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Alguns trabalhos que tratam do ensino da Física no Brasil, abordam especificamente o Curso de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, pioneiro na formação específica do professor desta disciplina. Os principais são Beisiegel (1971), Almeida Júnior (1980) e Prado (1981).

Sintetizaremos cada um deles tendo em mente os objetivos que nós determinamos para analisar a institucionalização da Física no Pará. Ou seja, a questão da formação dos professores; os cursos a que se destinava o ensino da Física; e principalmente, os temas que eram abordados nos programas das disciplinas.

Beisiegel (1971) enfatiza a participação dos professores estrangeiros pioneiros e apresenta as grades curriculares do Curso de Física da Universidade de São Paulo. Porém, não analisa os conteúdos das disciplinas. Limita-se a apresentar as mudanças ocorridas na formatação do curso, com base nas Reformas de Ensino ocorridas no período. Apresenta, também, para o período estudado, o número de candidatos ao Concurso de Habilitação, os bacharéis e licenciados diplomados em Física, além do número de docentes do Curso de Física na FFCL.

Sua ênfase maior diz respeito às demandas e as perspectivas dos físicos no mercado de trabalho. O trabalho de Beisiegel (1971) pode ser útil para minha pesquisa, pelas informações referentes às mudanças na legislação da educação nacional no âmbito do ensino de Física. Pois sabemos que cada Reforma que foi feita no Brasil, alterou de alguma forma, a estrutura das próprias instituições, ou a formatação do curso. Beisiegel (1971) quantifica os professores que atuaram no curso, mas pretendemos ir além. Ou seja, não apresentar mera relação de nomes, mas, analisar a sua formação num ambiente que ainda estava se adequando aos paradigmas vigentes nos outros centros nacionais. Beisiegel (1971) também quantifica os alunos, sua entrada na Universidade e no mercado de trabalho. No nosso caso, observaremos de que maneira os egressos do curso de Física, foram sendo, gradativamente, absorvidos pelo magistério no próprio Núcleo de Física e

Matemática, ocupando os espaços anteriormente dominados pelos engenheiros num primeiro momento e posteriormente pelos matemáticos.

Almeida Júnior (1980) difere um pouco de Beisiegel (1971) na medida em que trata também do ensino médio e não considera somente a criação da USP, mas enfatiza a história do ensino da Física desde o período colonial.

Para nosso trabalho nem um nem outro consegue estabelecer uma relação na qual a institucionalização se estabeleça na dinâmica do ensino em si, nas mudanças dos temas dominantes. Ou seja, essa ênfase não faz parte dos objetivos propostos pelos autores.

Diferentemente dos dois anteriores, Prado (1981) apresenta a grade curricular do curso de Física20, na FFCL, em 1934, destacando o papel desempenhado por Gleb Wataghin21 na realização de cursos22 que eram comuns tanto à Faculdade de Filosofia como à Escola Politécnica e muito semelhantes aos que ministrava na Universidade de Turim, de onde veio (PRADO,1981, p. 2).

Em seguida, Prado (1981) descreve as primeiras mudanças curriculares ocorridas no curso de Física, motivadas, principalmente, pela criação da Faculdade Nacional de Filosofia23, no Rio de Janeiro, em 1939, que provocou uma adaptação dos cursos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo ao padrão federal (PRADO,1981, p. 3).

Em 1942, o curso de Física da FFCL apresentou significativas alterações curriculares24. Em relação a grade de 1934, as disciplinas25 de Física receberam

considerável destaque.

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Segundo Prado (1981), o curso tinha a duração de três anos. As disciplinas eram assim distribuídas: Primeiro ano: Física Geral e Experimental (1ª parte); Cálculo Vetorial; Geometria Analítica e Projetiva; Análise Matemática (1ª parte). Segundo ano: Física Geral e Experimental(2ª); Mecânica Racional; Análise Matemática. Terceiro ano: Teorias Físicas e História da Física; Física Geral e Experimental (Exercícios de Física); Análise Matemática (PRADO, 1981, p. 2).

21 O campo de pesquisa de Wataghin era os raios cósmicos o que propiciou mais tarde o desenvolvimento de pesquisas em Física Nuclear, Física das Partículas Elementares, Astrofísica e a Instrumentação Científica (PRADO, 1981, p. 3).

22 Os alunos da Escola Politécnica interessados em ciência foram: Marcelo Damy, Mário Schenberg e Paulus Pompéia. Depois os estudantes César Lattes e Oscar Sala agregaram-se ao grupo. Ainda na década de 30, incorporou-se à equipe de professores de física de São Paulo o italiano Giuseppe Ochialini (RIBEIRO, 1994).

23 Sobre a criação da Faculdade Nacional de Filosofia e os cursos ver FÁVERO (1989). Em relação à Física na Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, os destaques foram Jayme Tiomno e José Leite Lopes (RIBEIRO, 1994).

24 De acordo com o Decreto nº 12.511, de 21.01.1942 (PRADO, 1981, p. 3).

25 Em relação a grade de 1934, a nova formatação do curso manteve inalterados os dois primeiros anos, mas no terceiro ano, em relação à Física, foram criadas as seguintes disciplinas: Física Superior, Física Matemática e Física Teórica (PRADO, 1981, p. 4).

As modificações ocorridas em 1946 instituíram o quarto ano compulsório, com cursos de especialização26 e a possibilidade do bacharel obter a licenciatura se

cursasse a partir do quarto ano as disciplinas Psicologia Educacional, Didática Geral e Didática Especial (PRADO, 1981, p. 3).

Outras modificações ocorreram, ao longo das décadas de 50 e 60, no currículo do curso de Física da FFCL, em decorrência da conjuntura mundial dos anos após a Segunda Guerra Mundial que, segundo Prado motivou a instalação de aceleradores de partículas no Departamento de Física da FFCL (PRADO, 1981, p. 5).

Finalmente, para o autor a mais significativa alteração ocorreu em virtude da aprovação pelo Conselho Federal de Educação (CFE) da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1961, especialmente o Parecer 296 que fixou o currículo mínimo para a Licenciatura em Física (PRADO, 1981, p. 5).

Além das mudanças curriculares, o trabalho de Prado aborda questões referentes à formação do professor de Física para o nível secundário, discorrendo sobre as influências exercidas “pelo movimento de renovação curricular norte- americano iniciado em 1957 com o Physical Science Study Committee (PSSC) e que em pouco anos estendeu-se por quase todo o ocidente" (PRADO, 1981, p. 9). O estudo do PSSC foi incluído na disciplina de Instrumentação para o Ensino na FFCL da Universidade de São Paulo (PRADO,1981, p. 9).

Algumas considerações sobre o trabalho de Prado se fazem necessárias. Ele se constitui numa apreciável fonte de informações para a minha pesquisa. Além de abordar as diversas mudanças curriculares ocorridas no curso de Física no Brasil, são apresentados, também, os conteúdos das diversas disciplinas de Física, que ao longo do período estudado, fizeram parte da grade curricular do curso.

Isso é particularmente importante, na medida em que, também, analisarei as mudanças curriculares e os principais temas contidos nas grades dos cursos das instituições de ensino superior do Pará, a saber, Escola de Engenharia, Faculdade de Filosofia e Núcleo de Física e Matemática.

26 Conforme Decreto-Lei Federal n. 9.092, de 26 de março de 1946. No terceiro ano a disciplina Análise Superior foi substituída pelas disciplinas Analise Matemática e Mecânica analítica (PRADO, 1981, p. 3).

Além dos trabalhos anteriormente apresentados, outros também contribuíram para a historiografia da história da Física no Brasil27. Todos tendo como cenário os

principais centros difusores do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo. Porém, mais recentemente, já há uma tentativa de resgatar a história das atividades científicas fora desse eixo.

Conforme veremos nos próximos capítulos, a partir dos anos 1950 havia uma intenção do governo federal de dotar as unidades federativas, através da Comissão Supervisora do Plano dos Institutos (COSUPI), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), com núcleos ou institutos de Física e Matemática. Isso propiciou o surgimento dessas instituições em alguns Estados Brasileiros. Pelo fato de existir semelhança entre a estrutura acadêmica de dois Estados do Nordeste, Bahia e Pernambuco, que criaram estes institutos e que contavam também com a existência de Escola de Engenharia e Faculdade de Filosofia, tal como aconteceu no Pará, é que consideramos importante observar como ocorreu a institucionalização dessas disciplinas nesses Estados, buscando relações com o contexto paraense.

3 A FÍSICA FORA DO EIXO RIO DE JANEIRO - SÃO PAULO COMO OBJETO DE