ao modo como a História é praticada por historiadores e recebida na sociedade. Em outras palavras, qualquer “(...) auto-reflexão do pensamento histórico, que se processa no trabalho quotidiano da pesquisa histórica” (RÜSEN, 2010, pág.26). Questões que se relacionam, enfim, com a pergunta subjacente deste estudo.

A despeito de o termo “Filosofia da História” ter sido utilizado pela primeira vez por Voltaire em 1765, esse tipo de indagação acerca do conhecimento histórico já existia na Antiguidade, atravessou a Idade Média, o Renascimento e ganhou destaque nas formulações modernas de Kant, Hegel, Marx (PECORARO, 2009). Por esse motivo, alguns historiadores

119Categoricamente, Thomas Kuhn também afirma que “parte da separação (entre a História e a História das ciências) se deve simplesmente à tecnicidade intrínseca da ciência” (KUHN, 1989b, pág.168). Estatisticamente esse argumento seria válido, contudo, creio, não deva ser considerado um postulado máximo para a criação de um nicho para a História das ciências, sob o risco de restringirmos a própria potencialidade do fazer histórico. 120 Conforme afirma Jose Carlos Reis (2011), a Teoria da História e a Filosofia da História são campos do conhecimento muito próximos, diferenciados pela formação de seus praticantes: historiadores no caso da Teoria da História e filósofos no caso da Filosofia da História. Apesar disso, afirma Reis (2011), tanto a Teoria da História quanto a Filosofia da História são conhecimentos de vital importância para a formação da cultura histórica. O historiador não pode ignorar ou desconhecer a Teoria ou a Filosofia da História que permeiam o

112 tendem a restringir, erroneamente, a origem da Filosofia da História aos séculos XVIII e XIX. Se a história é uma forma de conhecimento tão antiga quanto o próprio homem – vale lembrar, e a história da “ciência” tão antiga quanto à própria História (KUHN, 1989a) – seu questionamento filosófico, teórico, não ficaria atrás. Contudo, “há muito tempo se estabeleceu que o século XIX foi o século da história” (DOSSE, 2010, pág.15). Parece-nos, muitas vezes, que tanto a História e sua teoria, quanto a Filosofia da História teriam nascido no século XIX. Esse equívoco é fundamentado por uma espécie de “mito de criação disciplinar” que muito tem a ver com a ciência. De fato, durante o século XIX, há uma mudança significativa na concepção de História, um questionamento próprio da Filosofia da História. Tem-se o surgimento da História, escrita propositadamente aqui com letra maiúscula. O que seria essa História com “H” maiúsculo e o que a teria tornado possível? Vejamos.

Conforme nos explica Foucault (1997a), já no final do século XVIII começa o processo que levará a eliminação de deus da esfera da ação humana, tal como poderá ser observado nos posteriores pensamentos de Nietzsche, Freud e Marx. Cada um, a sua maneira, suspeitará que o entendimento humano deva ser considerado mais uma interpretação do próprio homem do que como algo que o transcenda, algo metafísico. Nesse mesmo caminho, no campo do conhecimento histórico, a Filosofia da história cristã entra em crise em meados do século XVIII, há uma diminuição do sentido de providência divina no discurso histórico. Uma espécie de “confiança científico-matemática” começa a se instalar no fazer histórico e substitui a confiança que as narrativas tinham na providência divina, no transcendental, na metafísica e, em última instância, da especulação filosófica. A finalidade da História, agora um conhecimento disciplinar, grafado aqui com letra maiúscula, é narrar a trajetória dos homens, da razão. “No século XIX, a consciência histórica emancipou-se do idealismo e substituiu-o pela ‘ciência’ e pela ‘história’” (REIS, 2006, pág.7).

Diante desse quadro, nos séculos XVIII e XIX, surgem influentes Filosofias da História, novas formas de pensar e entender a História. Talvez, conforme afirma Jurandir Malerba (2006), esse tenha sido o momento de maior avanço no campo da Filosofia e Teoria da História. Para ficarmos em um didático e suficiente exemplo (MALERBA, 2006), para a Filosofia da História de Hegel, que será a linha mestra para o historicismo do século XIX aqui em questão, o conhecimento de qualquer coisa exige uma referência histórica. Nada poderia ser compreendido fora da história, inclusive a filosofia estaria aí depositada. A história seria a história da emancipação do espírito humano (PECORARO, 2009). E a consciência histórica seria uma antecipação do futuro pela narrativa do presente imutável do espírito. Em Hegel, a

113 força motriz do sujeito da história seria sua razão dialética, muito embora o filósofo mantivesse algumas características metafísicas, transcendentais em seu pensamento, como a ideia de um espírito absoluto que move a história, que rege a história. Conforme explica Sérgio Buarque, “[a]té a “astúcia da razão” hegeliana não é senão uma racionalização do conceito de Providência” (HOLANDA, 1974, pág.463). Apesar da Filosofia da História do século XIX se inspirar na orientação hegeliana, ela rejeitará os aspectos filosóficos desta em prol de uma objetividade empírica, observável, científica (wissenschaft), antimetafísica. “A filosofia tradicional da história termina no sistema hegeliano; a filosofia moderna da história começa com a recusa do hegelianismo” (REIS, 2006, pág.33). Em substituição à filosofia teológico-metafísica, tem-se uma concepção científico-positiva, pós-kantiana da história. Não há mais um sentido imutável, transcendental, idealista de razão humana. A razão, bem como a filosofia, se reduz à História. O projeto de uma História científica do século XIX busca um estatuto de cientificidade a partir de fatos observáveis, empíricos, que pudessem ser elencamos numa escala de causa-efeito. Nada de especulações filosóficas ou hipóteses interpretativas. Também ocorre um afastamento da disciplina História das demais formas de conhecimento sobre o homem, tal como a filosófica ou a literária.121 Uma vez que o método histórico vira modelo para as Ciências Humanas no século XIX, ele se afasta das questões próprias ao sujeito da escrita da história, das questões filosóficas. Apesar de “nascer” como uma disciplina científica a partir de uma alteração basilar em sua Filosofia da História – na

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