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A importância das TIC na formação do professor de matemática

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CAPÍTULO 2 – A Formação Docente no Contexto da Sociedade em Rede

2.4 A importância das TIC na formação do professor de matemática

As tecnologias, numa visão crítica, devem ser pensadas como forma de contribuição do conhecimento e de novos saberes profissionais. Além do mais, elas contribuem para o processo de aprendizagem dos alunos e permitem ao professor, por meio da informática, a adoção de uma prática posicionada para além da exposição do conteúdo, pois o trabalho com

60 os conhecimentos ocorre de forma mais significativa e dinâmica. Ocorrem também possibilidades de se permitir o aprimoramento dos conhecimentos docentes através da informação ampla e diversificada.

Para tanto, o professor necessita dominar o conteúdo e o recurso tecnológico. E isso implica em saberes que devem ser aprendidos tanto na formação inicial, quanto na continuada. Em vistas disso, Borba e Penteado (2001) defendem o uso das TIC em atividades, porque facilitam a construção do raciocínio matemático. Outros, contudo, defendem o uso das TIC na construção do conhecimento matemático, salvo o entendimento da importância da formação de professores voltados para aprender a utilizar as TIC no ensino da matemática.

Uma das possibilidades de inserção das TIC na Matemática tem sido a Modelagem Matemática, por essa integrar conhecimento de diferentes naturezas. Para Chaves (2005, apud LUIZ e MACHADO, 2009), a Modelagem Matemática permite fazer a ligação entre a linguagem cotidiana e linguagem matemática, conferindo-lhes sentido através da investigação dos conceitos matemáticos. A esse respeito Caldeiras (2008, apud LUIZ e MACHADO, 2009, p. 986) propõe a seguinte reflexão:

Penso que a primeira constatação para levar em conta a Modelagem Matemática na formação de professores de matemática, tanto na inicial quanto na continuada, é discutir a questão epistemológica do pensamento matemático e de como a Modelagem Matemática, enquanto sistema de ensino e de aprendizagem sustentaria um determinado método que justificasse tal epistemologia.

Segundo Borba, Meneguetti e Hermini (1997, apud LUIZ e MACHADO, 2009) a perspectiva da Modelagem Matemática coloca o aluno como sujeito do processo de aprendizagem e como construtor do conhecimento matemático. Assim, as TIC permitem a mediação do ensino e propõem novos conhecimentos. Nessa relação, o professor é o mediador do processo e orienta os alunos a elaborarem conceitos e fazerem novas descobertas.

Caldeira (apud LUIZ e MACHADO, 2009 p. 994) afirma ser a Modelagem Matemática “uma metodologia, uma estratégia de ensino e aprendizagem, um ambiente de aprendizagem ou até mesmo uma técnica de ensino”. Essa estratégia, aliada as TIC, permite realizar um ensino mais significativo e construtivo. Talvez essa seja uma das possibilidades dinâmicas de inserir as TIC como ferramenta pedagógica, a fim de proporcionar aos alunos maneiras de aprender de forma estimulante e voltada à construção de novos conhecimentos.

As TIC, aliadas à Modelagem Matemática nos ambientes de aprendizagem, permitem ao professor e ao aluno atuarem como coparticipantes no processo de

aprendizagem. Para o desenvolvimento de uma prática, com a inserção da Modelagem Matemática e a mediação das TIC, é fundamental a formação do professor. Além disso, é preciso que sejam inseridos os saberes específicos e os profissionais, com base nessa concepção de ensino. Para isso, o projeto do curso de formação de professores deve contemplar, em sua matriz curricular, a formação do professor de matemática voltado a habilidades e competências com tal temática. É preciso, ainda, que professores formadores tenham clara a concepção dessa proposta, com a intenção de promover intervenções e estratégias de ensino que orientem os alunos na construção de novos conhecimentos.

Ponte (2003) indica que os professores de matemática precisam aprender, na formação inicial, a utilizar as TIC em sua prática, incluindo software educacional próprio da disciplina, e outros programas de formação em geral. Existe saberes profissionais a serem trabalhados na construção da identidade do professor de matemática. É importante aprender a utilizar a ferramenta tecnológica na formação do mesmo, porque esse profissional pode contribuir com o ensino de modo inovador, reforçando o papel da linguagem gráfica e de novas formas de representar os cálculos. Está permitida, também, a dedicação de maior atenção ao aluno, no desenvolvimento de capacidades de ordem superior, estimulando-o e conduzindo-o às novas descobertas em sala de aula. Consequentemente, essa dinâmica possibilita o desenvolvimento de competências e atitudes mais positivas em relação à matemática, tanto por parte do professor, como do aluno.

Miskulin (2003, p. 234), por exemplo, desenvolveu pesquisas em ambientes computacionais com o objetivo de explorar os limites e as possibilidades pedagógicas desses ambientes na construção do conhecimento matemático. Foi utilizado o Geomete’r Sketchpad20, que é um software que permite explorar de forma dinâmica, os recursos da tecnologia no ensino da matemática. Assim, o que a autora apresenta são, na verdade, as possibilidades de uso de um ambiente computacional:

Geomete’r Sketchpad, que explora triângulos, quadriláteros, círculos, além de outras figuras geométricas e suas características. O estudante utilizando esse programa, pode explorar geometria analítica da mesma maneira dinâmica que explora outras abordagens da geometria. Pode ainda realizar cálculos baseados nos parâmetros de equações e colocar qualquer cálculo ou equação em um sistema de coordenadas.

A proposta acima descrita permite construir saberes profissionais ao utilizar as TIC na prática do professor de matemática. Outra questão abordada é que a internet possibilita um

62 universo de informações ao desenvolvimento da matemática. Vários exemplos de tarefas e de software voltados ao ensino da matemática estão disponíveis nos sites, basta o professor e os alunos aprenderem a utilizar tal recurso em favor da transformação em conhecimento.

Entretanto, para que haja essa atitude diante das TIC, os professores e os alunos necessitam aprender, na formação inicial, as especificidades do uso das TIC. Para tanto, necessitam aprender a usá-la com confiança e à serviço da formação profissional, com a intenção de mediar a aprendizagem. A partir dessa iniciativa, especialmente o professor terá condições de buscar novos recursos educacionais e outras situações de aprendizagem com o recurso tecnológico.

Shulman (1986, apud PONTE et al. 2003, p. 162), afirma que o conhecimento dos professores de matemática está composto pelo que se pode chamar de “declarativo, procedimental e estratégico”21, que são usados em situações de prática. Devido a isso, está posto que há saberes importantes no desenvolvimento da atuação profissional que devem ser aprendidos na formação inicial do profissional de matemática. Para o professor, é preciso conhecer teorias e questões educacionais, ter um bom conhecimento na sua área de ensino e, ainda, ter uma forte preparação no campo especializado da didática da matemática.

De fato, formar o professor de matemática requer aprender e desenvolver conhecimentos específicos para a construção da identidade de um educador matemático envolvido com a cultura atual, com as formas de ensinar e aprender inovadoras e, acima de tudo, interligadas com a profissão docente. Parte do conhecimento profissional dos professores diz respeito ao uso das TIC como ferramenta cada vez mais presente, de modo que se permite agora mudar o ambiente, produzir materiais didáticos, relacionar com outros professores e criar novas propostas de construção de conhecimento.

O uso das TIC, na formação inicial e na prática docente, não deve ser pensada para a “transmissão de conhecimentos”, mas como nova possibilidade estimuladora de aprendizagem. Está proposta a reflexão pelos desafios impostos aos alunos, como apoio do trabalho desenvolvido e como fator estimulador na diversificação dos recursos de aprendizagem. Pensar as TIC na formação dos professores remete ao desenvolvimento dos saberes profissionais alinhados com uma sociedade contemporânea, para uma visão que ultrapasse o uso dos meios tecnológicos como simples ferramentas.

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Para Elbaz (1983, apud PONTE, 2003, p. 162), esse conhecimento “tem um caráter em muitos aspectos tácito, é fortemente pessoal, e desenvolve-se e consolida-se por meio da experiência e da reflexão sobre a experiência”.

A inserção das TIC não deve acontecer por um paradigma economicista, mas como um recurso que faz parte da cultura da sociedade atual, nos diversos campos do saber. O papel do professor, então, estará voltado à criação de situações de aprendizagem, como desafios e apoio à produção de conhecimentos e à diversificação da prática. Como coloca Ponte (2003, p. 190), as TIC não são apenas ferramentas auxiliadoras no trabalho:

As TIC são um elemento tecnológico fundamental que dá forma ao ambiente social, incluindo o ensino da matemática. Como tal, influenciam a evolução do conhecimento e da identidade profissional do professor de matemática. Os futuros professores precisam desenvolver confiança no uso dessas tecnologias e uma atitude crítica em relação a elas. Precisam ser capazes de integrá-las nas finalidades e nos objetivos do ensino da matemática. A tarefa dos programas de formação não é ajudar os futuros professores a aprender a usar essas tecnologias de um modo instrumental, mas considerar como é que elas se inserem no desenvolvimento de seu conhecimento e de sua identidade profissional.

Portanto, ao analisar as TIC na formação do professor e, em particular do professor de matemática, fica claro que não basta propor o recurso de forma instrumental, ou seja, apenas a ensinar o professor a usá-la. Deve-se propor uma formação docente voltada à concepção crítica dos instrumentos, o que possibilita ao professor o manejo das competências para analisar o recurso e para refletir seu uso na prática docente de uma sociedade e de uma cultura. É preciso permitir que as TIC sejam um recurso para a produção de conhecimentos de todos envolvidos no processo em que ela se insere.

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