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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.5 O PIBID/Pedagogia sob a perspectiva das licenciandas

3.5.1 A inserção das licenciandas no PIBID: motivações e expectativas

As primeiras questões da entrevista objetivaram contextualizar o ingresso das licenciandas no subprojeto do PIBID/Pedagogia, haja vista os motivos que as levaram a se inserirem no mesmo e as suas expectativas.

Entendemos que tal contextualização é importante para compreendermos as disposições iniciais das graduandas para com o Programa e para as possíveis aprendizagens advindas dessa experiência. Isso porque, como já sublinhado nesta pesquisa, a aprendizagem da docência implica também o envolvimento do professor com a sua formação. Neste sentido, Day (2001, p.153) ressalta que “O desenvolvimento profissional não é algo que se possa impor, porque é o professor que se desenvolve (activamente) e não é desenvolvido (passivamente)”. Sendo assim, a implicação do professor com a sua formação é de fundamental importância.

Ao serem perguntadas sobre os motivos que as levaram a participar do subprojeto enfocado, as licenciandas citaram o interesse em: conhecer e vivenciar a realidade da escola; investir na formação; compreender e vivenciar o processo de ensino aprendizagem; e na bolsa. Ademais foi mencionada a percepção de uma lacuna no curso de formação, no que se refere à prática.

Dentre os motivos que levaram as estudantes a se inserirem no Programa, 5 graduandas citaram o interesse em conhecer e vivenciar a realidade da escola. A fala de Joana ilustra bem esta proposição: “[...] Eu quis participar mesmo por isso, para

conhecer a realidade da escola, para estar inserida em sala de aula (Joana, 2013, A, 34 meses de atuação)”. Como resultado da experiência de participação no PIBID, a

expectativa inicial de Joana era de que o Programa lhe preparasse para ser professora. Assim como Joana, Lúcia também se inseriu no Programa com o objetivo de conhecer a realidade da escola. Nessa direção, as expectativas iniciais da referida

estudante eram: “Então, eu achava que ia ser mesmo a inserção na escola; poder

conhecer as dificuldades, até mesmo a rotina, o cotidiano da escola [...] estar acompanhando uma turma, desenvolvendo atividades com eles” (Lúcia, 2013, C, 14 meses de atuação).

Ao falar sobre os motivos que a levaram a ingressar no Programa, Marina destacou o seu interesse em investir na formação, no sentido de participar de outros espaços da universidade - extensão, ensino, etc. No entanto, a vontade em se inserir na escola, também explicitada na resposta, é um aspecto que ganha consistência quando a estudante revela que antes de ingressar no Programa esperava que ele oportunizasse esta ação.

Chamou-nos a atenção as falas de Margarida, nas quais ela expõe o seu interesse em compreender e vivenciar o processo de ensino-aprendizagem, visto que a entrevistada é jovem - 23 anos - e não cursou o ensino médio com formação pedagógica. O interesse em conhecer o processo de ensino aprendizagem pode ser diretamente ligado com a vontade de conhecer e vivenciar a realidade da escola, no entanto, o primeiro é bem mais específico, pois referencia a principal dimensão do trabalho do professor, como se pode notar em:

Então, quando eu entrei no PIBID [...] eu tinha muita carência de saber sobre a prática mesmo, como era na sala de aula, como seria a vivência. [...] E também porque eu entrei no curso de Pedagogia com a vontade de entender esse processo de construção de conhecimento, vivenciar, perceber como que a criança começa a aprender as coisas. Foi muito por isso que eu comecei, e ai eu vi no PIBID uma oportunidade de viver isso, de aprender essas coisas (Margarida, 2013, C, 12 meses de atuação).

A esse respeito, Roldão97 (2007) evidencia que a especificidade da ação docente que a distingue de outras profissões é o ato de ensinar. Nesse horizonte, corroborando com os motivos que levaram Margarida a se inserir no PIBID, a sua expectativa era, sobretudo, a de aprender a ser professora.

De modo geral, constatamos que dos 6 motivos explicitados pelas participantes da pesquisa para ingresso no PIBID, o mais recorrente é o interesse em conhecer e vivenciar a realidade da escola. Nessa mesma direção, Campos (2013), ao pesquisar licenciandas e egressas do PIBID/Pedagogia da UFV, verificou que a maioria delas

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Roldão (2007) discute questões acerca do conhecimento profissional docente considerando a análise da natureza da função específica do professor.

relatou serem motivadas a inserirem-se no Programa pelo fato dele estar diretamente ligado à escola, isto é, em contato direto com a prática.

Assim como Margarida, Maria, Marlene e Lúcia tecem considerações quanto à percepção de uma carência relativa à dimensão prática do curso. Nessa linha, Maria e Lúcia evidenciaram que consideram os estágios como insuficientes para suprir suas necessidades de prática. Marlene soma ao seu desejo de se inserir na realidade da escola a expectativa de que o subprojeto sane suas necessidades de prática:

Eu esperava era isso mesmo, essa experiência que eu não tinha aqui dentro. Antes de ingressar, eu ficava com medo de sair daqui, não ter prática e enfrentar uma sala de aula sozinha. E eu acho que é isso que eu esperava dele, que o Programa me trouxesse experiência e conhecimentos novos que dentro da nossa sala de aula do nosso curso a gente não via (Marlene, 2013, A, 13 meses de atuação).

É interessante perceber que as 3 licenciandas que entraram no Programa quando cursavam o terceiro período e não tinham realizado estágios não ressaltaram a percepção de uma carência de prática no curso. Já as 4 graduandas, que entraram no Programa no terceiro ano do curso e que estavam realizando os estágios, apontaram a percepção de uma lacuna no curso quanto à prática.

A esse respeito, o estudo de Ambrosetti98 et al. (2013) sobre o ponto de vista de estudantes, no que se refere à contribuição do PIBID para a formação docente, revela que um dos motivos que os levaram a participar do Programa foi a percepção de que as oportunidades de inserção profissional durante o curso são insuficientes. Sintonizando com as constatações de Ambrosetti et al. (2013), o estudo de Campos (2013) também antecipa o que emerge do conteúdo da nossa entrevista: a percepção pelas licenciandas de que os estágios não contemplavam suas necessidades de inserção no campo profissional.

No que se refere ao estágio, Pimenta (1995) apresenta uma série de precariedades sofridas pelo mesmo, as quais, guardadas as especificidades locais, podem ser generalizadas, quais sejam: as dificuldades de acompanhar os estagiários devido ao grande número de alunos; sua divisão em etapas fixas e estanques como observação e regência. A esses aspectos, ao desvelar as fragilidades do estágio, Lüdke (2013) acrescenta o fato de o professor regente que recebe o estudante não se perceber como coformador do mesmo. Além disso, a autora sinaliza para a falta de diálogo entre

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Ambrosetti et al. (2013) realizaram um grupo de discussão com 37 licenciandos participantes do Programa. Estes eram de diferentes licenciaturas e instituições - Municipal, Estadual e Federal.

universidade e Secretaria Municipal de Educação, bem como a ausência de amparo ao professor supervisor do estágio.

Divergindo das licenciandas que apontam uma lacuna no curso quanto à prática, somente Inácia explicita que ingressou no PIBID devido ao interesse na bolsa, como podemos notar em:

Bom, no início eu entrei mais por interesse na bolsa. Tenho uma condição financeira razoável 99 e na UFV a gente gasta muito com xerox e também na época eu precisava muito de comprar um notebook. Então, meu 1° objetivo foi a bolsa (Inácia, 2013, A, 27 meses de atuação).

É interessante ouvir a sequência do relato de Inácia, porque mostra uma mudança de perspectiva da mesma para com o Programa. Ela cita que, após o ingresso na escola, percebeu que o PIBID poderia contribuir para a sua formação profissional.

A partir do momento que eu comecei a atuar, a minha visão foi mudando, não mais o interesse pela bolsa, mas a experiência que você vai adquirindo, vai compreendendo o que é o contexto escolar. A partir daí a gente tem uma nova visão de como o PIBID pode estar contribuindo para a formação profissional da gente, mas de início mesmo era por causa da bolsa (Inácia, 2013, A, 27 meses de atuação).

Embora Inácia tenha deixado claro o seu interesse inicial na bolsa, ao ser questionada sobre suas expectativas iniciais acerca do subprojeto, ela comenta que almejava também momentos de debates sobre as dificuldades que seriam vivenciadas ao adentrar na escola.

Por fim, é pertinente reafirmar que constatamos que os motivos mais recorrentes que levaram as licenciandas a se inserirem no subprojeto enfocado foi o interesse em conhecer e vivenciar a escola (5) e a percepção de uma lacuna no curso quanto à dimensão prática (4). Verificamos ainda que 2 licenciandas esperavam aprender a profissão. Em suma, os dados apresentados solidificam a proposição do interesse da maioria das estudantes pela prática.

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No questionário, no item sobre a renda familiar, Inácia assinalou a opção que afirmava possuir renda familiar bruta de um a três salários mínimos.