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A importância dos direitos fundamentais para o Estado

CAPÍTULO 2 A NECESSIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS PARA A

2.1. A importância dos direitos fundamentais para o Estado

Segundo o doutrinador José Afonso da Silva35, os direitos fundamentais:

São direitos positivos, que encontram seu fundamento e conteúdo nas relações sociais materiais em cada momento histórico. Sua historicidade repele, por

31 outro lado, a tese de que nascem pura e simplesmente da vontade do Estado, para situá-los no terreno político da soberania popular, que lhes confere o sentido apropriado na dialética do processo produtivo. (SILVA, 2014, p. 91). Desse conceito, extrai-se que o Estado, como garantidor de direitos, não é o protagonista responsável por criá-los. Como já apontado no tópico anterior, esse crédito é do corpo social, pois foi submetido a diversos cenários os quais evidenciaram a necessidade de buscar a defesa pela sua integridade física e mental.

Então, os direitos fundamentais são aqueles essenciais ao ser humano, porquanto sempre os acompanham, independentemente de onde for. Esse termo “designa o conjunto de direitos que a ordem jurídica, tendo em seu topo a Constituição, reconhece e/ou consagra”.36

Assim, pode-se dizer que integram a pessoa humana, pois são “necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual”.37

Possuem, como características, a extrapatrimonialidade, a irrenunciabilidade e a universalidade. Importa salientar que essas particularidades os tonam acessíveis a todo cidadão sem quaisquer distinções. Com efeito, ninguém poderá alienar, transferir, vender ou renuncia- los, pois são amparados pelas leis e pela Constituição Federal.

Frise-se: toda a cautela já adotada pelos ordenamentos jurídicos em relação aos direitos fundamentais apenas revela o dever de protegê-los. Caso o homem, desde o princípio, defendesse e propalasse a importância de se garantir, por exemplo, a igualdade entre todos, jamais haveria guerras. De igual modo, ilusório seria afirmar que determinada crença, religião, raça ou etnia seria superior a outra.

Sob essa perspectiva, os jusnaturalistas apoiavam o pensamento de que os direitos e as garantias fundamentais provinham do Direito Natural. Então, para eles, o ius naturale, termo originalmente latim, seria um direito o qual derivou das leis da natureza, isto é, antecedeu a existência de qualquer Estado.

O conceito primordial do que seria Direito Natural obteve respaldo, em 1789, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A Assembleia Nacional francesa reconheceu e declarou, em seu art. 2º, que “o fim de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses Direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão”.

36 BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 210.

32 Após a Segunda Guerra Mundial, em razão das inúmeras vidas perdidas e da banalização dos direitos individuais durante esse período, o direito constitucional positivo38 passou a ter maior significado para os Estados. Assim, toda proteção ao cidadão – como princípios e garantias – foram devidamente inseridas nas Constituições dos países interessados de modo a evitar quaisquer violações.

A preocupação dos países democráticos pela segurança de seus povos resultou na promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948. No Preâmbulo, a DUDH ressaltou que o desprezo e o desrespeito aos direitos humanos ocasionaram atos bárbaros que ofenderam a consciência da humanidade em inúmeros aspectos.39

De acordo com o art. I da supracitada Declaração, “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. Note-se que essa previsão não deixou dúvidas quanto à igualdade entre todos os homens, inexistindo qualquer tipo de diferenciação. Em seu art. III, a Declaração é concisa ao sustentar que “todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. Por fim, o art. V traz que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”.

Todos os direitos acima citados são essenciais ao homem. Por certo, sempre estão juntos e, em regra, nenhum se sobrepõe ao outro, exceto quando entram em conflito. Quanto a isso, a vida “é o mais básico de todos os direitos, no sentido de que surge como verdadeiro pré- requisito da existência dos demais direitos consagrados constitucionalmente. É, por isto, o direito humano mais sagrado”.40

Certo é que sem a vida não seria possível gozar dos demais direitos e garantias. Sem ela, seria inviável preservar a liberdade, a segurança pessoal, bem como evitar todo tipo de tratamento cruel ou desumano e garantir a dignidade do ser humano.

Não obstante a vida seja o direito mais inviolável, ela não seria tão valorada se não estivesse acompanhada da dignidade da pessoa humana. Em vista disso, a Constituição Federal conferiu à dignidade o status de princípio fundamental, estando resguardada em seu art. 1º, inciso III. Saliente-se que uma pessoa digna possui autonomia e liberdade para fazer as suas escolhas. Assim, se todos são iguais em direitos e em obrigações, todos deveriam ser dignos.

38 SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 444. 39 Assembleia Geral da ONU. (1948). “Declaração Universal dos Direitos Humanos” (217 [III] A). Paris.

33 Ainda sobre o assunto, em 1978, passou a vigorar a Convenção Americana de Direitos Humanos também conhecida como Pacto de São José da Costa Rica. No Brasil, ela somente foi ratificada no ano de 1992. O intuito da Convenção formulada pelos Estados Americanos Signatários era o de ratificar os direitos e deveres já apresentados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A Constituição Federal, com o intuito de resguardar todos os direitos e deveres previstos em Declarações, Tratados, Acordos e Convenções Internacionais de Direitos Humanos, criou um rol específico para eles em seu art. 5º. Indubitavelmente, o país valora deveras os direitos fundamentais e uma prova disso é a previsão no art. 5º, §1º, da CRFB de que “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”.

Nessa conjuntura, é mister sobrelevar que a Constituição Federal faz jus à concepção do neoconstitucionalismo, posto que toda interpretação a ela relacionada tem respaldo nos direitos fundamentais.