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A implementação da política: perspectivas

quem são?

4. Cabo Verde – breve contextualização de um lugar (re)inventado

4.3.4. A implementação da política: perspectivas

Em Cabo Verde, a generalização do Ensino Básico de seis anos e o crescimento exponencial e descontrolado do Ensino Secundário assenta-se num desequilíbrio precário entre as demandas da sociedade e as capacidades de resposta do sistema educacional, com fraquezas evidentes no nível da “qualidade” da educação ministrada, que ficou longe de satisfazer às expectativas de grande parte da sociedade civil. Entretanto, como alerta Estebam (2007, p.32) a chegada massiva dos filhos(as) das classes populares à escola não ocorre com ordem e tranqüilidade, como talvez desejássemos.

No entanto, o desafio oferecido, ainda, em Cabo Verde tem sido o de melhoria da

“qualidade” de ensino em todos os níveis, visto que à sociedade não interessa apenas que se lhe garanta o acesso ao ensino e à formação, mas, fundamentalmente, o acesso a uma educação e formação que os possibilite obter e ampliar os conhecimentos.

Segundo os dados do Ministério da Educação de Cabo Verde, das oitenta e dois mil e novecentos e oitenta e cinco crianças (82.985) matriculadas para o ano letivo 2005/2006, doze mil oitocentos e setenta e cinco (12.875) ficaram retidas nas suas séries. Hoje, em Cabo Verde, 96% das crianças com idade escolar se encontra em algum tipo de instituição escolar, porém, temos um índice de 15% de reprovação revelando uma necessidade da melhoria da “qualidade”

da educação oferecida às crianças, principalmente as do meio popular.

A última década do século XX e o início do século XXI têm sido marcados pelas discussões sobre a “qualidade” da educação e sobre as condições necessárias para garantir às crianças, jovens e adultos aprendizagens consideradas imprescindíveis para o desenvolvimento de suas capacidades. Mas que qualidade almejamos? A quem interessa essas discussões e reformas? Será que os alunos e alunas, professores e professores estão se beneficiando com essas reformas?

Nessa discussão sobre a “qualidade” do ensino oferecido em Cabo Verde a formação de professores destaca-se como um tema crucial e, sem dúvida, um dos mais importantes dentre as políticas públicas para a educação, pois os desafios colocados à escola exigem do trabalho educativo ou do professor um patamar profissional superior ao que se configura, até o momento. Nesse contexto, encontram-se as ações desenvolvidas pelos grupos instituintes,

organizados pela sociedade, que são diferentes das propostas apresentadas pelos governos. Tais ações vivenciadas no cotidiano têm algo a dizer?

Em Cabo Verde, nos últimos três anos, o Ministério da Educação tem investido fortemente no aumento da capacidade de formação docente, particularmente para as professoras e professores do Ensino Básico e Secundário, como fator preponderante na promoção de uma educação pautada pela “qualidade”. O quantitativo de professores formados para lecionar no Ensino Básico até a sexta série, em Cabo Verde é pequeno. Por esse motivo os esforços estão voltados para a formação inicial desses docentes, pois quase 50% deles não possui qualquer formação na área. Além disso, o aumento desse quantitativo é outro grande objetivo das políticas de formação. Na tentativa dessa maximização, principalmente nas regiões periféricas e nas ilhas com menos densidades populacionais, onde o efetivo de professores formados atinge não mais do que 30%, estão sendo efetivadass escolas de formação inicial para os professores sem formação e, também, formação continuada para aqueles em exercício. Assim, o Instituto Pedagógico, através das suas escolas de formação de professores do Ensino Básico da cidade da Praia, Mindelo, Assomada e Ribeira do Paul alargou as ofertas de formação docente com prioridades para os que já lecionam, implementando também cursos de formação continuada. Estima-se que até 2015, 100% dos professores que lecionam no Ensino Básico estejam formados e preparados para lecionar até o último ciclo da sexta série.

O Plano Nacional de Educação para Todos, elaborado em 2002, com metas para o ano de 2015, é um documento que vem realçando a necessidade de voltar os olhares para a situação que o ensino, principalmente, o Básico, se encontra.

As políticas públicas de formação continuada dos professores desse nível, apresentadas em Cabo Verde, possuem, nos documentos oficiais, um caráter que visa melhoria nos sistemas de ensino, principalmente público. Indago-me, então: Quais são essas melhorias? Melhorias de ponto de vista de quem? Será que as propostas apresentadas são as mais viáveis para os professores e professoras? Qual a concepção de formação que essas instituições incorporam?

Com a independência, Cabo Verde saiu de um regime colonial de opressão, discriminação, exploração e silencio para um regime político que se pretendia de liberdade e democrático.

O fato de esse país ser independente significa que, nele, o colonialismo acabou?

Santos (2006) chama atenção para o fato de pós-colonialismo deve ser entendido em duas acepções principais:

A primeira é a de período histórico, o que se sucedeu à independência das colônias. A segunda é de um conjunto de práticas (predominantemente performativas) e de discursos que desconstroem a narrativa colonial, escrita pelo colonizador, e procuram substituí-la por narrativas escritas do ponto de vista da colonizado. (SANTOS, 2006, p.233)

No entanto, a Primeira República, esse curto período que sucedeu o processo de independência, cristalizou velhas tendências coloniais que o povo caboverdeana vivenciava desde a colonização. Vale ressaltar que as relações construídas historicamente pelo colonialismo e o fim do colonialismo enquanto relação política não acarretou o fim do colonialismo enquanto relação social, enquanto mentalidade e forma de sociabilidade autoritária e discriminatória. (SANTOS, 2004, p.8)

É possível afirmar que o governo que sucedeu a administração colonial não eliminou o eurocentrismo ou etnocentrismo ocidental o que perpetuou uma sociedade com base na cultura de opressão, de silêncio e do medo. Uma aderência a uma forma dominante de pensamento que vem usurpando os direitos individuais e coletivos da cidadania. Nesse contexto, o tipo de democracia praticada e de participação cidadã que tem sido estimulada pelo governo, na verdade, dificultam as lutas emancipatória à medida que legitima a lógica da dominação social.

Só a partir dos anos 90 do século XX, a democracia assumiu maior centralidade em Cabo Verde. Mas que democracia é essa? Uma democracia de baixa intensidade ou democracia de alta intensidade16 como nos enfatiza Santos (2006)? E, qual o papel da escola na construção de uma sociedade democrática?

16 Santos (2006) tem se referido às democracias contemporâneas como democracias de baixa intensidade, às quais opõe a idéia da democracia de alta intensidade, na qual a participação cidadã seja ampliada e o ideal democrático da igualdade se faça acompanhar do direito à diferença, condição para a construção de relações sociais que considerem e reconheçam as diferenças culturais, sem criar, a partir delas, uma hierarquia entre as diversas culturas (OLIVEIRA, 2005, p.15-16).

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