• Nenhum resultado encontrado

A Implementação

No documento Software multissensorial (páginas 71-106)

Discussão dos resultados

“A análise dos dados consiste no exame, na categorização, na tabulação, no teste ou nas evidências recombinadas de outra forma, para tirar conclusões” (Yin, 2010, p. 154).

Página 60 1 – Discussão dos resultados

Este projecto foi implementado ao longo de sete meses, num total de trinta e uma sessões incluindo uma inicial no dia 16 de Novembro, na qual se fez um diagnóstico da situação relativamente ao número de palavras que a aluna lia efectivamente; outra no dia 17 de Novembro, que decorreu no CRTIC, onde a aluna teve o primeiro contacto com o programa G2 e o ecrã táctil; sete sessões de avaliação da evolução da aluna que decorreram nos dias 30 de Novembro de 2010, 16 de Dezembro de 2010, 27 de Janeiro de 2011, 24 de Fevereiro, 31 de Março, 3 de Maio e 26 de Maio e as vinte e duas sessões de trabalhado directo com o programa G2 (Quadro 2).

Na primeira sessão de avaliação (de diagnóstico), a aluna leu oito palavras do conjunto que lhe foi apresentado. Estas palavras foram seleccionadas de acordo com as informações que a docente tinha prestado: “Facilmente ela identifica as palavras menino, menina (…) Ela já trabalha muito a morada, o nome”. Com a sessão do dia 17 de Novembro inicia-se a primeira série temporal, constituída apenas por duas sessões práticas, que decorreram nos dias 17 e 25 de Novembro de 2010. Na sessão de avaliação do dia 30 de Novembro, a aluna conseguiu ler onze palavras. Seguiu-se a segunda série temporal, apenas com três sessões práticas, nos dias 2, 9 e 15 de Dezembro. A 16 de Dezembro de 2010, a aluna leu catorze palavras. No período de tempo que se seguiu, decorreu a interrupção lectiva do Natal. Após o reinício das aulas, foram dinamizadas quatro sessões de trabalho, inseridas na terceira série temporal, tendo a avaliação ocorrido no dia 27 de Janeiro, na qual a aluna leu quinze palavras. Da segunda para a terceira série temporal não houve uma evolução significativa no número de palavras lidas pela aluna. Iniciou-se então a quarta série temporal, com a primeira sessão no dia 2 de Fevereiro de 2011, seguida de mais três sessões (dias 9, 16 e 23 de Fevereiro) antes da avaliação que decorreu no dia 24 de Fevereiro, tendo a aluna lido dezassete palavras. Durante a quinta série temporal ocorreram quatro sessões (dias 2, 16, 22 e 30 de Março) e a 31 de Março é feita a avaliação com a aluna a

Página 61 ler vinte e duas palavras. Começam-se a registar evoluções significativas, consequentes do trabalho sistemático realizado e do empenho da aluna. A sexta série temporal foi constituída apenas por duas sessões devido à interrupção lectiva da Páscoa, tendo os resultados obtidos na avaliação do dia 3 de Maio ultrapassado as expectativas, uma vez que, a aluna leu vinte e oito palavras. O mesmo sucedeu na última sessão de avaliação do dia 26 de Maio, após as quatro sessões da sétima série, tendo a aluna lido trinta e quatro palavras, incluindo três vocábulos que apenas estavam a ser trabalhados desde a sexta série temporal.

No gráfico que se segue e respectiva tabela de dados (Figura 8) pode-se visualizar a informação anteriormente descrita e observar a evolução, sempre em sentido ascendeste.

16-11-10 30-11-10 16-12-10 27-01-11 24-02-11 31-03-11 03-05-11 26-05-11

1 2 3 4 5 6 7 8

Inicial Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio

N.º de

palavras lidas 8 11 14 15 17 22 28 34

Figura 8 - Apresentação gráfica da evolução da aluna quanto ao número de palavras lidas.

Apesar de a evolução da aluna ter sido sempre em linha ascendente, como anteriormente referido, houve palavras nas quais esta demonstrou mais

8 11 14 15 17 22 28 34 1 2 3 4 5 6 7 8 N ú m e ro d e p al av ras Momentos de avaliação Palavras Lidas N.ºde Palavras

Página 62 dificuldades, como foi o caso dos meses do ano, do nome da mãe e algumas relacionadas com a sua morada. As palavras “menino, menina, pai, mãe, Alexandra, Simões, Neves e Gonçalo” estavam de facto aprendidas, pois a aluna nunca demonstrou dificuldades na sua leitura; facilmente adquiridas foram: “irmão, irmã, anos, residência, avô, avó, feliz, triste e olá” que, a aluna aprendeu após pouco treino. Os dias da semana apesar de terem sido trabalhados, não foram testados, porque a aluna apenas os identificava pela ordem cronológica e após activação da célula que o apresentava. Contudo, por vezes, utilizava e lia nas suas frases as palavras “sábado” e “domingo”, sem dificuldades. Relativamente aos meses do ano trabalhados (Novembro, Dezembro, Janeiro e Fevereiro), a aluna revelou sistematicamente dificuldades na sua leitura. Estes foram os vocábulos mais vezes acompanhados de SPC na sua revisão, consequentemente, não se avançou para os meses seguintes. No final da quarta série temporal a aluna passou a ler “Janeiro”, vocábulo muito importante, porque é o mês da sua data de nascimento, e “Novembro” e “Dezembro” no fim da quinta série. Foi apenas na avaliação da sétima série temporal que a aluna conseguiu ler autonomamente “Fevereiro”. Os vocábulos “casa, Maria, Travessa e Boiça” apenas foram efectivamente adquiridos no final da sexta série temporal. Foi notória alguma oscilação na aprendizagem dos vocábulos “Sofia, Jaime, nome, Caeira e Boiça”, uma vez que, por vezes eram lidos e outras vezes não. Na avaliação da última série, a aluna apenas não conseguiu ler os vocábulos “adeus e hoje”, que estavam a ser trabalhados há relativamente pouco tempo, comparativamente com os anteriores. De realçar o facto de a aluna ler, na primeira vez que lhe foram apresentados, os seguintes vocábulos “feliz, triste e olá” e repetir a mesma atitude na avaliação da série temporal seguinte.

A selecção dos vocábulos obedeceu aos seguintes critérios: funcionalidade e significado para a aluna. Deste modo, foram trabalhos vocábulos relacionados com os seus dados pessoais, de familiares próximos e outros que surgiram por associação a estes, como por exemplo: irmão, irmã,

Página 63 avó, avô ou relacionados com situação espacial e temporal ou ainda relacionamento social.

O quadro que se segue (Quadro 5) apresenta de forma esquematizada a informação anteriormente relatada.

Quadro 5 – Resultados da avaliação no final da cada série temporal.

16 -11 -2010 30 -11 -2010 1. ª Sér ie 15 -12 -2010 2. ª Sér ie 27 -01 -2011 3. ª Sér ie 24 -0 2- 2011 4. ª Sér ie 31 -03 -2011 5. ª Sér ie 03 -05 -2011 6. ª Sér ie 26 -05 -2011 7. ª Sér ie

PALAVRAS Inicial Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio

MENINO MENINA CASA PAI MÃE ALEXANDRA12 SOFIA12 SIMÕES12 NEVES12 ANA RITA12 NO NO MARIA12 NATÁLIA12 GONÇALO12 JAIME12 TRAVESSA13 BOIÇA13 CAEIRA13 NOME DATA EU NO TU NO NO NO NO NO IRMÃO NO NO

12 Vocábulos relacionados com dados pessoais da aluna a familiares mais próximos. 13

Página 64 PALAVRAS Inicial Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio

IRMÃ NO NO NOVEMBRO NO NO DEZEMBRO NO NO JANEIRO NO NO ANOS NO NO RESIDÊNCIA NO NO FEVEREIRO NO NO NO AVÓ NO NO NO AVÔ NO NO NO FELIZ NO NO NO NO NO NO TRISTE NO NO NO NO NO NO OLÁ NO NO NO NO NO NO ADEUS NO NO NO NO NO NO HOJE NO NO NO NO NO NO Total 8 11 14 15 17 22 28 34 10 8 11 12 13 9 9 2 Código

Palavra Lida Palavra Não Lida

É de realçar a aluna ter conseguido aprender a ler trinta e quatro vocábulos no espaço temporal de sete meses, tendo em conta as dificuldades de atenção e de aprendizagem. No entanto, a implementação deste projecto ainda se reveste de maior importância se ao número de palavras aprendidas associarmos o facto de estas não terem sido trabalhadas fora de contexto, pois foram-no associadas ao meio envolvente, à realidade que a cerca e inseridas em frases. Estas relatavam as suas vivências, preferências, os seus estados de espírito, mas também o treino da utilização de vocábulos como: dados pessoais, nomes dos pais, a sua data de nascimento, a sua residência, nomes dos irmãos, cumprimentos sociais, situação temporal e local (Quadro 6).

Página 65 Quadro 6 – Frases construídas ao longo das sessões.

Datas de

implementação Frases construídas

25/11/2010 EU QUERO COMER MORANGOS E MELÃO. ELAÉUMAMENINABONITA.

ELEÉUMMENINOBONITO. OMEUNOMEÉ…14

2/12/2010 EU FALO COM A...14

TUÉSUMAMENINAQUEGOSTADAESCOLA. AMINHAIRMÃCHAMA-SE…14

OMEUIRMÃOCHAMA-SE... 14

9/12/2010 MEU IRMÃO CHAMA-SE …14

A ALEXANDRA TEM UM TELÉMOVEL. A CARLA TEM UM TELEMÓVEL.

15/12/2010 A CARLA, A ALEXANDRA, O GONÇALO E A ANA RITA GOSTAM DO NATAL

06/01/2011 EU GOSTO DE MORANGOS E PÃO E NÃO GOSTO DE GELADO.

12/01/2011 EU MORO NA…14

19/01/2011 EU FAÇO 11 ANOS E A MÃE VAI COMPRAR O BOLO DE MORANGO. O PAI DÁ UMA PRENDA E O IRMÃO CANTA OS PARABÉNS.

26/01/2011 EUSOUA…14

A MINHA IRMÃ É…14

02/02/2011 OIRMÃODA…EDA…ÉO…14

A PRIMA DA… E DA… É A... 14

09/02/2011 A MÃE DA … LEVA A … E O PAI LEVA O IRMÃO … E A PRIMA AO JARDIM. 14

16/02/2011 A MÃE … LEVOU A … À PISCINA VER O NUNO E O PAI, O IRMÃO, A IRMÃ E A PRIMA … NÃO FORAM. 14

23/02/2011 O AVÔ … VIU A CARLA E A PAULA NO JARDIM. 14

02/03/2011 NO CARNAVAL, EU E A MINHA IRMÃ VAMOS DE PRINCESAS E A … VAI DE FLOR. 14

16/03/2011 OS MEUS AMIGOS SÃO ... 14

22/03/2011 EU GOSTO DE ALFACE E NÃO GOSTO DE BANANA. 30/03/2011 NO DOMINGO EU VOU COMER ANANÁS.

NO SÁBADO EU DOU À MÃE ABACATE. 06/04/2011 NA TERÇA-FEIRA EU FALEI COM A... 14

NO SÁBADO, EU FUI AO CINEMA COM A MINHA PRIMA E A MINHA AMIGA INÊS.

14 Os restantes elementos das frases continham referências a dados pessoais da aluna pelo

Página 66 Datas de

implementação Frases construídas (cont.)

27/04/2011 O RAFAEL, O HUGO, A ALEXANDRA, A CARLA E A ANA RITA SÃO AMIGOS E ESTÃO FELIZES.

A JÉSSICA VAI À PRAIA E ESTÁ CANSADA. 04/05/2011 NA QUARTA-FEIRA, EU FIQUEI FELIZ COM A

ALEXANDRA.

EU ESTOU FELIZ COM A MINHA PRIMA E A INÊS. 12/05/2011 À TARDE, VI O MEU MARIDO NO JARDIM E ELE

ESTAVA FELIZ. À NOITE, O RAFAEL ESTAVA FELIZ. 18/05/2011 O MEU AVÕ VAI NO SÁBADO A CASA DA CARLA.

EU, O MEU VIZINHO E A MINHA PRIMA VAMOS A CASA DA PAULA NO DOMINGO.

25/05/2011 HOJE ESTÁ CALOR E EU VOU À PRAIA COM A ALEXANDRA.

EU VOU A CASA DO MEU VIZINHO VER O CÃO.

As checklist, apresentadas à aluna para avaliação no final de cada série temporal, seguiam sempre a mesma estrutura, o que poderá levantar a seguinte questão: não teria a aluna já decorado as palavras de acordo com o sítio que ocupavam?

Após a sétima sessão, durante actividades de leitura de histórias, foi solicitado à aluna colaboração na leitura de palavras destacadas e todas foram lidas, autonomamente, sem dificuldade (Quadro 7).

.

Quadro 7 – Excertos de livros lidos com a participação da aluna.

Livros Data da

actividade Excertos dos livros Análise de conteúdo James, Ch. (1989) Olá Pumba! Civilização 31 de Maio de 2011 Este é o Pumba.

O Pumba é muito grande. E também é muito desastrado.

Olá!

Agora o Pumba tropeçou numa pedra muito grande. - E tu és muito pequenino.

Vocábulos lidos autonomamente, sem dificuldades

Página 67 - Chamo-me Piu-Piu.

Queres ser meu amigo? - Eu tenho muitos amigos, Pumba. Também podes ser amigo dos meus amigos. Metzmeyer, C. & Vanenis, M. (2004) Rita e Gil querem um cão

1 de Junho - Toma lá, cãozinho – oferece a Rita. – Este bocadinho é para ti. Durante a refeição, o Papá diz preocupado:

- Esta não é a minha menina! Vocábulos lidos autonomamente, sem dificuldades Johanson, S. M. (2010) Ruca o Explorador. ASA 7 de Junho

de 2011 - O Ruca dirigiu-se então para a casa ao lado, onde morava a Sara e chamou pela amiga.

A Sara estava no jardim… Eu não tenho medo! Os dois amigos continuaram…

Vocábulos lidos autonomamente, sem dificuldades

Para finalizar fica ainda um registo de uma actividade (Figura 9) que a aluna resolveu com total autonomia na leitura, resposta e escrita, o que não fazia no início da implementação deste projecto.

Figura 9 - Excerto de uma ficha de trabalho realizada pela aluna. Lê, responde e copia:

É a mãe da menina e do menino?

Página 68

Conclusão

Finda a análise e discussão dos dados, pretende-se compreender, neste momento, se as questões levantadas obtiveram resposta e se objectivo primordial foi atingido.

Tenhamos por referência Stray-Gundersen (2007) e Troncoso e Cerro (2004) que mencionavam como características dos alunos com T21, as dificuldades de concentração por longos períodos de tempo e a baixa motivação. Trancoso e Cedro (2004) também afirmavam que os alunos com T21 necessitam de muito mais prática e repetição de actividades e exercícios, devendo-se variar a apresentação do material, para evitar a rotina e o aborrecimento. A utilização do programa G2 proporcionou o enriquecimento da estratégia educativa, melhorias no tempo de permanência da aluna nas tarefas e consequentes resultados positivos, que se traduziram num aumento significativo do número de vocábulos que esta aprendeu a ler, no período de implementação. Deste modo, concluímos que o programa G2 contribuiu para a leitura de palavras. No início da implementação do projecto, no momento da avaliação de diagnóstico, a aluna identificou oito palavras; findo o projecto, trinta e quatro, autonomamente. Segundo Kenski (2008), programas especiais podem contribuir para diminuir a distância e garantir melhor aprendizado para todas as pessoas. Correia (2008) defende que para optimizar os ambientes de aprendizagem há necessidade de se efectuarem adaptações que poderão passar, com alguma regularidade, pela utilização das tecnologias de apoio.

A evolução da aluna também foi confirmada pela docente titular, entrevistada a 31 de Maio de 2011, que referiu: “Considero que a aluna evoluiu muito, sobretudo em termos das competências de leitura. Houve um aumento significativo no número de palavras que a aluna identifica, relativamente ao ano anterior, palavras que considero muito importantes para o desenvolvimento da sua autonomia”. Apesar de se tratar de uma opinião pessoal, coincide com os resultados obtidos.

Página 69 A utilização de SPC facilitou a leitura das palavras na fase de introdução dos vocábulos. Os símbolos eram sugestivos, de fácil compreensão e representativos da mensagem que pretendiam transmitir. Assim sendo, este atributo do programa G2 funcionou como um estímulo que motivava a aluna a auxiliava na aprendizagem.

Relativamente à importância da utilização de símbolos, Kozma (1991), citado por Coutinho (2008), advoga “ o uso de imagens junto do texto pode fornecer informação necessária à organização da representação mental derivada do texto com a representação da realidade” (p. 109). Coutinho (2008) refere ainda a utilização conjunta das palavras e das imagens ajuda os alunos a compreender a mensagem didáctica de forma mais eficaz e efectiva, pois este sistema de dupla codificação ou retenção é vantajoso, na medida em que a informação difícil de reter por uma via, sê-lo-á pela outra. Outro autor de referência é Montoya (2002) que defende que com a ajuda do sistema de símbolos, o professor pode criar um espaço útil, interactivo e multissensorial e os resultados serão melhores se juntarmos às TIC, símbolos.

Na literatura revisada foi incluído o Modelo Ecológico de Bronfenbrenner (Portugal, 1992), segundo o qual o desenvolvimento humano processa-se, numa primeira instância, a partir das interacções significativas com o microssistema. No mesmo contexto, Valente (2009) refere que a utilização de palavras escritas que acompanhem imagens vivas e familiares submete o cérebro a um processo em que se conjuga inteligência com interesse afectivo. A utilização do programa G2 possibilitou responder aos interesses da aluna e partir da sua realidade ao permitir a inserção de qualquer vocábulo. Esta tarefa é facilitada, quer através da Predição, quer através da flexão do vocábulo seleccionado no teclado Escrita com Símbolos. A Predição permite a inclusão das palavras novas que o utilizador escreve no Dicionário de Predição, que as ordena de acordo com a frequência de utilização. Depois de escrever uma palavra, o sistema de Predição tenta prever a palavra que o utilizador quererá escrever em seguida. Este sistema baseia-se na memória das palavras escritas.

Página 70 Assim, quanto mais o utilizador escrever, melhor será a predição da palavra seguinte. O problema de acrescentar palavras com erros de ortografia pode ser contornado através da opção Verificar Ortografia das Palavras antes de as acrescentar e sugerir.

Consideremos as seguintes evidências que confirmam a importância da utilização de vocábulos seleccionados a partir da realidade da aluna e o seu contributo para o sucesso da estratégia.

 “As frases que construímos agradam à aluna porque estão relacionadas com o que lhe é próximo e falam das suas vivências” (dia 19 de Dezembro de 2010).

 “Na exploração dos vocábulos relacionados com os meses do ano, a aula previa os meses de Novembro, Dezembro, Janeiro e Fevereiro, contudo a aluna também quis saber como era o mês de Outubro por ser o do aniversário da prima e do mês de Agosto por ser o do aniversário da professora” (16 de Fevereiro de 2011).

 “A frase narrava um acontecimento actual e relacionado com a aluna e alguns dos seus familiares, o que a cativou” (2 de Março).

 “Foi muito interessante a motivação da aluna na aprendizagem do vocábulo “amigos”, sobretudo no relacionamento à sua realidade. O mesmo foi visível aquando da elaboração da frase, quando escolheu nomes de amigos e de amigas” (16 de Março).

Este recurso tecnológico concebido numa vertente multissensorial, com possibilidade de utilização de som, permite a audição de frases ou vocábulos. O seu potencial reside no facto de o Sintetizador de Fala ler o conteúdo da área de trabalho, ler apenas uma parte seleccionada da mensagem ou ler a frase onde se situa o cursor. Permite também ouvir o conteúdo de cada

Página 71 célula do teclado apenas com a sua selecção, o que promove um trabalho autónomo por parte da aluna. Deste modo, a sua utilização favorece a aprendizagem autónoma da leitura ao possibilitar à aluna a audição do que está escrito, sem depender de outra pessoa.

Com este projecto não se pretendeu criar um novo método de aprendizagem da leitura; o objectivo primordial consistiu na utilização de um recurso multissensorial para promover a aquisição da leitura, tendo-se tirado partido da utilização e exploração simultânea da escrita, imagem e som e com a utilização de vocábulos com significado para a aluna.

Quando inicialmente se pensou neste projecto, a intenção era focalizar a atenção na leitura, contudo, outra competência lhe está associada: a escrita, e que foi trabalhada tanto como a leitura. Consequentemente, para a aluna houve progressos quer na competência do saber ler, quer na do saber escrever.

Também se conseguiu motivar a aluna para as tarefas. Prolongaram-se as sessões de trabalho a pedido desta e observaram-se atitudes de dedicação às tarefas.

Coutinho (2008) refere que a variável motivação é detectada pelo empenhamento numa tarefa seleccionada e pelo esforço que se investe na sua realização; o investimento em termos de esforço pode variar de muito fraco, quando se realiza a tarefa de forma automática, mecânica sem investir muito raciocínio, a muito forte, quando se investe toda a atenção e inteligência na realização da tarefa.

Para finalizar resta acrescentar que, para além das competências da leitura e da escrita, foram treinadas e aperfeiçoadas outras de utilização das TIC, fundamentais nesta sociedade em que vivemos, para a autonomia de qualquer indivíduo. Coutinho (2008) refere “ anos de investigação envolvendo diversos médium, da televisão ao computador, levam os investigadores a concluir que, sob determinadas condições, os atributos dos “meios” podem estimular actividades de processamento da informação e desenvolvimento de habilidades cognitivas dos alunos” (p. 108).

Página 72 O ensino de uma língua reveste-se de capital importância, por se tratar de um instrumento básico para a comunicação humana. A leitura constitui um tema de grande interesse e significado, um elemento de indiscutível valor que nos permite aceder ao mundo da cultura. É por esta razão, que ensinar a ler é uma obrigação social, não só do docente, mas também da comunidade em geral.

Pretendeu-se com a dinamização deste projecto que a aluna adquirisse competências de leitura numa vertente funcional e de utilidade prática no seu dia-a-dia. Se tivermos por referência o conjunto de vocábulos trabalhados, a M. consegue, neste momento, ler a maioria das palavras de um formulário e compreender o seu significado. Com esta implementação não se esgotaram os vocábulos a serem ensinados, havendo ainda um longo caminho a percorrer, mas estando já encontrada a estratégia a seguir.

Página 73

Considerações Finais

Findo este projecto, entendemos poder concluir que o objectivo traçado foi atingido e, por vezes, foram superadas as expectativas iniciais, sobretudo, ao nível do empenho da aluna nas tarefas propostas e na quantidade de palavras que esta conseguiu adquirir. Devido às dificuldades que a aluna apresenta ao nível da linguagem expressiva, este tipo de recurso facilitará a comunicação. A leitura de trinta e quatro palavras, apesar de oito já virem aprendidas dos anos anteriores, e a sua correcta utilização em frases, comprova que uma continuidade deste tipo de trabalho contribuirá para um aumento cada vez mais significativo da área vocabular da aluna e, para a possibilidade de, no futuro, a aluna conseguir ler e criar pequenos textos. Deste modo, recomendamos a continuidade do trabalho iniciado.

Queremos deixar registada a importância que assume a utilização das TIC na era em que vivemos, não querendo isto significar que se deixe de utilizar livros para ler, caneta e papel para escrever. Contudo, na nossa opinião,

No documento Software multissensorial (páginas 71-106)

Documentos relacionados