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1. REVISÃO TEÓRICA

1.4 A interpretação geográfica do espaço

Para alcançarem-se bons resultados, deve-se centralizar as preocupações em torno da categoria espaço tal qual ele se apresenta, como um produto histórico. São fatos que aqui interessam em primeiro lugar. A Geografia deve limitar-se ao que lhe é específico, ou seja, o espaço a ser explicado e teorizado é o campo da geografia científica – ponto de partida para sua definição. Segundo Santos (1980), a interpretação de espaço e sua gênese ou seu funcionamento e sua evolução depende de como façamos antes a correta definição de suas categorias analíticas, sem a qual estaríamos impossibilitados de desmembrar o todo por meio de um processo de síntese.

As revoluções agrárias e industriais permitiram que se acabasse com as crises de escassez alimentar, pois essas possibilitaram alimentar, alojar e vestir um número cada vez maior de indivíduos.

Da segunda metade do século XX em diante, o modelo desenvolvimentista renasce com uma nova variável: viver bem, que pressupõe demanda da natureza, isto é, aumento de consumo. A dinâmica do “sempre mais” atinge seu limite, isto é, a atividade humana tem exercido uma influência notável sobre a natureza chegando ao ponto de alterar os ciclos naturais. Segundo Mendonça,

o efeito resultante do incremento das concentrações de CO2 promovidas pela

atividade do homem moderno ( queima de combustíveis fósseis utilizados nas indústrias e nos veículos, atividades agrícolas, queimadas e desmatamento) tem gerado o que se convencionou chamar de aquecimento global, fenômeno decorrente da intervenção humana nos processos que caracterizam o efeito estufa (MENDONÇA, 2007, p.185-187).

Um homem com sentidos não desenvolvidos é fechado diante do mundo e o “percebe” não universal e totalmente, com sensibilidade e intensidade, mais de modo unilateral e superficial, apenas do ponto de vista do seu “próprio mundo”, que é uma fatia unilateral e fetichizada da realidade. Para este homem, os recursos naturais têm valor na medida em que podem satisfazer as necessidades humanas. Esta é a visão antropocêntrica e utilitarista do mundo que está associada ao modelo desenvolvimentista. Leonardo Boff afirma que,

Ético seria desenvolver um sentido do limite dos desejos humanos porquanto estes levam facilmente a procurar a vantagem individual à custa da exploração de classes, subjugação de povos e opressão de sexos. O ser humano é também e principalmente um ser de comunicação de responsabilidade. Então ético seria também potenciar a solidariedade generacional no sentido de respeitar o futuro daqueles que ainda não nasceram. E por fim ético seria reconhecer o caráter de autonomia relativa dos seres; eles também têm direito de continuar a existir e a co-existir conosco e com outros seres, já que existiram antes de nós e por milhões de anos sem nós. Numa palavra eles têm direito ao presente e ao futuro. (BOFF, 2004, p. 23-24.).

As realidades que refletem a organização social do mundo, a vida dos grupos humanos e suas atividades, jamais são puramente materiais. São expressões de processos cognitivos, de atividades mentais. As relações do homem com o meio ambiente e com espaço têm uma dimensão sócio-psicológica e cultural, advinda das sensações que as pessoas experimentam e das percepções a elas ligadas. A cultura é algo usual, ordinário. Toda sociedade humana tem sua própria forma e expressa suas características em suas instituições, nas artes e também na aprendizagem.

Cada cultura organiza seu modo de valorizar, de interpretar e de interagir com a natureza. As atividades dos seres humanos sobre a Terra produzem tantas influências que a sua cultura faz parte da definição de meio ambiente. Muitos danos ambientais são causados por decisões políticas e econômicas que pressionam os recursos naturais. Assim, para serem compreendidas, as questões ambientais não podem ficar restritas à Ecologia. Cabe à Geografia reunir condições para coordenar as informações que advêm da relação homem/natureza. Os princípios básicos e os objetivos principais da Geografia são de caráter eminentemente ambientalista.

1.5 “Geograficizando”

Ao se analisar um espaço localizado e diferenciado, ao mesmo tempo que aponta aquilo que constitui a originalidade de seu domínio, o geógrafo procura identificar, simultaneamente, os elementos de comparação capazes de permitir o reagrupamento em grandes famílias, dos principais dados, forma, sistemas e processo. “O espaço geográfico encontra-se impregnado de história” (DOLLFUS, 1982, p. 11).

A ação humana transforma a superfície da Terra e os geógrafos não são indiferentes à presença dos grupos humanos nem às transformações que estes impuseram às paisagens. As modificações ambientais, que produziram um rompimento homem/natureza, foram banalizadas em escala planetária. O tema ambiental se junta ao tema das representações da natureza, levando o debate a centrar-se na reformulação da idéia paradigmática de natureza, espaço e tempo. A relação homem/natureza ganhou um caráter utilitário na medida em que a natureza é afligida.

O termo “ambiental” indica, portanto, a compreensão do ser com o seu entorno (espaço circundante) e as formas de compreensão deste espaço circundante, promoveram uma leitura diferenciada dos problemas ambientais. Sendo assim, a Geografia ao estudar a relação homem/natureza (meio), na busca de explicar os relacionamentos entre os dois domínios da realidade, sempre esteve no sustentáculo da questão ambiental.

É correto dizer que o homem tem uma particular capacidade para modificar os fatores que formam o meio ambiente e também de agregar novos elementos. O impacto ambiental produzido pela alta densidade de população nas cidades tem chamado a atenção de cientistas, em especial dos geógrafos. A capacidade de impacto ambiental das cidades explica-se pela sua própria existência, pela proximidade espacial de seus habitantes e pela expansão urbana que se faz sobre o meio ambiente.

A percepção socioambiental apreende o espaço relacional (homem/natureza ou sociedade e meio ambiente) não somente como fenômeno biológico ou físico, trata-se de reconhecer que é necessária uma visão mais complexa do meio ambiente em que a natureza integra uma rede de relações não somente naturais, mas sociais e culturais.

O homem deve transformar-se continuamente com as transformações das relações sociais para compreender melhor as novas complexidades ambientais que surgem a partir de velhas contradições. Se a compreensão do está baseada responsabilidades é imperativo o entendimento das relações que o envolvem.