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3 MOVIMENTOS EM PROL DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO

3.1 A IMPLANTAÇÃO DA GINÁSTICA NOS CURRÍCULOS DAS ESCOLAS

Ao ingressar em um universo de tempos passados, é imprescindível visitar histórias já contadas sobre o objeto que se pretende investigar. Assim, nesta investida, buscou-se falar de um lugar que abrigou diversos personagens que, de alguma maneira, encenaram Histórias a respeito da Educação Física Escolar no Espírito Santo.

A partir dessa ideia, apresenta-se um pequeno esboço dos movimentos de constituição da Educação Física Escolar no Espírito Santo, desde a sua inserção como componente curricular nas escolas estaduais, em 1908, até a criação do Departamento de Educação Física do Espírito Santo, em 1931.

Com o intuito de escrever uma história possível, ou seja, sem personagens e acontecimentos engessados, assim como orienta Bloch (2001), esta pesquisa não se preocupa com origens, mas sim com os contextos de produção que permearam a constituição do objeto em questão. Dessa forma, a intenção foi analisar fios e rastros deixados por sujeitos de outros tempos, a fim de subsidiar a escrita de uma história da Educação Física Escolar no Espírito Santo, a partir de novos olhares. Diante das inúmeras histórias já contadas, assume-se o risco de se surpreender por questionamentos a respeito da “verossimilhança” das fontes interrogadas, mas, como afirma Ginzburg (2001), a pesquisa histórica oferece esse risco.

A seguir, o “lugar” e o “tempo” dos quais se pretende falar, numa tentativa de localizar os personagens que iniciaram o movimento em prol de uma efetivação da Educação Física Escolar no Espírito Santo.

Durante o período da primeira República (1889-1930), algumas reformas acerca da educação no Espírito Santo foram promovidas. Neste momento, interessa expor os movimentos que permearam a Reforma intitulada Gomes Cardim, instituída no

Espírito Santo, em 1908, quando, pela primeira vez, a ginástica foi contemplada como conteúdo nos currículos das escolas capixabas. Para Silva (1996), a reforma que recebeu o nome de seu proponente, o professor paulista Carlos Gomes Cardim,

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contemplou algumas disciplinas antes não incluídas nos currículos capixabas, entre elas, a ginástica. A autora afirma ainda que, entre as medidas instituídas no Governo de Jerônimo Monteiro, estava a regulamentação do Ginásio do Espírito Santo ocorrida em 1908, assunto a ser tratado nos capítulos seguintes.

Na ausência de professores formados especificamente para ministrar a ginástica, a prática foi atribuída a professores, como Emília Franklin Mululo, 5 Francisco Carvalho e Dr. Deocleciano de Oliveira. 6 Silva (1996) aponta duas hipóteses no que diz respeito ao desenvolvimento dessa disciplina durante esse período: uma delas é a aplicação da ginástica pelo professor correspondente de cada turma. A outra hipótese é que, mesmo tendo sida incluída nos currículos escolares, nem todo estabelecimento desenvolvia a ginástica, sendo dispensáveis professores para ministrar essa disciplina.

Indícios levam a crer que, mesmo em tempos distantes anteriores ao “ápice” da Educação Física no Espírito Santo, ocorrido no início na década de 1930, a ginástica começava a aparecer como elemento essencial para a formação integral dos alunos capixabas. O governador da época, Jerônimo Monteiro, reforça essa ideia quando afirma, em uma de suas mensagens sobre “os negócios do Estado”, apresentada à Assembleia Legislativa, que: “Ao lado da instrução literária é ministrada a educação física ao aluno, que pelos exercícios variados, inteligentes e metodicamente executados mantém sempre o seu organismo em favorável formação” (MONTEIRO, apud ARAÚJO, 1964, p.1).

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Educador paulista trazido de São Paulo para o Espírito Santo, no Governo de Jerônimo Monteiro, com o propósito de reorganizar a educação primária, secundária e secundária profissional do Estado (SILVA, 1996).

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Segundo os Decretos nº 131 e 132 de julho de 1908, Emília Franklin Mululo e Francisco Carvalho foram os primeiros professores de Educação Física contratados do Estado. Ambos exerceram suas funções na Escola Normal e Modelo, respectivamente (SILVA, 1996, p. 90).

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Considerado por Araújo (1964) um dos pioneiros da ginástica no Espírito Santo, pois, além de introduzi-la como atividade curricular na época, também ministrou as primeiras aulas às alunas da Escola Normal “Pedro II”.

Nas décadas seguintes, uma nova figura ganha destaque na História da Educação do Espírito Santo, Atílio Vivacqua. Capixaba nascido em Rio Pardo, hoje Muniz Freire, sempre teve interesses voltados para a área educacional. Foi secretário da Instrução Pública no Governo de Aristeu Borges de Aguiar (1928-1930), mandato interrompido pelo golpe de 1930 (BONATTO, 2005).

Vivacqua foi um dos participantes do Manifesto dos Pioneiros da Educação,7 além de difundir os ideais da Escola Ativa, não só por meio da imprensa capixaba, mas também pela imprensa paulista. De acordo com Bonatto (2005, p. 76), para o aprimoramento da educação capixaba, algumas medidas deveriam ser tomadas como emergenciais. Dentre elas:

[...] a construção de cinco escolas normais de emergência, oferecendo em dois anos para habilitar compulsoriamente o professorado provisório e efetiva-lo. Além da mudança do [...] currículo do referido curso, que compreenderia: Português, matemática, geografia, História do Brasil, caligrafia, noções de didática, preceitos de higiene, instrução moral e física e ginástica.

Assim como na Reforma anterior presidida por Gomes Cardim, a ginástica permaneceu nos currículos das escolas normais do Estado, o que pode indiciar que a educação capixaba deveria continuar agregando a Educação Física. Isso indica a necessidade de professores habilitados nessa área para atuar nas escolas estaduais.

Segundo Bonatto (2005), em uma entrevista cedida ao Correio Paulistano, em 1928, Vivacqua afirma que as Reformas promovidas até aquele período no Estado não haviam surtido mudanças significativas, ou seja, não haviam conseguido elevar o ensino no Estado.

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O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova consolidava a visão de um segmento da elite intelectual que, embora com diferentes posições ideológicas, vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira do ponto de vista da educação. Redigido por Fernando de Azevedo, o texto foi assinado por 26 intelectuais, entre os quais Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles. Ao ser lançado, em meio ao processo de reordenação política resultante da Revolução de 30, o documento se tornou o marco inaugural do projeto de renovação educacional do País.

Assim, em 26 de junho de 1931, aproximadamente um ano após a Revolução de 1930, foi criado o Departamento de Educação Física do Espírito Santo. De acordo com Silva (1996), existem evidências que nos levam a crer que, a partir do Centro Militar de Educação Física (mais tarde Escola de Educação Física do Exército), iniciou-se, nos anos 30, no País uma campanha de difusão e incentivo à prática e ao ensino da Educação Física.

Nas páginas a seguir, a criação do Departamento e da Escola de Educação Física do Espírito Santo é contemplada, bem como seus mais variados momentos. Destacam-se os ideais difundidos pelos cursos oferecidos, além de enfatizar seus processos desde o ano de sua criação, em 1931, até o final da década de 1940, período que abrigou o primeiro Governo de Getúlio Vargas no Brasil.

CAPÍTULO 4: A CRIAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ESPÍRITO SANTO E AS PRIMEIRAS INICIATIVAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

4.1 O DEPARTAMENTO, O CURSO DE EMERGÊNCIA, A ESCOLA DE