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Foto 24: Pauta da Reunião do Conselho da RDSQBT

3. De Parque Estadual à Mosaico do Jacupiranga

3.2. A implantação do MOJAC

O MOJAC resultou do processo de luta pela recategorização de territórios pertencentes ao Parque Estadual do Jacupiranga (PEJ), unidade de conservação de proteção integral que abrigava comunidades camponesas tradicionais no seu interior. O PEJ foi criado em 1969 com 150 mil hectares, estendendo-se por seis municípios do Vale do Ribeira. Segunda maior UC do estado, a extensão do parque reuniu áreas com características muito diversas do ponto de vista ecológico e sociocultural já que envolveu territórios do alto (Iporanga), médio (Eldorado, Barra do Turvo, Jacupiranga e Cajati) e baixo Ribeira (Cananéia). Dentro do perímetro do parque também ficou a rodovia BR116.

Na época em que o PEJ foi decretado, a política ambiental brasileira caminhava a reboque das ações desenvolvimentistas no governo militar, buscando garantir áreas como reservas de recursos naturais. No Vale do Ribeira o governo do Estado iniciara ações de planejamento que buscavam ordenar a integração dessa região aos fluxos urbanos industriais, processo que começara na década anterior com a abertura da BR 116 e a chegada da agricultura comercial (banana e chá) na região.

Apesar de contar com uma biodiversidade complexa, importante e ainda pouco estudada, o Parque [Jacupiranga] foi criado por um ato governamental autoritário característico do momento histórico em que o País vivia nas décadas de 1960 e 1970: o período da ditadura militar. Nesta época foram criadas no Estado de São Paulo várias Unidades de Conservação (UC's) com o objetivo de proteger áreas bem preservadas, ou segundo alguns autores criar uma reserva de capital natural. No caso do PEJ, a antiga Reserva Estadual criada em 1945 foi transformada em Parque Estadual englobando em sua área várias comunidades tradicionais – quilombolas, caiçaras e caboclos/caipiras - que ali já viviam há várias gerações (BIM, 2013, p. 28).

134 Bim (2013) salienta que a criação do parque aconteceu de forma autoritária, sem considerar as populações que habitavam o extenso território coberto pelo PEJ. Essa crítica coincide com aquela realizada por outros autores com relação às ações propostas pelo Estado para as atividades produtivas (agricultura, extrativismo), as quais não consideraram as formas diferenciadas de apropriação dos recursos naturais praticadas pelas populações tradicionais.

Ora, o autoritarismo com que as UC’s de proteção integral foram promulgadas integra o projeto mais amplo desenhado para a região, no qual, como vimos, as formas de apropriação comum praticadas pelas comunidades tradicionais são consideradas resíduos a serem superados pela modernização da agricultura. A conservação proposta naquele momento, assim como as políticas de desenvolvimento, não enxergavam as práticas tradicionais como integrantes do cenário proposto para a região. Não é estranho, assim, que as comunidades tradicionais tenham sido ignoradas pelo governo ao decretar o PEJ.

O referido projeto de desenvolvimento para o Vale do Ribeira, então, está baseado no entendimento moderno de natureza, ou seja, aquele que concebe os remanescentes florestais como recursos naturais que têm sentido no processo capitalista de produção. Dessa forma, as áreas preservadas, a serem protegidas pelas UC’s, são concebidas como intocadas e destinadas para a contemplação e pesquisa científica, necessidades da própria sociedade moderna.

Apesar de ser decretado em 1969, durante toda década de 1970 o PEJ não recebeu ações efetivas de implantação por parte do Estado e permaneceu numa situação de abandono a qual fez complicar a já complexa situação social que apresentava desde sua criação. Durante este período, o patrimônio natural também foi comprometido já

135 que aumentou o desmatamento em algumas áreas (principalmente na região de Barra do Turvo e Cajati). Como relata BIM (2013, p.29):

Sem contar com as mínimas condições de manejo e fiscalização, o PEJ teve boa parte das áreas próximas à rodovia BR-116 ocupadas pelos migrantes, na expectativa de retornarem à condição de agricultores, em uma área legalmente proibida para as atividades agrícolas, o que acabou propiciando o surgimento de inúmeros conflitos. No mesmo movimento, estabeleceram-se na área fazendeiros - criadores de gado - que chegaram a ter um rebanho bovino com mais de 8.000 cabeças na região.

Relevante perceber que durante os 20 anos em que a política de conservação foi negligente a área do parque se manteve sob a ótica da apropriação privada da terra, ainda que legalmente a propriedade privada da terra não pusesse ocorrer. Dessa forma, muitas famílias de comunidades tradicionais (negras, caiçaras e caboclas) sofreram perda de terra69 para fazendeiros que chegaram à região. A estratégia de

retirar a mata nativa para a implantação do capim e formação do pasto fazia com que estes fazendeiros não apenas explorassem os recursos da mata (madeira, sobretudo), mas também consumassem uma situação em que não haveria mais “o que” ser preservado.

A ocupação pelas famílias migrantes, oriundas do Paraná e São Paulo, caracteriza a situação de vulnerabilidade que o próprio projeto desenvolvimentista da época criava. Atraídas pela promessa do retorno à terra, essas famílias que já haviam sido expulsas dela, vieram motivadas pelo “progresso” que os investimentos do Estado prometiam, mas, como em outras regiões de fronteira do país, se depararam com uma situação de conflito, marcado pela indisciplina fundiária. A essas famílias restaram as áreas mais inadequadas para a agricultura e ocupação (próximas à

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Como veremos mais adiante no caso das comunidades quilombolas de Barra do Turvo, a perda de terra se dava pela compra por valores irrisórios ou mesmo grilagem.

136 rodovia BR 116), já que a legislação ambiental e fundiária não permitiria jamais a sua titulação.

Por outro lado, a não implantação do PEJ demonstra a postura do Estado no período militar que, sobretudo na década de 1970, optou por uma política de desenvolvimento a qualquer custo, projeto no qual (conforme as declarações do governo brasileiro na Conferência de Estocolmo em 1972) o meio ambiente “limpo” não poderia impor limites ao crescimento econômico. Desse ponto de vista, não era prioridade do governo da época investir na estruturação de unidades de conservação.

Para Duarte (2012), no que se refere à implantação do PEJ, o Estado não estava completamente ausente, pois durante os anos 1970 e 1980 instituiu grupos de trabalho destinados a fazer recomendações para implantação do parque. Entretanto, as ações recomendadas não resultaram em obras efetivas do Estado. A autora destaca que o macrozoneamento do Vale do Ribeira, documento de planejamento publicado em 1990, “classificou a situação do PEJ quanto aos conflitos de uso, como alarmante, com 43% das terras indevidamente ocupadas, incluindo áreas com uso antrópico intenso.” E faz uma crítica ao estudo que, na sua visão, “refletia uma posição conservadora do governo, pois não identificou nem detalhou que tipo de ‘ocupantes’ eram estes, e porque eram considerados indevidos, se estavam inclusas as populações tradicionais e camponeses que estavam na área há muito tempo” (p. 101).

A criação da SMA no governo Montoro, o crescimento da preocupação ambiental e do movimento ambientalista em São Paulo culminaram com uma mudança da prioridade do Estado em relação à política de conservação ambiental. Assim, a partir dos anos 1990, o governo do Estado começa a celebrar contratos com organismos

137 internacionais a fim de conseguir recursos para a consolidação da política de conservação ambiental. Uma das principais ações foi o estabelecimento do Programa de Proteção da Mata Atlântica (PPMA)70, parceria celebrada entre a SMA e o banco alemão KFW, no final de 1993. O contrato objetivou a destinação de recursos para consolidação de UC’s do Vale do Ribeira, litoral e parte do Vale do Paraíba. Apesar de contemplar uma ampla gama de ações, Bim (2013) analisa que o resultado do PPMA para implantação do PEJ foi o acirramento de conflitos entre o Estado e as comunidades moradoras, inclusive com o aumento significativo de ocorrências policiais (até mesmo com prisões de moradores), processos judiciais e ataques à veículos oficiais do Estado. O autor atribui essa situação ao fato de no PEJ a prioridade ter sido dada às ações de fiscalização:

Cabe aqui ressaltar que, enquanto nas outras Unidades de Conservação que integravam o convênio parte dos recursos foi utilizada para a realização dos Planos de Gestão e formação dos Conselhos consultivos das UC’s, no PEJ apenas se privilegiava as ações de fiscalização, priorizando a política de considerar os povos que ocupavam a área como comunidades invisíveis e criminosas a questão da ocupação como problema de polícia e regularização fundiária e de implantação da unidade (BIM, 2013, p. 29-30).

Podemos dizer que o PEJ foi um dos maiores exemplos (literalmente, já que era o segundo maior parque do estado em área) das consequências do conflito de percepções sobre conservação ambiental que reina(va) na SMA. A insistência em tratar como invisíveis as comunidades moradoras do interior da UC reflete a perspectiva preservacionista de parte dos técnicos da secretaria. Sob esta ótica, a biodiversidade seria resultado da separação entre o homem e o meio ambiente e,

70 Segundo o Relatório da Comissão Especial de Biodiversidade, Florestas, Parques, e Áreas Protegidas do Consema (2007), o PPMA teve como objetivo geral a Conservação e Manejo sustentável da biodiversidade dos remanescentes de Mata Atlântica e ecossistemas associados. Este programa esteve vigente entre dezembro de 1993 e dezembro de 2006 e destinou recursos para ações de prevenção, fiscalização e monitoramento, licenciamento ambiental e planejamento e consolidação de unidades de conservação.

138 portanto, tais comunidades não teriam relação com a paisagem para a qual se direciona a política de conservação. Daí aparecerem para o poder público apenas como contraventoras, uma vez que, deste ponto de vista, suas práticas seriam contrárias ao objetivo estabelecido para o PEJ71.

No período em que o Estado se mantém omisso ou se faz presente apenas com sua força repressora, as comunidades do PEJ se organizam a partir de associações de moradores e sindicatos, o que vai resultar em manifestações na Sede da SMA em São Paulo e na ALESP. Bim (2013) salienta que essas manifestações cobravam do Estado, principalmente, a resolução dos problemas relacionados à posse da terra. É nessa mesma época, como vimos, que crescia no Vale do Ribeira o movimento social contra as barragens assim como em favor do reconhecimento do direito à terra das comunidades negras da região.

Um dos resultados dessa organização foi a promulgação da Lei 10.850 de 2001 que altera os limites do PEJ e do PE Intervales retirando da área dos parques os territórios das comunidades quilombolas de Eldorado e Iporanga. Entretanto, refletindo mais uma vez o conflito de visões sobre conservação dentro do próprio Estado,

esta lei, (...), foi praticamente ignorada pela SMA do Estado de SP, que continuou tratando as comunidades quilombolas como ocupantes ilegais do PEJ, sem autorizar a construção de estradas, ligação de energia elétrica e produção agrícola, dentre outras atividades nos territórios quilombolas (DUARTE, 2012, p. 102)

Ainda em 2001, em um encontro regional dos agricultores familiares realizado em Registro, foi escrito o projeto de lei que retirava do PEJ as áreas ocupadas por

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Na mesma época em que as ações de fiscalização foram privilegiadas no PEJ, dentro do PPMA ações de planejamento foram estabelecidas em outras UC’s do Estado. É o caso do PE Ilha do Cardoso que a partir de 1997 iniciou a construção do Plano de Gestão participativo, implantando, para isso, o Comitê de apoio à gestão com a participação das comunidades caiçaras moradoras da Ilha. Essa experiência foi analisada no trabalho de Rodrigues (2001).

139 moradores. Segundo BIM (2013), tal projeto foi encaminhado para a Assembleia Legislativa em 2003:

Diante da situação de conflitos, agravada com a intolerância e inoperância da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o movimento social articulou-se com suas lideranças políticas e encaminhou para a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) o Projeto de Lei (n° 984/03), que previa a retirada da área do Parque de mais de 40 bairros existentes, onde já funcionavam 12 escolas públicas, quatro postos de saúde, quatro postos de combustível, vários pequenos comércios e uma intrincada rede de estradas rurais com mais de 200 km de extensão, além de salões de baile, restaurantes, lanchonetes, enfim, a vida acontecia a despeito do Parque e uma gama de serviços e atividades que não se enquadram no manejo de uma área protegida da categoria de proteção integral, mas que comprovavam o nítido vínculo cultural e afetivo que os moradores mantinham com o lugar e a ausência por décadas de políticas territoriais pelos governos do Estado (BIM, 2013, p.30).

Em agosto de 2005, o referido projeto de lei foi aprovado na assembleia legislativa, mas foi vetado logo em seguida pelo governador Geraldo Alkmin. Esse desfecho provocou grande revolta nos moradores do PEJ que realizaram manifestações, inclusive com a paralisação total da rodovia BR 116. Diante dessa pressão, o governador, a partir do Decreto Estadual n°50.019, institui o Grupo de Trabalho Intersecretarial do Parque Jacupiranga (GT-PEJ), responsável por fazer um diagnóstico da situação ambiental e social do PEJ, assim como de elaborar uma nova proposta de alteração dos limites do parque.

É a partir daí, portanto, que a proposta de mosaico começa a ser vislumbrada como uma possibilidade de resolução dos conflitos gerados e acumulados pelos 30 anos de relação caótica entre o Estado e as comunidades moradoras do PEJ. A mudança de gestão da área já havia começado em 2005 quando foram criados três Conselhos Consultivos no PEJ, um no núcleo Cedro (em Barra do Turvo), outro no núcleo

140 Caverna do Diabo (em Eldorado) e o terceiro no núcleo Cananéia. A aproximação entre os técnicos do Estado e a comunidade, iniciada com as reuniões dos conselhos consultivos, foi decisiva para que os trabalhos do GT-PEJ tivessem um desfecho positivo.

O novo projeto de Lei que substituiu aquele vetado em 2005 foi construído o longo de dois anos, a partir de um processo participativo bastante inovador no Estado de São Paulo, e mesmo no país. O GT-PEJ foi formado por representantes de diversas instituições72 do Estado, mas também por membros das comunidades moradoras do PEJ, representantes de ONG’s, sindicatos e cooperativas atuantes na região, membros das prefeituras dos municípios cujos territórios integravam o parque, além de deputados estaduais de diversos partidos. A coordenação do grupo foi destinada à Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, na pessoa de Clayton Lino. (LINO, 2009). O GT-PEJ estabeleceu como primeira medida essencial a criação de condições para a participação de todos os envolvidos no processo. Além disso, definiu diretrizes para a condução das discussões da nova proposta de lei (LINO, 2009, p. 17):

a) a nova proposta deveria contemplar com a mesma prioridade a conservação da Mata Atlântica e a melhoria das condições de vida das populações tradicionais da Área;

b) o PEJ deveria ser mantido nesta categoria de manejo e deveria ser assegurado o contínuo florestal que ele representa formando um importante corredor entre as Unidades de Conservação do Vale do Ribeira;

c) seria necessário rever os limites do PEJ, de um lado retirando áreas de comunidades tradicionais ou de intensa ocupação que estivessem consolidadas e que não fossem fundamentais para a integridade do Parque. De outro lado, incorporando áreas de

72 Os membros do GT-PEJ foram nomeados através da Resolução SMA nº 34 de 22 de novembro de 2005, iniciando seu trabalho em 09 de dezembro de 2005. Pelo Estado de São Paulo foram nomeados representantes do Instituto Florestal (IF), da Procuradoria Geral do Estado (PGE) e do Instituto de Terras do Estado (ITESP) da Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania.

141 remanescentes florestais e outras áreas estratégicas, de modo a não diminuir a área de proteção integral abrigada pelo Parque;

d) deveria ser criado um grande mosaico de áreas protegidas, tendo o PEJ no centro, envolvido por outras UC's, de várias categorias de manejo, como APA, RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) etc.;

e) a proposta deveria ser desenvolvida com a efetiva participação de todos os segmentos envolvidos na questão.

Como exposto nas diretrizes acima, diferentemente do projeto de lei vetado em 2005, a nova proposta não deveria simplesmente excluir as áreas com ocupação intensa e consolidada, mas reclassificar áreas a partir de categorias de manejo mais adequadas às práticas de comunidades tradicionais e ainda manter um grande contínuo de floresta como área de proteção integral. Esse contínuo, que já era a área central do PEJ, ficou então como o centro de um mosaico de UC’s composto agora por 3 parques estaduais (PE Rio Turvo, PE Caverna do Diabo e PE Lagamar de Cananéia) circunscritos por 11 UC’s de uso sustentável.

A busca por contemplar a manutenção da biodiversidade associada à resolução dos conflitos sociais encontrou na proposta de mosaico o melhor caminho para a transformação do PEJ. Clayton Lino, em entrevista à Mara Gazzoli Duarte (2010, p. 105), declarou que “O mosaico surgiu como a conclusão natural do que deveria acontecer, (ou seja) o mosaico como conclusão e não como ponto de partida”.

A dinâmica de trabalho do GT-PEJ envolveu reuniões do grupo em São Paulo e nas comunidades pertencentes ao PEJ. Além disso, a proposta de Mosaico foi intensamente discutida em reuniões dos Conselhos Gestores do PEJ, o que foi decisivo para que tal proposta pudesse ser mais bem debatida, compreendida e referendada pela maioria dos envolvidos no processo. Ocimar Bim (2013) em seu trabalho realizou uma análise das atas das reuniões do conselho do PEJ (do núcleo

142 Cedro), entre os anos de 2005 e 2008, período em que a proposta de mosaico estava em construção. Destacou, além da constância das discussões sobre a proposta, a importância desse fórum para o esclarecimento dos moradores em relação às categorias de unidade de conservação de uso sustentável, e para o debate sobre as implicações que a mudança nos limites do parque traria na arrecadação do ICMS Ecológico dos municípios. Sobre isso observou:

Se, por um lado, a comunidade reivindicava a mudança do Parque, as prefeituras trabalhavam veladamente nos bastidores para que essas mudanças fossem as mínimas possíveis, a fim de evitar a perda de receita. Essa posição vinha ao encontro da proposta defendida por representantes da SMA de São Paulo no Grupo de Trabalho, que não queriam a redução de áreas protegidas no regime de proteção integral (BIM, 2013, p. 174).

A redução da área protegida sob proteção integral teria consequências econômicas não apenas para as prefeituras envolvidas nesse processo, mas também para o próprio Estado de São Paulo que recebe recursos de fontes diferenciadas relacionados com a quantidade de área protegida no regime de proteção integral. A quantidade de UC’s de proteção integral facilita ainda a celebração de convênios com organismos internacionais para a aquisição de empréstimos destinados a projetos relacionados ao “meio ambiente”73. Assim, como vimos acima, a garantia

73 Um dos mecanismos importantes de gestão territorial legitimado pelo SNUC são as Reservas da Biosfera. A definição de Reservas da Biosfera significa o acesso a recursos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), além da facilidade de acesso a outras fontes. Conceituadas dentro do programa Homem e a Biosfera da UNESCO, as reservas da biosfera são delimitadas a partir de um zoneamento que tem no centro as áreas de proteção integral (zona núcleo), no entorno a zona tampão (que admite usos menos intensivos) e ao redor dessa as zonas de transição. Boa parte do Vale do Ribeira integra a zona núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e para o Estado é importante, então, assegurar essa área nesta condição.

Outro exemplo de acesso a recursos financeiros relacionado à disponibilidade de áreas protegidas como UC’s de proteção integral é o contrato de empréstimo entre o governo do Estado de São Paulo e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 2010. Tal empréstimo destinou-se ao “Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar e Sistema de Mosaicos da Mata Atlântica” cujo objetivo era promover a conservação, uso sustentável e recuperação socioambiental da Serra do Mar, do conjunto de Unidades de Conservação do Território Juréia-Itatins e das Unidades de Conservação Marinha e seu entorno. Vale dizer que o aporte de recursos de 162,45 milhões de reais do BID se destinou, ao longo da execução do projeto, a regularização fundiária de parte do PE

143 de que a área de proteção integral do mosaico não seria diminuída foi estabelecida com umas das diretrizes do processo de transformação do PEJ. O resultado foi o aumento da quantidade de área protegida como proteção integral, mesmo com a desafetação de algumas áreas e a transformação de outras em uso sustentável. Esse aumento ocorreu sobretudo a partir da criação do PE Lagamar de Cananéia que fez aumentar em 15 mil hectares a área total de proteção integral do MOJAC74. Em sua análise Bim (ibid.) destacou a relevância do papel dos conselhos gestores do PEJ para a criação de um processo democrático e participativo durante a