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A Inelegibilidade do Analfabeto frente à Legislação

Capítulo II: A Participação do Analfabeto no Processo Eleitoral frente à

2.3. A Inelegibilidade no Analfabeto

2.3.2. A Inelegibilidade do Analfabeto frente à Legislação

A inelegibilidade é o estado jurídico de quem não possui elegibilidade, de quem não reúne condições para se eleger. Quem é ou encontra-se inelegível não pode registrar candidatura a cargo político, não podendo participar plenamente do processo eleitoral, uma vez que não pode ser votado e, em decorrência disso, não pode ser eleito.

Marcos Ramayana18 afirma que “a inelegibilidade é a restrição ou inexistência do direito público político subjetivo passivo.”

O ilustre professor Joel José Cândido19 entende que inelegibilidade é “a impossibilidade, temporária ou definitiva, de uma pessoa ser eleita para um ou mais cargos eletivos.”

De forma sucinta, Pedro Henrique Távora Niess20 define inelegibilidade como “a negação do direito de ser representante do povo no Poder.”

Inelegibilidade é, pois, a impossibilidade jurídica de concorrer às eleições.

A matéria é disciplinada não só pela Constituição Federal, em seu artigo 14, §§ 4º, 5º, 6º e 7º, como pela Lei Complementar nº 64/90, também conhecida como Lei das Inelegibilidades.

No que tange ao analfabeto, incumbe ressaltar que existe expressa vedação legal e constitucional ao exercício do seu direito de ser votado. Os analfabetos são, portanto, inelegíveis à luz da atual legislação brasileira. Essa inelegibilidade é absoluta, ou seja, prevalece para todo e qualquer cargo em âmbito nacional.

18 RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 5ª Edição, revista e atualizada. Rio de Janeiro: Editora Impetus,

2006, p. 132.

19 CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no Direito Brasileiro. São Paulo: Edipro, 1999, p. 124.

20 NIESS, Pedro Henrique Távora. Direitos Políticos: Condições de Elegibilidades e Inelegibilidades. São

A capacidade eleitoral passiva dos analfabetos encontra-se disciplinada tanto na Lei

Complementar nº 64/90 como na Constituição Federal de 1988.

A atual Constituição Federal, em seu artigo 14, § 4º dispõe que:

§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

No mesmo sentido, a Lei Complementar nº 64/90 preleciona, em seu artigo 1º, inciso I, alínea “a”, que:

Art. 1º - São inelegíveis: I – para qualquer cargo

a) os inalistáveis e os analfabetos;

Assim, ainda que devidamente alistados, já que possuem direito de voto, os analfabetos não podem ser votados.

Diante do exposto, evidenciado está que aquele que não sabe ler e escrever encontra-se proibido de exercer sua capacidade eleitoral passiva, uma vez que é expressamente inelegível à luz da legislação brasileira atual.

No pedido de registro de candidatura a cargo político, o candidato deve comprovar, mediante apresentação de comprovantes de escolaridade, sua condição de alfabetizado perante a Justiça Eleitoral, sob pena de indeferimento de registro. Entretanto, a Justiça Eleitoral tem aceitado a declaração de próprio punho do candidato, devendo esta conter informações que atestem conhecimentos básicos acerca do alfabeto e da formação das palavras, condições consideradas essenciais para classificá-lo como alfabetizado.

A jurisprudência tem entendido que o teste de aptidão feito pelo juiz eleitoral ao candidato deve ser encarado como último recurso para a avaliação da sua condição de alfabetizado, sendo admitida, anteriormente, a apresentação de comprovantes de escolaridade ou ainda, na ausência destes, a declaração de próprio punho do requerente.

A participação do analfabeto no atual processo eleitoral brasileiro é um tanto quanto

inusitada. Pode-se dizer que se trata uma figura sui generis no Direito Eleitoral Brasileiro, pois a regra geral é a de que quem pode se alistar pode se eleger, sendo o alistamento eleitoral o principal requisito para a elegibilidade. Deste modo, o analfabeto é o único que detém direito de votar, mas não pode ser votado, sendo expressamente inelegível perante a Constituição Federal e a Lei Complementar nº 64/90.

Na verdade, este é um tema bastante polêmico. Razão não há para tal distinção, uma vez que o Regime Democrático prega a igualdade entre os cidadãos, motivo pelo qual não se compreende a diferenciação de direitos e deveres entre os analfabetos e os alfabetizados, sobretudo na esfera eleitoral, onde se espera a plena participação da população. A escolha livre e democrática de representantes políticos presume um processo eleitoral participativo, de modo que os eleitos possam considerar-se representantes de toda a sociedade e não apenas de parte dela.

Neste ínterim, muito se critica esse estranho e desproporcional critério utilizado para o analfabeto, criando uma espécie de “semi-cidadão”, pois cidadão, na exatidão do termo, é aquele apto a exercer, na sua plenitude, todos os seus direitos políticos.

Logo, se o analfabeto só pode exercer seu direito de voto, não podendo ser votado, ele possui apenas parcela dos direitos políticos inerentes aos demais cidadãos. Desta forma, conclui-se que, a atual legislação eleitoral brasileira criou uma figura sui generis, uma nova categoria de cidadão, detentor de apenas parte de direitos políticos.

Tal situação afronta diretamente os pilares da Democracia e faz surgirem questionamentos dos mais variados: Por que os analfabetos não podem ser eleitos, se podem votar? Qual o intuito de tal medida? O que o legislador quis dizer com a expressão “analfabeto”? E se a pessoa souber apenas rabiscar seu nome? Como o atual processo eleitoral brasileiro pode ser considerado democrático se confere, sem qualquer razão, tratamento diferenciado entre seus cidadãos?

Questionamentos à parte, o fato é que os analfabetos permanecem em uma situação

de desigualdade frente ao restante da sociedade. Sem capacidade eleitoral passiva, eles permanecem sem ter quem os represente nos cargos políticos, estando obrigados a votar em quem não tem qualquer preocupação com sua situação, com suas adversidades.

A súplica pela concessão de capacidade eleitoral passiva aos analfabetos funda-se pura e simplesmente na democracia. É com base na igualdade de direitos e deveres entre os cidadãos que se clama por uma reforma política. Toda classe tem direito a ser representada politicamente. Por que os analfabetos também não teriam?

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