• Nenhum resultado encontrado

Capitulo 2. A inteligência

2.2 Modelos Teóricos de Inteligência

2.2.2 A inteligência diferenciada em aptidões

Em oposição a esta perspetiva da inteligência enquanto aptidão única, surgem vários autores que defendem que a inteligência se encontra diferenciada em aptidões (Teorias Multifatoriais). A discussão nas diferentes teorias organiza-se em torno de duas questões associadas: (1) a existência de uma ou várias aptidões na definição da estrutura da inteligência, e (2) uma organização horizontal ou vertical, em termos de importância das aptidões entre si, no caso dos modelos que propõem mais que uma aptidão.

De acordo com Thurstone o desempenho intelectual dos indivíduos pode ser explicado por um determinado número de aptidões primárias independentes entre si.

Segundo a teoria deste autor a inteligência é melhor compreendida como um conjunto de habilidades mentais primárias, isto é, por um conjunto de sete fatores independentes entre si: V- compreensão verbal, W- fluência verbal, N- aptidão numérica, S- aptidão espacial, R- raciocínio, P- velocidade preceptiva e M- memória. Com base nesta teoria surgiram várias baterias para a avaliação das aptidões intelectuais, das quais se destacam a Primary Mental Abilities (PMA) do próprio Thurstone. E duas outras bateríeis a Differential Aptitudes Tests (DAT) e General Aptitude Test Battery (GATB) (Almeida (2002).

Outro teórico que também defende que as várias aptidões são independentes foi Guilford, recorrendo a três componentes na definição das diferentes aptidões: operação mental (processo cognitivo envolvido numa dada tarefa), conteúdo (tipo de informação em que a tarefa se expressa) e produto (forma final da informação ou resultado após a atividade mental do sujeito), cruzando cinco tipos de operações, quatro tipos de conteúdos e seis tipos de produtos, formula 120 aptidões no seu modelo estrutural da inteligência identificou a existência de: (1) quatro operações cognitivas: avaliação (processo de análise das respostas possíveis de acordo com critérios lógicos), produção convergente (resolução de problemas envolvendo processos de indução e dedução de relações), produção divergente (resolução de problemas envolvendo a produção de várias soluções possíveis), memória (retenção e evocação da informação) e cognição (reconhecimento e compreensão da informação), (2) quatro conteúdos: figurativo (informação na forma de imagens), simbólico (informação na

forma de signos cuja significação decorre de códigos), semântica (informação decorrente do significado de palavras ou outros elementos) e comportamental (informação associada a pensamentos e sentimentos acerca do próprio indivíduo e dos outros) e (3) seis produtos: unidades (partes de informação relativamente limitadas), classes (agrupamentos de informação em função de características comuns), relações (conexões entre itens de informação), sistemas (agrupamentos de unidades estruturadas segundo padrões interrelacionados), transformações (modificações ou definição de fases da informação) e implicações (conexão circunstancial entre itens devido à sua proximidade).

Em 1983, Gardner defende que a inteligência não é única, nem monolítica, é algo que não é estático que se altera e desenvolve quando o sujeito responde às experiências do seu meio ambiente. A inteligência é entendida como o potencial biopsicológico, produto da herança genética e de características psicológicas (Gardner, 1983, 1987).

Definiu inteligência como a capacidade de resolver problemas ou de criar produtos que sejam reconhecidos dentro de um ou mais cenários culturais. O autor desenvolveu a teoria das Inteligências Múltiplas enquanto uma explicação da cognição humana que pode ser submetida a testes empíricos, além de ter demonstrado que a sua teoria possui várias implicações educacionais consideráveis. Aponta 8 inteligências distintas (linguística, lógico- matemática, espacial, musical, corporal-cinestésica, interpessoal, intrapessoal e naturalista), que são relativamente independentes umas das outras, no entanto cada uma é separada por um sistema de funcionamento, apesar destes sistemas interagirem para produzirem o que ele denomina por um desempenho inteligente. Este modelo ilustra, assim, uma abordagem multidimensional, ampla e pragmática da inteligência. No quadro que se segue descreve-se mais aprofundadamente cada uma das inteligências consideradas neste modelo:

Tabela 3 - Representação das Inteligências Múltiplas de Gardner (1983)

Tipo de Inteligência Características

Linguística

Capacidade para gerir e estruturar os significados, bem como as funções das palavras e da linguagem; melhores capacidades de escrita e oralidade; gosto pela leitura; gosto pelas rimas e jogos com palavras; gosto em ouvir apresentações orais; habilidade para aprender línguas, tendo como sistema simbólico e de expressão a linguagem fonética.

Lógico-matemática

Bom raciocínio matemático, traduzido na habilidade para realizar cálculos, quantificar e considerar proporções, estabelecer e comprovar hipóteses, desenvolver operações matemáticas complexas, encontrar e estabelecer relações entre objetos, analisar problemas do ponto de vista lógico e investigar assuntos cientificamente.

Visuo-espacial

Capacidade para compreender com precisão o mundo visual e espacial (leitura fácil de mapas, diagramas e esquemas gráficos); para reconhecer e manipular os padrões de um espaço amplo assim como de áreas restritas; efetuar transformações nas perceções iniciais dos objetos, para elaborar representações mentais de objetos complexos. Inerentes a este tipo de atividade estão o sistema simbólico e a linguagem ideográfica.

Corporal-cinestésica

Habilidade de utilizar o corpo para resolver problemas ou criar produções, aparecendo em pessoas com uma grande capacidade no domínio desportivo e artístico. Relaciona-se com o desenvolvimento psicomotor, pelo que implica a capacidade para controlar movimentos do próprio corpo e manipular objetos com destreza.

Musical

Engloba competências na realização, composição e apreciação de formas musicais, bem como a habilidade para discriminar, transformar e expressar padrões musicais, assim como a sensibilidade ao ritmo, ao tom e ao timbre.

Intrapessoal

Capacidade para aceder aos próprios sentimentos e distinguir as emoções íntimas; metacognição; forte sentido de independência e vontade; perceção realista das suas capacidades e debilidades; comodidade em trabalhar sozinhos. Capacidade para compreender intenções,

Interpessoal

motivações e desejos de outras pessoas e, consequentemente lidar com os outros de forma adequada e eficaz. A sua presença é apreciada pelos seus companheiros, atuam como líderes espontaneamente; aconselham os colegas quanto à resolução de problemas.

Naturalista

Capacidade para compreender e desenvolver experiências com o mundo natural, através da observação, planeamento e testagem de hipóteses relativas aos fenómenos naturais, a perícia no reconhecimento e classificação das espécies do meio ambiente.

Rapelato, Vieira, Domingues e walter (2011) referem que para além da descrição das oito Inteligências Múltiplas, torna-se relevante salientar que todos os indivíduos possuem as oitos inteligências e que cada pessoa tem capacidades em todas elas. Nesse sentido, esta teoria procura determinar qual a inteligência com predominância superior em determinado individuo e o funcionamento cognitivo deste. Outro aspeto a ter em conta é que a maioria dos indivíduos pode desenvolver cada inteligência num nível adequado de competência. Dessa forma, segundo a teoria de Gardner, todas as pessoas podem desenvolver todas as oito inteligências a um nível razoável ou, até mesmo, elevado, dependendo da receção de estímulos e de instruções adequadas.

Salientam, ainda, que as inteligências normalmente funcionam juntas e de maneira complexa, interagindo umas com as outras e que há muitas maneiras de ser inteligente em cada categoria, não existindo um conjunto-padrão necessário de atributos para que cada indivíduo seja considerado inteligente numa área específica.

Natel, Tarcia e Sigulem (2013) referem que a Teoria das Inteligências Múltiplas contribui, para o processo de ensino e de aprendizagem, visto que oferece informações ao docente para que este, possa elaborar atividades de acordo com a predominância das inteligências do seu grupo de alunos e ainda desenvolver ferramentas para estimular a habilidade ou inteligência que se encontra menos desenvolvida, garantindo assim a efetiva aprendizagem do aluno.

De acordo com Almeida et al. (2010), nas últimas décadas tem-se procurado encontrar um ponto de convergência, sugerindo ser a inteligência plural na sua constituição, embora tais funções estejam interligadas, havendo fatores mais gerais, na linha do fator g Spearman,

e fatores mais específicos, na linha das aptidões primárias de Thurstone, concretamente no que se refere às aptidões intelectuais, como Compreensão Verbal (V), Fluência verbal (W), Numérica (N), Espacial (S), Memória (M), Velocidade Percetiva (P) e Raciocínio (I).

Por seu turno, a teoria triárquica de inteligência está composta por três subteorias interrelacionadas: a componencial, a experiencial e a contextual. Cada uma delas salienta um dos três aspetos centrais da inteligência. Por outras palavras, a inteligência pode ser entendida quando relacionada com três aspetos em interação: o mundo interno do indivíduo, a experiência do indivíduo e o mundo externo do indivíduo. Isto significa que as representações mentais e os processos subjacentes à inteligência são constantes através dos indivíduos (o mundo interno) mas o uso inteligente destes processos no dia-a-dia não o é e pode variar de pessoa para pessoa e de cultura para cultura. O mundo externo, ou contexto, varia em cada cultura e de umas para as outras. A interação do mundo interno com o externo é mediada pela experiência (Sternberg, 1999).

Cattell (cit in Schelini, 2006) analisou as correlações entre as capacidades primárias de Thurstone e o fator g da teoria bi-fatorial de Spearman e constatou a existência de dois fatores gerais. Posteriormente, John Horn confirmou os estudos de Cattell e designou os fatores gerais como “inteligência fluida e cristalizada”. A inteligência fluida (Gf – fluid intelligence) está associada a componentes não-verbais, pouco dependentes de conhecimentos previamente adquiridos e da influência de aspetos culturais e Gf diz respeito às operações mentais que as pessoas utilizam frente a uma tarefa relativamente nova e que não podem ser executadas automaticamente, sendo esta determinada pelos aspectos biológicos (genéticos) e estando, consequentemente, pouco relacionada aos aspectos culturais (Schelini, 2006).

A inteligência fluida opera em tarefas que exigem: a formação e o reconhecimento de conceitos, a identificação de relações complexas, a compreensão de implicações e a realização de inferências. Por outro lado, a inteligência cristalizada representa tipos de capacidades exigidas na solução da maioria dos complexos problemas quotidianos, sendo conhecida como “inteligência social” ou “senso comum”. Esta inteligência seria desenvolvida a partir de experiências culturais e educacionais, estando presente na maioria das atividades escolares. As relações entre Gf, Gc e a realização académica não seriam estáveis, variando de acordo com fatores individuais, incluindo o desenvolvimento neurológico e os anos de escolaridade.

Horn acrescentou ao sistema Gf-Gc quatro capacidades cognitivas: a de Processamento Visual (Gv –Visual Processing), Memória a Curto Prazo (Gsm – Short-Term Memory), Armazenamento e Recuperação a Longo Prazo (Glr – Long-Term Storage and

Posteriormente, duas capacidades foram adicionadas às quatro anteriores: a Rapidez para a Decisão Correta (CDS – Correct Decision Speed) e a de Processamento Auditivo (Ga - Auditory Processing Ability) (Schelini, 2006).

A Teoria Cattel-Horn-Carrol – Teoria das Habilidades Cognitivas (CHC), integra Gf-Gc e a Teoria dos Três Extratos, desenvolvida por Carrol. Este modelo consiste numa visão multidimensional com dez fatores ligados a áreas amplas do funcionamento cognitivo que se associam aos domínios da linguagem, raciocínio, memória perceção visual, receção auditiva, produção de ideias, velocidade cognitiva, conhecimento e rendimento académico (Primi, 2003).

Este modelo sobre a estrutura da inteligência baseia-se no facto de que as capacidades humanas se organizam hierarquicamente em pelo menos dez áreas amplas de raciocínio além do fator g. Essas dez capacidades são as que se apresentam na tabela seguinte:

Tabela 4 - Definição dos dez fatores amplos da teoria CHC (Almeida & Primi, 2004).

Fator

Descrição

Inteligência Fluida (Gf) Refere-se às operações mentais de raciocínio em situações novas minimamente dependentes de conhecimentos adquiridos.

Conhecimento Quantitativo (Gq) Refere-se ao estoque de conhecimentos declarativos e de procedimentos quantitativos e à habilidade de uso da informação quantitativa e manipular símbolos numéricos.

Inteligência Cristalizada (Gc) Refere-se à extensão e profundidade dos conhecimentos adquiridos de uma determinada cultura.

Leitura e Escrita (Grw) Refere-se ao conhecimento adquirido em habilidades básicas requeridas na compreensão de textos e expressão escrita.

Memória de Curto Prazo (Gsm) Refere-se à habilidade associada à manutenção de informações na consciência por um curto espaço de tempo.

Processamento Visual (Gv) Ligado à habilidade de gerar, perceber, armazenar, analisar, manipular e transformar imagens visuais.

Processamento Auditivo (Ga) Refere-se à habilidade associada à percecão, análise e síntese de padrões sonoros.

Armazenamento e Recuperação da Memória de Longo Prazo (Glr)

Definido como a extensão e fluência que itens de informação ou conceitos são recuperados por associação da memória de longo prazo.

Velocidade de Processamento (Gs)

Relacionado com a habilidade de manter a atenção e realizar rapidamente tarefas simples automatizadas em situações que pressionam o foco da atenção.

Rapidez de Decisão (Gt) Refere-se à rapidez em reagir ou tomar decisões envolvendo processamentos mais complexos.

Estas dez capacidades designam-se de fatores amplos e situam-se no segundo nível numa hierarquia de três níveis, no primeiro nível situa-se o fator g de Spearman que representa uma associação geral entre todas as capacidades cognitivas e na camada inferior encontram- se aproximadamente 70 fatores que subdividem os fatores amplos, estes fatores estão ligados às capacidades específicas avaliadas pelos testes de inteligência.

Desta teoria surgiram instrumentos de avaliação, ainda utilizadas nos dias de hoje, dos quais se destaca as Escalas de Inteligência da Wechsler e a BPRD (Primi,2003).

A BPRD, encontra-se dividida em cinco subtestes que se associam aos fatores específicos segundo o modelo CHC, o subteste RA associa-se principalmente à inteligência fluida (Gf), definida como capacidade de raciocinar em situações novas, criar conceitos e compreender implicações. O subteste RV associa-se à inteligência fluida e à inteligência cristalizada (Gc), definida como extensão e profundidade do conhecimento verbal vocabular, e à capacidade de raciocinar utilizando conceitos previamente aprendidos. O subteste RN associa-se à inteligência fluida e em parte à habilidade quantitativa (Gq) definida como a compreensão de conceitos quantitativos básicos como soma, subtração, multiplicação, divisão e manipulação de símbolos numéricos. O subteste RE associa-se em parte à inteligência fluida, mas, principalmente, à capacidade de processamento visual (Gv), definida como a habilidade de representar e manipular imagens mentais. O subteste RM associa-se em parte à inteligência fluida e aos conhecimentos práticos mecânicos (Almeida, Nascimento, Lima, Vasconcelos, Akama, & Santos, 2010).

Capitulo 3. Os Estilos de Aprendizagem e

Documentos relacionados