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A intervenção do Império: queda de Oribe e Rosas

No documento 2014Jaqueline Schmitt da Silva (páginas 40-51)

2. BRASIL, URUGUAI E ARGENTINA: ALIANÇAS E RIVALIDADES

2.1. A intervenção do Império: queda de Oribe e Rosas

Amado Cervo nos diz que “a política externa brasileira, na volta do meio século, foi improvisada de todo pelo Uruguai”.100 Se observarmos atentamente, a história nos

confirma, que de fato as intervenções do Brasil na região platina estiveram quase todas ligadas com acontecimentos na república Oriental, especialmente pela sua proximidade e relações desta com o Rio Grande do Sul.101

Gabriela Nunes Ferreira, em O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial aponta o Rio Grande do Sul como sendo variável importante no que se refere às relações com a região Platina. Por meio da produção pecuária essa província se inseriu economicamente ao Brasil e este fator também ocasionou problemas nas relações dessa província com o governo, pois havia uma forte concorrência dos vizinhos platinos, que produziam charque com custos mais baixos. Nos períodos de crise interna, essa produção se desorganizava e então os sul rio-grandenses desfrutavam de períodos de competição favorável. De uma forma geral, havia uma proximidade entre a população do Rio Grande do Sul com os países platinos. Bento Gonçalves, líder da Guerra Farroupilha é um bom exemplo de estancieiro que havia adquirido terras no Uruguai e possuía vinculações com o partido blanco oriental, que por sua vez era hostil com relação ao Brasil, diferente do

100 CERVO, Amado Luiz. O parlamento brasileiro e as relações exteriores: 1826- 1889. Brasília: Editora

Universidade de Brasília, 1981. p. 04.

101 Questões de limites e navegação com o Paraguai tiveram grande importância nesse período, que serão

abordadas mais adiante. A guerra do Paraguai, que talvez seja o acontecimento mais importante na década de sessenta do oitocentos, ou pelo menos mais impactante, também teve como ponto chave o Uruguai.

partido colorado, que adotava uma política favorável. Esse contexto tornava as relações ainda mais conturbadas com os vizinhos do sul. 102

Após a assinatura do Tratado de Ponche Verde com os Farroupilhas no Rio Grande do sul, pondo fim à guerra que durou uma década, o Império do Brasil sentiu-se mais seguro para intervir nos conflitos internos nas repúblicas vizinhas do Prata, uma vez que, a ameaça dos rebeldes e uma possível fragmentação do Império estaria um tanto quanto distante. Porém, era preciso combater uma ameaça que vinha do ambiente externo e se materializava nos desejos e ambições expansionistas do caudilho buenairense Juan Manuel Rosas. De acordo com Teixeira Soares, em Diplomacia do Império no Rio da

Prata, no período da Guerra Farroupilha, Rosas representava um perigo ainda maior ao

Império, uma vez que tinha planos de intervir a favor dos rebeldes, querendo aproveitar- se dos problemas internos do Brasil para realizar seus objetivos: “... aspirava a transformar Buenos Aires em cabeça-de-comarca de um vasto ‘império’ que começasse nos Andes e terminasse nas regiões sulinas donde os índios estavam sendo expulsos à força das armas.”103 A incorporação do Uruguai e a neutralização da política brasileira no

rio da Prata também seriam metas de Rosas.

Na década de 1840, o governo formado em Montevidéu com a influência de Fructuoso Rivera era o único reconhecido internacionalmente. Tal governo possuía vínculos com os líderes rebeldes rio-grandenses e era ameaçado por Oribe e Rosas. Assim, os interesses conflitavam entre a intervenção no Uruguai e a pacificação do Rio Grande do Sul. O que o Império fez foi manter a política de estrita neutralidade que vinha alimentando diante do cenário conflituoso no ambiente platino. Essa neutralidade também era motivada pela questão econômica, pois as finanças do Império não iam bem e o governo se distanciava de qualquer intervenção que pudesse ocasionar uma guerra, que demandaria investimentos que não dispunham. 104

Para Oliveira Lima, as questões entre Brasil e região platina podiam ser desdobradas em duas contendas: o direito dos princípios e dos tratados e as reclamações por violência e prejuízos. A proximidade do Rio Grande do Sul desses países, a necessidade da navegação dos rios Uruguai, Paraná e Paraguai para que o Império

102 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

2006. p. 73-80.

103 SOARES, Teixeira. Diplomacia do Império no Rio da Prata. Rio de Janeiro: Ed. Brand Ltda, 1955.p.

92-93.

104 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

pudesse manter contato com o Mato Grosso, as questões envolvendo o Uruguai e sua independência diante dos desejos expansionistas de Juan Manuel Rosas, conspiravam para que o Brasil se interessasse pelo Prata e mantivesse sua posição intervencionista, muito embora por vezes afirmasse o contrário. 105

Em 1847 a guerra contra Rosas era adiada, pois prevalecia ainda a política de neutralidade na região Platina. Havia uma grande hesitação entre a neutralidade e ação. Em meados do século, eram três as principais questões da política externa brasileira: “o tráfico, com a ingerência inglesa, a imigração livre e, mais uma vez, as relações com o Prata.”106 E assim, debatia-se qual a política a ser seguida: “Observar, intervir

diplomaticamente ou militarmente?” Estava em pauta nesse momento também a questão dos brasileiros residentes no Uruguai diante do conflito, pois as intenções de Rosas e de seu aliado Oribe eram questionáveis. Nesse sentido, era invocada a proteção aos súditos brasileiros, uma vez que, Oribe impunha uma política de violência e arbitrariedades contra os brasileiros no Uruguai. 107

Amado Cervo afirma que naquele momento os interesses essenciais do Brasil exigiam a solução para os problemas de fronteiras. Ou seja, além das questões de âmbito interno, no que tange a política externa eram necessárias ações que fortalecessem o país. Depois de passado um período de neutralidade, chegava o tempo em que o Império passaria a fundamentar suas ações nos interesses nacionais, e no Prata o Brasil poderia obter sucessos que lhe trariam prestígio diante das grandes potências. Em decorrência de tais questões passou a dedicar atenção para as políticas de definição de limites, que eram vistas no Parlamento como garantia de paz, amizade e boas relações com os países vizinhos. 108

Em 22 de fevereiro de 1851, o Conselho de Estado Pleno discutia questões relativas à intenção do ditador Rosas de dar “patente de corso” contra os navios brasileiros, conforme informação de correspondente em Buenos Aires, em 1850. Surgiam

105 LIMA, Oliveira. Movimento da Independência; O Império brasileiro. 2 ed. São Paulo: Editora

Melhoramentos, 1921.p.473-4.

106 CERVO, Amado Luiz. O parlamento brasileiro e as relações exteriores: 1826- 1889. Brasília: Editora

Universidade de Brasília, 1981. p.56.

107 CERVO, Amado Luiz. O parlamento brasileiro e as relações exteriores: 1826- 1889. Brasília: Editora

Universidade de Brasília, 1981.p.56.

108 CERVO, Amado Luiz. O parlamento brasileiro e as relações exteriores: 1826- 1889. Brasília: Editora

questões importantes a serem debatidas, pois era preciso decidir como prevenir ou reagir a tais ações do ditador argentino.109

O contexto era de conflito eminente, e as seções reunidas da Guerra e Marinha e de Justiça e Estrangeiros, do Conselho de Estado já haviam dado seu parecer dizendo que em caso de guerra com a Argentina, o Governo Imperial deveria repassar instruções aos comandantes de navios de guerra, referentes às condições para a apreensão de navios, identificando quais embarcações armadas com a bandeira inimiga poderiam ser consideradas como autorizadas a hostilizar navios brasileiros e quais as que deveriam ser tratadas como piratas, por falta de autorização legítima. As seções eram de parecer que o Governo poderia decretar os requisitos que deveriam concorrer as embarcações com bandeira argentina para serem reconhecidas como Corsário, podendo desfrutar das imunidades garantidas pelo Direito das Gentes, ou piratas, quando não correspondendo aos critérios designados, sem a intervenção do legislativo. Afirmavam que somente deveriam ser reconhecidas como Corsários as embarcações com bandeira argentina que tivessem em mãos a Carta de Marca (documento emitido pelo país, pelo qual seu dono era autorizado a atacar) passada pelo Governo Argentino, e que tivessem comprovada a nacionalidade argentina, por meio dos seguintes fatores: terem sido armados dentro dos portos argentinos, serem súditos argentinos os armadores e todos os interessados no armamento, serem súditos argentinos o comandante e três quartos da tripulação.

A seção considerava importante que o Governo Imperial se dirigisse às nações comunicando-lhes o princípio adotado com relação às embarcações de bandeira argentina e solicitando que nenhum corsário de bandeira argentina fosse armado em seus portos. Concordava que tais providências deveriam ser tomadas o quanto antes, não esperando que corsários argentinos tomassem navios brasileiros e que as depredações iniciassem para tomar atitudes. A simples suspeita de que o governo argentino pensava em declarar guerra ao Brasil já era motivo suficiente.

Tais discussões realizadas pelo Conselho de Estado Pleno, presidido pelo Imperador e estando presentes os Ministros e Secretários de Estado e os conselheiros, evidenciavam as preocupações correntes no Brasil Imperial naquele período. O contexto era conflituoso, tendo em vista a aliança entre Rosas e Oribe. Rosas visando a supremacia de Buenos Aires e da Confederação na região, representava uma ameaça para os interesses do Império, que se comprovava no Uruguai, através da aliança com Oribe, que

109 RODRIGUES, José Honório. Atas do Conselho de Estado. Brasília: Senado Federal, 1978. (1850-1857).

vinha impondo restrições à passagem de gado para a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, causando enormes transtornos aos súditos brasileiros na região, bem como exigindo uma tomada de atitude da política Imperial diante do contexto.

Calógeras nos diz que desde 1849 eram comuns os atentados nas zonas limítrofes, violência que resultavam em prejuízos e acirramento de ódios. A situação se alastrou e os rio-grandenses enviaram ao Rio de janeiro um emissário, intimando o Governo Imperial que intervisse pondo fim às desordens, ou teriam que começar uma nova guerra civil, fazendo justiça por si mesmos.110

Em 1843 foi nomeado como encarregado dos Negócios do Império em Assunção o marquês de São Vicente, José Antônio Pimenta Bueno. Deveria reconhecer a independência do Paraguai, não aceita por Rosas. O Brasil possuía grande interesse na sustentação dessa independência, buscando impedir que Rosas expandisse seus domínios sobre o Paraguai. Com isso, se acirravam as rivalidades entre Brasil e a Confederação Argentina.111 Por isso Teixeira Soares afirma que Pimenta Bueno teria sido o homem mais detestado por Juan Manuel Rosas, tal fato se devia a esse ato do Império que resultou na assinatura em Assunção de um Tratado de Aliança, Comércio e Limites com o Paraguai. Em virtude desse tratado e pela influência que possuía junto a Lopez, Pimenta Bueno fora tão odiado pelo ditador de Buenos Aires, que considerava o Paraguai uma província revoltosa. O artigo II desse tratado previa que em casos de ataque da Confederação ao Império ou a República, ambos os governos se auxiliariam. Além disso, o artigo III previa que as partes se comprometessem a fim de que a navegação do rio Paraná até o rio da Prata ficasse aberta aos súditos de ambas as nações.112

Na segunda metade da década de 1840, ainda se prezava pela política de neutralidade na região platina. Questões relativas às ações do barão de Jacuí113 na região

fronteiriça acabaram comprometendo ainda mais as relações entre Brasil e a Confederação Argentina. Em 1850 o barão realizava a quarta invasão armada no território

110 CALÓGERAS, J. Pandiá. A política exterior do Império. V. 3. Ed. Fac- Similar. Brasília: Senado

Federal, 1998. p. 574-575.

111 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

2006.p. 86-87.

112 SOARES, Teixeira. Diplomacia do Império no Rio da Prata. Rio de Janeiro: Ed. Brand Ltda,

1955.p.104-114.

113 Francisco Pedro Buarque de Abreu, nasceu em Porto Alegre em 1811, recebeu o título de barão de

Jacuí após a Guerra Farroupilha, na qual serviu o exército imperial. Era proprietário de terras no Uruguai e organizou forças para defender os interesses dos estancieiros brasileiros no país vizinho.

Oriental. Nesse período são constantes as reclamações feitas pelos brasileiros, pois Oribe havia proibido a passagem de gado do Uruguai para o Rio Grande do Sul. 114

Sobre as ações do barão de Jacuí no Uruguai, os argentinos creditavam a elas um caráter político e defendiam as providências tomadas por Oribe quanto ao gado e estancieiros brasileiros residentes na república Oriental. O ministro argentino Tomás Guido exigia em nota punição exemplar ao barão de Jacuí, para reparar os violentos ataques que este havia cometido contra o estado uruguaio, assim como de todos aqueles que haviam sido coniventes com tais ações. Para Paulino Sousa, a questão do barão de Jacuí era pendente com Oribe, não com o governo argentino. Mas o ministro argentino acusava o governo do Brasil de se interessar pelos problemas no Uruguai somente quando lhe convinha. O governo brasileiro afirmava a não aprovação às atitudes do barão de Jacuí com o Uruguai, entretanto, tendo em vista as reclamações feitas e não atendidas por Oribe, não quis agravar ainda mais a situação desses brasileiros. 115

Tomás Guido, representante argentino no Brasil, também era favorável às políticas empreendidas pelo General Oribe no Uruguai para exercer controle sobre o gado que os brasileiros residentes no Rio Grande possuíam na República Oriental. O ministro argentino defendia a necessidade de verificar o gado que saía e entrava no Uruguai, uma vez que a maioria dos estancieiros daquele país estava em guerra e sendo assim, não conseguiam cuidar devidamente de suas propriedades: era preciso evitar que gado fosse roubado por gaúchos que resolvessem tirar proveito da situação daquele país e aumentar suas fortunas. 116

Em virtude das reclamações e do agravamento dos ânimos, findavam as relações diplomáticas entre o Império e a Confederação Argentina de Juan Manuel Rosas e em 1851, já surgiam novos horizontes no direcionamento da política externa brasileira no que se refere aos países platinos. Esse rompimento marcava o fim de um longo período de neutralidade. Desde 1850 o governo tomava providências, fortalecendo suas tropas do exército no sul, temendo uma guerra. 117

114 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

2006.p.92-93.

115 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

2006. p. 149-156.

116 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

2006. p. 152.

117 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

A conjuntura de meados do século XIX na região platina era favorável a uma mudança na política desenvolvida. Franceses e ingleses se retiravam, a proibição do tráfico de escravos melhorava o contexto das relações do Brasil com a Inglaterra, o Rio Grande do Sul continuava a aproximar o Império da realidade conflituosa que estava presente nas repúblicas vizinhas e as relações entre Brasil e Confederação Argentina se tornavam cada vez mais desgastadas. 118

As questões com o Uruguai estiveram em evidência a partir do momento em que representantes do Rio Grande do Sul obtiveram assento na Câmara dos Deputados e passaram a defender seus conterrâneos residentes em tal país, um deles foi José de Araújo Ribeiro. Durante a Guerra Farroupilha muitos rio-grandenses penetraram em território uruguaio. Posteriormente, Oribe criou impostos para as cabeças de gado que saíssem do território oriental para o Rio Grande do sul, sendo logo decretada a proibição da passagem de bovinos para tal província brasileira. Havia queixas de roubo de terras, violência e assassinatos. Ao invés de regular a saída de gado, Oribe impunha uma proibição, considerada abusiva pelos fazendeiros rio-grandenses.

As contendas existentes nas relações do Brasil com seus vizinhos do sul expunham uma situação em que o Império optou por intervir. Agir contra o imperialismo de Rosas ou pelo seu próprio imperialismo? O fato é que para empreender essa ação de intervenção contra Rosas e seu aliado Oribe, o governo brasileiro fortaleceu-se através dos seus aliados e um deles era Urquiza, da província de Entre Rios. 119

Assim, em 29 de maio de 1851, foi assinado em Montevidéu, uma aliança ofensiva e defensiva entre o Brasil, a república do Uruguai, Entre Rios e Corrientes. O fim dessa aliança era preservar a independência do Uruguai, pacificar o seu território, expulsar Oribe e as forças argentinas. 120

O que acabou se sucedendo foi que Urquiza fez um acordo com Oribe, acertando a sua rendição com uma série de condições. A partir daí uma complexa situação acabou por se evidenciar. Toda a campanha realizada não estava tendo o desfecho que o governo Imperial imaginava e inclusive havia possibilidade do Brasil perder o controle da situação na bacia do Prata, porque tudo dependeria dos encaminhamentos de Urquiza.

118 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

2006.p. 146.

119 BETHELL, Leslie. As Repúblicas do Prata da Independência à Guerra do Paraguai. In: BETHELL,

Leslie (Org.). História da América Latina: Da Independência a 1870. São Paulo: Edusp, v.3, cap.13, 2009. p.660.

120 SOARES, Teixeira. Diplomacia do Império no Rio da Prata. Rio de Janeiro: Ed. Brand Ltda,

Posteriormente o governador de Entre Rios e aliado do Império informava sobre as concessões que Oribe deveria fazer e pedia a aprovação dos aliados. Paulino recomendou que fossem aceitas, já que não era hora de brigar com Urquiza, necessário para a derrocada final de Rosas. 121

Na obra Uma História Diplomática do Brasil122, o autor traz presente aspectos importantes sobre a realidade platina na época, tratando também da importância da intervenção brasileira nos conflitos que ocorriam a sua revelia no Prata:

O principal objetivo era acabar com o regime de caudilhismo que ameaçava nossas fronteiras e favorecia a implantação de governos instáveis e irresponsáveis. Era necessário intervir para preservar nossas fronteiras, a vida e a propriedade- especialmente o gado- de nossos patrícios.123

A ordem de Rosas fundava-se na hegemonia de Buenos Aires: monopólio portenho sobre o comércio exterior e navegação dos rios interiores. Rosas acreditava que o controle da bacia platina era fundamental para a independência da Argentina. Urquiza havia auxiliado Rosas na consolidação daquela ordem. Entre Rios havia prosperado com um grande aumento da criação de gado, e Urquiza era um dos maiores estancieiros. O monopólio portuário não era vantajoso para estas províncias e com isso pode-se entender um contexto de rivalidade com o ditador Rosas. Os fins da aliança que estes assinaram se concentrava em trazer o Uruguai para a ordem, fazendo sair Oribe e as forças argentinas e organizando eleições. Entretanto, ficou prevista a possibilidade de combater Buenos Aires. O governo paraguaio seria convidado a participar da aliança.124

O pensamento parlamentar evidencia algumas contradições, pois se opõe à intervenção dos britânicos no Brasil, que desejavam pôr fim ao comércio de escravos, em nome da dignidade nacional, e, apesar disso, apoia uma política ativa na região platina, de intervenção solidária e humanista. “A coerência do pensamento exigia, pois, superar a contradição”. Entretanto, o quadro político vigente na região sul, com Rosas na Argentina e Oribe no Uruguai, vistos como usurpadores, fazia com que as simpatias do governo

121 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

2006.p. 184-186.

122 RODRIGUES, José Honório; SEITENFUS, Ricardo A. S. Uma história diplomática do Brasil. Org.

Lêda Boechat Rodrigues. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1995.

123 RODRIGUES, José Honório; SEITENFUS, Ricardo A. S. Uma história diplomática do Brasil. p.63. 124 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,

brasileiro se inclinassem para Urquiza, através da assinatura do convênio de aliança contra Oribe em 1851.125

O intervencionismo solidário, visando à felicidade e o bem das nações vizinhas, foi amplamente difundido no parlamento brasileiro para defender as ações empreendidas pelo governo na região platina. Outra teoria que obteve respaldo foi que os parlamentares alimentavam uma “consciência de superioridade” das instituições monárquicas brasileiras com relação à infraestrutura dos países da América hispânica, onde, segundo estes, havia

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