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A importância da legislação do ensino superior no Brasil:

IV. A NALISE E APRESENTAÇÃO DOS D ADOS :

4.5 A estruturação e a institucionalização dos cursos de formação

4.5.1 A importância da legislação do ensino superior no Brasil:

A legislação é vista como elemento essencial do processo de estruturação, que reflete as instituições, os processos de institucionalização, os posicionamentos e as relações entre atores e grupos de atores, assim como, valores, crenças e interesses.

Em síntese, ela tem como normas máximas ou fundamentais a Constituição Federal (1988) principalmente os artigos 207, 208, 213 e 218. A Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional –LDB (Lei n. 9.394, de 1996) reúne as normas gerais que orientam todo o sistema de ensino no país.

Os artigos 43 a 57 dessa Lei se ocupam da educação superior. Sucessivos Decretos Presidenciais vêm pretendendo regulamentar esses dispositivos legais. Em 1997 havia sido editado o Decreto n. 2.207, sendo alterado, logo em seguida, pelo Decreto n. 2.306 do mesmo ano, e, este, alterado pelo Decreto n. 3.860, de 2001, que, por sua vez, foi alterado pelo Decreto n. 5.225, de 2004, substituído pelo Decreto n. 5.773, de 2006.

Além dessa Lei e desse Decreto há o Decreto n. 5.786, de 2006 (que substituiu o Decreto n. 4.914, de 2003), que regulamenta a criação, a transformação e o funcionamento das IES na categoria de Centro Universitário. O atual estabelece requisitos mais compreensivos que o anterior.

Alguns entendem que essas sucessivas alterações regulamentares demonstram as pressões exercidas pelos interesses de empresariamento privado do ensino. O contexto comportaria multiplicidade e diversidade de forças, atores, recursos e interpretações, numa dinâmica parcialmente regida pelos conteúdos sinalizados na legislação.

“... essa sucessão de Decretos são marchas e contra marchas em itens específicos. O pessoal do MEC sofre uma pressão violenta... você pode imaginar: o Deputado chegando com o empresário de seu distrito eleitoral para pedir ao Ministro a aprovação rápida daquela faculdade que vai transformar a situação daquela região.. e assim vai, né?”

“... ainda bem que essas mudanças na legislação admitiram a criação de Centros Universitários. Acredito que essa modalidade de Instituição de Ensino está sendo determinante para a expansão dos estabelecimentos privados e para que eles se comprometam com uma ampla ação educativa.”

“Essa legislação está admitindo uma diversidade de instituições que significa, no frigir dos ovos, em mais empresários do ensino tocando seus negócios com escolas num tipo de atuação onde não há recurso e vontade para a pesquisa e a formação humana integral. O papo é formar pessoal para a empregabilidade.”

“Essas mudanças levam o ensino a uma preocupação com os pés no chão, ligado na realidade. O que interessa é preparar o jovem para a sobrevivência, em condições de atender o mercado de trabalho.”

“Eles estão certos. Tem que obter aprovação da OAB e do Conselho Nacional de Saúde para abrir novos cursos de Direito, de Medicina, de Psicologia e de Odontologia. Do jeito que está indo, acho que iam formar advogados e médicos em cursos à distância. Devíamos fazer o mesmo com Administração.”

Há, portanto, o entendimento de que o ensino da graduação em Administração está fortemente regulamentado por dispositivos legais e regulado pelo Poder Executivo nas esferas Federal, Estaduais e Municipais.

Em Curitiba está assente que a regulação é exercida pelo Ministério da Educação através da Secretaria de Educação Superior. Essa regulação se dá principalmente através das práticas de autorização de funcionamento, de supervisão, de avaliação e de divulgação dos resultados e atividades.

A presença dessa Secretaria no cenário nacional é vista como um ator social dotado de legitimidade, de autoridade e posição dominante, a quem podem recorrer para solucionar e obter orientação sobre diversas questões de interesse comum ou particular das IES e dos cursos.

A regulamentação classifica as IES segundo a natureza jurídica das mantenedoras (públicas, quando administradas pelo poder público; privadas, quando administrada por particulares). As privadas são classificadas ainda: (a) entre as que têm fins lucrativos e as que declaram não ter fins lucrativos; e (b) entre as confessionais ( ou ideológicas) e as não confessionais.

As categorias de IES serviriam tanto para descrever e identificar a realidade e essas IES quanto comporiam a definição do indispensável posicionamento desses atores no cenário nacional e local, correspondendo ao processo de articulação dos interesses e de delimitação das regras e recursos das práticas desses atores sociais.

Os dados sugerem que os Cursos de Curitiba aceitam favoravelmente que haja uma autoridade nacional (nem sempre foi assim, e isso é freqüentemente lembrado) regulando o Setor e participando ativamente do contexto institucional. Interpretam que

isso significa preservar a Educação como Bem de Interesse Público social e conter a apropriação e submissão da Educação à lógica mercantil.

Os dados também sugerem que eles reconhecem que as IES privadas estão submetidas a uma lógica de mercado. A Autoridade Nacional para a Educação não interviria no sistema de ensino superior de Administração para compensar as assimetrias e as desigualdades no plano concorrencial entre as IES privadas.

O esquema interpretativo compartilhado: (a) crê na possibilidade da(s) IES(s) ter(em) competência(s) Organizacional(is) para, individualmente ou em grupo, lidar satisfatoriamente com a diversidade e a adversidade; (b) crê que o sistema de ensino, no conjunto, obteria benefício da dinâmica concorrencial entre IES privadas.

“Estou concorrendo com a UNICENP! Quando que eles vão quebrar? Mesmo que deficitários, o Curso será mantido. A manutenção do curso ali atende a outras necessidades. Não é o nosso caso, meu caro. Tenho que me virar.”

No plano pedagógico, contudo, os docentes surgem como atores sociais que, tanto individual, quanto coletivamente, desempenham as práticas pedagógicas e exercem sobre elas forte domínio.

Suas relações em Curitiba vêm sofrendo mudanças nos últimos anos. De um lado, o crescimento do numero de pessoas aptas a exercerem o magistério nos cursos de graduação em Administração; de outro, o crescimento do numero de cursos de graduação na Cidade. Esse quadro explica: (a) que esteja reduzindo entre os docentes da atualidade (novas gerações) a percepção de proximidade entre eles e de se constituírem um grupo dotado de capacidade de ação. (b) a ascendência das IES para tentar ampliar sua influência nas práticas pedagógicas; ( c) o modo que está prevalecendo para posicionar o professor como mediador na relação IES e aluno, qual seja, a sua contratação como prestador de serviços (horista).

É possível considerar que, apesar do quadro adverso, os professores de graduação em Administração em Curitiba mantêm razoável identificação e reconhecimento recíproco, inclusive das condutas e das práticas adotadas, o que pode levar a crer que constituem comunidade de prática que, como tal, participam da estruturação do setor.

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