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No Brasil, de acordo com Frosi e Mioranza (2009), a imigração italiana envolveu, principalmente, os estados de Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande no Sul. No estado gaúcho, houve duas zonas de povoamento de áreas devolutas ou despovoadas: o Nordeste e as terras próximas à cidade de Santa Maria. No Nordeste do estado, no final do século XIX, os imigrantes ocuparam as Colônias de Caxias, Dona Isabel, Conde D’Eu (Antiga Colônia I), Antônio Prado, Alfredo Chaves (Antiga Colônia II), Guaporé e Encantado (Nova Colônia). A imagem a seguir ilustra a região de concentração de imigrantes nessa região do estado:

Imagem 2 – Área ocupada pelos imigrantes italianos na 1ª. Fase de colonização

Fonte: Panozzo (1996, p. 19).

Essas grandes colônias (Antiga Colônia I, Antiga Colônia II e Nova Colônia) foram, com o passar do tempo, desmembrando-se em municípios. Devido a esse fato e ao surgimento de novas cidades, houve a criação da Novíssima Colônia (microrregião da RCI que abarcava os municípios mais recentes à época do estudo). Dessa forma, Frosi e Mioranza (2013, p. 59) indicam que, em 1975, a Região de Colonização Italiana do Nordeste do Rio Grande do Sul possuía vinte e seis municípios: Anta Gorda, Antônio Prado, Arvorezinha, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Casca, Caxias do Sul, Ciríaco, David Canabarro, Encantado, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Guaporé, Ilópolis, Marau, Muçum, Nova Araçá, Nova Bassano, Nova Bréscia, Nova Prata, Paraí, Putinga, São Marcos, Serafina Corrêa e Veranópolis.

O Quadro 5 apresenta, de acordo com Frosi e Mioranza (2009, p. 70), as colônias originais e seus desdobramentos em municípios:

Quadro 5 – Colônias originais e seus desdobramentos em municípios

Denominação Colônia Municípios em 1975

Antiga Colônia I

Barracão – (Nova Milano) Caxias Dona Isabel Conde D’Eu Farroupilha Caxias do Sul Flores da Cunha São Marcos Bento Gonçalves Garibaldi Carlos Barbosa Antiga Colônia II Antônio Prado Alfredo Chaves Antônio Prado Veranópolis Nova Prata Nova Bassano Nova Colônia Guaporé Encantado Guaporé Muçum Serafina Corrêa Casca

Vila Maria (distrito de Marau) Encantado

Nova Bréscia

Novíssima Colônia

--- (Expansões das diversas colônias anteriores)

Paraí Nova Araçá Círiaco[sic]

Davi Canabarro [sic] Marau

Putinga Anta Gorda Ilópolis Arvorezinha Fonte: Frosi e Mioranza (2009, p. 70).

Estudos posteriores (FROSI, 2003, p. 127-130; FROSI; MIORANZA, 2009, p. 105- 106) mostram um acréscimo de vinte e nove novos municípios à região. Assim, no ano de 2001, somaram-se, aos topônimos já citados, os seguintes: Boa Vista do Sul, Camargo, Coqueiros do Sul, Coronel Pilar, Cotiporã, Dois Lajeados, Doutor Ricardo, Fagundes Varela, Gentil, Guabiju, Montauri, Monte Belo do Sul, Muliterno, Nicolau Vergueiro, Nova Alvorada, Nova Pádua, Nova Roma do Sul, Protásio Alves, Relvado, Santa Bárbara do Sul, Santa Tereza, São Domingos do Sul, São Jorge, São Valentim do Sul, Vanini, Vespasiano Corrêa, Vila Flores, Vila Maria e Vista Alegre do Prata.

Vale destacar que, na década de 1970, enquanto a RCI possuía vinte e seis municípios, o Rio Grande do Sul possuía 23223. Cerca de trinta anos depois, no início do novo milênio, devido ao desmembramento de algumas cidades, a RCI atingiu a marca de cinquenta e cinco municípios, e o estado, 497. Logo, observa-se que o crescimento da RCI acompanhou de perto o do Rio Grande do Sul.

Tomando como base os estudos já desenvolvidos por Frosi e Mioranza (2009, 2013), apresenta-se, neste momento, a listagem atualizada de cidades pertencentes à RCI, a fim de verificar se, a partir 2001, houve ou não alguma mudança no tocante à quantidade de municípios ou de suas denominações24. Os resultados estão sintetizados na imagem e no quadro a seguir:

Imagem 3 – Nova configuração da RCI

Fonte: Misturini (2016, p. 230).

Quadro 6 – Nova configuração da RCI

1 Anta Gorda 30 Muçum

2 Antônio Prado 31 Muliterno

3 Arvorezinha 32 Nicolau Vergueiro 4 Bento Gonçalves 33 Nova Alvorada 5 Boa Vista do Sul 34 Nova Araçá

6 Camargo 35 Nova Bassano

23 Informações acerca da quantidade de municípios no RS retiradas de: TOMIO, Fabrício Ricardo de Limas.

Federalismo, municípios e decisões legislativas: a criação de municípios no Rio Grande do Sul. Rev. Sociol. Polit. [online]. 2005, n. 24, p. 123-148. ISSN 1678-9873.

24 Parte deste estudo encontra-se publicado em: MISTURINI, Bruno. Influências da imigração italiana na

toponímia Bento-Gonçalvense. In: FROSI, Vitalina Maria; MISTURINI, Bruno (Orgs.). Imigração italiana: estudos e pesquisas. São Leopoldo: Oikos, 2016. p. 225-240.

7 Carlos Barbosa 36 Nova Bréscia

8 Casca 37 Nova Pádua

9 Caxias do Sul 38 Nova Prata

10 Ciríaco 39 Nova Roma do Sul

11 Coqueiro Baixo** 40 Paraí

a Coqueiros do Sul* 41 Pinto Bandeira*** 12 Coronel Pilar 42 Protásio Alves

13 Cotiporã 43 Putinga

14 David Canabarro 44 Relvado

15 Dois Lajeados b Santa Bárbara do Sul* 16 Doutor Ricardo 45 Santa Tereza

17 Encantado 46 Santo Antônio do Palma*** 18 Fagundes Varela 47 São Domingos do Sul 19 Farroupilha 48 São Jorge

20 Flores da Cunha 49 São Marcos

21 Garibaldi 50 São Valentim do Sul

22 Gentil 51 Serafina Corrêa

23 Guabiju 52 União da Serra***

24 Guaporé 53 Vanini

25 Ilópolis 54 Veranópolis

26 Itapuca*** 55 Vespasiano Corrêa

27 Marau 56 Vila Flores

28 Montauri 57 Vila Maria

29 Monte Belo do Sul 58 Vista Alegre do Prata

Fonte: Misturini (2016, p. 230-231), com informações de Frosi (2003) e Frosi e Mioranza (2009, 2013).

Ao se mapearem os municípios25 que constavam na listagem de 2001, nota-se, primeiramente, que Coqueiros do Sul* e Santa Bárbara do Sul* estão localizados fora da zona de concentração das cidades que pertencem à RCI. Tal engano pode ser justificado pelo fato de haver, na região, o município de Coqueiro Baixo** e de ter existido, até o ano de 1987, o distrito de Santa Bárbara, que pertencia ao município de Guaporé e que, juntamente com os distritos de Dois Lajeados e São Valentin, deu origem ao município de Dois Lajeados, também localizado na Região de Colonização Italiana. Retifica-se, assim, que Coqueiros do Sul e Santa Bárbara do Sul são municípios gaúchos que não fazem parte da RCI. Acrescenta-se à lista, então, o município de Coqueiro Baixo, desmembrado de Nova Bréscia e Relvado, com criação no ano de 1996 e instalação em 2001.

Os municípios de Itapuca***, Pinto Bandeira***, Santo Antônio do Palma*** e União da Serra*** também não constam no estudo de 2001. Eles faziam parte dos municípios de Arvorezinha, Bento Gonçalves, Casca e Guaporé, respectivamente. Pinto Bandeira conquistou

25 Todas as informações acerca dos municípios foram retiradas do site do IBGE. Disponível em:

sua emancipação pela primeira vez em 1996, tendo sua instalação em 2001. Contudo, no ano de 2003, voltou a ser um distrito de Bento Gonçalves. No ano de 2010, novamente foi elevado à categoria de município, com instalação em 1º de janeiro de 2013. Já Itapuca, Santo Antônio do Palma e União da Serra emanciparam-se em 20 de março de 1992, tendo sua instalação oficial como município no primeiro dia de 1993.

Observa-se, ainda, que os municípios da chamada Região de Colonização Italiana do Nordeste do Rio Grande do Sul extrapolam os limites nordestinos do estado, tomando partes das Regiões Noroeste e Centro Oriental rio-grandenses.

Assim, constata-se que, atualmente, a RCI possui cinquenta e oito municípios. Os estudos pioneiros de Frosi e Mioranza (2009, 2013) foram fundamentais para que houvesse o mapeamento e o resgate histórico feitos hoje. A RCI, como qualquer outra região, não está isenta de transformações e mudanças advindas da modernidade. Elementos históricos, geográficos, culturais e políticos atuam na configuração de diversas regiões. A partir disso, ressalta-se a importância de estudos como este, bem como da sua continuidade, antes que certos elementos acabem perdidos com o passar do tempo.

Dessa forma, de posse dos dados atualizados, é possível afirmar que a história oficial – registrada por leis e decretos – da Região de Colonização Italiana do Nordeste do Rio Grande do Sul iniciou-se no final do século XIX, mais precisamente no ano de 1890, com a criação dos municípios de Caxias do Sul e Bento Gonçalves. Observa-se, também, que a história dos nomes dos municípios da referida região continua sendo escrita e reescrita, fato evidenciado com a criação do município de Pinto Bandeira, no recente ano de 2013.

Destaca-se, ainda, antes de iniciar a análise do corpus, a necessidade de revisitar o conceito de região neste trabalho. Entende-se, popularmente, que uma região se constrói por meio de fronteiras geográficas. Apesar disso, acredita-se que, na região em análise, elementos culturais – antropológicos – sobrepõem-se aos geográficos – naturais. Para Pozenato (2003, p. 149),

a idéia de região como um espaço natural talvez tenha surgido a partir de sua utilização pela Geografia. A Geografia Física circunscreve territórios em função da paisagem, como se dizia antigamente, ou seja, da Meteorologia, da Hidrologia, da Topografia, da vegetação etc. A Geografia Humana define os espaços regionais também com critérios objetivos, fornecidos pela História, pela Etnografia, pela Lingüística, pela Economia, pela Sociologia. Como nem sempre esses critérios coincidem, é possível falar de região histórica, região cultural, região econômica e assim por diante, com fronteiras distintas no mesmo território físico.

O autor ainda coloca que, nessas disciplinas – com exceção da geografia –, “o espaço físico passa para um segundo plano, para privilegiar variáveis e relações de tipo humano ou social, cada uma dentro da sua perspectiva de observação: o custo, para o economista, o dialeto ou os rituais, para o etnólogo, as classes, para o sociólogo, e assim por diante” (POZENATO, 2003, p. 149). Assim, Pozenato (2003) exerga a região como uma construção simbólica, e não mais apenas como um local determinado por fronteiras – recortes – geográficos.

Seguindo essa linha de raciocínio, Berumen (2003, p. 52) afirma que

a região, portanto, não se encontra nunca desligada da existência de uma determinada identidade cultural e que, estabelecida no território e na tradição histórica, expressa a maneira como uma comunidade se reconhece e se manifesta. Existe por meio de um sentimento de pertença que se expressa em uma identidade regional26.

Com isso, passa-se a entender a Região de Colonização Italiana do Nordeste do Rio Grande do Sul como um espaço construído e delimitado por meio da cultura italiana aqui estabelecida, fato que, apesar de depender de limites geográficos para delimitar sua localização, possui mais importância na compreensão e na análise do local.

Para Joachimsthaler (2009, p. 40), teórico alemão,

uma região é, portanto, ‘simplesmente’ uma condensação de espaço cultural (mais de uma pode se sobrepor em um só local) usada por indivíduos como motivo para a construção de identidades regionais, no que elas [as condensações] atribuem um sentido para a identificação de caráter identitário aos espaços.

Dessa forma, vê-se que um mesmo espaço pode ocupar diversas regiões (tendo em mente que estas são construções humanas, não naturais). Pega-se como exemplo o município de Caxias do Sul: pode-se localizá-lo na RCI, a partir de um recorte cultural; na Região Metropolitana da Serra Gaúcha27, levando-se em conta, principalmente, critérios econômicos; na Região da Serra Gaúcha, dada por motivações geográficas, mas, também, turísticas; na Região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, considerando-se sua disposição geográfica; entre outros.

26 Do original: “La región, por tanto, no se encuentra nunca desligada de la existência de una determinada identidad

cultural y que, afincada en el territorio y en la tradición histórica, expresa la manera cómo una comunidad se reconoce y se manifesta. Existe a través de un sentimiento de pertenencia que se expresa en una identidad regional.” Essa e as demais traduções de textos em espanhol e inglês nesta tese são de minha responsabilidade.

27 Região criada pela Lei Complementar nº 14.293 de agosto de 2013, constituída pelos municípios de Antônio

Prado, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Ipê, São Marcos, Nova Pádua, Monte Belo do Sul, Santa Teresa e Pinto Bandeira. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.br/filerepository/repLegis/arquivos/LEC%2014.293.pdf>. acesso em: 17 out. 2017.

Assim, a região, para Arendt (2012, p. 86), enfatiza “elementos de natureza humana, resultantes de sua ação temporal sobre o espaço. As fronteiras regionais, embora difíceis de serem precisadas, localizam-se no ponto em que um conjunto de valores começa a se diluir e a dar lugar a outro conjunto de valores culturais”. O autor ainda afirma “ser possível localizar em uma única região, às vezes de modo escuso, símbolos de diferentes regiões que aí se condensam” (ARENDT, 2012, p. 87). A exemplo, tem-se a cultura italiana que, na RCI, coexiste ao lado da cultura gaúcha, fazendo com que, por exemplo, um restaurante tipicamente italiano sirva, juntamente com sua variedade de massas, cortes de churrasco, com trilha sonora que intercala músicas tipicamente gauchescas e outras em língua italiana.

O quadro a seguir apresenta os municípios da RCI ordenados de maneira cronológica a partir do ano de sua fundação:

Quadro 7 – Municípios da RCI (ordem cronológica) 1890 Caxias do Sul 1987 Fagundes Varela 1890 Bento Gonçalves 1987 Guabiju

1898 Veranópolis 1987 São Domingos do Sul 1899 Antônio Prado 1987 São Jorge

1900 Garibaldi 1987 Vanini

1903 Guaporé 1988 Protásio Alves

1915 Encantado 1988 Montauri

1924 Flores da Cunha 1988 Vista Alegre do Prata 1924 Nova Prata 1988 Vila Maria

1934 Farroupilha 1988 Vila Flores

1954 Casca 1988 Relvado

1954 Marau 1988 Camargo

1959 Arvorezinha 1988 Nova Alvorada

1959 Muçum 1992 Gentil

1959 Carlos Barbosa 1992 Itapuca

1960 Serafina Corrêa 1992 Monte Belo do Sul

1963 Ilópolis 1992 Muliterno

1963 São Marcos 1992 Nicolau Vergueiro 1963 Anta Gorda 1992 Nova Pádua

1963 Putinga 1992 Santa Tereza

1964 Nova Bassano 1992 Santo Antônio do Palma 1964 Nova Araçá 1992 São Valentim do Sul 1964 Nova Bréscia 1992 União da Serra

1965 Paraí 1995 Boa Vista do Sul

1965 Ciríaco 1995 Doutor Ricardo

1965 David Canabarro 1995 Vespasiano Corrêa 1982 Cotiporã 1996 Coqueiro Baixo 1987 Nova Roma do Sul 1996 Coronel Pilar 1987 Dois Lajeados 2013 Pinto Bandeira

Partindo disso, inicia-se esta análise com Caxias do Sul, primeiro município oficialmente criado na região, em 1890.

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