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4.6. Análise e Discussão dos Resultados

4.6.1. A Inclusão Através do Conhecimento do Braille

Como referimos, o Braille é, para os cegos, o sistema de leitura e escrita que lhes é acessível, através do tacto.

Se voltarmos aos resultados obtidos no questionário sobre este item, verificamos que setenta e nove por cento dos alunos abrangidos neste estudo têm do Braille um domínio suficiente ou bom, enquanto apenas oito por cento o têm muito bom. Já referimos que a leitura em Braille, pelo sentido empregado, é significativamente mais lenta que a leitura em tinta, feita por normovisuais. Ora, se o seu domínio pelo cego não for muito bom, isso não ajudará na sua inclusão.

Numa tentativa de sermos mais explícita, se o aluno cego ler deficientemente, com morosidade, a leitura, do que quer que seja, não constituirá, para ele, algo atractivo. Desta forma, tenderá a evitá-la. Não podemos esquecer que o estudo dos diferentes conteúdos exige leitura de manuais em Braille, cadernos, fichas de trabalho e de enriquecimento... Se não ler com eficácia, levará mais tempo a estudar, possivelmente abdicará de estudar algumas matérias fundamentais, pela quantidade de tempo dispendido e, consequentemente, os seus resultados escolares não serão tão bons como esperaria ou gostaria.

Além disso, a ineficácia na leitura poderá conduzir a uma compreensão deficiente do que ler, levando-o a dar respostas não condizentes com o que lhe era solicitado no enunciado em questão.

Não tendo uma leitura bastante fluente, estará desmotivado para ler obras de literatura, o que se repercutirá na forma como escreve, quer ao nível da construção

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frásica, quer ao nível da ortografia. Este facto, é claro, fará com que o teor das respostas dos seus testes, dos seus trabalhos de casa e outros não seja tão claro e preciso como seria necessário, podendo ressentir-se assim os resultados escolares obtidos. Desta forma, a sua confiança em si mesmo poderá ser abalada, bem como o reconhecimento por parte de familiares e amigos do seu valor intelectual.

Os alunos que o dominam bem, poderão tirar apontamentos durante as aulas, fazer trabalhos escolares (quando não disponham de um computador com "software" adaptado ou não tenham os conhecimentos informáticos necessários para o utilizar), ler manuais, fichas... Assim, sendo capazes de ler e escrever correntemente, terão, ao nível da aprendizagem dos conteúdos escolares, um ponto a seu favor para estarem devidamente incluídos na turma em que se encontrem matriculados. É claro que, se os manuais escolares chegarem com atraso ou as fichas de trabalho não estiverem prontas quando se tornar necessário utilizá-las durante as aulas, os conhecimentos de Braille serão insuficientes para suprir estas lacunas, mas possuí-los representará, certamente, uma mais valia para os alunos.

O domínio do Braille permite, na autonomia pessoal, que os cegos façam sem ajuda as suas próprias anotações, quer escolares quer pessoais, que mantenham contacto com outros cegos, etiquetem livros, objectos pessoais...

O Braille pode ajudar a que o cego se inclua melhor na família, pois se o conhecer bem, interagirá com os seus familiares na realização de tarefas escolares, o que melhorará se os mesmos tiverem boas noções desse sistema de leitura e escrita.

O envolvimento da família na vida escolar de seus filhos é apontado por muitos autores como primordial para o seu sucesso educativo. Veiga & Antunes (2005) e Pereira (2005) fazem uma revisão bibliográfica que, referindo estudos para os alunos em geral, demonstram que os resultados escolares melhoram na medida do aumento do envolvimento parental na vida escolar. Estas conclusões podem também ser aplicadas ao caso de alunos cegos, embora o seu sucesso esteja sujeito a outras condicionantes, das quais temos falado durante o nosso trabalho. Por outro lado, a participação da família na sua vida escolar, por vezes, é perturbada por factores como a frequência de ER afastadas do domicílio familiar. Seja-nos permitido lembrar que já o

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WARNOCK REPORT (1978) assinalava que o sucesso educativo de alunos com NEE está dependente do total envolvimento dos seus pais.

O envolvimento parental é tão importante que Hegarty, citado por Dias (1996), declara que "parece não haver dúvidas quanto ao desejo de envolver os pais como colaboradores na educação dos seus filhos." defendendo mesmo que "o maior recurso nos países em vias de desenvolvimento para ajudar as pessoas com deficiência, as quais podem ser tão produtivas como as outras, consiste no apoio de uma família bem informada".

Não pretendemos, como é óbvio, dizer que uma pessoa que não lê e/ou escreve com perfeição esteja, de imediato, a candidatar-se à não inclusão na comunidade que a cerca. Mas a leitura e escrita, efectuadas com destreza, podem ser, para o cego, um passaporte que lhe permita melhorar a aceitação pelo grupo com que lhe interessa trabalhar, e, posteriormente, a inserção mais facilitada no mundo do trabalho.

Não podemos esquecer dois aspectos fundamentais:

- A sociedade actual é, e será cada vez mais, extremamente competitiva. Assim sendo, quanto melhor preparado se estiver, mais facilmente se conseguirá alcançar os fins desejados.

- Embora um longo caminho tenha sido percorrido, no que diz respeito à compreensão e aceitação da diferença, a verdade é que o preconceito continua enraizado na sociedade actual. Para ser aceite, o portador de uma deficiência tem que dar provas de eficiência. Por isso, a excelência tem que ser a meta, contribuindo desta forma para que, com um domínio do Braille bem acima da média, o aluno cego possa equiparar-se aos seus colegas normovisuais e ser aceite como mais um entre eles.

Esta nossa opinião sobre a exigência da qualidade da aprendizagem dos cegos das suas áreas específicas, é corroborada pela definição de educação inclusiva como "o desenvolvimento de uma educação apropriada e de alta qualidade para alunos com necessidades especiais na escola regular" (Hegarty, 1994), citado por Rodrigues, 2001, p. 19).

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