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Nesta seção, estabeleço diferenciação entre interação e interatividade. Em seguida, apresento como os sistemas de aprendizagem são construídos no que diz repeito à interação e, em seguida, apresento os critérios de classificação de sistemas de aprendizagem.

2.4.1 Interação e interatividade

De acordo com o dicionário Houaiss (2001) o termo “interação” é comumente usado para designar o diálogo, a troca, a influência ou o estímulo entre dois ou mais elementos que se relacionam ou passam a conviver, constituindo um grupo com objetivos comuns. Devido às novas tecnologias da comunicação, o uso de ferramentas midiáticas pode tornar a interação mais fácil, maximizando as habilidades e potencialidades humanas para gerar e agregar conhecimentos. Com relação às habilidades, a interação pode significar novas formas de criação, geração, transmissão, conservação e percepção de informações e, relativamente às potencialidades, a interação pode ocorrer entre grupos de diferentes tamanhos que estejam em espaços geográficos e temporais diferenciados.

Leffa (2003) baseia sua definição de interação na ideia de reciprocidade, porque é sempre um processo que envolve dois ou mais elementos, sejam eles partículas, corpos ou pessoas, o que significa contato que produz mudança em cada um dos participantes, que não precisa ser necessariamente da mesma natureza, podendo ocorrer entre pessoas e objetos, mas a mudança sempre afeta a ambos. Essa sua definição, porém, se confunde com o significado proposto por Lévy (1999), que define o termo “interatividade” como sendo “a participação ativa do beneficiário de uma transação de informação” (1999, p. 77).

11“A inteligência humana? Seu espaço é a dispersão. Seu tempo, o eclipse. Seu saber, o fragmento. O intelectual coletivo realiza sua reconstituição. Ele constrói um pensamento transpessoal, mas contínuo. Uma cogitação anônima, mas perpetuamente viva irrigada em toda parte, metamórfica. Por intermédio dos mundos virtuais, podemos não só trocar informações, mas verdadeiramente pensar juntos, por em comum nossas memórias e projetos para produzir um cérebro cooperativo” (LÉVY, 2000, p. 96).

Silva (2000), por sua vez, apresenta um histórico para tentar explicar como o conceito genérico interação, transmutou-se em interatividade12. Devido à incorporação da tecnologia do hipertexto na informática e às novas tecnologias de comunicação e informação, o computador passa a ter disposição ou predisposição para facilitar mais interação, para uma hiper-interação, para bidirecionalidade (fusão emissão-recepção), para participação e intervenção. Assim, segundo esse pesquidador, os aspectos que fazem com que um sistema seja pautado por interatividade devem propiciar participação que signifique intervenção na mensagem, o que significa que participar de uma atividade não é mais apenas responder sim e não ou escolher uma opção dada. A bidirecionalidade-hibridação diz respeito a tratar a comunicação como produção conjunta da emissão e da recepção; ou seja: é cocriação, porque os dois polos codificam e decodificam a distribuição da informação através dos canais de comunicação13. Com a possibilidade de permutabilidade-potencialidade, a comunicação (pres)supõe múltiplas redes articulatórias de conexão e liberdade de trocas, associações e significações, e uma mensagem pode ocorrer de um para outro, de um para todos e de todos para todos, potencializando interações.

As novas tecnologias digitais trouxeram mudanças na forma de comunicação, sendo preciso que os materiais didáticos se adaptem a essa inovação, aprimorando os meios de distribuição da informação em direção à solidificação do conhecimento. Os materiais didáticos precisam ser desenvolvidos de modo a manter os alunos motivados a estudar de maneira autônoma e a buscar aprendizado contínuo e as estratégias de ensino devem considerar os potenciais das ferramentas de comunicação e de informação da Internet para se garantir ensino de qualidade, significativo.

2.4.2 Classificação das interações com o sistema de aprendizagem

Assim como Paloff & Pratt, Primo (2000) acredita que o contexto social pode influenciar na interação, uma vez que essa relação pode ser limitada ou restringida por crenças socioculturais, valores, atitudes, papéis normas, tradições, etc.. Baseando-se nos estudos de Fischer (1987), Primo (2000) sugere a classificação da interação do aluno com o sistema de

12

Neste estudo tratarei o termo ‘interatividade’ como sendo sinônimo de ‘interação’ tendo em vista que no curso IngRede a distinção dos termos não é relevante.

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Com relação ao termo ‘cocriação’, seria necessário um estudo mais aprofundado sobre a definição do termo. Dessa maneira a ‘cocriação’ é aqui entendida como ‘colaboração’ e ‘participação’.

aprendizagem e, em sua proposta, classifica as interações como mútua ou reativa; para caracterizá-las, utiliza cinco itens: sistema, processo, operação, fluxo, throughout, relação e interface, os quais ele define e relaciona, classficando conforme o QUADRO 3, a seguir:

QUADRO 3 Interação reativa e mútua.

REATIVA MUTUA

Sistema:

Um conjunto ou entidades que se inter-relacionam entre si, formando

um todo

Sistema fechado com relações lineares e unilaterais. O reagente tem pouca ou nenhuma condição de alterar o agente. Sendo

assim, o sistema não percebe o contexto e, por isso não reage a ele. Por não haver trocas

com o ambiente, o sistema não evolui, não há equifinalidade. Se a situação não for prevista na fase inicial, não será produzido o

resultado esperado ou simplesmente, não será produzido resultado.

Sistema aberto, que forma um todo global. Seus elementos são interdependentes e o

contexto influencia o sistema por haver trocas entre eles. Voltados para a evolução e o desenvolvimento, o sistema engaja agentes inteligentes, e por isso, possibilita múltiplas formas de se alcançar o resultado, ou seja, o sistema atinge um estado independentemente

das condições iniciais, o que significa uma equifinalidade. Processo: Acontecimentos que apresentam mudanças no tempo

ESTÍMULO-RESPOSTA: tem seu funcionamento baseado na relação de um

certo estímulo e de uma determinada resposta. Supõe-se que um mesmo estimulo acarreterá a mesma resposta cada vez que se

repetir a interação.

NEGOCIAÇÃO: a interação é negociada e, por isso os resultados não podem ser previstos. Cada agente é uma multiplicidade

em evolução. Operação:

Produção de um trabalho ou a relação entre ação e a transformação

As ações se fecham na ação e na reação, ocasionando a repetição da interação.

Ações interdependentes, i.e., cada agente é ativo e criativo, e influencia o comportamento do outro, como também tem

seu comportamento influenciado. Fluxo:

Curso ou sequência da

relação

Linear e pré-determinado. O usuário age apenas nos limites que o programador

planejou. Dinâmico e em desenvolvimento. Throghout: O que se passa entre a decodificação e codificação; inputs e outputs

Os processos de decodificação e codificação se ligam por programação, sendo considerados reflexos ou automatismo.

Cada mensagem recebida, de outro interagente ou do ambiente, é codificada e interpretada, podendo então gerar uma nova

codificação. Cada interpretação ocorre devido ao confronto da mensagem recebida

com a complexidade cognitiva do interagente. Relação: O encontro, a conexão, as trocas entre elementos e subsistemas

OBJETIVISMO: a relação é causal, pressupondo a sucessão temporal de dois processos, sendo um, consequência do outro.

Cria-se a sensação de que a relação sempre faz sentido.

RELATISMO: a construção, por ser negociada, não consegue pré-determinar qual

efeito será gerado a partir de uma determinada ação. O processo é emergente,

pois vai sendo definido durante sua ocorrência. Interface: Superfície de contato, agenciamentos de articulação, interpretação e tradução

POTENCIAL: cada estímulo é pensado e programado por antecedência para que certas respostas sejam apresentadas. Desse modo, o mesmo estímulo apresentado por indivíduos diferentes, nas mesmas condições, resultará em uma resposta equivalente. Na ocorrência

de uma resposta diferente da esperada, considera-se um erro de programação.

VIRTUAL: conjunto de possíveis que aguardam pela realização da interação, sendo

que nem sempre os mesmos estímulos garantirão as mesmas respostas. A interatividade é plena, pois é múltipla possibilitando a liberdade de escolha.

O termo “mutualismo” é usado, na Biologia, para denominar a interação entre duas espécies que não podem viver separadas, porque a relação que mantêm entre si é reciprocamente vantajosa para a sobrevivência de ambas. Na interação mútua, semelhantemente, os elementos do sistema de aprendizagem são interdependentes, o que significa que a identidade de um decorre da do outro. Essa interdependência exerce importante influência no sistema, por existirem constantes trocas entre eles; em uma relação interdependente, cada um dos dois desempenha papel complementar ao do outro. Essa interação mútua se caracteriza como um sistema aberto, porque seus elementos interagem diretamente, tanto com o ambiente onde se encontram (ambiente externo) quanto com o seu ambiente interno, formando um todo global, o que significa que, quando um é afetado, o sistema se modifica por completo.

Em contrapartida, na interação reativa, quando o emissor transmite uma mensagem para todos os elementos do sistema de aprendizagem, pressupõe-se que os receptores são todos iguais e que reagirão igualmente à mensagem. Na interação mútua, todos são emissores e receptores, o que possibilita que várias mensagens sejam transmitidas ao mesmo tempo e, desse modo, o fluxo das mensagens entre os participantes da plataforma é dinâmico; além disso, cada participante é diferente um do outro e cada um escolhe quando e como irá interagir com o sistema.

A interação reativa pode ser limitada, opondo-se à interação mútua, que é criativa, aberta, de trocas verdadeiras e que pode evoluir na relação, por valorizar igualmente os elementos inter-relacionais; quais sejam: os participantes, a relação e o contexto. Ambos os tipos podem ocorrer invariavelmente criando a possibilidade de um subtipo, intermediário e de transição: uma interação pseudo-mútua. A interação interpessoal, i.e., com outros seres humanos, é proporcionada pela comunicação bidirecional, que permite maior interação e o professor ou instituição que possibilitam maior apoio no processo de aprendizado. A partir dessa tipologia, pode-se conceber um sistema que envolva o interagente de maneira tal que ele será responsável por seu próprio processo de aprendizagem. Nessa perspectiva, Primo (2000) explica que a interatividade deve significar “envolvimento”; ou seja: o interagente deve não só tomar parte, mas participar ativamente, da construção da aprendizagem.

Sobre a ideia da interação mútua, Paiva (2001) se alinha com a de Primo (2000), no que diz respeito ao fato de que, nas comunidades virtuais de aprendizagem, as trocas entre os interactantes acontecem por meio da construção social do conhecimento propostas por práticas colaborativas. Como foi pontuada anteriormente, a figura do professor não ocupa mais o centro do processo de aprendizagem, pois os alunos podem interagir entre si em busca

do conhecimento. A interação e a negociação de sentidos entre alunos e com o material significam troca, geração e aquisição de conhecimentos. Consequentemente, o processo de aprendizagem pode ao mesmo tempo ser vivenciado individual e coletivamente.

Nessa perspectiva, Kapp (2012) defende que essa interatividade ajuda o aluno a reter informações e faz com que ele sinta vontade de investir no material a ser apreendido. É na interação com o conteúdo que o aluno reage com ou interage aos estímulos proporcionados pelo conteúdo, e o aprendizado “brota” e se multiplica devido às mudanças que vão ocorrendo, sejam elas no entendimento do aluno, na perspectiva do aprendiz ou nas estruturas cognitivas da mente do aprendiz.