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4 FUNDOS ESPECIAIS

4.4 A Importância dos Conselhos nos Fundos

A descentralização formalizada pela Constituição de 1988 possibilitou a vigência de condições institucionais e políticas para a implantação de conselhos setoriais nas três esferas de governo, permitindo que novas configurações sociais surgissem dessa mudança constitucional e instaurassem novas institucionalidades, com novas relações entre Estado e sociedade (CARNEIRO, 2002).

A esfera pública é o espaço da crítica argumentativa e deliberativa e da democratização da autoridade e do poder político, distinguindo-se tanto do Estado quanto do mercado, capaz de preservar uma autonomia própria (HABERMAS, 1990).

Os conselhos se constituem como experiências inovadoras, no que tange à discussão sobre os controles possíveis pelos conselhos:

...mais do que expressão e mecanismo de mobilização social, os conselhos apontam para uma nova forma de atuação de instrumentos de accountability societal, pela capacidade de colocar tópicos na agenda pública, de controlar seu desenvolvimento e de monitorar processos de implementação de políticas e direitos, através de uma institucionalidade híbrida, composta de representantes do governo e da sociedade civil (CARNEIRO, 2002, p. 155).

Explicitando as competências na organização e gestão, a Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994 (BRASIL, 1994), que cria o Conselho Nacional do Idoso, em seu capítulo III dispõe sobre a criação dos conselhos nos três níveis de governo:

CAPÍTULO III – Da Organização e Gestão

Art. 5o Competirá ao órgão ministerial responsável pela assistência e promoção social a coordenação geral da política nacional do idoso, com a participação dos conselhos nacionais, estaduais, do Distrito Federal e municipais do idoso.

Art. 6o Os conselhos nacional, estaduais, do Distrito Federal e municipais do idoso serão órgãos permanentes, paritários e deliberativos, compostos por igual número de representantes dos órgãos e entidades públicas e de organizações representativas da sociedade civil ligadas à área.

Art. 7o Compete aos Conselhos de que trata o art. 6o desta Lei a supervisão, o acompanhamento, a fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito das respectivas instâncias político-administrativas.

Art. 8o À União, por intermédio do ministério responsável pela assistência e promoção social, compete:

I - coordenar as ações relativas à política nacional do idoso;

II - participar na formulação, acompanhamento e avaliação da política nacional do idoso;

III - promover as articulações intraministeriais e interministeriais necessárias à implementação da política nacional do idoso;

IV - vetado;

V - elaborar a proposta orçamentária no âmbito da promoção e assistência social e submetê-la ao Conselho Nacional do Idoso.

Parágrafo único. Os ministérios das áreas de saúde, educação, trabalho, previdência social, cultura, esporte e lazer devem elaborar proposta orçamentária, no âmbito de suas competências, visando ao financiamento de programas nacionais compatíveis com a política nacional do idoso (BRASIL, 1994).

Os Conselhos de Políticas Públicas (federal, estadual e municipal) constituem órgãos deliberativos e controladores das ações de atendimento em todos os níveis e são responsáveis pela visão estratégica e melhoria na gestão pública, em uma democracia participativa. São instrumentos que permitem a participação na deliberação sobre políticas públicas, o controle e a fiscalização desta política nas três esferas de governo, firmando bases empiricamente viáveis para a construção de uma nova cultura política democrática (MARTINS, 2006).

O Conselho deverá estar aberto à participação das diversas tendências políticas e ideológicas, tornando-o mais representativo perante os demais organismos de poder, sem atrelar-se a nenhum partido político; promover o debate das necessidades e anseios dos idosos, encaminhando propostas aos poderes responsáveis pela execução das ações; além de estabelecer interfaces necessárias à construção de uma sociedade mais organizada e participativa12.

O papel do Conselho na formulação das políticas públicas para o idoso é muito importante, sendo responsável pela articulação e sensibilização dos idosos para a elaboração de documentos que reflitam suas demandas indicadas pelas conferências locais, bem como pelo seu fortalecimento como órgão interlocutor entre a sociedade e o poder público, supervisionando, avaliando e implementando a Política Nacional do Idoso (PNI) e o Estatuto do Idoso.

Nesse sentido, o papel do “Conselheiro” como representante da sociedade civil neste órgão é fundamental. O mandato é de dois anos e trata-se de atividade voluntária, sem remuneração. Além de conhecer as políticas, ele deverá ser atuante no seu meio, manter-se informado e exercer a liderança necessária para as articulações locais e regionais, demonstrando habilidades para participar dos grupos de trabalho e de comissões instituídas pelo Conselho Municipal do Idoso, e não negligenciando a elaboração de relatórios e a participação nas reuniões.

Como constatado nas diversas entrevistas, os conselheiros enfrentam questões delicadas e complexas, oriundas de grupos com diversas realidades durante sua participação, além de terem de despender tempo e recursos financeiros próprios para facilitar suas atividades. Também são relatadas por todas as representações pesquisadas neste trabalho,

12 CNDI – Conselho Nacional dos Direitos do Idoso. Disponível em: <www.sdh.gov.br/sobre/participacao- social/conselho-nacional-dos-direitos-do-idoso>. Acesso em: 7 out. 2015

desigualdades no conhecimento e competências necessárias para o desenvolvimento dos papéis.

Conforme Carneiro (2002), “as entidades precisam muitas vezes superar práticas e visões clientelistas na relação com o Estado”. O trabalho necessário em reuniões para conscientizar os idosos nas suas diversas regiões requer liderança e conhecimento, fatores que estão em pauta atualmente em todos os conselhos, no sentido de buscar a capacitação e evitar que os conselhos fiquem rendidos a entidades que ajam em seu próprio benefício, sem consideração às políticas públicas necessárias e identificadas como demandas nas conferências.

É preciso conhecer mais e melhor o jogo político dos vários níveis de poder, saber quais forças políticas existem e que interesses defendem. Além disso, é preciso conhecer as políticas públicas específicas, as leis que as regulam, as formulações e as normas existentes, sua evolução histórica, as relações de poder vinculadas à questão13.

O Projeto “Minas de Bons Conselhos”, criado pelo Instituto Telemig Celular, em Minas Gerais, afirma que as principais limitações que impedem a criação dos conselhos em um número maior “são o desconhecimento da lei, falta de vontade política, falta de recursos da prefeitura, falta de agentes locais mobilizados para a causa” (MINAS GERAIS, 2001).

Sabemos, ainda, que a falta de tradição democrática e a falta de respeito com os direitos humanos do idoso gera um descompasso que faz a sociedade civil tentar se contrapor a um governo hipertrofiado e assimétrico, gerido por cargos comissionados e distribuídos pelos interesses dos partidos políticos da coalisão de governo (ALCÂNTARA; GIACOMIN, 2012).

Ao tentarmos entender as dificuldades de participação da sociedade civil, analisamos o conceito de sociedade civil compreendida como “a esfera de relações sociais não reguladas pelo Estado” (BOBBIO, 1982 apud ALCÂNTARA; GIACOMIN, 2013). De forma mais detalhada:

Sociedade civil é o lugar onde surgem e se desenvolvem os conflitos econômicos, sociais, ideológicos, religiosos, que as instituições estatais têm a tarefa de resolver ou mediando-os, ou evitando-os, ou reprimindo-os. Sujeitos desses conflitos e, portanto, da sociedade civil enquanto contraposta ao Estado são as classes sociais, ou, mais amplamente, os grupos,

movimentos, associações, ou organizações que as representam ou se declaram seus representantes; ao lado das organizações de classe, os grupos de interesse, as associações de vários gêneros com fins sociais e indiretamente políticos, os movimentos de emancipação de grupos étnicos, de defesa de direitos civis, de liberação da mulher, os movimentos de jovens etc. (BOBBIO, 1982 apud ALCÂNTARA; GIACOMIN, 2013).

A distância entre a lei e a prática é grande, pois o envolvimento dos idosos ainda é pequeno e não qualificado o suficiente para se contrapor ao Estado, corroborando com a gestão de conselheiros quase vitalícios e que impedem a troca de lideranças (ALCÂNTARA; GIACOMIN, 2012). Soma-se a isso a falta de comprometimento das representações das secretarias nos conselhos.

Outro grave problema é a falta de articulação do Conselho com os proponentes, que se mostram não habilitados para apresentação dos projetos, prejudicando o uso do Fundo. A falta de transparência do uso e o não uso dos recursos fazem com que o mecanismo caia em descrédito (ALCÂNTARA; GIACOMIN, 2012). É importante que o conselho seja preparado para enfrentar todos esses problemas, ou que consiga um gestor experiente que possa transpor as barreiras administrativas e políticas nas secretarias.

Como se viu, no capítulo 4 foi abordada a concepção dos Fundos Especiais e sua engrenagem, permitindo entender o surgimento desse instrumento como meio complementar de financiamento por meio de parcerias para o desenvolvimento de ações prioritárias. Na sequência, foi abordado o Fundo do Idoso em âmbito nacional e estadual, e as questões que se mostraram frágeis em ambos os fundos, que servirão como pontos de reflexão na análise do Fundo Municipal do Idoso.

Além disso, nesse capítulo, foi estudada a importância dos Conselhos na gestão dos Fundos. Verificou-se que os Conselhos são órgãos deliberativos e responsáveis pelo controle e fiscalização das políticas em sua esfera de governo. Em razão dos Conselhos terem papel fundamental na formulação das políticas públicas para o idoso, foi considerada a necessidade de capacitação constante dos conselheiros, na busca de melhores resultados na seleção dos projetos e aplicação dos recursos do Fundo.