• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II Tecnologia Educativa e Auto-Regulação

2. Tecnologia no ensino

2.1. A integração da tecnologia no ensino

A integração das TIC no processo de ensino-aprendizagem tem suscitado o interesse do poder político nos mais diversos países, sobretudo na última década. A sociedade da informação e do conhecimento tem colocado vários desafios aos sistemas educativos. A integração das TIC em contexto educativo é, neste momento, um dos principais. Vários estudos (BECTA, 2006;

European Schoolnet, 2004; OCDE, 2004)reconhecem a sua importância enquanto meio capaz

de favorecer a aprendizagem e confirmam que os professores não as usam com regularidade na sala de aula.

Nas páginas seguintes, debruçar-nos-emos sobre a literatura internacional e nacional que reconhece a importância do uso das TIC em benefício da educação.

O estudo promovido pela Schoolnet sobre o impacto das TIC nas escolas europeias

considera que existe um nível de utilização bastante desigual, existindo diferenças consideráveis entre os diferentes países da Europa e, dentro de cada país, uma vez que são visíveis práticas de utilização e integração distintas de escola para escola. Salienta que existe uma reduzida percentagem de escolas que incorporam as TIC no currículo, apoiando-se nas suas potencialidades para transformação do processo de ensino-aprendizagem.

Uma pequena percentagem de escolas em alguns países incluíram as TIC no seu currículo, estas, demonstraram elevados níveis de eficácia e de apropriação do uso das TIC no apoio transformação do ensino e da aprendizagem num leque alargado de disciplinas (Balanksat, Blamire & Kefala, 2006, p.2).

Outro estudo, no âmbito do projecto IPETCCO9, apresenta uma reflexão sobre a

competência e o nível de confiança dos professores do Ensino Básico (1.º ciclo) no uso das TIC em contexto educativo. O estudo realça um maior nível de resistência à inovação através da utilização das TIC nas escolas do ensino básico, pelos países do Sul da Europa, em relação aos países do Norte da Europa. Peralta e Costa (2007), num artigo que resume o âmbito do estudo, sintetizam o deficitário uso das TIC nos países do Sul da Europa a problemas como:

(…) as TIC não são ainda um recurso integrado nas actividades de ensino; os professores usam as TIC sem a compreensão cabal dos princípios de aprendizagem subjacentes; os professores sabem usar o computador, mas não em sala de aula com os seus alunos; no caso dos professores que já usam os computadores, as TIC não alteraram significativamente as atitudes, os papéis, e as formas de ensinar e de aprender (pp. 84-85).

Da análise do estudo tornam-se evidentes as dificuldades sentidas pelos professores no uso das TIC como um recurso capaz de mobilizar um ensino mais inovador. Um ensino que possa assentar nos pressupostos do construtivismo, de modo a enfatizar o papel do aluno enquanto um elemento activo na sua aprendizagem e que considere “o professor como um construtor do currículo” (idem, 2007, p. 79).

Em termos gerais, o estudo revela que os professores assumem uma atitude positiva face ao uso das TIC e reconhecem as potencialidades que estas podem acrescentar ao ensino. No entanto, sublinham as suas limitações e identificam na tecnologia um papel de complementaridade no processo ensino/aprendizagem, não a reconhecendo como um recurso inovador na prática pedagógica. São várias as razões apontadas pela generalidade da população do estudo, que ajudam a fundamentar a dificuldade de integração das TIC como parceiro no desenvolvimento de novas dinâmicas educativas. Foram salientadas dificuldades relacionadas com o tempo necessário para estudar e praticar; com o equipamento e apoio técnico; a organização escolar; a falta de sensibilidade e baixo interesse da parte das entidades que exercem poder, assim como, o facto de a estrutura curricular não estabelecer qualquer prioridade no ensino com as TIC. Outras barreiras foram ainda sublinhadas e merecem uma

9 IPETCCO (Investigation in Primary Education Teachers Confidence and Competence). Neste projecto estiveram envolvidos cinco

países do Sul da Europa (Espanha, Grécia, Holanda, Itália e Portugal) com a finalidade de estudar a relação entre a competência e confiança dos professores na utilização das TIC em contexto educativo, procurando avaliar a inovação pedagógica no processo de ensino aprendizagem em professores de escolas primárias.

reflexão mais profunda, dado que incidem sobre o envolvimento do professor e a sua formação. Pois, como refere Peralta e Costa (2007)

Os professores são, eles próprios, uma das principais causas da dificuldade em introduzir a inovação na educação. Muitos nem sequer se preocupam em saber qual a perspectiva de aprendizagem que fundamenta a organização curricular que seguem. (…) os professores não parecem estar conscientes de uma abordagem curricular centrada no aluno, com ênfase em práticas individualizadas e diferenciadoras, nem parecem preocupar-se com as abordagens construtivistas que usam as TIC para enfatizar metodologias abertas, trabalho de projecto, actividades autónomas e de investigação, isto é, um contexto privilegiado para explorar o potencial pedagógico das TIC. (p.82)

Interessa, assim, tomar consciência das razões que estão a montante desta atitude pouco proactiva e de fraca iniciativa, sobretudo, no que diz respeito à introdução de novas práticas educativas que harmonizem o ensino centrado na participação do aluno com a inovação tecnológica.

A investigação apresentada reforça a importância das competências e o nível de confiança dos professores como factores essenciais na implementação das TIC em contexto educativo. A formação inicial e a formação contínua de professores são apontadas como factores preponderantes na melhoria das competências e no desenvolvimento da confiança no uso das TIC. Uns valorizam as competências técnicas, outros ressalvam a importância de adquirir capacidades pedagógicas e didácticas que possam potenciar o uso adequado e eficiente da tecnologia no meio educativo.

Esses estudos (e.g., BECTA, 2006; European Schoolnet, 2004; OCDE, 2004) reconhecem o impacto positivo das TIC nos resultados escolares dos alunos, embora essas ainda sejam pouco usadas no ensino. O relatório da OCDE (2004) identifica como obstáculo à integração da tecnologia no processo de ensino a organização escolar e a fraca competência tecnopedagógica dos professores. Sublinha, ainda, os investimentos que nos últimos anos têm contribuído para a introdução de meios tecnológicos nas salas de aula e faz um reparo à lentidão e à forma esporádica como estas são utilizadas, pelos professores, na prática pedagógica.

2.2. Integração da tecnologia na escola portuguesa: do projecto Minerva ao