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3.1 GRUPOS COLABORATIVOS

3.1.1 A Importância dos Grupos Colaborativos

No afã de compreender como se formam e se constituem os grupos colaborativos, fui buscar apoio em teóricos que discutem e refletem sobre o tema e nessa busca verifiquei a existência de inúmeros grupos/comunidades colaborativas que visam à integração entre professores formadores acadêmicos e professores da educação básica. Tais propostas surgiram em meados da década de 90 devido à expansão dos programas de pós-graduação em educação, os quais tinham por objetivo integrar os futuros professores aos já experientes.

Desse modo, vejo que a proposta de comunidades colaborativas, em sua essência, almeja o desenvolvimento mútuo entre os pares, os quais se utilizam desse espaço para aproximar os já experientes aos novatos com o intuito de promover conhecimentos que favoreçam aprendizagens advindas das práticas e do contexto da sala de aula, uma vez que trazem para o grupo suas dúvidas, dificuldades e inquietações com o objetivo a construir coletivamente reflexões acerca de temas variados.

Assim, fica evidente que na postura colaborativa não cabe o individualismo, requer o rompimento da barreira do isolamento, já que os profissionais necessitam superar a questão de fechar-se em si mesmo e em sua prática, devem visar ao compartilhamento de ações com vistas a encontrar caminhos que levem a uma aprendizagem significativa, sendo necessário construir relações de colegialidade, confiança, além da abertura para o diálogo para que assim a colaboração possa acontecer (DAMIANI, 2008).

Em suma, coaduno com Wasconcelos e Megid (2014, p. 5) que sintetizam o significado de grupos colaborativos:

Concebemos como grupo colaborativo todo grupo de estudos e pesquisas composto por profissionais que têm um objetivo em comum; profissionais que entendem a necessidade de repensar a própria prática docente; que decidem participar de forma voluntária do grupo e não por meio de coerção; pesquisadores, professores ou outros profissionais que têm a humildade de assumir seus erros e fracassos e a grandeza de compartilhar seus acertos e vitórias.

A partir do entendimento acerca de grupos colaborativos e sua importância, percebo quão promissora é a aproximação da universidade com a escola de educação básica, pois, por meio da implantação desses, identifico possibilidades concretas da construção de aprendizagens significativas, uma vez que nessa relação ambos visam a um bem comum, qual seja, a melhoria da prática e, consequentemente, da qualidade do ensino e da aprendizagem.

Nesse sentido, vejo nessa proximidade um elo eficaz de produção e troca de conhecimentos entre universidade-escola.

Diante disso, entendo que as atitudes e relações estabelecidas internamente produziram mudanças, uma vez que seus membros se reúnem com o propósito de encontrar caminhos que consolidem e provoquem mudanças nas posturas e atitudes dos membros. Esses têm definido os objetivos a serem alcançados. Entendo que ter acesso à informações sobre assuntos variados não significa, de modo algum, aprendizado, porque a informação por si só não produz conhecimento e, por conseguinte, não é sinônimo de experiência se o que aprendemos não produz em nós mudanças efetivas em nossas ações e posturas.

Concordo com o pensamento de Bondia-Larrosa (2002, p. 24) ao afirmar que:

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm:

requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.

Dessa forma, compreendo que é nessa perspectiva que devemos entender o conceito de experiência e, dentro da visão colaborativa, tal conceito deve ser basilar das ações e relações nela estabelecidas, uma vez que é necessário a abertura dos sujeitos à sua própria transformação, já que o saber de experiência se dá na relação entre o conhecimento, a prática e a vida humana.

Nesse mesmo sentido, Dewey (2011) também apresenta uma visão definida quanto ao significado da palavra experiência, a qual se dá a partir da interação entre o indivíduo e o meio em que está inserido, evidenciando a dinamicidade presente a sua volta, demonstrando que tudo que possui vida sofre influência e influencia, pois estão submetidos a esse ambiente que envolve o sujeito. Em resumo, a experiência, para o autor, é o próprio sentido da existência, pois não é possível vivenciarmos situações e dela não extrairmos lições, por conseguinte se assim não for, não haverá experiência e por tanto não haverá vida, uma vez que esta é o resultado de nossas experiências vivenciadas.

Considerando todo esse emaranhado de questões, as quais dão sentido à vida e à existência, vislumbrar caminhos que contribuam e permitam a aproximação e o fortalecimento da relação universidade-escola a partir de grupos colaborativos é o que se pretende nesta pesquisa, como meio de galgar novos patamares, porque é na experiência cotidiana e na reflexão sobre as práticas que os caminhos da colaboração se forjam e os laços se fortalecem, visto que se unem no sentido de encontrar meios que favoreçam e produzam conhecimento significativo e que atendam às necessidade de todos os que fazem parte da comunidade.

Nesse contexto, para Dewey (2011), a experiência não pode ser vista como qualquer coisa que acontece em nossa vida, ou que vivenciamos rotineiramente sem que nos cause mudanças, mas aquilo que nos passa e nos modifica, ou que nos remete a uma reflexão e que nos transforma. Desse modo, a presente pesquisa busca, em seu cerne, justamente

entender e analisar como as experiências vivenciadas e compartilhadas dentro de comunidades colaborativas podem fornecer possibilidades e caminhos que aparem as arestas visíveis e quiçá invisíveis que existem na relação entre universidade-escola, buscando na parceria experienciada encontrar saídas aos problemas por elas identificados.

Assim, entendo que a possibilidade de abertura para o diálogo a partir de grupos colaborativos é benéfica, pois são nos momentos de compartilhamento das experiências dentro do grupo que buscamos construir diálogos que partam da própria necessidade vivenciada pelos participantes como forma de (re)significar os sentidos de suas práticas com vistas a promover reflexões contínuas, buscando superar as barreiras do isolamento.

Passos, Oliveira e Gama (2009, p. 150, apud BOLZAN, 2002, p.27) destacam e focalizam a necessidade de se refletir sobre a prática de maneira compartilhada e contínua, conforme segue:

Refletir sobre a prática pedagógica parece ser um dos pontos de partida, pois compreender o processo de construção de conhecimento pedagógico de forma compartilhada implica compreender como se constitui esse processo no cotidiano escolar, local de encontros e desencontros, de possibilidades e limites, de sonhos e desejos, de encantos e desencantos, de atividade de reflexão, de interação e de mediação nessa construção que não é unilateral, mas acontece à medida que compartilhamos experiências, vivências, crenças saberes etc. numa ciranda que não se esgota, ao contrário, de desdobra, se modifica, se multiplica, revela conflitos e se amplia.

Considero relevante, dentro da visão colaborativa, o repensar sobre o fazer pedagógico com o intuito de redesenhar, rediscutir, refazer as rotas com o objetivo de gerar conhecimento significativo que transcenda o imediatismo, que vise à formação completa do sujeito e de todos os envolvidos no seio educativo, assim, entender os meandros das práticas colaborativas torna-se um caminho possível de superação das adversidades, já que é nessa colaboração que se produzirão conhecimentos efetivos.

Entendendo dessa forma os grupos colaborativos, coaduno com Gama (2007, p.

189) quando afirma que os conhecimentos produzidos, as aprendizagens compartilhadas são

“construídas através do olhar ‘para si’ como trajetória (passado, presente e futuro), do olhar

‘para o outro’ (modelos e experiências) e do olhar ‘do outro’ (reflexões coletivas) sobre seu trabalho”. Percebendo as relações que são estabelecidas, vejo ser necessário um constante processo de negociação entre os pares, considerando que, embora tenham objetivos comuns, pensam e agem de maneiras distintas, o que requer dos participantes certo amadurecimento e diálogo para se chegar a consensos que atendam a maioria, se não for possível a todos.

Dessa forma, considero que a compreensão, para além do conceito de colaboração, está imbricada nessa relação de (re)conhecimento da importância e valorização do outro, do pensar e construir coletivamente, considerando não só o particular, mas também identificar no olhar do outro uma nova perspectiva e, nessa relação, repensar o seu modo de ver e estar em coletivo, tendo no diálogo entre os pares a possibilidade de se redescobrir, redefinir e ressignificar seu papel social dentro do grupo em que está inserido.

Os termos utilizados por Gama (2007) “olhar ‘para si’”, “do olhar ‘para o outro’”

e “do olhar ‘do outro’” são termos significativos, a meu ver, uma vez que deixam explícitas as sinuosas facetas que compõem o cerne de comunidades colaborativas. Nessa modalidade, visa-se ao compartilhamento e à auto identificação enquanto participante, assim como considera a percepção do outro e a sua forma de ver, ser e estar no grupo e, à medida que interagem, acabam por absorver em suas práticas o olhar do outro que foi adquirido por meio da aproximação, do compartilhamento e da reflexão construídos internamente.

Entendo que a constituição e utilização de grupos colaborativos, na perspectiva da construção de relações dialéticas entre universidade-escola, ganha destaque, haja vista adotarem posturas investigativas e questionadoras de suas práticas. Esse fato já desponta para a constituição de um desenvolvimento profissional que contribui significativamente não só para o desenvolvimento individual, como também coletivo, visto que os mesmos se reúnem e buscam encontrar saídas para questões desafiadoras das práticas educativas.