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4 MATRIZ CULTURAL LUSA: PORTUGUESES, LUSO

4.1 A inserção da cultura lusitana no Brasil e Rio Grande do

Tentando apresentar de uma forma breve e lógica as imigrações portuguesa e açoriana, as quais possibilitaram a consolidação de uma cultura luso-brasileira, enfatiza-se que no Brasil e no Rio Grande do Sul, as primeiras grandes levas de imigrantes pertencentes à etnia portuguesa chegaram em território brasileiro no período de 1500 a 1700 e, conforme Azevedo (2009, p.1), essa fase demarca uma imigração

portuguesa restrita, pois demonstra um movimento tímido e

contínuo na busca por pedras preciosas e minérios.

Convém evidenciar, então, que a corrente migratória portuguesa para o Brasil desenvolveu-se por um longo período e de forma ininterrupta, passando pela fase de

colonização exploradora, seguindo no período do Brasil Império e Republicano até chegar aos últimos fluxos populacionais, interrompidos no final do século XX.

Fiss (2001, p. 2) enfatiza que

Portugal sempre foi conhecido como um país com grande tendência à imigração. Historicamente, já nos finais do século XVI, o total de portugueses que deixaram Portugal somava cerca de cento e cinqüenta mil pessoas, e hoje esse número chega a quatro milhões e meio. Ou seja, 31 por cento da população que totaliza dez milhões de habitantes. Inúmeros pesquisadores como Arroteia (1985) salienta que é expressivo o número de portugueses que vivem em países estrangeiros obedecendo a determinados ciclos, onde fatores econômicos e sociais foram determinantes. Os portugueses, por um longo período, migraram preferencialmente para os países do Continente Americano, como o Brasil, Venezuela, Argentina, Estados Unidos e Canadá, pois estes tinham uma política de migração já instituída, ou seja, tiveram o continente americano como preferência se comparado à Europa.

Com a descoberta de ouro e prata no interior do Brasil pelos portugueses e espanhóis, essas duas culturas tinham o intuito de consolidar a colônia brasileira. O povoamento do litoral já garantia a produção de cultivos agrícolas e atraiu, entre 1700 e 1800, 500 a 800 mil portugueses em território brasileiro (GOMES, 2007).

Gomes (2007, p.35) salienta, ainda, que a região de Minas Gerais apresentava o maior número de habitantes dessa cultura, com cerca de 600 mil indivíduos e, em seguida, vinha o Rio de Janeiro, com 500 mil habitantes, sendo que Bahia e Pernambuco também tinham elementos de origem lusa. Convém destacar que, nessa fase, o Brasil contava com, aproximadamente, 3 milhões de habitantes (desconsiderando a população indígena).

Nessa perspectiva, não se pode considerar que as referidas estimativas populacionais sejam totalmente fidedignas, pois dados referentes à esse período, são muito escassos. Assim, no Brasil existia expressivo contingente de pessoas estrangeiras, oriundas de Portugal fixadas, principalmente, na região Nordeste. Esses habitantes lusos preferiram, inicialmente, mais esta região do que o Rio de Janeiro17,

17

A presença portuguesa desse período remete à figura de Estácio de Sá, elemento dessa etnia de representatividade política na época, marcada, também, pela construção da fortaleza portuguesa que defendia o Rio de Janeiro contra a invasão francesa

que só registrou a presença da etnia em questão, com a fundação da cidade, em 1565. Portanto, esse território carioca teve expressiva imigração portuguesa e, com a chegada da Família Real em 1808, esse espaço conviveu com um número ainda maior de portugueses.

Pode-se dizer que composição da América Portuguesa no ano de 1808, segundo Gomes (2007, p. 36), era de uma minoria branca (a elite brasileira, de origem portuguesa), e a maioria (cerca de 2/3), de negros, mulatos e mestiços devido a escravidão, mão-de-obra utilizada nessa fase. Com o fim do tráfico negreiro em 1850, exigiu-se maior número de trabalhadores que, graças à crise Européia, atraiu elevado número de portugueses para o Brasil, trazidos pela possibilidade de trabalho e pela semelhança cultural.

Muitos imigrantes lusos serviram como mão-de-obra nas lavouras de café e nas atividades urbanas concentradas em cidades maiores, como o Rio de Janeiro. Os portugueses que desembarcavam no Porto de Santos, em São Paulo, se fixaram nessa cidade portuária e, também, em São Paulo.

Enfatiza-se, ainda, que a imagem de explorador do imigrante luso não é decorrente, apenas, da fase de exploração de minérios e pedras preciosas, mas também, dessa etapa de imigração de transição (entre 1700 – 1850), quando muitos portugueses chegaram ao Brasil com alguma reserva financeira e puderam empreender seus recursos em estabelecimentos comerciais (atividade-símbolo dessa etnia), como açougues, padarias,etc., além de se dedicarem à prestação de serviços. No período pós - independência brasileira, muitos cortiços de cidades maiores, como o Rio de Janeiro, tinham donos de origem portuguesa.

Por conseguinte, esse grupo étnico passou, então, a dominar alguns serviços de especulação de imóveis como forma de adquirir renda, o que não era bem visto pela sociedade brasileira, pois os integrantes da cultura portuguesa, na época, eram considerados estrangeiros e não pertenciam à elite do Brasil. Monteiro (2000, p. 37) enfatiza que, em 1830, chegaram alguns imigrantes portugueses da região do Minho que tinham consideráveis recursos financeiros e puderam desenvolver suas vidas no

Novo Mundo. Os mais pobres, saíram, principalmente, da região do Alentejo, porém, possuíam condições financeiras para comprarem a cara passagem que os trazia para o Brasil. Sousa (2005, p. 2) acrescenta que

A emigração portuguesa transatlântica teve o Brasil como o país ultramarino preferido ao contrário do ocorrido com outros grupos de imigrantes. Além de ser mais extensa, longa e com menores taxas de retorno, a corrente migratória portuguesa ocorreu na sua maior parte às próprias custas (BASSANEZZI, 1995, P. 19) e se concentrou como destino os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, especialmente nas capitais. Os imigrantes portugueses provinham das ilhas atlânticas dos Açores e das províncias do norte: Minho, Beira e Trás-os- Montes (BASSANEZZI, 1995, p.17).

Assim, a fase que compreende a segunda metade do século XIX (a partir de 1850) evidencia a entrada mais numerosa de portugueses no Brasil, Sousa (2005, p. 2) destaca que “Segundo dados do IBGE (1991), o número de imigrantes portugueses de 1884 a 1984, supera a ordem de 1,5 milhões de pessoas”. Já Fiss (2001, p. 3) destaca que

Segundo Memorial do Imigrante (Imigração Portuguesa no Brasil, 1986) a estimativa de entrada de portugueses no Brasil entre 1872 e 1972 é de 1.662.180 pessoas, correspondendo a 31 por cento do total de imigrantes que o Brasil recebeu nesse período.

Tabela 1

Chegada de imigrantes portugueses no Brasil – 1872 – 1972 Período Número de pessoas 1872 – 1879 55.027 1880 – 1889 104.690 1890 – 1899 219.353 1900 – 1909 195.585 1910 – 1919 318.481 1920 – 1929 301.915 1930 – 1939 102.743 1940 – 1949 45.604 1950 – 1959 241.579

1960 – 1969 74.129 1070 – 1972 3.073

TOTAL 1.662.180

Fonte: Fiss, A. (2001, p. 3, apud Memorial do Imigrante-Imigração Portuguesa no Brasil, 1986).

Nessa perspectiva, Azevedo (2009, p. 3), salienta que a grande chamada de imigrantes lusos para o Brasil, só teve início no ano de 1888, consolidando uma comunidade de origem portuguesa no Brasil mais forte, que já convivia com o Real Gabinete Português (criado em 1837), com a Beneficência Portuguesa (criada em 1840), com o Liceu Literário Português (criado em 1868) e com a Caixa de Socorros Dom Pedro V, indicando, assim, a existência de uma elite consciente de sua posição social e da necessidade de defesa dos seus interesses e daqueles que também pertenciam à cultura lusa. A formação de redes sociais que ligavam esses imigrantes foi vital para o fortalecimento e a preservação dessa etnia no Brasil.

Com o início dos anos de 1870, o perfil da imigração portuguesa mudou consideravelmente, ocasionando um impulso forte no povoamento do território. Anteriormente, dirigiam-se para o Brasil, homens que, ao conseguirem recursos, os enviavam para suas famílias em Portugal, com o intuito de voltarem para este país. De acordo com Sousa (2005, p. 3)

Outro aspecto é que o desejo de retorno que portugueses, no momento da partida para o Brasil, na prática, não se efetivou, havendo baixas taxas de volta do migrante para Portugal, transformando-se em “mito do retorno” (PORTELA & OLIVEIRA, 1987; BASSANEZZI, 1995). Articulado com o mito anterior ocorreu do mesmo modo o “mito da fortuna” em terras brasileiras, isto é, a busca do enriquecimento rápido que tinha suas raízes distantes no passado colonial (PEREIRA, 2002, p.45) e que também o próprio governo brasileiro, interessado na imigração, tratava de estimular.

Assim, com o final do século XIX e início do século XX (principalmente entre 1910 e 1914), mulheres e crianças também se fixaram em terras brasileiras, evidenciando um período de imigração portuguesa de massa. Nesse sentido, famílias inteiras se fixaram no Brasil, aproveitando as passagens mais baratas (custavam

metade do preço de anos anteriores à 1912) graças aos avanços dos meios de transporte e comunicações de massa que se tornaram, também, mais rápidos, ofertando as condições técnicas para o fluxo de muitos portugueses em direção ao continente americano. Sousa (2005, p. 3) ressalta, ainda, que

A substituição total da vela pela energia a vapor dos navios de passageiros que cruzavam o Atlântico, a instalação do cabo telegráfico transatlântico em 1866 e a conclusão de ligações ferroviárias na Europa por volta de 1870 (KLEIN, 2000, p. 23) são notáveis exemplos do aprimoramento técnico que possibilitaram a diminuição do tempo e das distâncias percorridas.

Monteiro (2000, p. 51) destaca que foi maciça a saída de portugueses da região de Braga, Porto, Aveiro, chegando a quase 368% da população local. Vila Real, Viseu e Bragança também registraram perda populacional a partir de 1850. Ressalta-se que o destino inicial era o Rio de Janeiro, para, posteriormente, alguns seguirem para as demais regiões do Brasil.

A chegada maciça de imigrantes lusos no período de 1850 a 1920, ocorreu devido à necessidade de crescimento econômico brasileiro e, conforme Chaves (2007, p. 9)

Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revela que a quantidade de imigrantes lusos entrados no Brasil a partir de 1880, é intensa. No ano de 1910, entram no país um número total de 34. 725 portugueses, sendo que 20 entram pelo porto de Belém; 23 pelo porto de Recife; 136 pelo porto de Salvador; 74 pelo porto de Vitória; 20 335 pelo porto do Rio de Janeiro; 9 246 pelo porto de Santos; 109 pelo porto de Paranaguá; 8 pelo porto de Florianópolis e 84 pelo porto de Porto Alegre. Embora o número que revela a entrada de imigrantes lusos no porto do Rio de Janeiro seja superior ao dos outros portos, pesquisa realizada no recenseamento municipal da cidade de Rio Grande, Província de São Pedro, mostra que existem 2. 271 portugueses, para população que conta com 39. 492 brasileiros, completando um número total de 44. 835 habitantes.

Entre 1909 e 1919 chegaram enormes grupos dessa cultura para os principais centros urbanos do Brasil. Fiss (2001, p.3) ressalta, ainda, que

[...] na década de 1920 a população brasileira era constituída de 30 milhões de pessoas, sendo 1. 565.961 eram estrangeiros e deste total, 433. 567 eram de origem portuguesa. Os portugueses estavam distribuídos por diferentes regiões brasileiras, especialmente nos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Pará, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. [...] Laytano (1954) salienta que no ano de 1940, o estado do Rio Grande do Sul possuía cerca de

6. 127 portugueses, localizados principalmente nas cidades de Porto Alegre, Rio Grande, Pelotas e Bagé.

As vantagens brasileiras garantidas (como passagens muito baratas, vasto campo de trabalho, etc) não eram os únicos estímulos oferecidos para esse imigrante, mas, também, a situação precária de Portugal que, mesmo não querendo enviar seus habitantes para os Continentes Africano e Americano, perdeu expressivo contingente populacional devido aos conflitos políticos internos e à crise econômica mundial que afetou muitos países europeus um pouco antes da 1ª Guerra Mundial. Muitos emigrantes não voltaram para o País de origem, pois as passagens de retorno aumentaram de valor. Sousa (2005, p. 2) ressalta que muitas províncias portuguesas

De acordo com KLEIN (1989, p. 18) enfrentavam “problemas de alta taxa de fecundidade, predomínio de um sistema de pequenas propriedades, heranças com partilhas estreitas e redes de relações sociais fortemente estruturadas”. Esse contingente geral de pessoas que deixaram Portugal para o Brasil teve como motivações o idioma comum, os vínculos históricos, complexas e duradouras relações econômicas e contatos freqüentes em função de uma rede de relações sociais (KLEIN, 1989, p.19).

Azevedo (2009, p. 5) ressalta, ainda, que

[...] Os imigrantes pobres são retratados por um escritor da década de 1820, Raimundo da Cunha Mattos. Diz ele que “o português pobre, ao desembarcar nos portos brasileiros, vestia polaina de saragoça (...) e calção, colete de baetão encarnado com seus corações e meia (...) geralmente desembarcavam dos navios com um pau às costas, duas réstias de cebola, e outras tantas de alhos e uma trouxinha de pano de linho debaixo do braço. Eram minhotos que, para sobreviver, dormiam na rua e procuravam ajuda de instituições de caridade”. Este trecho apenas ratifica e fortalece a mudança do padrão de imigrante que o Brasil recebia. Mesmo com um número significativo de caixeiros imigrantes junto à chegada da Família Real, a imigração de pobres foi caracterizada durantes as primeiras décadas de 1900/1920.

Com a aproximação dos anos de 1930 e 1940, a entrada de portugueses no Brasil diminuiu porque, segundo Fiss (2001, p. 3)

Essa redução foi devido as oportunidades de trabalho nos países industrializados da Europa. As facilidades de emprego e a proximidades desses países com Portugal favoreciam a decisão de migrar dentro do continente europeu. França foi o país que mais portugueses recebeu nesse período, hoje vivem cerca de um milhão de imigrantes, seguido de Alemanha, Suíça, Inglaterra e Luxemburgo.

Por conseguinte, a imigração lusa só voltou a crescer na década de 1950 e depois da década de 1960, quando, mais especificamente, em 1974, a Revolução dos Cravos motivou a chegada de grupos de famílias em números expressivos. Fiss (2001, p. 4) destaca que com

A queda do Governo Salazar a situação política de Portugal provocou um grande movimento migratório, onde cerca de 100 000 portugueses decidem migrar para o Brasil (1974 – 1977). A Revolução dos Cravos ocasionou a vinda de famílias, sendo em sua maioria pessoas com boa qualificação profissional e cultural, como empresários, executivos, advogados, economistas, comerciantes e industriais. A faixa de idade estava entre os 30 e 50 anos. Vários grupos eram de Angola e Moçambique, pois estes perderam tudo com os novos regimes estabelecidos nas antigas colônias portuguesas e em Portugal não havia condições de sobrevivência para todos os “retornados”. Azevedo (2009, p. 4) destaca que havia, também, problemas relacionados à agricultura em Portugal. Os pequenos produtores do norte de Portugal ou eram expulsos de suas terras, ou saíam por vontade própria, devido às secas prolongadas que afetavam à produção nas pequenas propriedades e impediam esse agricultor de pagar suas dívidas e adquirir recursos para sobreviver. Azevedo (2009, p.4-5) ressalta, ainda, que

A crise social ocasionada por más colheitas e pela concentração fundiária em Portugal, acrescida pelo desejo de fugir do serviço militar e o deslanche do desenvolvimento capitalista da economia brasileira foram as razões enumeradas para explicar os motivos mais contundentes ao fenômeno depois de 1910. Somado a este complicado processo, ainda desenrolava-se um aumento demográfico na região, aumento do custo de vida e do desemprego. A formação de latifúndios e a entrada de máquinas afastaram os camponeses e os pequenos proprietários.

Assim, pode-se afirmar que as áreas que mais receberam imigrantes portugueses até os anos de 1960, foram aquelas que tinham redes solidárias que davam assistência para os mesmos, nos primeiros tempos de vivência no Brasil. Rio de Janeiro e cidades gaúchas como Pelotas e Rio Grande ainda apresentam as marcas dessa cultura por terem criado redes sociais fundamentais para a assistência e fixação dessa etnia. Sousa (2005, p.4) salienta que

Dentro deste contexto geográfico e histórico, os emigrantes portugueses usavam as “relações sociais de parentesco, vizinhança e amizade” (LEITE, 2000, p. 182) para se informarem sobre as oportunidades no estrangeiro. Os estudos de BOYD (1989) e MASSEY (1997), por sua vez reforçam a

importância das redes sociais na articulação dos processos migratórios, enfatizando a solidariedade no interior dos grupos migrantes como uma das características que configuram e sustentam as redes.[...] Devemos considerar a base familiar ou a unidade produtiva de sustento no qual o potencial emigrante se insere assim como as políticas estatais de migração e práticas subalternas de migração. Acrescentamos ainda que a importância da articulação dentro de uma rede social de cunho internacional e inter-regional serve como ponderador para diminuir os riscos de uma emigração fracassada. Tais modos de relações sociais coletivas apoiadas nas trocas de informações, circulações de pessoas e experiências em terras estrangeiras ofereceram perspectivas para raciocínios comparativos de prós e contras da decisão de ficar ou emigrar.

Fiss (2001, p. 4), baseando-se em Leite (1999, p.15), sintetiza, então, que três situações motivaram a chegada de muitos portugueses ao Brasil: a vontade de obterem uma carreira profissional, o desejo de adquirirem uma poupança ou a intenção de fugirem da crise que existia em Portugal.

No primeiro grupo estavam, na maioria, jovens do sexo masculino, alfabetizados, já com contatos de familiares e amigos que vinham com o objetivo de se estabelecer. Do segundo grupo faziam parte os artesãos, com experiência em alguma profissão; já mais adultos, às vezes casados, e que após algum tempo de trabalho no Brasil voltavam para Portugal. O terceiro grupo compreendia famílias inteiras, que vinham para o Brasil motivadas pela difícil situação econômica em que se encontravam em Portugal. Casos isolados e situações diferenciadas também ocorriam, como aquelas pessoas que sem garantia nenhuma e de forma precipitada decidiam emigrar. Chegando aos portos brasileiros, contavam com a sorte, no aguardo que alguém os empregasse.

A falta de apoio dos familiares e a inexistência das referidas redes em algumas localidades, fizeram com que muitos imigrantes lusos se submetessem à atividades de trabalho exploradoras que exigiam, inclusive, que os mesmos morassem no local onde estavam empregados, muito comum nas décadas de 1950 e 1960 e originada no início do século XX, quando muitos portugueses chegaram sem seus familiares e tinham como sonho voltar para Portugal com recursos para terem estabilidade financeira.

A sonhada melhoria no padrão de vida foi alcançada por muitos imigrantes, principalmente, se for comparado com a extrema pobreza que viviam no País de origem. Os portugueses que ficaram, foram responsáveis pelo domínio de expressiva parcela do capital oriundo de atividades como o comércio, indústria, investimentos imobiliários, entre outros.

Com as restrições à entrada de imigrantes no Brasil, um número mais reduzido de integrantes dessa cultura se fixaram depois do final da década de 1950. Assim, o luso destinou sua atenção para os países mais desenvolvidos da Europa, como Alemanha, França e Suíça, além dos que fazem parte da América do Norte, como Canadá e Estados Unidos.

Portanto, o Brasil, que desde 1500, registrou a fixação da cultura portuguesa em seu território, atualmente, não é mais o destino de escolha para essa etnia. Os lusos contribuíram muito para a construção deste país latino-americano, principalmente para o desenvolvimento do espaço urbano, pois muitos sequer conheciam as ferramentas e técnicas necessárias para o trabalho no campo e preferiram se aventurar no empreendimento de estabelecimentos comerciais e industriais.

A sociedade brasileira, mesmo tendo a pioneira participação do português em sua formação, encarou (e ainda encara) essa cultura como promotora de exploração e atraso de desenvolvimento. A chegada de outros imigrantes, como o alemão e o italiano, ofuscou ainda mais a participação dessa etnia na formação do Brasil. O português foi visto como um colonizador que, somente, retirou todas as riquezas do território brasileiro e foi embora, deixando a pobreza e o subdesenvolvimento.

No que se refere à imigração açoriana no Brasil, pode-se inferir que a Coroa Portuguesa incentivou a saída de famílias deste arquipélago para o povoamento da colônia sul americana. Cordeiro; Madeira (2003, p. 101) destacam que no início do século XVII, 5% da população açoriana havia se dirigido para terras brasileiras incentivada pela

[...] Coroa nos séculos XVII e XVIII que já então disponibilizava meios de transporte e prometia terras, como forma de aliciamento dos colonos. [...] No século XVII, contudo, assistiu-se uma movimentação mais intensa e numerosa, quase sempre organizada pelo Estado, com intuitos colonizadores ou como contributo militar, para salvaguarda dos interesses portugueses no Brasil. A segunda metade do século XVII também foi marcada pela considerável imigração açoriana para o Brasil, motivada, entre outras razões, pela erupção vulcânica na Ilha do Faial. O fluxo de imigração açoriana no século XVIII foi mais contido e,

recorrendo novamente à Cordeiro; Madeira (2003, p. 107), enfatiza-se que “[...] A promulgação da lei de 20 de Março de 1720, com aplicação nas ilhas, constituiu forte entrave à livre circulação de pessoas entre o Reino e o Brasil, ao exigir um justificação documental [...]”

A metade do século XVIII marcou o povoamento do Brasil Meridional por casais açorianos, representando para este Arquipélago, a resolução dos problemas econômicos mais urgentes. Franzen (2003, p. 123) destaca que a imigração açoriana para o Brasil

Nos séculos XVIII e XIX não se tratava somente dos ditames do Estado e das motivações várias da população. Intervinham ainda as perspectivas das autoridades locais sobre a realidade social e econômica das ilhas, além dos