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Dentre os desafios postos hoje para a consolidação da sociedade da informação, a preocupação com a exclusão digital e, consequentemente, social, caracterizada pela existência de uma parcela da população que não tem o devido acesso à informação, o contraste rico versus pobres em informação/conhecimento (info rich/info poor) constitui assunto de destaque e que vem sendo pauta de discussões, internacionalmente.

[...] a inclusão digital apresenta-se como uma questão estratégica para o país. Há uma relação entre exclusão digital e desigualdade social, onde a exclusão digital representa uma dimensão da desigualdade social: ela mede a distância relativa do acesso a produto, serviços e benefícios das novas tecnologias da informação e da comunicação entre diferentes segmentos da população. (SORJ, 2003, p. 62)

Para Vaz (2005, p. 4), “... é insuficiente, excludente e antidemocrático expandir o oferecimento de serviços por meio da Internet sem o correspondente esforço de promover a formulação e implantação de políticas de inclusão digital.

Para Phipps (1999), faz-se importante, nesse contexto, a definição dos conceitos de exclusão e de pobreza. O autor afirma que, a pobreza, geralmente, é definida principalmente em termos de baixos rendimentos e necessidades materiais; a exclusão social (...) enfatiza os meios pelos quais as pessoas são deixadas de fora das principais correntes políticas, econômicas e sociais.” “Pobres” são as pessoas, famílias e grupos de pessoas cujos recursos são tão limitados que os excluem do modo de vida minimamente aceitável nos países-membros onde vivem.”

O sentido de pertencer a uma sociedade - de inclusão social - depende de quatro sistemas, segundo Phipps, baseados em:

• integração cívica - significa transferir o poder para o cidadão em um sistema democrático;

• integração econômica - significa ter um emprego e uma função econômica valorizada;

• integração social - significa ter acesso ao apoio do Estado, sem estigmatização; • integração interpessoal - significa ter família, amigos, vizinhos e redes sociais.

A exclusão social pode ser conceituada como um colapso ou mau funcionamento desses grandes sistemas sociais e de processos que deveriam gerar os resultados da inclusão social. Falhas nos sistemas de habitação, no mercado de trabalho, bem como mudanças nacionais e globais, podem ser percebidas como criadoras de caminho para a exclusão social, na visão da autora.

Indo mais fundo na diferença entre a exclusão social e pobreza, Phipps, com base nos estudos que realizou, apresenta:

[...] enquanto a noção de pobreza é primariamente concentrada em problemas de distribuição (a falta de recursos à disposição de um indivíduo ou família), a noção de exclusão social se concentra primariamente em problemas relacionais (participação social inadequada, falta de integração social, falta de poder).

Uma fala do primeiro-ministro britânico, resgatada por Phipps, fecha ainda mais o conceito, alertando que a exclusão social é mais corrosiva para a sociedade, como um todo, mais provável de ser passada de geração em geração do que a pobreza material. Phipps deixa uma questão: quem são os socialmente excluídos, tanto como indivíduos quanto como grupos? Para ela, são aqueles indivíduos ou comunidades que estão relativamente isoladas e sub-aparelhadas, a quem faltam a capacidade, a capacitação e a oportunidade para participar. Podem estar em áreas rurais ou urbanas e podem envolver indivíduos, mais provavelmente jovens, idosos, deficientes físicos, desempregados ou minorias étnicas.

A relação da problemática levantada em estudo neste trabalho relacionado ao uso de serviços públicos na Internet com a questão da inclusão/exclusão digital se configura no

sentido de que há uma maior probabilidade de que indivíduos que convivem com o problema da falta de acesso às tecnologias da informação e comunicação, a computadores, à Internet tendem a ter sua posição reforçada como excluídos. Nesse sentido, pelas conclusões da pesquisa de Phipps, a falta de acesso à informação pode levar à carência cumulativa, de forma que aqueles que têm menos acesso a computadores e a novas TIC terão maiores riscos de marginalização na sociedade da informação.

Essa limitação, nos dias atuais, segundo a autora, pode levar a diversas dificuldades relativas a:

• rendimento escolar, uma vez que o uso da rede para fins escolares tem se tornado cada dia mais popular, em especial, em países mais avançados;

• colocação no mercado de trabalho, uma vez que muitos empregos já são oferecidos, exclusivamente, através da Internet, além da exigência de conhecimentos em informática, propriamente dita;

• menor acesso a redes de comunicação e serviços - a Internet vem sendo muito

utilizada também nas melhorias de acesso a redes de comunicação e serviços.

Finalmente, Gibson, citado por Phipps (1999), apresenta uma conclusão: “A inclusão social, em vez da exclusão, torna-se mais provável, embora não garantida, pelo uso de computadores.”

Tomando por base outros pontos de reflexão de Phipps (1999) a respeito do papel desempenhado pelas TIC com relação à temática, acrescenta-se:

Na prática as TIC podem ser consideradas neutras em si mesmas. As TIC constituirão um capacitador. Aplicações positivas e benéficas, que melhorem a democracia e o controle social, são uma escolha consciente e responsável da nossa sociedade.

Para Eisenberg e Cepik (2002m, p. 310) existe uma camada social que está às margens da nova economia, e assim não pode ter acesso aos novos recursos e capacidades gerados e propagados pelas TIC. Para os autores, nessa camada estão aqueles que não possuem o hardware necessário para acessar tais recursos e capacidades, não tem computadores e não estão conectados à Internet, não possuem o software necessário, não foram bem alfabetizados, não entendem de computação e não têm informação sobre o que está disponível. São indivíduos que não tem condições de se apropriar dos recursos disponíveis

na chamada sociedade da informação. Eisemberg e Cepik falam também de uma segunda dimensão com relação à exclusão digital, que é o tipo de acesso que diferentes indivíduos têm na sociedade da informação. Fazendo uma alusão a Wilhelm (2000), com base no modelo centro-periférico, descreve que há um centro da sociedade da informação onde estão aqueles que têm pleno acesso aos recursos e ferramentas disponíveis como TIC e há um outro conjunto de pessoas que têm acesso a esses recursos, mas que não os utilizam principalmente como ferramentas da informação e comunicação, passando grande parte de seu tempo on-line para fins de divertimento e comércio eletrônico. Há ainda um outro grupo, mais distante do centro da sociedade da informação, pois apesar de possuir seus próprios computadores, não está conectado à Internet, ou aqueles cujo acesso aos computadores e à Internet depende da existência de locais de acesso público.

Como as novas TIC podem criar novos caminhos para os socialmente excluídos e carentes? Como estes têm participado do desenvolvimento das TIC no setor público? Como o risco de exclusão pode ser minimizado e as oportunidades de inclusão maximizadas? Como o impacto dos projetos de TIC nesses grupos pode ser avaliado? Phipps (1999) faz esses questionamentos, procurando respondê-los no seu artigo. Aponta, ainda, diversos exemplos de iniciativas, em especial, as de origem européias que buscam vencer os desafios da exclusão digital. No entanto, alerta para a falta de avaliação prática, com foco no usuário, dessas iniciativas.

Vaz (2005) ressalta que, nas iniciativas em inclusão digital, é preciso evitar cair na armadilha do oferecimento do acesso à tecnologia da informação e à Internet, evitar formar uma massa de apenas consumidores de serviços baseados na economia da Internet e de mão-de-obra barata, em vez de ampliar a capacidade dos cidadãos de transformar a sociedade e democratizar o poder. Vaz também questiona a utilização de pontos de acesso à Internet como modelo único de inclusão digital e, ainda, ressalta que a exclusão digital não é fruto apenas da insuficiência da infra-estrutura, ou das carências de escolaridade, nem depende exclusivamente das variáveis econômicas. De fato, uma das primeiras tentativas de ações do governo para inserir o país na Sociedade da Informação foi um vultoso investimento na aquisição de computadores que foram distribuídos nas escolas da rede pública de ensino. Numa análise mais crítica, pode-se caracterizar essa ação como um aparelhamento meramente tecnológico das escolas públicas no Brasil. Diversos computadores foram comprados e distribuídos, mas não houve o efeito desejado. Há relatos de que muitos desses computadores não foram usados efetivamente, permanecendo em

salas trancadas, ou ficando subutilizados. Pensou-se em fornecer a tecnologia, no entanto, não foram devidamente considerados relevantes aspectos daquele contexto: se a infra- estrutura do local atendia aos pré-requisitos da máquina, o preparo/treinamento que seria necessário ao professor e aos alunos. Constatou-se que várias escolas não tinham sequer a rede para conexão à Internet.

Tomando como base a fala de Chauí (2003, p. 147), pode-se perceber uma relação entre a questão da inclusão/exclusão digital/social e a competência informacional:

[a competência informacional] tem a função precisa de marcar a desigualdade numa esfera que não é mais aquela tradicional da ideologia burguesa (a desigualdade natural das capacidades e talentos), mas uma outra produzida pela sociedade planificada organizada; a desigualdade entre detentores do saber e os despossuídos.

Como afirma Moran (2001) “na sociedade da informação, todos estão reaprendendo a conhecer, a se comunicar, a ensinar; reaprendendo a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social”.

A literatura disponível recorrentemente ressalta que o governo tem um papel muito relevante como um agente capaz de fazer a diferença na condução dos desafios com relação à inclusão/exclusão. De fato, encontram-se vários relatos de experiências de governos no enfrentamento desse problema, embora, nem todas as iniciativas dêem o resultado desejado. Alguns dos programas chamados de inclusão digital se restringem a disponibilizar a Internet em pontos de acesso gratuitos, portanto, não se enquadram, de fato, nos requisitos para se promover a inclusão. No caminho que estão seguindo, não atingirão os resultados de inclusão digital, muito menos social.

4.2 O papel governo como agente ativo no enfrentamento dos desafios