• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 Organização curricular do 1.º Ciclo do Ensino Básico

2.3 TIC na matriz curricular portuguesa

2.3.4 A introdução da informática e as reformas educativas

Com a entrada para a Comunidade Económica Europeia, foi declarada pelo poder político a necessidade de efectuar uma reforma global do sistema educativo, a qual pode ser constatada na Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/86, de 22 de Janeiro: ― [...] urge atacar frontal e decididamente as causas profundas que estão na

raiz dos principais problemas que vêm, cronicamente, sendo identificados, o que implica uma reforma global e coerente das estruturas, métodos e conteúdos do sistema‖.

Através desta resolução é criada a Comissão de Reforma do Sistema Educativo (CRSE), com as funções de realização de estudos, preparação de diplomas legais e posterior elaboração de programas de aplicação das medidas sugeridas por estes. Pretendia-se descentralizar a administração educativa e modernizar o sistema de ensino em diversas vertentes: organizacional, curricular, metodológica e prática, e simultaneamente valorizar os recursos humanos que estavam disponíveis.

Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro), tendo esta, após várias fases de implementação e consolidação, culminado na generalização da reforma em 1992-93.

Os termos-chave desta reforma são a ―participação alargada‖, a ―descentralização‖, a ―flexibilidade‖ e a ―autonomia‖ (Silva B. , 1998), sendo a escola caracterizada pela ideia de comunidade educativa, na qual se centram as politicas educativas, e à qual se conferem áreas de autonomia para conseguir encontrar soluções para a sua gestão e para a definição da matriz curricular. Para tal, o Projecto Educativo constituir-se-ia como documento aglutinante das vertentes externa e interna da comunidade escolar, o qual resultaria do jogo comunicativo entre professores, alunos, encarregados de educação e outros elementos da comunidade educativa.

Deste modelo de construção social da Escola, resultaria um modelo comunicativo colaborativo e partilhado, construído pelos diferentes actores da comunidade educativa, em função das suas concepções acerca do seu papel na Escola. Contudo, a adopção de um modelo que continuou a valorizar a hierarquização das competências, definido quase em exclusividade pelos serviços centrais, obrigou a que continuasse a prevalecer a pedagogia directiva por parte do professor, não se tornando realidade a aprendizagem construtivista preconizada pelo referido modelo comunicativo.

Este tipo de aprendizagem revela-se muito importante para um processo de aprendizagem significativo, quer nos processos presenciais, quer a distância, conforme referem Cardoso & Valadares (2008) : ―Either in face-to-face teaching or in distance

teaching, constructivist learning environments are very important if our intention is the meaningful learning of the students‖.

A Proposta de Reorganização dos Planos Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário e a Proposta da Escola Cultural abordam a relação entre os uso das TIC e a reforma educativa. Neste primeiro documento os autores adiante referidos defendem que a escola é o centro dos processos educativos, mas ― […]se não tiver condições e

recursos adequados não poderá ser jamais um lugar atraente e motivador de aprendizagem‖ (Silva, Carneiro, Emídio, & Grilo, 1987, p. 177). No segundo, apontam-

se vários recursos educativos e culturais de que deve dispor a escola e dão-se exemplos: a reprografia; os laboratórios; a aparelhagem de som e imagem, incluindo equipamento fotográfico; discos; fitas magnéticas, "cassettes", "video-cassettes" e outros (Patrício,

1987, p. 66), que não estando directamente relacionados com tecnologias no sentido em que são entendidas neste documento, equipariam a escola.

Outros estudos mais especializados foram efectuados, dos quais julgamos pertinente referir aqui ―Novas Tecnologias no Ensino e na Educação‖, coordenado por Rocha Trindade. Nesta obra é referido que a par dos meios tradicionais existentes na sala de aula ― […] impõe-se a presença de meios de comunicação diversificados, isto é,

material vídeo, áudio e informático, tanto do ponto de vista dos equipamentos como dos documentos‖ (1988, p. 99). A repercussão metodológica dos meios é colocada em

primeiro plano, procurando-se estimular a comunicação entre professores e estudantes e a diversificação dos discursos e das práticas.

Estes estudos vieram influenciar os programas de execução na Proposta Global da reforma (CRSE, 1988), nomeadamente no que diz respeito a três programas inseridos no plano de organização curricular e pedagógica:

A formação das novas gerações para o mundo da comunicação (programa A5 — Educação e Comunicação);

A introdução das novas tecnologias de informação no sistema educativo (programa A6 — Novas Tecnologias da Informação);

A criação de uma dinâmica pedagógica nas escolas orientada para a inovação e para a criatividade (programa A7 — Dinâmica Pedagógica das Escolas)

No Decreto-lei n.º 286/89, de 29 de Agosto, acerca da reorganização dos planos curriculares afirma-se, no art.º 12.º que “ […] as escolas devem dispor de recursos

educativos necessários, nomeadamente materiais de apoio escrito e audiovisual, bibliotecas, laboratórios, oficinas e meios informáticos" e que "os recursos educativos concentram-se em centros de recursos, de forma a racionalizar a sua utilização pelas escolas‖.

É nesta altura que surge o Projecto Minerva, o qual foi considerado, pelos seus avaliadores como ― […] o primeiro e mais relevante programa de âmbito nacional

organizado em Portugal para a introdução das tecnologias da informação e comunicação (TIC) no ensino básico e secundário‖ (RAPM, 1994, p. 37)

Actualização) teve origem em 1985 com o objectivo de levar à ― […] introdução, de

forma racionalizada, dos meios informáticos no ensino não superior, num esforço que permita valorizar activamente o sistema educativo em todas as suas componentes e que suporte uma dinâmica permanente de avaliação e actualização de soluções‖ (despacho

nº 206/ME/85 de 15 de Novembro).

Para Ponte (1994, pp. 10-14), o projecto desenvolveu-se em três fases:

1985-1988 – Fase piloto, onde se pretendeu formar equipas de dinamização, criar infra-estruturas, identificar pontos estratégicos e operacionais, afinar conceitos e critérios e analisar soluções;

Finais de 1988-1992 – início da fase operacional do projecto, correspondendo a um alargamento do número de escolas envolvidas; 1992-1994 – Encerramento do projecto.

Desta calendarização pode observar-se uma coincidência temporal entre o período de existência do Projecto e o lançamento progressivo da Reforma que abordámos anteriormente.

Este Projecto procurou nortear as suas actividades nas áreas de formação de docentes e de formadores, na criação e exploração de materiais, de que são exemplo software educativo e documentação, na investigação, no apoio ao trabalho dos professores nos ambientes escolares, e na criação de condições para a instalação e utilização de meios informáticos.

Para tal, criou Centros de Apoio Local e Centros Escolares Minerva, com o objectivo de efectuar um trabalho de proximidade e deste modo contribuir para uma renovação de práticas nas escolas.

Na sua fase final, o Projecto Minerva estava implementado directamente em cerca de 140 escolas de todos os níveis de ensino, 40 Centros de Apoio Local e 15 Centros Escolares, interagindo directamente com cerca de 2000 utilizadores distribuídos por Portugal e Macau.

No início dos anos 90, outros projectos apoiados pelo PRODEP (Programa de Desenvolvimento Educativo para Portugal, com a participação da Comunidade Europeia) apetrecharam as escolas em recursos tecnológicos. No entanto, estudos

conduzidos por Silva (1998), Bento (1992) e Moderno (1993) parecem indicar que os resultados não foram obtidos na mesma medida das expectativas criadas: foi possível observar uma evolução quantitativa, mas de uma forma geral as escolas continuaram a não possuir os recursos necessários em termos de equipamento áudio (gravadores / reprodutores de som), projecção de imagem estática (retroprojector), vídeo (gravação e tomada de imagem) e informática (computadores).

Estas percepções parecem ser confirmadas pelos órgãos de gestão das escolas e pelos professores que, em relatórios de avaliação dos programas curriculares, coordenados por Serafini (1991) e Castro (1993) manifestam a opinião, de forma sistemática, que a falta de material e as carências que este provocou no desenvolvimento das actividades constituíram um dos impedimentos a uma implementação com maior sucesso da Reforma.

As décadas de 80-90, também conhecidas pelo período da Reforma Educativa, reforçaram, mais do que em qualquer outro momento da história da educação em Portugal, a integração das TIC no âmbito da actividade pedagógica. Foram, no entanto, tempos que mostraram que uma falta de política adequada na formação de professores, aliada a uma escassez de recursos e de infra-estruturas, assim como de sistemas de actualização e manutenção dos equipamentos, podem ser factor de impedimento dessa integração das TIC e, de forma indirecta, da mudança das práticas dos docentes.