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2 FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA

2.7 A Importância das Soluções de Governança

A aplicação dos fundamentos da governança corporativa nas organizações tende a variar de acordo com o tipo de organização, conforme Ward (2015), que ressalta que as mudanças no negócio são particulares e únicas. No caso de organizações familiares, as mudanças podem ser dentro da família e refletem seus interesses e objetivos. Dito isto, as práticas da governança se moldam e suas regras e intenções se adaptam à família, à propriedade e à gestão.

O papel da governança vem à tona e se faz primordial para o gerenciamento do vínculo entre os stakeholders nas organizações familiares. São suas práticas que garantem o duradouro relacionamento entre funcionários, família e empresa, uma vez que se faz imprescindível nos processos de sucessão, transição de gerações, criação de lideranças e mudanças de estruturas e propriedade. Mais além, influi nas expectativas da organização e dos stakeholders em diversos âmbitos e desafios, como a profissionalização da organização (LAMBRECHT, 2005). Porém, quando se trata das dificuldades e paradigmas da governança das organizações familiares, Lansberg (1999) sustenta a relutância de delegar e ceder às opiniões daqueles fora do eixo da família, o conflito de visões e interesses dentro dela mesma, e o uso de capital da empresa para fins próprios e transição das gerações. Estas atitudes, portanto, podem impactar negativamente o negócio e, ocasionalmente, inviabilizá-lo.

Ademais, existem diferenças no que diz respeito à governança e aos resultados das empresas familiares, com outros tipos de empresas. O grande desafio consiste em estabelecer elos naturais e perceptíveis entre a governança familiar e os resultados da organização (BENNEDSEN; PÉREZ-GONZÁLEZ; WOLFENZON, 2010).

A presença e atuação do conselho de administração é um fenômeno que, contextualizado em um cenário de busca pela profissionalização, pode mostrar resultados positivos quando aplicados às organizações familiares. O processo de expansão destas empresas acaba por utilizar deste tipo de prática, em face de momentos como transição entre gerações (DAVIS; HARVESTON, 2001).

Bornholdt (2005) aponta que os principais objetivos da criação de um conselho de administração dentro de um contexto de organizações familiares são a maximização do desempenho tanto no curto e longo prazos, resultando em um aumento do nível de competitividade da empresa no mercado; uma melhor tomada de decisão e aperfeiçoamento

nos processos administrativos, por meio da qualificação da gestão, além da preocupação e alinhamento dos objetivos da organização no longo prazo às atividades no curto prazo. Atentando-se a estes pontos, possibilita à organização familiar a sua estruturação, bem como as responsabilidades ao longo dos níveis hierárquicos e, com o conselho de administração, é capaz, por exemplo, de mitigar eventuais problemas de agência.

O problema de agência, neste contexto, é muito comum em empresas familiares, visto que diferentes interesses dos membros da família podem criar situações na qual a colaboração e a troca de informações não são eficientes (CHRISMAN; CHUA; LITZ, 2004).

Dentro de uma perspectiva mais sociológica que usa da teoria da agência como fonte de estudo para interpretar alguns fenômenos das empresas familiares e sua importância para o desenvolvimento econômico, Whyte (1996) aborda que famílias que tendem a concentrar a propriedade e o controle tendem, sequencialmente, a serem mais restritivas e separar membros internos confiáveis dos membros externos que se acredita não serem confiáveis, ato este que inibe o surgimento de uma universalidade e valores impessoais necessários para comandar uma organização meritocrática moderna.

Além disso, pode motivar a eliminação de altruísmo na família; reduzir a motivação para diversificar o risco financeiro da firma; favorecer o emprego de membros da família - mesmo não sendo as pessoas mais adequadas para o cargo - o que pode ocasionar o aumento de custos de monitoramento devido aos incentivos de crescimento serem reduzidos (VAN DEN BERGUE; CARCHON, 2003).

Figura 6 - O papel do Conselho de Administração na empresa familiar

Fonte: Adaptado de Bornholdt (2005)

Maximizar o

desempenho

McConaughy, Matthews e Fialko (2001) estressam este ponto ao reforçar a relevância do conselho para as organizações familiares no que tange ao seu papel estratégico e a significativa transparência que ela leva a diferentes âmbitos da organização, que auxilia e busca garantir o cumprimento dos objetivos e visão previamente estipulados.

A adesão de boas práticas de governança corporativa, segundo Assaf Neto (2009, p. 129) é “a preocupação pela transparência da forma como uma empresa deve ser dirigida e controlada e sua responsabilidade nas questões que envolvem toda a sociedade”.

Segundo Carney (1998), uma adequada prescrição gerencial para organizações familiares é a de diversificar sua riqueza e profissionalizar sua estrutura gerencial. Faz-se primordial, portanto, que devido à concentração da propriedade, os membros da família usem certos direitos de controle dos ativos da empresa para exercer sua influência nos processos de tomada de decisão na organização de forma construtiva, pois estas mesmas decisões podem eclodir em diversos âmbitos que impactam as estruturas de governança da organização. Coffee (1999) afirma que práticas de governança não só identificam problemas em potencial como buscam soluções – e até penalizações. Em casos de executivos cujas empresas possuem fraco desempenho acionário ou indicadores de baixa expressão, estes sistemas podem vir a penalizá-los, bem como em casos que indiquem estrutura de governança inadequada. As políticas de governança influenciam na maneira como as organizações, dentro destas circunstâncias, agem no que diz respeito ao gerenciamento de seus contratos e relacionamentos, seja com entidades de financiamento, mercado de capitais, quanto com parceiros do negócio, como fornecedores e clientes (WILLIAMSON, 1985). Sendo assim, melhorias nas práticas de governança ajudam a criar um ambiente saudável para a entrada de investidores externos, reduzindo o custo com a captação de recursos financeiros.

Por fim, as práticas apropriadas de governança surgem como solução visando contribuir para o sucesso e longevidade da organização. E, como apontam Gersick, Hampton e Lansberg (1997), pode auxiliar a família a se situar acerca de seu papel no negócio, sua capacidade de influência e na pavimentação do processo sucessório.