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A importância da literacia financeira na sociedade actual

No documento A (I)Literacia Financeira da População (páginas 35-39)

2. A (I)Literacia Financeira

2.2 A importância da literacia financeira na sociedade actual

Segundo ASIC (2003) e, face à complexidade do sistema de produtos financeiros em determinadas sociedades e à constante mutação do ambiente financeiro e social, o conceito de literacia financeira é relativo. Pode então concluir-se que, a avaliação do conhecimento financeiro por parte do individuo é dinâmica e subjectiva, pois, um individuo hábil nesta temática na sociedade de há 20 ou 30 anos atrás, pode não o ser na sociedade actual. Tal facto deve-se a acontecimentos e factores que vão surgindo com o decorrer dos anos, obrigando a que, o conceito de literacia financeira detido por um indivíduo, se vá alterando.

É vulgar ouvirmos dizer que a informação prestada pelas instituições financeiras é muito complicada e confusa, pelo que é preferível, ao invés de a tentar perceber e aprender, encontrar alguém em quem se possa confiar para tratar do problema. Daí as pessoas serem alvos vulneráveis porque não têm conhecimentos financeiros e não querem perder tempo para aprender.

No entanto, já Rotfeld (2008) defendia a teoria de que é preferível estudar e aprender a tomar decisões, do que pedir conselhos a estranhos.

De acordo com Machado (2011), esta tarefa complexa que é a literacia financeira pode ser descrita e agregada a um modelo chamado ciclo de vida (“life cycle model”) ou

acontecimentos da vida (“life events”)que no fundo mostra a organização e a evolução de cada sociedade.

A análise levada a cabo por Browning e Crossley (2001) sobre um estudo que procurou averiguar a possibilidade de criação de modelos de ciclo de vida que, associados ao esforço e rendimento disponíveis de cada um, justificassem para um mesmo consumidor diferentes comportamentos, sugere que a opção de poupança e gasto implementada por cada individuo, é fortemente influenciada por vários factores como a cultura, a religião, a educação, o número de filhos, etc..

Como se pode depreender do parágrafo anterior, Browning e Crossley (2001), defendem que as decisões de âmbito financeiro são influenciadas pela experiência de vida de cada um, e, para as compreender melhor, se deve avaliar, em cada sociedade, o(s) percurso(s) de várias famílias de forma a identificar os vários estádios de literacia financeira existentes e, verificar quais os que devem ser prioritários para o desenvolvimento de literacia financeira, procurando-se perceber o que, em determinada sociedade, transmite segurança financeira ao individuo.

ASIC (2003) refere o exemplo do inquérito realizado pelo ANZ Bank na Austrália, que evidenciou uma ausência ou reduzida capacidade financeira por parte de alguns consumidores de produtos financeiros, enquadrados numa faixa etária compreendida entre os 18 e os 24 anos

Podemos, pois, concluir que a literacia financeira é importante para qualquer indivíduo integrado numa sociedade, embora nas sociedades menos desenvolvidas o grau de literacia financeira não seja tão exigente como nas desenvolvidas. Contudo, um indivíduo financeiramente culto, deve estar preparado para interagir, financeiramente, nas diversas sociedades e situações de uma forma clara, concisa e autónoma.

Na sociedade actual, um indivíduo deve ser financeiramente hábil, devendo para isso possuir e dominar alguns conceitos financeiros, podendo deste modo fazer as suas escolhas sem estar sujeito a relações de agência.

No entanto a OCDE (2006) sugere que, independentemente dos problemas que daí possam surgir, haja, de alguma forma, uma relação de agência por vários motivos: (I)

Corrigir a falta de informação financeira necessária para intervir no (s) mercado (s) financeiro (s); (II) Corrigir aqueles que julgam possuir um nível de literacia financeira superior ao que realmente têm.

Em consonância com esta ideia, já a ASIC (2003) e posteriormente Orton (2007), chamam à atenção para o facto de haver situações que obriguem de certa forma à existência de um mediador / supervisor, que possa aconselhar o consumidor (existindo assim uma relação de agência). Tal situação tem-nos acompanhado até aos dias de hoje e, deve-se aos seguintes factores: (I) Uma cada vez maior participação dos consumidores nos mercados financeiros; (II) Um aumento da volatilidade dos mercados, após um longo período de crescimento; (III) Uma redução da poupança e aumento do crédito a nível individual; (IV) O aumento da consciencialização e responsabilização dos consumidores.

Podemos assim concluir que, mesmo na actual sociedade, e dada a grande variedade de produtos financeiros existentes, a problemática da (i)literacia financeira deve ser tratada com alguma subjectividade. Tem, antes de mais, de se analisar o grau de literacia do indivíduo relativamente à complexidade do produto a adquirir, pois o que não oferece dúvidas para um, pode ser questionável para outros. Por outro lado, seria de todo o interesse que se pudesse identificar um grau de literacia mínimo e garantir que todos os indivíduos o dominassem, dotando-os de conhecimentos facilitadores do relacionamento com entidades financeiras, facilitando e promovendo o sucesso financeiro de cada um.

A iliteracia financeira não se cinge somente aos problemas relacionados com a banca, mas também ao dia a dia de cada um. Um “iliterário” pode deparar-se com inúmeras situações constrangedoras do dia-a-dia, às quais é incapaz de dar resposta ou ultrapassar como por exemplo: gerir o seu orçamento familiar, identificar produtos ou serviços financeiros que satisfaçam as suas necessidades, etc., tornando-se assim alvo fácil para a prática de situações abusivas e desonestas.

Por tudo isto, e, porque a literacia financeira é extremamente importante para o bem-estar pessoal e financeiro de cada um, há todo o interesse em identificar, no âmbito desta temática, a ausência de conhecimento existente na sociedade em geral e

desenvolver mecanismos para a combater, passando pela sensibilização da própria sociedade para os problemas que possam surgir.

3. Projectos e recomendações para promover a Literacia

No documento A (I)Literacia Financeira da População (páginas 35-39)