Os dados utilizados neste trabalho foram coletados condicionalmente à captura de ambos os lados da discussão teórica dos capítulos anteriores, ou seja, a identificação de potenciais aglomerações produtivas locais (APLs) e seus quocientes locacionais conjugados à captação das variáveis financeiras, particularmente as de crédito, nos municípios onde se fazem presentes essas aglomerações.
A segunda fase de captação e tratamento dos dados objetivou a identificação de aglomerações produtivas brasileiras. Nessa fase foram coletados dados de emprego da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) para o período de 1989 a 2003 em 13 subsetores da atividade econômica, mais especificamente aqueles relacionados à indústria, com o intuito de poder calcular um índice de concentração que identifique aglomerações espaciais. São usuais os problemas da RAIS como fonte de dados, principalmente por captar apenas o setor formal da economia27. Mas a escolha por essa base leva em consideração a possibilidade de investigar um período (principalmente na segunda parte
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Como SUZIGAN et al. (2003, p.4) aponta, a RAIS autoclassifica as empresas na coleta de informações primárias, o que inflexibiliza futuras classificações, além de apresentar dados que não separam adequadamente plantas produtivas e produtos diferenciados fabricados por uma mesma firma.
deste trabalho) maior do que seria permitido utilizando os dados de emprego do censo IBGE. Ademais, no momento em que se equiparam as variáveis de crédito, é presumido que o setor bancário exija formalidade legal das firmas previamente à concessão do crédito, o que fortalece e justifica a utilização da RAIS.
Foram selecionados 13 setores industriais agregados segundo a divisão da base de dados da RAIS. São eles: setor extrativo mineral metálico e mineral não metálico, calçadista, mecânico, químico, de papel e gráfica, metalúrgico, alimentício, têxtil, de transportes, moveleiro, de eletrônica e setor da indústria de fumo, couro e borracha.
Para a identificação de APLs privilegiou-se a metodologia adotada por CROCCO et al (2003) que utiliza o Índice de Concentração Normalizado (ICn) como fator investigativo28. Tal metodologia combina três critérios que exprimem a relação de concentração e especialização de uma região em determinado setor de atividade econômica. O primeiro deles é o Quociente Locacional (QL) que ajuda a determinar se uma cidade em particular possui especialização em um setor específico. A expressão é a seguinte:
BR i BR j i j E E E E QL=
onde Eij =Empregodosetor inacidadej, j; cidade na industrial total Emprego Ej = Brasil; no i setor do Emprego = i BR E Brasil. no Industrial Emprego = BR E
O QL é um indicador tradicional na economia regional, o qual procura comparar duas estruturas espaciais segundo os ramos de atividade econômica presentes nestes espaços. O numerador define a proporção de empregos de um setor em uma região em relação ao total de empregos da região, o que pode ser considerada como o peso relativo do setor na região considerada, ou região em estudo. O denominador expressa o peso do emprego em um setor com relação ao emprego total de uma região de referência, no caso o Brasil.
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A escolha desse método de identificação de APLs é opção subjetiva desta dissertação, já que segundo MARTIN e SUNLEY (2001) existem diferentes critérios de identificação que variam de acordo com a necessidade de se ressaltar certos aspectos dos arranjos, sejam eles econômicos ou sociais.
Combinadas as proporções, temos uma medida que expressa o grau de especialização produtiva do objeto de estudo.
O segundo componente do índice de concentração (IC) é a Participação Relativa (PR), uma proporção que relaciona a importância do setor no município em âmbito nacional:
i BR i j E E PR=
O último indicador é Hirschman-Herfindahl modificado (HHm), elaborado na tentativa de captar em que medida a especialização do setor no município reflete um fenômeno do setor ou da estrutura industrial do município como um todo. Ele se define da seguinte forma
⎟⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎝ ⎛ − ⎟ ⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎜ ⎝ ⎛ = BR j i BR i j E E E E HHm
Tal índice controla (através da proporção relativa do município j no emprego do País) a proporção entre empregos em determinado setor presente no município j com relação ao emprego do mesmo setor em escala nacional (a primeira proporção do lado direito da equação). Se algum município apresenta alta proporção de empregos em um setor mas ao mesmo tempo o emprego no município é relativamente alto, estamos lidando com economias centralizadoras de recursos e muito diversificadas e a segunda proporção do lado direito da equação evita que o HHm entre no cálculo do índice de concentração sem descontar o fator de diversificação da economia local.
Para o cálculo do Índice de Concentração Normalizado são somados os três indicadores anteriores em uma combinação linear e cada indicador recebe um peso (θn), que depende
do valor de explicação de cada um. Sua especificação é a seguinte
ij ij
ij
ij QLn PRn HHmn
ICn =θ1 +θ2 +θ3
O trabalho CROCCO et al. (2003) utiliza o método de análise de componente principal para estimar os valores dos pesos do índice. A importância de cada um dos indicadores na determinação do IC do município é medida pelo grau de explicação (determinado pela variância de cada componente no conjunto total29) que cada um dos indicadores fornece para cada setor especificamente. Diferentemente, para fins deste trabalho, decidiu-se
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atribuir pesos iguais para todos os indicadores, pois o tratamento via componente principal para os pesos não altera significativamente a proporção de 0,33 para cada um deles.
Com os índices de concentração em mãos, a segunda etapa do tratamento de dados pode ser iniciada. Nessa fase, os 5.463 municípios constantes da base da RAIS de 2003 foram classificados segundo sua potencialidade em ser uma aglomeração produtiva através do cálculo de seus respectivos ICs; deste conjunto, foram selecionados os municípios que apresentavam 10 ou mais estabelecimentos respectivos pra cada setor industrial. Esse é um filtro nos dados que representa o fato do município que se candidata a APL precisar de um requisito mínimo obrigatório de escala, ou seja, a provável aglomeração precisa possuir no mínimo 10 estabelecimentos no setor específico para ser considerada uma APL30.
O próprio IC tem características escalares, no sentido que quanto maior o índice, maior é o potencial do município possuir uma aglomeração produtiva em um determinado setor. Assim, do conjunto total, foram selecionados 1.443 municípios que apresentaram IC representativo e mais de 10 estabelecimentos para qualquer um dos 13 setores industriais em 2003. De posse desse resultado, o segundo filtro toma o município e seleciona o maior valor de IC por setor existente na localidade, representando uma proxy para a potencialidade do município apresentar uma aglomeração espacial produtiva em um determinado setor industrial. Desse grupo respectivo de municípios, 715 são coincidentes com a base de dados financeiros (municípios com três ou mais agências bancárias) coletada anteriormente.
O ano de 2003 foi escolhido por se tratar do período mais atual da base de dados. Cabe notar que o IC selecionado em 2003 para algum município talvez não represente o real potencial de aglomeração existente, principalmente se o município for economicamente diversificado o bastante para apresentar mais de uma aglomeração setorial, pois uma variação do número de empregos no ano em qualquer setor pode atrapalhar a seleção e mascarar os resultados. Mas acredita-se que a aproximação é bastante razoável31, dado que
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A severidade dos filtros para número de estabelecimentos variam para os estudos empíricos sobre arranjos produtivos locais. A escolha pelo mínimo de 10 estabelecimentos amplia o conjunto de potenciais APLs selecionadas, o que torna a análise mais rica pois engloba municípios com incipientes aglomerações produtivas.
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Cruzando-se a base de municípios selecionados por este trabalho com a seleção em 2006 de APLs para o programa de apoio do governo federal (BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2006), temos que aproximadamente 30% dos municípios e seus arranjos produtivos selecionados por este trabalho são coincidentes com a lista do governo. Esse número é bastante representativo, já que a seleção do governo federal inclui arranjos produtivos de base agrícola e de serviços, agrega os municípios das regiões metropolitanas brasileiras pela nome da capital e considera na seleção aglomerações produtivas com redes de interação mais complexas e que estejam vinculadas aos parceiros do governo no
municípios com APLs têm como característica a especialização produtiva em um setor único e portanto pouca variação em outros setores de atividade. Além disso, o nível escolhido de agregação dos setores (13 ramos de atividade) da RAIS tem o objetivo de reduzir esses efeitos de variação do número de empregos setoriais na definição dos índices de concentração.
4.3. A análise de homogeneidade HOMALS (análise de múltipla correspondência)