• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I: Perspetivas sobre a Inclusão

1. A Inclusão: origem do movimento/paradigma

De acordo com Caldwell (1973; cit. por Serra, 2008), existem três períodos históricos fundamentais, tanto na Europa como nos Estados Unidos, responsáveis pela origem do paradigma da inclusão, a saber:

1) Até ao início do século XX, as crianças com deficiência eram alvo de preocupações de asilo e de segregação, sendo mantidas longe da vista pública;

2) Nos anos 50 e 60, as crianças com deficiência passaram a ser avaliadas sob o ponto de vista do diagnóstico e da classificação médica e das técnicas psicométricas, conduzindo-as à segregação;

3) Nos anos 70, mais especificamente em 1975, a lei americana concede direitos iguais para todos os cidadãos em termos político, social e educativo; e as crianças com deficiência passam a frequentar o ensino universal e gratuito adaptado às suas necessidades. Mas também na Europa se iniciam movimentos sociais e educativos que conduzirão ao modelo da integração escolar.

Com a integração, como veremos adiante, um novo olhar se projeta sobre as pessoas com deficiência, conduzindo, mais tarde, ao movimento da

inclusão. Para Correia (2008), o movimento da inclusão surgiu após completar um ciclo de movimentos que se iniciou com «(…) o movimento da escola de

massas (início da democratização do ensino) (…)», sucedendo-lhe «(…) os

movimentos da escola multicultural (início da luta pelos direitos cívicos) e da

escola integradora (início da inserção de alunos com NEE nas escolas

regulares) (…)», dando lugar à «(…) Escola Contemporânea (Escola para todos e para cada um) (…)» (p. 18).

O paradigma da inclusão nasceu nos Estados Unidos, no século XX, resultante de uma profunda reflexão sobre as problemáticas do movimento da integração escolar. A filosofia da integração desenvolvia-se em três níveis. Quando as escolas integravam alunos com NEE no mesmo espaço escola/aula, embora pertencessem a um sistema de educação especial dentro do sistema do ER, tratava-se de uma mera integração física. Quando havia o acesso de alunos com NEE ao ambiente das classes regulares, embora por vezes apenas em áreas curriculares específicas, no refeitório e nos recreios, tratava-se de uma integração também social. No entanto, para aqueles alunos com NEE que podiam acompanhar o currículo dos seus pares na sala de aula, dá-se uma integração a nível académico. As crianças com NEE passam a receber apoios educativos de caráter permanente ou temporário, mas parte da sua instrução processa-se na sala de apoio e a outra na classe regular (Correia, 2008).

Segundo Serra (2008), o paradigma da inclusão emergiu com o movimento americano Regular Education Iniciative, que se opunha fortemente aos modelos educativos integradores e segregadores da época. Este movimento procurou implementar um único sistema educativo que unificasse a educação especial e a educação regular. Deste modo, os alunos com e sem NEE passaram a receber uma educação eficaz através da sua escolarização em aulas regulares.

Ainda que nos finais dos anos 70 os alunos com necessidades educativas especiais ligeiras já fizessem parte do sistema regular de ensino, só no início dos anos 80 se apelou a uma reestruturação do sistema educativo. No

Os Laços da Inclusão: Atitudes dos Pais e dos Alunos face à inclusão de pares com NEE no ER

32 Liliana Filipa Brás Santos entender de Correia (2008), em 1986 os defensores dos direitos dos alunos

com NEE e os pais de crianças com NEE severas exigiram a colocação destes alunos nas escolas das suas comunidades, pretendendo pôr fim à constante discriminação e à falta de respostas educativas. Este movimento permitiu que a educação especial passasse de um lugar a um serviço, reconhecendo «(…) ao aluno com NEE o direito de frequentar a classe regular (…)» e dando-lhe a possibilidade de «(…) acesso ao currículo comum através de um conjunto de apoios apropriados às suas capacidades e necessidades (…)» (Correia, 2008; p. 16).

Em Portugal, o paradigma da inclusão foi influenciado em termos legislativos, por um lado, pela legislação americana Public Law 94-142, de 1975, que determinou o direito de todas as crianças com NEE à educação pública gratuita e adequada às suas necessidades educativas (Alpert et al., 1995; cit. por Quintas, 2011). Por outro lado, foi igualmente influenciado pelo

Warnock Report, publicado em Inglaterra, em 1978, que deu origem ao

Education Act, 1981. O Warnock Report cunhou o conceito de Necessidades

Educativas Especiais (NEE), defendendo desse modo que a intervenção junto

das crianças com deficiência não devia ter a sua base no deficit e consequente diagnóstico médico-psicológico, mas nas suas necessidades educativas.

O movimento da inclusão foi mundialmente consagrado em 1994 com a Declaração de Salamanca e a inclusão passou a referir-se «(…) ao atendimento educacional a alunos com NEE, efetuado nas escolas das suas residências, frequentando as classes regulares, lado a lado, com todas as outras crianças (…)» (Serra, 2008; p. 7). Deste modo, surgiu pela primeira vez em documentos oficiais a expressão da orientação inclusiva para que todos os alunos tivessem e tenham o direito de aprender juntos nas escolas das suas residências.

A referida declaração contribuiu assim, para a, consolidação na prática do “princípio da Inclusão”, no qual se inspirou no “reconhecimento da necessidade de atuar com o objetivo de conseguir escolas para todos – instituições que incluam todas as pessoas, aceitem as diferenças, apoiem a

aprendizagem e respondam às necessidades individuais. Além disso importa destacar de entre muitos objetivos e vantagens uma que exprime um desejo de defesa do direito à plena dignidade da criança como ser humano, livre e igual em direitos e dignidade.

«O princípio das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentam. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades. É preciso, portanto de um conjunto de apoios e de serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola.» (Declaração de Salamanca, Cap. I, alínea 7)

O paradigma da inclusão teve, portanto, a sua origem nos grandes movimentos contra a exclusão escolar, tendo como princípio a defesa da justiça social e a celebração da diversidade humana (Ainscow e Ferreira, 2003).

Documentos relacionados