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A importância da mobilidade populacional no processo

1. Introdução

1.5 Aspectos teóricos e metodológicos: Urbanização e migração

1.5.2 A importância da mobilidade populacional no processo

Devido à correlação necessária, nesse presente trabalho, entre migração e urbanização, não podemos definir urbanização sem depois definir migração e ressaltar sua importância para o desenvolvimento do país. No caso de Mossoró, por exemplo, seria impossível apreender seu processo de urbanização sem antes detectar os fluxos migratórios e os fluxos de deslocamentos diários/semanais de parte de seu contingente populacional.

Assim sendo, será aplicado o que SOUZA (1976:10) define como migração dentro do âmbito nacional:

“Por migração interna entendemos um processo social condicionado por múltiplos fatores que motivam o deslocamento espacial de contingentes populacionais de seus lugares de nascimento para outros que podem variar segundo os níveis de aspirações no âmbito do território nacional.

É o ponto de origem e de destino da migração que a caracteriza como rural- rural, ou rural-urbana ou ainda urbana-rural e urbana-urbana.”

Os deslocamentos de população e a migração para as cidades não são fenômenos específicos da nossa época nem do nosso país. Segundo DURHAM (1984), o volume e a amplitude do movimento migratório interno no Brasil, no século XX, assim como o ritmo acelerado do processo de urbanização, aponta para profundas transformações econômico-

sociais relacionadas ao processo de desenvolvimento do país. Trata-se de um fenômeno que manifesta transformações na própria estrutura da sociedade brasileira e, como tal, não pode ser compreendido isoladamente.

Ainda segundo DURHAM (1984), para a compreensão desse fenômeno não se trata, pois, de reviver a noção da existência de “dois Brasis” – um Brasil de tecnologia rudimentar, baseado nas relações pessoais de dominação, e outro Brasil industrial em expansão, progressista e rico, fundado na concepção do lucro, na racionalização do processo produtivo, na burocratização das instituições, e nas relações interpessoais. Também, não se trata de pensar na migração como um processo de “modernização” refletido ao nível do comportamento individual. Seria uma simplificação de uma realidade complexa e dinâmica.

É preciso compreender a migração como um dos fenômenos que apontam para a inter-relação necessária entre os diferentes sistemas sócio-espaciais do país. A redistribuição populacional causada pelo movimento migratório prende-se às diferenças entre as diversas regiões do país e se manifesta numa complexa série de movimentos menores. Parte dessa migração dirige-se de uma área rural para outra e se relaciona com o desenvolvimento capitalista através do cultivo de produtos de exportação ou de matérias- primas para a indústria nacional. Outra parte das correntes migratórias dirige-se para as cidades, onde procura se beneficiar das oportunidades de trabalho criadas pela expansão industrial. A partir daí, a integração de contingentes crescentes de trabalhadores rurais nas cidades não significa apenas urbanização, mas aponta para uma transformação do sistema econômico que afeta tanto a cidade quanto o campo.

Devido às grandes disparidades regionais, o desenvolvimento econômico no Brasil, assim como sua urbanização, são marcados pela formação de grandes correntes de migração interna que processam uma maciça redistribuição da população.

A mobilidade populacional, por ser componente demográfico relacionado às condições históricas das mudanças (políticas, sociais, econômicas), constitui importante mecanismo de reprodução ou alteração numérica da sociedade. É capaz de medir ou refletir processos que influem indiretamente sobre outros processos demográficos ou influem, diretamente, sobre as relações de classes que determinam a formação e composição do mercado de trabalho de uma região. Na mobilidade da força de trabalho, a migração deixa

de ser conseqüência ou reflexo do espaço transformado para atuar como agente de transformação.

Não é por acaso que a história da produção do espaço de grande parte do Brasil está repleta de fatos destacando o papel importante dos migrantes, especialmente nordestinos, no contexto dos vários ciclos de nossa economia e no surgimento de inúmeros objetos geográficos, como as cidades e os grandes eixos de comunicação.

Os nordestinos, por exemplo, são tidos pela elite política e econômica brasileira como reserva de mão-de-obra, e circulam no país acompanhando a mobilidade do capital, sendo responsáveis pela transformação de grande parte do território brasileiro e pela formação de novas territorialidades e novas formas de concepção e domínio do território econômico e social. Vale lembrar que o conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito ligado à idéia de domínio ou de gestão de uma determinada área. Dessa forma, deve-se ligar sempre a idéia de território à idéia de poder, quer se faça referência ao poder público, estatal, quer ao poder das grandes empresas, que estendem os seus tentáculos por grandes áreas territoriais, ignorando as fronteiras políticas (ANDRADE. 1998:213).

Assim sendo, no Brasil, a correlação das correntes migratórias com os fatos políticos, econômicos e sociais que marcam a história do país é nítida, quando analisadas as crises econômicas, aliadas à seca e à falta de perspectivas econômicas dos jovens nascidos em municípios carentes que são impulsionados a migrar. As ações das forças impulsionadoras da mobilidade populacional (estrutura social, econômica e fundiária, assentamentos rurais, relações de poder, programas governamentais, desemprego estrutural), e dos atores sociais (latifundiários e força de trabalho migrante), são fatores fundamentais, que levam pessoas ou grupos a migrarem. Uma prova disso é a grande quantidade de migrantes em todas as regiões, conforme foi detectado recentemente pelo PNAD 2003.

Embora não se possa ignorar o quadro geral da mobilidade populacional entre regiões, especialmente os aspectos demográficos, econômicos e sociais, que dizem respeito à sociedade brasileira e seu modo de integração no mercado nacional, não é objetivo deste trabalho estudar as transformações econômico-sociais percebidas no nível da estrutura nacional; aqui o fenômeno da migração interessa na medida em que ele reflete transformações no nível da estrutura estadual.

Trazendo a discussão para o caso deste trabalho, o deslocamento de populações entre áreas do Rio Grande do Norte vem sendo documentado e desempenha papel proeminente em muitas estratégias de desenvolvimento econômico do Governo Estadual. No entanto, o rápido e desorientado crescimento que se vem observando em seus maiores municípios – Natal e Mossoró – principalmente a partir da década de 1970, apontam para maciços incrementos populacionais em suas áreas, provocando a proliferação de inúmeras tensões sociais.

Uma das evidências dos resultados negativos da transferência de populações refere-se ao elevado ritmo do aumento demográfico, desproporcional a infraestrutura implantada pelo poder público, provocando pressão sobre a oferta de emprego, moradia, transporte, e serviços básicos, como educação e saúde. Os resultados dessa pressão são problemas urbanos já bastante conhecidos, especialmente nas grandes cidades.

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MOSSORÓ EM VIAS DE URBANIZAÇÃO: DO PERÍODO