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A Importância da Cooperação no Contexto do Desenvolvimento da Criança

Parte I – Enquadramento Teórico

Capítulo 2 – O Jogo no Currículo de Matemática

2.3. A Importância da Cooperação no Contexto do Desenvolvimento da Criança

Os jogos podem ser utilizados para ajudar a criança a interiorizar conceitos tão importantes como a cooperação, entreajuda, respeito, lealdade, criatividade, entre outros. Segundo as OCEPE (1997), é necessário que haja uma pedagogia centrada na cooperação, para que cada criança possa beneficiar do processo educativo desenvolvido com o grande grupo. Isto contrasta com uma prática pedagógica indiferenciada que exclui certas crianças, não aceitando a diferença, o que impede que a aprendizagem responda às necessidades individuais.

Para além dos aspetos já referidos, segundo as OCEPE (ME, 1997), as oportunidades de cooperação de cada criança, ou do grupo, na tomada de decisões que proporcionem experiências de vida democrática é muito importante. Pois só assim se poderá facilitar uma aprendizagem cooperada.

Entende-se por cooperação uma vivência de valores democráticos (ME, 1997). A verdade é que nem sempre se deu o devido destaque à cooperação das crianças em projetos comuns. Certo é que a vivência de valores democráticos deve estar "presente no processo de aprendizagem, em que as crianças são consultadas sobre a organização do espaço e do tempo, tomam a iniciativa de atividades, colaboram nas propostas do educador e das outras crianças, colaborando em projetos comuns" (ME, 1997, p. 54). Isto significa que o exercício da cooperação na sala se traduz na vivência de valores democráticos. Deste modo, é necessário elucidar as crianças para a importância da colaboração em projetos comuns.

Uma vez que a cooperação é um valor muito importante a desenvolver com as crianças em idade pré-escolar, nas Metas de Aprendizagem para a Educação Pré-escolar (ME, 2010),

25 documento não normativo emitido pelo Ministério da Educação, este valor constitui um dos domínios a trabalhar com as crianças desta faixa etária. Os autores deste documento invocam a importância da cooperação no desenrolar de atividades de pequeno e de grande grupo, bem como na elaboração do produto final das mesmas. Deste modo, a cooperação é uma forma de "participar de forma eficaz e construtiva em diferentes contextos relacionais" (Alonso et al., 2011, p. 10). Os mesmos autores salientam que também através da prática de atividade física se pode "incentivar a escolha de comportamentos saudáveis ao longo da vida, de modo a proporcionar o desenvolvimento da sociabilidade, segurança, cooperação, entreajuda e respeito pelo outro" (p. 28).

Alonso et al. (2011) defendem a promoção de um

trabalho pedagógico diferenciado, centrado na cooperação e desenvolvido no grupo, de modo a dar resposta a todas as crianças e [...] promover uma construção integrada do saber, em que as diferentes áreas contribuem de forma interligada para as várias competências-chave. [...] no contexto do grupo e no contacto com as instituições e símbolos da vida democrática, a criança aprende as regras, atitudes e valores da democracia e tem a possibilidade de participar e intervir no seu contexto social e cultural, de maneira tolerante, construtiva, cooperada e responsável, edificando um referencial da sua individualidade e identidade, mas também de pertença social. (pp. 40-41)

A cooperação é então, sem dúvida, uma atitude a assumir na interação comunicativa, na produção de enunciados orais dotados de significado e na mobilização de "saberes linguísticos, socioculturais e relativos aos papéis desempenhados pelos falantes nas diversas situações de comunicação" (Alonso et al. 2011, p. 50).

De facto, a educação para a comunicação deve ser considerada um "fenómeno de interação social, como forma de incrementar o respeito pelo(s) outro(s), o sentido de entreajuda e da cooperação, da solidariedade e da cidadania" (Alonso et al. 2011, p. 55). Isto significa que a cooperação está, de certo modo, interligada com os restantes valores promovidos pela área de Formação Pessoal e Social, no sentido de fornecer às crianças as ferramentas necessárias para que elas adquiram boas capacidades de socialização.

Existem formas de ajudar as crianças a serem mais solidárias. Segundo a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV, 2013), "a cooperação é um subtema dos limites dados à criança" (s. p.). Desse modo, conseguir fazer com que as crianças em idade pré-escolar sejam solidárias e cooperativas, quando ainda têm poucos parâmetros na vida, não é fácil, para os educadores de infância.

Capítulo 2 – O jogo no currículo de Matemática

26 Pesquisas mostram que as crianças ficam muito mais sensíveis à cooperação quando os adultos usam um tom de voz tranquilo: "Outro detalhe: o «obrigado» ao final de cada solicitação é uma forma de reconhecer os esforços da criança e ajudá-la a se tornar uma pessoa solidária e cooperativa" (FMCSV, 2013, s. p.). Pode-se concluir, assim, que a transmissão de valores para uma criança passa pela própria atitude do profissional de educação e pelo exemplo que este lhe dá.

O facto de pedirmos, em certas situações do nosso estágio, que uma criança jogasse com outra(s), foi um aspeto que considerámos necessário desenvolver, através de jogos e de atividades de pares/equipas: incentivámos, portanto, a cooperação e a partilha com vista a atingir um objetivo em comum. Quando pedíamos para uma criança explicar as regras e objetivos de certos jogos a colegas que não os dominavam, também estávamos a desenvolver a cooperação, a entreajuda e a autonomia na gestão das aprendizagens, e tudo isso tendo como pano de fundo o jogo.

Por vezes, a competição verificada no decorrer de alguns jogos era incentivada como forma de estimular a cooperação entre membros do mesmo par, com vista a responder atempadamente e de forma correta a questões colocadas, recebendo assim um reforço positivo. Com certos jogos implementados, não foi incentivada a competição, apenas a cooperação.

A aprendizagem cooperativa é uma estratégia pedagógica que privilegia uma aprendizagem através da cooperação entre todos os membros de um grupo, sendo que o desempenho de cada um dos membros do grupo depende do desempenho de todos (Johnson et al., 1984; Bessa & Fontaine, 2002; Fontes & Freixo, 2004; cit. por Salazar, Silva & Poças, 2001). Bona (2012) defende que a autonomia, a cooperação e o sentido crítico são elementos fundamentais na formação dos cidadãos. Autonomia, segundo as palavras de Freire (1996, cit. por Bona, 2012),

pressupõe uma metodologia do aprender a aprender, do aprender a pensar, a partir das construções do sujeito que descobre por si mesmo, que inventa sem ajuda de terceiros, que se auto-organiza, reestrutura, reequilibra suas atividades, incorporando o novo em suas estruturas mentais, auto-organizando suas atividades motoras, verbais e mentais. (pp. 32-33)

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