• Nenhum resultado encontrado

5. ANÁLISE DE RESULTADOS I: DIMENSIONAMENTO DA ECONOMIA DO

5.3. A INFORMALIDADE E CARACTERÍSTICAS DAS OCUPAÇÕES DO TURISMO NO

Nesta seção serão verificadas as participações das ocupações informais nas atividades de compõem o setor de turismo no Nordeste no total dos empregos e renda do trabalho, destacando as principais características dos trabalhadores como qualificação, idade e participação por gênero.

5.3.1. Empregos Informais no Turismo

Nesta subseção será realizada uma análise descritiva sobre o nível de informalidade das ocupações do turismo a partir das informações contidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE para o ano 2009.

O nível de informalidade setorial é uma característica relevante no estudo do mercado de trabalho. Em geral, o setor informal é caracterizado por uma elevada vulnerabilidade do trabalhador, por não existir seguridade social, associada a salários mais reduzidos, se comparados à média da economia, e por uma baixa qualificação da mão de obra empregada. O estudo de Ulyssea (2005), publicado no texto para discussão do IPEA, faz uma importante revisão de literatura sobre a informalidade no mercado de trabalho brasileiro e cita vários trabalhos importantes que destacam essas características da mão de obra informal.

A definição de informalidade adotada neste estudo refere-se àqueles trabalhadores sem carteira assinada, envolvidos na produção para consumo próprio ou trabalhadores por conta- própria sem qualquer contribuição para qualquer sistema de previdência. Neste capítulo também serão apresentados os coeficientes de empregos informais no turismo, a partir da MIP inter- regional de 2009, e seus multiplicadores de emprego no Nordeste.

Assim, a TABELA 18, a seguir, contém informações sobre a participação da mão de obra informal no total das ocupações do turismo e da economia.

TABELA 18 – Nível de informalidade (%) nas ocupações das atividades do turismo.

NE SE SUL RBR BR

Transporte rodoviário de passageiros 62,91 31,48 25,77 58,42 41,73

Transporte Aéreo de passageiros 3,64 0 6,42 13,04 3,03

Transporte Ferroviário de passageiros 0 2,49 5,05 9,63 3,77

Transporte Aquaviário de passageiros 28,82 5,3 10,02 46,35 24,5

Atividades Auxiliares de Transporte - Passageiros 48,2 24,25 18,11 68,89 29,6

Aluguel de automóveis e de outros meios de transporte terrestre 29,85 18,92 0 67,58 26,4

Alojamento 25,66 13,34 15,19 33,26 18,26

Alimentação- turística 71,98 45,83 41,33 75,82 54,79

Atividades recreativas e culturais 67,83 45,41 44,18 60,74 51,19

Turismo 67,37 40,19 36,88 66,51 48,9

Economia 65,36 37,65 40,67 61,48 47,86

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

Os dados sobre o nível de informalidade nas ocupações do turismo permitem inferir que o setor apresentou uma participação relativa da mão de obra informal acima da média verificada na economia em praticamente todas as regiões brasileiras, com exceção apenas da região Sul do Brasil.

No caso específico do Nordeste, o setor turístico teve uma participação da informalidade maior do que verificado em sua economia, atingindo 67,4%, em 2009. A informalidade no setor de turismo nordestino foi a mais elevada entre todas as regiões do país. Em contrapartida, o Sul obteve a menor incidência do trabalho informal no turismo, com apenas 36,88% das ocupações na informalidade. Essa característica é um indício de que o desenvolvimento do turismo no Sul do Brasil está associado a melhores condições no mercado de trabalho, se comparado com o Nordeste. De fato, as regiões menos desenvolvidas do país, Norte e Nordeste, são caracterizadas por suas grandes potencialidades para o desenvolvimento turístico, uma vez que possuem recursos naturais e aspectos histórico-culturais em abundância, porém, são aquelas que apresentam os maiores níveis de informalidade no setor.

Essa elevada participação do setor informal no turismo nordestino é impulsionada principalmente pelas atividades recreativas, transporte rodoviário de passageiros e o setor de alimentação. Todos esses segmentos têm um baixo nível de formalização da mão de obra ocupada, conforme está exposto na TABELA 18. Além disso, as diferenças entre o Nordeste e o Sudeste são extremamente elevadas no que se refere às participações do setor informal na economia e no turismo.

Desta maneira, através da segmentação dos setores formais e informais do turismo entre as macrorregiões do Brasil, é possível verificar o aumento de participação do Nordeste no setor

informal, onde este alcançou mais do que o dobro do percentual obtido pela região no segmento formal. O desempenho de cada região brasileira no total das ocupações formais e informais geradas no turismo em 2009 pode ser visto na FIGURA 18, abaixo.

FIGURA 18 – Distribuição regional das ocupações formais e informais no setor de turismo brasileiro.

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

É importante destacar o aumento de participação das regiões Norte e Nordeste no total das ocupações informais do turismo no país, se comparada com o seu peso no setor formal. Por outro lado, as regiões Sudeste e Sul perderam peso no setor informal, se comparadas as suas participações no total das ocupações turísticas, refletindo um aumento das suas participações no total da mão de obra formal.

5.3.2. Caraterísticas das ocupações no turismo

Nesta subseção foram analisados o nível de escolaridade, a idade média e a participação por gênero nas ocupações turísticas do Nordeste. Além disso, este estudo trata especificamente das características da mão de obra formal e informal empregada no turismo e na economia.

Observou-se que a maior parte dos trabalhadores no segmento turístico no Nordeste e no Brasil é qualificada, ou seja, tem pelo menos o ensino médio completo. Porém, apesar do nível de instrução e escolaridade média do pessoal ocupado no turismo ficar acima da média observada

para os trabalhadores na economia, o setor apresenta um nível educacional abaixo do setor de serviços, de acordo com as informações expostas na TABELA 19, a seguir.

TABELA 19 - Nível de instrução da mão de obra ocupada no Turismo.

Região/ Setor Trabalhadores não-qualificados (ensino fundamental incompleto)

Trabalhadores semiqualificados (ensino medio incompleto)

Trabalhadores qualificados (pelo menos o ensino médio

completo) Anos de estudo Nordeste (%) (%) (%) Agricultura 86,23 8,2 5,57 3,2 Indústria 43,35 18,55 38,1 7,6 Construção civil 66,19 17,59 16,22 5,5 Serviços 34,9 16,15 48,95 8,6 Turismo 36,62 18,08 45,3 8,3 Economia 53,08 14,11 32,81 6,7 Brasil Agricultura 80,8 10,56 8,64 4,0 Construção civil 60,2 19,78 20,01 6,3 Indústria 32,39 19,77 47,84 8,7 Serviços 28,3 16,79 54,92 9,4 Turismo 28,38 19,62 52 9,2 Economia 40,29 16,39 43,41 8,1

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

As informações contidas na TABELA 19 deixam evidente que 63,8% da mão de obra ocupada no turismo no Nordeste é, pelo menos, semiqualificada, com a maior parte desse percentual composta por trabalhadores qualificados. A escolaridade média dos trabalhadores no setor de turismo na região Nordeste foi igual a 8,3 anos de estudo, valor acima da média encontrada para os setores da agricultura, indústria e construção civil, porém, um pouco abaixo da escolaridade do setor de serviços.

No Brasil, a escolaridade média dos trabalhadores no setor de turismo ficou acima da encontrada na economia da região Nordeste e atingiu 9,2 anos de estudo. Percebeu-se, que o setor de turismo no Nordeste seguiu o mesmo padrão do país, porém, o percentual de trabalhadores não-qualificados foi muito menor na média do turismo brasileiro do que no Nordeste.

As diferenças entre os níveis de instrução das ocupações no setor formal e informal no turismo podem ser verificadas na TABELA 20, a seguir. Embora o setor formal detenha um maior nível de escolaridade se comparado com o setor informal, para as atividades turísticas essas diferenças são amenizadas em relação à média encontrada para os setores da economia no Brasil e no Nordeste. Ainda, enquanto que um trabalhador formal no turismo no Nordeste tem em média cerca de dois anos a mais de estudos do que um trabalhador informal, para o conjunto das atividades econômicas essa diferença chega a ser quase o dobro.

TABELA 20 - Nível de instrução dos trabalhadores formais e informais no turismo. Região Trabalhadores não- qualificados (ensino fundamental incompleto) Trabalhadores semiqualificados (ensino medio incompleto) Trabalhadores qualificados (pelo menos o ensino médio completo) Anos de estudo Nordeste Turismo 36,6 18,1 45,3 8,3 Turismo formal 28,1 16,7 55,1 9,1 Turismo informal 51,1 21,5 27,4 6,9 Economia 53,1 14,1 32,8 6,7 Economia formal 27,9 13,6 58,5 9,3 Economia informal 66,4 14,4 19,2 5,3 Brasil Turismo 28,4 19,6 52,0 9,2 Turismo formal 27,4 20,1 52,5 9,2 Turismo informal 43,3 23,9 32,8 7,6 Economia 40,3 16,4 43,4 8,1 Economia formal 24,8 15,3 59,9 9,7 Economia informal 56,9 17,6 25,4 6,4

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

No Brasil, a diferença entre a escolaridade média dos trabalhadores formais e informais nas atividades turísticas foi um pouco mais baixa do que a encontrada no Nordeste, e atingiu 1,6 anos a mais de estudo, enquanto na economia brasileira essa diferença atingiu 3,3 anos. Isso reflete que o setor informal no turismo não é menos discrepante do segmento formal no que se refere ao nível de instrução da mão de obra empregada.

Entre as atividades que compõem o turismo no Nordeste, os maiores níveis de escolaridade foram encontrados nos trabalhadores do segmento de aluguel de veículos e de transporte aéreo. Já as atividades que tiveram o maior percentual de trabalhadores não- qualificados foram a de alimentação e transporte rodoviário de passageiro, que também são responsáveis pelo maior número de empregos no turismo. O nível de escolaridade e qualificação da mão de obra no setor de turismo pode ser visto na TABELA 21 adiante.

TABELA 21 - Nível de instrução da mão de obra ocupada em cada atividade turística do Nordeste. Trabalhadores não- qualificados (ensino fundamental incompleto) Trabalhadores semi- qualificados (ensino medio incompleto) Trabalhadores qualificados (pelo menos o ensimo médio completo) Anos de estudo (%) (%) (%)

Transporte rodoviário de passageiros 46,66 18,83 34,51 7,4

Transporte Aéreo de passageiros 3,38 7,33 89,29 11,6

Transporte Ferroviário de passageiros 30,45 11,91 57,64 9,4

Transporte Aquaviário de passageiros 20,18 19,82 60 9,8

Atividades Auxiliares de Transporte - Passageiros 36,71 9,06 54,23 8,4

Aluguel de automóveis e de outros meios de transporte terrestre 0 20,63 79,37 11,6

Alojamento 27,42 23,5 49,08 9,0

Alimentação- turística 49,29 22,3 28,4 6,9

Atividades recreativas e culturais 26,93 16,38 56,7 9,3

Atividades turísticas

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

Outras características levantadas sobre as ocupações no turismo se referem à idade e ao gênero dos trabalhadores no setor, que são apresentadas na TABELA 22.

TABELA 22- Idade média do e participação de homens na mão de obra ocupada em cada atividade turística do Nordeste.

Idade média Participação

(%) de Homens Idade média

Participação (%) de Homens

Transporte rodoviário de passageiros 37,6 94,2 39,4 89,66

Transporte Aéreo de passageiros 33,8 89,31 34,5 64,87

Transporte Ferroviário de passageiros 38,7 96,06 40,0 92,28

Transporte Aquaviário de passageiros 39,9 90,07 38,5 89,03

Atividades Auxiliares de Transporte - Passageiros 35,6 88,21 36,8 83

Aluguel de automóveis e de outros meios de transporte terrestre 35,1 90,59 33,3 80,43

Alojamento 34,1 45,19 35,8 43,79

Alimentação- turística 35,6 51,96 36,6 47,6

Atividades recreativas e culturais 33,5 64,96 34,2 60,46

Turismo 35,8 78,99 36,9 73,62

Economia 36,9 59,07 37,5 57,35

Nordeste Brasil

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

A partir da TABELA 22, conclui-se que os trabalhadores do setor de turismo no Nordeste e no Brasil são em média mais jovens do que os trabalhadores da economia. A idade média do trabalhador do setor de turismo no Nordeste foi de 35,8 anos, enquanto que na economia foi um

pouco maior e atingiu 36,9 anos. Entre as atividades turísticas no Nordeste, os setores que tiveram trabalhadores com a idade mais baixa foi o segmento de atividades recreativas e o de transporte aéreo. Enquanto no Brasil, os trabalhadores no setor de turismo mais jovens estavam nas atividades de aluguel de automóveis e nas atividades recreativas. Já as atividades turísticas com a mão de obra ocupada com idade média mais elevada no Nordeste foram os segmentos de transporte aquaviário e transporte ferroviário e no Brasil, essa característica foi observada nas atividades de transporte ferroviário e rodoviário de passageiros.

Através da análise descritiva das idades médias da mão de obra formal e informal no turismo, observou-se que, no Nordeste, o trabalhador informal no turismo teve uma idade média dois anos a menos do que a idade encontrada para o trabalhador no setor informal da economia nordestina. Para o Brasil, também foi observada essa característica. Contudo, tanto no Brasil como no Nordeste, a diferença nas médias de idade da mão de obra formal do turismo e da economia foi desprezível, como mostra a FIGURA 19 adiante.

FIGURA 19 – Idade média dos trabalhadores formais e informais no turismo. Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

Outra característica observada foi à participação dos homens no total da mão de obra ocupada. Assim, as informações da TABELA 22, apresentadas anteriormente, mostram que a participação da mão de obra masculina no setor de turismo foi mais acentuada do que na média dos setores da economia. No Nordeste e no Brasil, as atividades turísticas com os maiores percentuais de trabalhadores homens foram aquelas ligadas ao transporte de passageiros. Já, as

ocupações turísticas com a maior participação de mulheres foram encontradas nos segmentos de hospedagem e alimentação.

Para as atividades informais no turismo houve uma menor participação de homens, na região Nordeste e no Brasil, em comparação com os demais setores informais da economia. Além disso, os setores formais turísticos têm uma maior presença relativa de homens em relação à média do mercado formal, conforme mostra a FIGURA 20.

FIGURA 20 – Participação masculina na mão de obra informal no turismo. Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

Por fim, a última característica das ocupações no turismo diz respeito à participação do setor formal e informal no total das remunerações do trabalho. Portanto, a partir desses dados, ficou comprovado que o setor formal, na economia e no turismo, é responsável pela maior participação no rendimento total do pessoal ocupado. Devido ao fato das remunerações nos setores formais serem mais elevadas do que as remunerações nas atividades informais, o peso do segmento informal diminuiu de forma considerável no total do rendimento do trabalho. Todavia, no Nordeste essa característica foi menos acentuada do que no Brasil, conforme mostra a FIGURA 21, a seguir.

FIGURA 21 – Participação do setor formal e informal na renda do trabalho no turismo.

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

Enquanto que as remunerações formais no turismo brasileiro corresponderam a 67,7% do total do rendimento do trabalho, no Nordeste esse percentual foi de apenas 53,3%. Isso é decorrente da forte participação da mão de obra informal no turismo nordestino, muito acima da média nacional. Desta maneira, constata-se que a região Nordeste aumenta seu peso relativo na renda do setor informal do turismo, conforme mostra a FIGURA 22, logo em seguida.

FIGURA 22 – Distribuição da renda do trabalho no turismo entre as regiões, por setor formal e informal.

De uma forma geral, pode-se dizer que, em todas as atividades turísticas, o peso da renda do trabalho informal é menor do que sua participação nas ocupações.

FIGURA 23 – Participação das atividades turísticas nas ocupações e remunerações do trabalho no setor informal.

Fonte: Elaboração própria. Dados da PNAD 2009.

A partir da FIGURA 23, conclui-se que, entre as atividades turísticas, os segmentos de alimentação, lazer (atividades recreativas e culturais) e transporte rodoviário de passageiros são os mais informais no turismo no Brasil e no Nordeste. Em contrapartida, o setor aéreo e transporte ferroviário de passageiros são os menos informais, com participação muito baixa da mão de obra informal. As demais atividades apresentam um baixo nível de informalidade em comparação com a média do setor de turismo e com a média da economia.