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2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ALGUNS ELEMENTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS PARA REFLEXÃO

2.2 A importância de estudos em Educação Ambiental na formação de professores

Compreendendo a formação inicial de professores que atuarão na Educação Básica, especificamente formados nos cursos de Pedagogia, como uma formação na perspectiva humana e política, considera-se que esta formação deve ter o compromisso em buscar durante seu processo educativo a inserção de novos valores, comportamentos e percepções, incorporando de maneira transversal e interdisciplinar os conceitos da EA, a fim de relacionar esse processo formativo aos problemas socioambientais enfrentados pela população mundial atualmente. Desta maneira é possível fortalecer o desenvolvimento de uma reflexão crítica e participativa em relação a assuntos associado a estes problemas enfrentados. Em suas Competências Gerais, a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica traz:

Desenvolver argumentos com base em fatos, dados e informações científicas para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns, que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental, o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta (BRASIL, Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica, 2019, p.15).

É preciso que a capacitação do docente formador do estudante crítico da Educação Básica, possua questões que fortaleçam posturas de leitura de mundo, no sentido desta pesquisa, das relações criadas entre homem e o meio ambiente natural, possibilitando avanços sobre a amplitude referentes ao assunto. Para que a EA seja efetivada nas escolas, de maneira interdisciplinar e visando o pensamento crítico a fim de desenvolver nos estudantes o sentimento de pertencimento e responsabilidade pela natureza, relacionando-se com o seu cotidiano, a fim de também compreender o os processos hegemônicos, reconhecendo a relação dos problemas ambientais com as desigualdades de classes existentes, por fim compreendendo o modelo social vigente e suas consequências. Endente-se ser necessário que a formação de professores contemple esta temática, por motivos éticos e sociais, a fim de que a EA não seja apresentada de maneira fragilizada nas práticas dos professores. Isto é, práticas generalizadas que não fazem sentido para os estudantes, reduzidas e simplificadas, mostrando-se pouco efetivas para objetivar o processo de transformação de consciência ambiental:

A Educação Ambiental baseada no pensamento crítico possui como marca principal o entendimento de que esta, por se tratar de uma prática social, necessita vincular os processos ecológicos aos sociais na leitura de mundo, na forma de intervir na realidade de existir na natureza (LOUREIRO, 2007, apud MATTOS, 2009, p. 38).

A EA possui uma dimensão de engajamento no sentimento de pertencimento ao mundo, mas também possui legitimação jurídica, de modo que ela seja trabalhada nos cursos de Licenciatura e Pedagogia, como exigida pela Constituição Federal segundo a Lei de No 9.795, de 27 de abril de 1999. (Art. 11, sessão II) “A dimensão

ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas”. A partir disto, a fim de que seja garantido na educação básica o direito de compreender os processos que relacionam o meio ambiente e o modelo social vigente, é necessária a efetivação da temática EA no processo de formação de professores de maneira articulada com os conteúdos.

A fim de que sejam promovidos contextos onde os estudantes da educação básica estruturem suas ideias de forma crítica, resolvendo problemas, analisando seus próprios atos em relação aos outros e a natureza, é necessária que a formação de professores ofereça condições para que estes futuros docentes construam uma leitura crítica do mundo, problematizando sua própria realidade e as formas como a educação para a sustentabilidade vêm sendo desenvolvida e apresentada. Nesse sentido, Oliveira (2012) destaca a importância do papel da universidade, para desenvolver os processos de transformação do conhecimento e de mudanças sociais, a partir de um movimento contra-hegemônico. Compreendemos o ato de educar como ato político, já que ele visa a formação humana para a cidadania, ou seja, a reflexão crítica, durante a formação de professores, capacita o rompimento de práticas vistas de forma generalizadas e tradicionais, objetivando a construção de um ambiente educativo de conscientização e transformação.

Para Machado (2014, p. 60) “a temática ambiental ainda é incorporada pelas escolas de maneira fragmentada, superficial e descontínua”. Se não houver diálogo com os fundamentos teóricos da Educação Ambiental na formação de professores iremos nos deparar com uma lacuna relacionada a esta temática na Educação Infantil e nos Anos Inicias do Fundamental, causando uma restrição na forma como o tema é abordado, sem

ser levada em prática a formação de uma nova consciência para superar a crise ambiental que vivemos hoje, atuando na realidade de forma comprometida com o bem- estar de toda sociedade global.

O professor que possuí uma trajetória de formação inicial que dispõe a oportunidade através da organização do PP e da Matriz Curricular do curso o objetivo de desenvolver debates e questões a cerca da temática EA, a fim de que seja compreendido que um educador deve-se preocupar em exercer seu papel em uma perspectiva de contribuir para a construção de uma sociedade sustentável. Que as ações pensadas por um professor devem gerar a autonomia e a visão crítica da realidade, desta maneira, será construída de forma dialogada e com significado, a educação como uma ferramenta para a transformação do mundo. O processo de formação de professores de forma geral deve promover a aproximação com o futuro campo de trabalho que é a escola. Essa aproximação e vivência contribuirá para o entendimento sobre as situações concretas e demandas da escola, dos estudantes e de sua profissão. Nessa perspectiva as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica traz no Art. 8º a seguinte proposição:

Os cursos destinados à Formação Inicial de Professores para a Educação deverão priorizar dentre outros aspectos […] VII - reconhecimento da escola de Educação Básica como lugar privilegiado da formação inicial do professor, da sua prática e da sua pesquisa; VIII - compromisso com a educação integral dos professores em formação, visando à constituição de conhecimentos, de competências, de habilidades, de valores e de formas de conduta que respeitem e valorizem a diversidade, os direitos humanos, a democracia e a pluralidade de ideias e de concepções pedagógicas; e IX - decisões pedagógicas com base em evidências (BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica, 2019, p. 05).

Também no mesmo documento em seu Art. 9o assinala que.

Deve-se garantir aos estudantes um ambiente organizacional que articule as ofertas de licenciaturas aos demais cursos e programas da formação docente, por meio da institucionalização de unidades integradas de formação de professores, para integrar os docentes da instituição formadora aos professores das redes de ensino, promovendo uma ponte orgânica entre a Educação Superior e a Educação Básica (BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica, 2019, p. 06).

Sendo assim, a formação do futuro docente deve ser considerada a possibilidade de que durante o encadeamento de sua formação, o estudante de Licenciatura possua a possiblidade de expandir seus conhecimentos através do contato com os outros espaços de formação, aprimorando suas percepções através da prática estabelecida pelos espaços da Educação Básica.

Todavia não podemos considerar a escola como único agente educativo, que a responsabilidade de educar para novos valores e para uma nova consciência seja apenas dela, mas é seu papel proporcionar experiências para que os estudantes possam refletir sobre o meio em que vivem, e pôr em prática suas capacidades de atuação. Para isso, ela deve apresentar um local que possua coerência com o que ensina, pois de nada adianta ensinar valores e não possui-los, a comunidade escolar deve como um todo adotar posturas relacionadas aos questionamentos propostos pela EA, ou seja, pela produção e pelo consumo, assim como a estrutura escolar deve estar preparada para as intervenções consideradas necessárias.

Isso coloca o desafio de a escola não ser mais uma mera receptora das políticas públicas, mas, também, impulsionadora das mesmas, uma alimentando a outra, não mais em ações pontuais, e sim criando intervenções contínuas e sustentáveis, contribuindo para a autonomia e potencializando as comunidades escolares no enfrentamento de suas questões (MACHADO, 2014, p. 66).

É necessário que durante a formação de professores, estes sejam encorajados a não se tornarem apenas transmissores de conhecimentos, aceitando o sistema que predomina o individualismo, mas sim que incentivem a produção do conhecimento, para que os estudantes possam a partir dele ter uma efetiva participação política na sociedade, discutindo as dificuldades ambientais pelas intervenções humanas. Portanto, esperamos que os futuros e atuais docentes se tornem educadores comprometidos com a formação humana de maneira ética, que respeite os princípios de cidadania, dedicando- se a buscar maneiras de possibilitar o desenvolvimento crítico e ativo de seus estudantes, para uma sociedade justa e sustentável.

Para que estes objetivos sejam alcançados, é fundamental que os educadores estejam dispostos a aprender e permanecer aprendendo, visando uma tomada de consciência sobre a realidade em que estamos inseridos e como atuamos sobre ela.

3. A temática da Educação Ambiental representada na Matriz Curricular dos