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3.1. CAPÍTULO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITOS E MODELOS

3.1.3. O MODELO DE KINGDON

3.1.3.5. A janela de oportunidades e os empreendedores políticos

Em momentos especiais de convergência (chamados por Kingdon de "janela de oportunidades"), esses três fluxos (de problemas, de alternativas e político) alinham-se de tal forma que há a possibilidade de criação de uma nova política. Esta “janela” permanece aberta por um curto período de tempo, uma vez que é fruto de uma série de circunstâncias momentâneas, e pode (ou não) ser aproveitada. Kingdon (1995, p. 166) resumiu da seguinte maneira essa circunstância: “These policy Windows, the opportunities for action or given initiatives, presente themselves and stay open for only short periods. If the participants cannot or do not take advantage of these opportunities, they must bidê their time until the next opportunity comes along.”.

Os atores que possuem papel fundamental durante a abertura de janelas de oportunidades são os empreendedores políticos, anteriormente citados. Estes podem estar ou não no ambiente governamental. Nas palavras do autor (1995, p. 179-180)

“The enterpreneurs are found in many locations. No single formal position or even informal place in the political system has a monopoly on them. For one case study, the key enterpreneur might be a cabinet secretary; for another, a senator or member of the House; for others, a lobbyst, academic, Washington lawyer, or career bureaucrat.”

A principal qualidade desses atores é sua capacidade de se fazerem ouvir e de negociarem politicamente em diversas esferas, investindo seu capital político de modo persistente. Os empreendedores políticos precisam ser capazes de reconhecer o momento da abertura de uma janela de oportunidades e agir de modo a apresentar uma proposta de política já definida. Quando todas essas circunstâncias convergem, então surge uma nova política pública. Novamente segundo Kingdon (1995, p. 181):

“The qualities of a sucessful policy enterpreneur are useful in the process of softening up the system (...). But enterpreneurs do more than push, push, and push for their proposals or for their conception of problems. They also lie in wait – for a window to open. In the process of leaping at their opportunity, they play a central role in coupling the streams at the window.”

Por fim, ressaltamos que há momentos mais propícios para a ocorrência de janelas de oportunidades, conforme apontado por Kingdon. Um destes momentos, conforme já dissemos, são as mudanças governamentais, quando novas equipes são formadas e podem contribuir com novas visões dos problemas e questões que merecem prioridade na agenda política. Os novos políticos podem ser mais suscetíveis a certas influências que a outras, abrindo assim espaço

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para novos temas e/ou novas abordagens. Um outro momento destacado pelo autor é a elaboração de orçamento, que em geral ocorre anualmente e que também abre espaço para revisões e alterações nas políticas que serão implementadas nos anos seguintes.

Desta forma, o modelo proposto por Kingdon analisa concomitantemente os problemas existentes (e por quais motivos passam a ser considerados problemas que merecem a atenção do poder público); as soluções e propostas (importante notar que a relação aqui não é "problema  solução"; antes, soluções podem existir por muito tempo até que seu problema seja considerado pelo poder público); e o fluxo político (envolvendo atores internos ao Estado, mas também externos - como a mídia, opinião pública, etc.). Quando estes três fluxos convergem, e essa convergência é percebida por empreendedores políticos, então é aberta uma janela de oportunidade (o que nem sempre significa que a política pública, de fato, se materializará).

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3. 2. CAPÍTULO 2 - HISTÓRICO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A SAÚDE

DA CRIANÇA NO BRASIL

3.2.1. O BRASIL E A SAÚDE DA CRIANÇA

A saúde da criança é um tema que tem ganhado maior atenção dos policy makers em âmbito mundial nas últimas décadas. Ainda no ano 2000, a taxa de Mortalidade Infantil (MI) foi um dos indicadores elencados no plano de ação da Organização das Nações Unidas (ONU) conhecido como “Objetivos do Milênio”. Trata-se de um projeto de âmbito global que visa alcançar alguns indicadores que materializariam condições mínimas de dignidade e qualidade de vida ao redor do mundo.

Segundo o relatório mais recente sobre o desenvolvimento humano (PNUD, 2014), o Brasil apresenta, frente a países como Costa Rica e Uruguai, piores resultados relacionados a mortalidade infantil. A comparação é válida por se tratarem de países latino americanos que se encontram no grupo de países considerados de "desenvolvimento humano elevado”5. Podemos destacar ainda do relatório que países como o Uruguai, Cuba e Chile possuem as menores taxas de mortalidade, apenas um dígito, muito embora o Brasil seja mais rico (em termos de Produto Interno Bruto – PIB) que eles. Ou seja, há mais recursos financeiros disponíveis no Brasil; contudo, nosso desempenho quanto à mortalidade infantil é menor, o que indica que os outros países citados podem ter optado por escolhas melhores em relação às políticas aplicadas.

Esses dados levam ao questionamento: o que o Brasil fez (ou deixou de fazer) para que nossa situação em 2012 fosse significativamente pior do que a de outros países latino americanos com nível de desenvolvimento semelhante ou menor? Se o Brasil é o país mais rico

5Os demais países latino-americanos pertencentes ao grupo com IDH elevado que foram analisados na comparação com o Brasil (79º) são: Uruguai (50º), Venezuela (67º), Costa Rica (68º) e México (71º), sendo que o valor apresentado é referente à sua classificação no ranking de desenvolvimento humano. No grupo dos países com IDH muito elevado estão: Chile (41º), Cuba (44º) e Argentina (49º). Com relação a taxa mortalidade infantil por cada mil nascidos vivos (em menores de um ano) e na infância (maiores de um ano até quatro anos, 11 meses e 29 dias) respectivamente, para os países com IDH elevado: Brasil (13 e 14), Uruguai (6 e 7), Costa Rica (9 e 10). MI nos países com IDH muito elevado: Chile (8 e 9), Cuba (4 e 6), Argentina (13 e 14). (PNUD, 2014).

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da região, por que esse poder econômico não se traduziu em melhores índices de mortalidade e qualidade de vida infantis?

A explicação pode estar nas escolhas feitas durante as décadas anteriores acerca das políticas que tratam esse problema. Assim, para indicar possíveis respostas a essa pergunta, é preciso realizar uma análise histórica das políticas públicas brasileiras voltadas para a saúde da criança e seus resultados. Essa análise auxiliará também a compreender o cenário que possibilitou o surgimento de uma política nacional específica para a saúde da criança apenas em meados da década de 2010.

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