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L. Objetivo comum e pensamento no coletivo M Aspiração comum

4. DISC USSÃO

5.3 A interdisciplinaridade no Programa HiperDia

Perpassados o significado do Programa HiperDia para os profissionais e frente o contexto de Brasil atual, sua rotina perante aos serviços oferecidos, o processo de comunicação padrão e o implementado, as conseqüências do modo e métodos de comunicação da equipe, nos falta analisar o que isto contribui para a transição de multidisciplinaridade para interdisciplinaridade.

A multidisciplinaridade, parafraseando Almeida Filho (1997), “é como trabalhar perto, mas não juntos, cada um com sua ótica (...). A idéia aqui é de justaposição de disciplinas”, sem articular com os outros profissionais para agirem em prol de um objetivo comum.

A interdisciplinaridade, segundo Pires (1998, pág. 177), foi uma alternativa à disciplinaridade que tomou corpo nos anos 60/70, para promover a superação da super especialização e da desarticulação teoria e prática, crescendo como possibilidade de quebra da rigidez dos compartimentos em que se encontram isoladas as disciplinas dos currículos.

Frente a estes conceitos que evidenciam a dessemelhança na funcionalidade e ao tipo de trabalho do HiperDia, centrado no paciente enquanto indivíduo e coletivo, com olhar holístico e humanizador, fica compreendido que a melhor postura para equipe é a de interdisciplinaridade.

É fundamental que os profissionais abdiquem de sua zona de conforto e se tornem um conjunto, sirvam de suporte um para o outro, se articulem, troquem informações e experiências sempre que possível e necessário, em momentos oportunos e previamente estabelecidos como padrão pela Unidade, a fim de unificar as informações.

Esta idéia já foi percebida e evidenciada na fala de alguns profissionais, sendo citados abaixo, respectivamente, os entrevistados nº1, nº2, nº3 e nº8.

“Consegue focar a gente num só... num só eixo, e a gente pode se equilibrar sim para trazer o melhor pro paciente. (E os outros profissionais?) Também, porque acontece que nós somos uma equipe muito fechada, então é sempre um auxiliando o outro, pelo menos aqui”. (Entrevista 1)

“eu tento interagir e trabalhar em conjunto com todos os técnicos de enfermagem para que a gente, juntos, tenha o mesmo diálogo, a mesma abordagem com o paciente.” (Entrevista 2)

“Eu acho importante, que acho que é que ta faltando um pouco mais de comunicação entre os setores pra poder unificar as informações né.” (Entrevista 3)

“Olha, assim, já trabalho há muito tempo. Então, acho que a comunicação, né? A gente ter um contato com o cardiologista, com a enfermagem, com assistente social, psicólogo, tudo isso só facilita nosso trabalho. A gente consegue ter uma estrutura para dar suporte, esse suporte para o paciente. Para o paciente ter essas orientações.” (Entrevista 8)

São estas visões, a frente do processo, que possibilitam e encorajam a dar um passo a frente para mudar a realidade, para que a zona de conforto não seja um espaço individual e um método de trabalho particular, mas uma estrutura de apoio mútuo, de motivação, de suporte, de uma realidade mais leve e facilitadora do processo de trabalho.

Conclui-se que ainda não há uma experiência vivida e explicitada de interdisciplinaridade, apesar de já se notar conceitos e ideias acerca da mesma, de forma indireta e não percebida pelos participantes. Ainda precisamos caminhar muito para que isto seja um processo tateante. Isto ocorre pois, de acordo com Bovo (2005, p.2) apud Umbelino e Zabini (2014, p. 3-4), a interdisciplinaridade advém de uma liberdade cientifica, desestimulada durante grande parte do Ensino Superior em saúde, suscita-se na arte de pesquisar e objetiva sobretudo um acesso humano.

6. CONCLUSÃO

A comunicação enquanto competência gerencial é notoriamente precária, o que difere parcialmente da realidade da PRLB, no Programa HiperDia. Lá, predomina a oralização como método de comunicação, devido às boas relações estabelecidas entre a maioria dos membros da equipe e à rotina sem grandes e freqüentes problemas.

É indispensável, porém, que a equipe engaje-se à adesão dos outros métodos, principalmente àqueles escritos. O prontuário, apesar de muito citado, não faz parte da rotina das ações do programa, mas é visto como maior e mais comum instrumento de registro das ações e serviços prestados ao paciente. O SIA-SUS, também bastante conhecido, não mostrou ser instrumento de alimentação de dados e troca de informações contínuas acerca dos usuários, mas uma opção à urgência em casos de necessidades de informações dos mesmos.

É crucial um momento de reunião com toda a equipe do HiperDia, inclusive coordenador e aqueles profissionais que, apesar de não fazerem parte do programa se encontram atendendo a demanda que dele surge. Deve haver periodicidade estabelecida, assim como datas e horários, para que os profissionais se organizem de forma a participarem ativamente do processo de construção de um momento interdisciplinar. Considerar-se-á os dias de cada profissional na Unidade, para viabilizar a presença de todos, assim como é possível que haja dois momentos de reunião, de modo a abranger toda a equipe.

É básico que o encaminhamento seja, além de registrado em prontuário, feito através de instrumento próprio, preferencialmente impresso, de forma que o solicitador e o solicitado tenham em mãos a confirmação do pedido de encaminhamento, que pode ser elaborado e feito sempre em duas vias. Pode ser de grande ajuda, um mural de avisos geral da Instituição, com parte destinada a particularidades do Hiperdia e seus processos. Vale pensar a respeito de outro instrumento escrito para comunicação interdisciplinar, que não a Comunicação Interna.

Para todos os efeitos, as relações devem ser estreitadas entre os profissionais de menor contato, seja por dificuldade de conciliar horário ou não, visando o benefício dos usuários sempre. Aqueles de laços e rotinas laborais mais próximos devem servir de alicerce e exemplo. A ordem hierárquica não deve abster ou sobrecarregar ninguém a respeito desta temática. Desta forma, com a compreensão, o envolvimento e a sensibilidade, o Programa HiperDia da PRLB alcançarão, sem dúvidas, a interdisciplinaridade.

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8. APÊNDICES

8.1TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM E LICENCIATURA

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