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A importância do esquema imagético FORÇA na compreensão da emoção

DIFICULDADES SÃO IMPEDIMENTOS PARA LOCOMOÇÃO: mapeamento entre problemas e o modo como são conduzidas a relação, a viagem e os

3.2. O mapeamento das emoções: conceitos gerais

3.2.3 A importância do esquema imagético FORÇA na compreensão da emoção

Existe uma metáfora primária que parece alicerçar a maioria das metáforas das emoções: EMOÇÕES SÃO FORÇAS. Desse modo, o esquema imagético FORÇA parece ser básico para a compreensão das metáforas. Talmy (1988) fala sobre o esquema de FORÇA e salienta o modo de seu funcionamento:

A principal distinção marcada aqui pela linguagem é que existe uma diferença no papel entre as duas entidades que exercem forças. Uma entidade que exerce a força é apontada para a atenção focal - a questão saliente na interação é se essa entidade é capaz de manifestar a sua tendência de força ou, pelo contrário, é superada. A segunda entidade de força, correlativamente, é considerada para o efeito que

94 tem sobre a primeira, efetivamente se consegue superá-la ou não18

(TALMY, 1988, p. 53).

No caso dos domínios da EMOÇÃO, sabemos que a relação que surge entre qualquer emoção e outro domínio, invariavelmente, vai envolver um modo de ação, seja essa ação realizadora de uma força, seja essa ação sofredora de uma força. Nesse ponto, a importância dos x-esquemas é latente, uma vez que a indicação da ação é o que nos permite refinar a compreensão da construção metafórica.

Existem papeis que distinguem os elementos relacionados ao esquema FORÇA. Talmy (1988) subdivide-os da seguinte maneira:

Entidades de força - agonista

- antagonista

Tendência da força intrínseca - para a ação

- para o repouso (inércia) Resultante da interação vigor - ação

- repouso (inércia) Equilíbrio de forças - entidade mais forte - entidade mais fraca

Kövecses (2004, p. 62), baseado em Talmy (1988), cria um nível genérico de mapeamentos relacionando o esquema FORÇA aos domínios da EMOÇÃO.

Força do Agonista (Fago) → Emoção do Agonista (EmAgo) Força do Antagonista (Fant) → Emoção do Antagonista (EmAnt) Força de tendência do Fant → EmAnt tendência da força

18 The primary distinction that language marks here is a role difference between the two entities

exerting the forces. One force-exerting entity is singled out for focal attention – the salient issue in the interaction is whether this entity is able to manifest its force tendency or, on the contrary, is overcome. The second force entity, correlatively, is considered for the effect that it has on the first, effectively overcoming it or not.

95 Força de tendência do Fago → EmAgo tendência da força

Estado resultante do Fago → EmAgo estado resultante da força

Do mesmo modo que existe uma força causada por um antagonista a um agonista, existe uma contra-força, resultante do impacto sofrido pelo agonista, que pode receber o impacto, exercer reação sobre ele, mas não superá-lo, ou, por meio da reação da força, superá-lo.

Na relação com a emoção, o antagonista passa a ser a emoção, pois é a partir dela que existe uma força exercendo pressão no interior da pessoa, que passa a ser o agonista. Essa pressão vai causar uma reação, que é o resultado do modo como a pessoa vai se comportar diante dessa relação de força.

Kövecses (2004, p. 63) mostra um quadro relacionando agonista e antagonista nas metáforas da emoção.

Quadro 4: relação agonista-antagonista nas metáforas de emoção

Domínios-fonte Agonista Antagonista

I.

PRESSÃO INTERNA Pessoa Emoção

OPONENTE Pessoa Emoção

ANIMAL SELVAGEM Pessoa Emoção

ENTIDADE SUPERIOR Pessoa Emoção

INSANIDADE Pessoa Emoção

FOGO Pessoa Emoção

FORÇA NATURAL Pessoa Emoção

II.

FOME Pessoa Desejo da emoção

FOME1 Pessoa emocional Desejo insaciável

AGITAÇÃO FÍSICA Pessoa Causa da emoção

AGITAÇÃO FÍSICA1 Corpo Emoção

FARDO Pessoa Stress emocional

III.

96 Kövecses dividiu a relação de FORÇA com as emoções em três grupos. No primeiro, todos os domínios-fonte têm na pessoa o agonista e na emoção o antagonista. No segundo grupo, existe uma variação entre três domínios-fonte e no terceiro grupo a divisão recai pelo domínio FORÇA FÍSICA. A emoção, portanto, exerce uma força sobre a pessoa, que a leva a tomar uma atitude com relação a esse sentimento. O autor ainda estruturou as metáforas da seguinte maneira:

1 – Uma causa conduz a emoção.

2 – Essa causa leva a pessoa a uma resposta.

Com relação a essa estruturação, Kövecses afirma que

algumas metáforas têm a ver principalmente com “causar ⇒ emoção”,“Isso acendeu minha ira”, enquanto outras com “emoção ⇒ resposta'', “Ele foi superado pela paixão”. Ou seja, não só a emoção pode, em si, ser conceituada como uma causa (e, portanto, uma força) que produz respostas certas, mas também a causa da emoção, o evento ou objeto que leva a emoção em primeiro lugar. Nesse sentido, em seguida, o que causa a emoção é ainda mais natural e, obviamente, pensado como um “causar” e, portanto, uma força, a emoção em si19 (KÖVECSES, 2004, p. 65)

A emoção acaba sendo, portanto, o antagonista e, por vezes, a própria razão da força. Essa relação é fundamental para a compreensão da metáfora da emoção sob a perspectiva da Teoria Neural da Metáfora. O esquema imagético de FORÇA atua como um elemento de substância na proposta de simulação mental. Quando acionamos os esquemas de ação, x-esquemas, estamos, invariavelmente, criando uma relação de força, que envolve o modo como agiremos, controlando nossa força, ou a compreensão sobre o modo como determinada pessoa, agente, objeto está agindo, sendo movimentado etc.

Esse mapeamento de Kövecses sobre as metáforas da emoção é considerado por nós como um “pontapé inicial”, que nos permite ter uma base para análise. Porém, a especificidade das relações metafóricas vai depender do modo como se constrói essa relação em cada cultura e em cada contexto específico. O foco em

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Thus so e etaphors ha e pri aril to do ith the part ause ⇒ e otio That kindled my ire , hile others ith the part e otio ⇒ respo se He as overcome passio . That is, ot only can emotion itself be conceptualized as a cause (and hence a force) that produces certain responses, but also the cause of emotion, the event or object that leads to emotion in the first place. In this sense, then, the cause of emotion is even more naturally and obviously thought of as a cause, and hence a force, than emotion itself.

97 cada atributo dos esquemas imagéticos e dos frames é crucial para o modo como a metáfora será arquitetada. Poderemos ver melhor sobre essas questões nos capítulos subsequentes.