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2. A TRAJETÓRIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA PÚBLICA E A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NESSE DEBATE

2.2 A Inserção do Serviço Social no Debate da Política de Assistência Social

A efetivação das políticas sociais é o espaço primordial da prática do assistente social. O exercício profissional está diretamente vinculado à efetivação dessas políticas, entendidas enquanto mecanismos de enfrentamento da questão social resultado do confronto capital-trabalho. A prática do assistente social se torna fundamental, pois exige a busca de estratégias teórico-práticas no interior das políticas assistenciais que contribuam para o fortalecimento do processo organizativo dos setores populares (SPOSATI et al, 1985).

No Serviço Social, o debate sobre a política de Assistência Social ganha maior visibilidade com o processo de redemocratização do país após o período de ditadura militar. Quando a discussão dessa política toma dimensões no domínio acadêmico, em que assume papel de destaque a Pontifícia Universidade Católica do estado de São Paulo (PUC/SP) no debate acadêmico, bem como outros sujeitos de representação coletiva, a exemplo da Associação Nacional dos Servidores da LBA (ANASSELBA); das Universidades Federais de Pernambuco e de Santa Catarina; da Associação Nacional dos Assistentes Sociais (ANAS), dentre vários outros, que promoveram atos e debates em defesa da assistência social como uma política pública, culminando na sua formalização na Constituição Federal de 1988.

Conforme Sposati (entrevista), sobre a sua inserção no debate ela assinala que a sua,

Primeira entrada nessa temática foi à constituição do tema como um campo de pesquisa. Esse foi objetivo daquele nosso livro de 198524 que inclusive se indagava se esse não seria um campo de cidadania social que estaria encoberto por interesses privados, encapados com o disfarce do bem. Para entender o que se passava efetivamente nessa ação, se tinha ou não alguma coerência, como se explicava a ausência de uma política pública que a regesse é que partimos para a pesquisa.

Essa pesquisa representou um estudo afinado com o momento histórico que se vivenciava o Brasil. O objetivo dessa pesquisa foi questionar os contornos que a

24A obra que se faz referência é a “Assistência Social na trajetória das políticas sociais

Assistência Social adquiria naquele período na sociedade brasileira e se ela seria um espaço de avanço do poder popular. Essa obra é até hoje referência histórica de estudo sobre o tema.

No processo de luta para a aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social, as organizações representativas dos assistentes sociais (CRESS e CFESS25), que eram os principais trabalhadores dessa área, ainda não haviam instaurado um debate nacional a respeito de tal política. A reflexão teórica mais sistemática sobre a assistência social como campo privilegiado de intervenção estava apenas se iniciando e ainda não tinha se transformado em um movimento político de defesa da assistência como direito e política de seguridade social (BOSCHETTI, 2006).

Com o processo de veto do projeto de lei da assistência social, os assistentes sociais se tornaram os interlocutores que assumiram a defesa da política de assistência social como direito social. A aplicação da Constituição, a reivindicação mais ampla dos direitos sociais e o esforço de superação de práticas sociais e profissionais conservadores se tornaram objeto de luta das instituições representativas dos assistentes sociais e, sobretudo do CFESS.

Em meados da década de 1980, parte da corrente do Serviço Social, inserida nas universidades brasileiras e em um novo contexto político democrático, passou a problematizar o papel do Estado e das políticas sociais numa perspectiva mais ampla. A assistência social, por sua vez, começou a ser entendida como uma política pública capaz de garantir direitos, e não apenas como um conjunto de ações clientelistas, desmobilizadoras e assistencialistas. Nessa ótica, a ação profissional dos assistentes sociais nas instituições estatais, tanto no planejamento quanto na execução das políticas sociais em geral, e, da assistência social, em particular, adquiriu o sentido de defesa do acesso aos direitos sociais (BOSCHETTI, 2006).

Logo após o veto presidencial, o CFESS instituiu um debate sobre a necessidade de recomeçar o processo de regulamentação da assistência social. Guiado pela preocupação de não repetir a concentração do debate em um grupo restrito de profissionais e especialistas e a resistência dos funcionários da LBA, o CFESS propôs um seminário nacional a fim de avaliar a decisão do presidente e sua

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O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) é uma autarquia pública federal que tem a atribuição de orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício profissional do/a assistente social no Brasil, em conjunto com os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS).

implicação para área social, e também articular com diversas forças sociais que, até então, estavam ausentes do debate, a exemplo do movimento sindical.

Uma comissão nacional foi criada para organizar esse seminário, com representação dos seguintes grupos: as universidades, por meio da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), do Neppos/UnB e da PUC/SP; a categoria dos assistentes sociais, por meio do ANAS e do CFESS; os funcionários da LBA; e uma parte do movimento sindical. O principal resultado desse seminário foi a deliberação de que as entidades representativas dos assistentes sociais deveria realizar um amplo debate nacional.

Para tanto, formou-se uma Comissão Nacional de Assistentes Sociais, que tinha como objetivo articular sujeitos e grupos sociais que estavam em campos opostos e de provocar um amplo debate no interior do país sobre a assistência social. É como ressalta Sposati (entrevista) ao dizer que a luta dos assistentes sociais que ocupavam posições nos órgãos da categoria era unificada. O que seria importante nesse período era a defesa de uma lei de regulamentação que pautasse a Assistência Social como um direito.

As entidades que integraram essa comissão foram: CFESS, ANAS, Central Única dos trabalhadores (CUT), Neppos/UnB, ABEPSS, PUC/SP e Anasselba. Seus integrantes organizavam debates em suas regiões e levavam suas contribuições à Comissão Nacional que se reunia em Brasília. As reuniões eram, assim, um centro de convergência de diversas sugestões a ser organizadas e sistematizadas pela comissão que lhes atribuía lógica e coerência (BOSCHETTI, 2006).

Dessas entidades, chama-se a atenção para os grupos de pesquisa do Neppos/UnB e para o Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC-SP pela importância destes no processo de construção da Lei Orgânica da Assistência Social e também de realização de vários seminários, pesquisas e eventos científicos que possibilitaram a construção de referências teóricas que subsidiaram uma construção da assistência social como política pública. No intermédio ao processo de luta pela construção da LOAS, destacam-se como pesquisadoras imprescindíveis nesse período, assim como atualmente, as Professoras Drª Potyara Pereira e Drª Aldaíza Sposati.

Como principais produções das autoras estudadas sobre a Política de Assistência Social, destacam-se:

Quadro 1: Principais produções das autoras estudadas sobre a Assistência Social

ALDAÍZA SPOSATI ANA ELIZABETE

MOTA