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A INTERDISCIPLINARIDADE COMO FUNDAMENTO DO TRABALHO

3 Fundamentação Teórica

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.7 A INTERDISCIPLINARIDADE COMO FUNDAMENTO DO TRABALHO

PROFISSIONAL NA SAÚDE E REABILITAÇÃO

Toda ação baseada no pressuposto da interdisciplinaridade busca dar conta da complexidade do sujeito implicado nas suas relações sociais e pessoais (OLIVEIRA, 2007). Na saúde e reabilitação, quando se trabalha com a concepção do processo saúde-doença socialmente determinado, verifica-se uma realidade baseada nos aspectos psicossociais, afetivos, técnicos e científicos, que movimentam a vida tanto na sua dimensão individual quanto coletiva.

Os serviços de saúde são organizados levando em conta a diversidade de aspectos que os usuários apresentam e demandam quando o procuram. As equipes de saúde, principalmente nos serviços especializados, contam na sua maioria com uma equipe multiprofissional, ou seja, diferentes especialistas trabalhando de maneira verticalizada. A abordagem e a atenção ao usuário, na maioria das vezes se dá sem comunicação e integração entre as especialidades na atenção e na orientação aos pacientes.

Já a abordagem interdisciplinar prevê a comunicação entre os diversos saberes e a construção de redes de conhecimento que permitam uma ação de saúde totalitária para os usuários (OLIVEIRA, 2007). Favorece assim, uma visão expandida do paciente para que os profissionais de saúde possam trabalhar, considerando a sua complexidade e sua biodiversidade.

Para Fazenda (2011), no Brasil, entende-se a interdisciplinaridade como uma nova atitude diante da questão do conhecimento, da abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão. Exige, portanto, profunda imersão no trabalho cotidiano, na prática.

Na contemporaneidade, o que se observa, é que a organização do trabalho em equipe ocorre a partir da necessidade de incluir atitudes em saúde que levem em consideração à integralidade, a complexidade dos objetos de intervenção e a intersubjetividade. Estas permitem a produção de mudanças na assistência e no cuidado.

A interação dos profissionais em um verdadeiro trabalho em equipe é também premissa básica, mesmo que decorra de um processo lento e progressivo de implantação. Profissionais não engajados apresentam uma grande dificuldade em se conectarem a regras de trabalho comuns. E isso promove práticas isoladas, na qual fatores subjetivos e objetivos, como, por exemplo, afinidade, empatia, postura profissional, interesse em dialogar e conhecer o trabalho do outro, ausência de preconceito e boa formação acadêmica são componentes intervenientes na interação (GUEDES; JUNIOR, 2010).

Desta forma, na prática, com sujeitos sociais, que têm sua subjetividade e sua história, deve-se levar em conta a sua inserção no contexto sociopolítico, pois este pode ser tanto um facilitador como um obstáculo para o trabalho em equipe, influenciando a interação e a comunicação entre os profissionais.

No trabalho em equipe, não basta os trabalhadores interagirem cordialmente ou compartilharem uma mesma situação de trabalho para constituírem uma equipe integrada. É necessário um investimento na articulação das ações, preservando as especificidades de cada componente da equipe. Esta atitude requer o reconhecimento do trabalho do outro, pressupondo uma concepção ampla do processo saúde-doença (BORGES et al., 2012).

O contexto da interdisciplinaridade, assim, aponta para a ruptura de valores tradicionais na saúde como hierarquia, distribuição de categorias profissionais e fragmentação do saber.

A proposição de mudança das práticas na saúde pressupõe um saber-fazer comum, que contribui para a superação da fragmentação no cotidiano dos serviços, pois, não há integralidade onde não há troca de conhecimentos. Neste contexto, a interdisciplinaridade e a circulação do conhecimento são fundamentais para a construção de práticas integrais (BORGES et al., 2012).

Para Scherer, Pires e Jean (2013) a interdisciplinaridade na área da saúde, é entendida como instrumento e expressão de uma crítica do saber disciplinar e como

uma maneira complexa de entendimento e enfrentamento de problemas do cotidiano. Exige a integração não somente de saberes, mas também de práticas e integra e renormaliza as disciplinas e as profissões delas decorrentes, concretizando, ao final, a íntima relação entre conhecimento e ação.

Neste contexto, trata-se da interdisciplinaridade como processo de construção de conhecimento e ação na saúde, a partir de finalidades compartilhadas por coletivos de trabalho. Implica em um posicionamento ético e político que exige diálogo e negociação para definição das competências necessárias para a resolução dos problemas enfrentados.

A visão interdisciplinar na saúde e reabilitação é uma condição para o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação. Engloba problemas e necessidades reais, objetivando soluções integradoras; é fundamental na geração de conhecimento e não ocorre simplesmente pela junção de saberes de diferentes áreas, mas pela integração e compartilhamento de conhecimentos, habilidades e métodos que operacionalizem a criação de novos conceitos teórico-metodológicos e técnicos advindos dessa junção (BARRA, 2013).

Para Almeida Filho (1997) na área da saúde coletiva é necessária, além das atitudes interdisciplinares, a utopia pela transdisciplinaridade. E esta requer reflexões e ações com uma finalidade comum e com tendência a horizontalização das relações de poder. Implica criação de um campo novo que idealmente desenvolverá uma autonomia teórica e metodológica perante as áreas que o compõem. Vasconcelos (1996) assinala que a transdisciplinaridade requer uma radicalização da interdisciplinaridade, com a criação de um campo teórico, operacional ou disciplinar de tipo novo e mais amplo.

Na realidade, a transdisciplinaridade traz a exigência de consagrar o diálogo entre diferentes campos de saber sem impor o domínio de uns sobre os outros, acercando-se de uma atitude e de uma postura que orientem a interação e a reliance entre os profissionais e seus conhecimentos (RODRIGUES, 2000).

Diante da perspectiva apresentada pela literatura, os desafios das equipes de saúde e reabilitação estão em construir um trabalho interdisciplinar com utopia transdisciplinar. Isto implica em um trabalho coletivo que exige disposição, estudo e criatividade e visa enriquecer não só a equipe, mas os usuários do serviço,

contemplando-os como sujeitos complexos, sociais e os diferenciam, de acordo com suas necessidades e possibilidades enquanto cidadão.