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A Língua Padrão nas Normas Gerais de Pronúncia

1. A Pronúncia do Português Brasileiro e do Português Europeu no Canto Lírico

1.2. As Normas de Pronúncia do Canto Lírico no Brasil

1.2.1. A Língua Padrão nas Normas Gerais de Pronúncia

Esta subsecção apresenta o resumo das normas gerais de pronúncia de 1938, através de uma tabela que descreve as características dos segmentos vocálicos. A tabela foi adaptada a partir de conceitos estético e sociolinguísticos vigentes na época, adaptada a partir das descrições de Mariz (2002b) e Stolagli (2010) e fundamentadas nas Normas para a Boa Pronúncia da Língua Nacional no Canto Erudito, ditadas no primeiro congresso da língua nacional cantada.

As vogais de compromisso9, também estabelecidas nas normas gerais de 1938, seguem resumidamente descritas subsequentes a Tabela 1 das vogais.

De acordo com os Anais, citado por Mariz (2002, p. 289), “As vogais são … os sons das palavras, e por isso, devem tomar aproximadamente todo o tempo que duram os sons musicais”. A Tabela 1 está organizada em quatro colunas: na primeira, constam os símbolos ortográficos das vogais do PB; na segunda, as palavras que os símbolos

9 As vogais de compromisso referem-se ao comprometimento que o executante tem em se adaptar

conscientemente às vogais orais e nasais, abertas ou fechadas durante suas emissões no canto lírico, proporcionando maior clareza fonética e melhor aproveitamento sonoro. (ANAIS, 1938).

ortográficos correspondem; na terceira, a classificação dos segmentos vocálicos orais e nasais, 10 e, na quarta coluna, encontram-se as considerações complementares.

10 O som oral é produzido através do fluxo aéreo oriundo dos pulmões em direção à cavidade bucal, tendo o

véu palatino abaixado, podendo ser vozeado, quando há vibração das pregas vocais ou desvozeado, quando não há vibração das pregas vocais. No texto, o termo desvozeado encontra-se como surdo. O som nasal se caracteriza por ser produzido através da ressonância da cavidade nasal. Este traço agrupa as vogais e consoantes nasais e as distinguem das vogais e consoantes orais. (Thais Cristófaro Silva, Dicionário de Fonética e Fonologia, 2011).

Tabela das Vogais Orais e Nasais Símbolo ortográfico Exemplo ortográfico Classificação

da vogal Considerações complementares <a> <má> oral aberto

Quando as vogais orais abertas ocorrerem nos sons agudos e sobreagudos, consiste em fechá-las discretamente.

<a> <da> oral surdo

Artigos, preposições, pronomes ou crases são orais surdas. Nos casos de sons longos, fermatas, finais e vocalizações em que a vogal é surda, mas breve por natureza, é impossível de ser sustentada em seu grau exato de timbre, usa-se o compromisso de fechá-la discretamente nos registros médio e agudo e abri-las no registro grave da voz.

<a> <rã> nasal fechado

Quando as vogais orais e nasais fechadas ocorrem nos sons graves, consiste em clareá-las discretamente.

<e> <fé> oral aberto -

<e> <ipê> oral fechado

As vogais fechadas devem ser aproveitadas no canto erudito brasileiro para maior caracterização do timbre e facilidade de emissão.

<e> <de> oral surdo Em final de palavras soa como <i> surdo <e> <vem> nasal fechado

Este fonema em final de palavra paroxítona e em passagens rápidas internas da frase pode discretamente transformar-se em <e> surdo.

<e> <então> nasal surdo

Usa-se uma vogal de compromisso entre o <e> e o <i>. Em algumas exceções derivadas de <enter>: <êntero>, <ênto>, <êmbola>, <ênlevo>, <ênzóico>, <ênfiteuse> <ẽ>. Quando modificado por consoante anterior, o <e> nasal pretônico soa sempre fechado: <pêntear>, <atênder>.

<i> <vil> oral aberto

Segundo o autor Antenor Nascentes não se percebe diferença entre o <i> aberto ou fechado, porém, a reinvindicação de se manter a diferenciação foi contestada por cantores e outros congressistas.

<i> <cima> oral fechado -

<i> <vim> nasal -

<o> <só> oral aberto -

<o> <cor> oral fechado -

<o> <ato> oral surdo Usa-se uma vogal de compromisso entre o <o> e o <u>.

<o> <som> nasal fechado -

<u> <camundongo> nasal surdo

Usa-se uma vogal de compromisso entre o <o> e o <u>, e também, na palavra <com> e em passagens rápidas.

<u> <sul> oral aberto -

<u> <tudo> oral fechado -

<u> <rum> nasal Usa-se uma vogal de compromisso entre o <o> e o <u>.

Tabela 1: Vogais orais e nasais do PB cantado, segundo as Normas Gerais de 1938. (Adaptado de Mariz, 2002 e de Stolagli, 2010)

Segundo Mariz (2002), as vogais de compromisso são vogais com normas específicas de emissão inseridas nas Normas Particulares, cujas pronúncias o cantor tem o compromisso de adaptar, dando-lhes maior importância durante suas emissões, com o propósito de otimizar a voz, quando estas ocorrem em fermatas, finais de frases ou vocalizações.

A primeira vogal, a vogal <a>, deverá ser usada com o compromisso de fechá-la discretamente nos registros médio e agudo e abrindo-a no registro grave da voz. Como exemplo, a palavra <mas>, que não deve ser nem aberta como é a pronúncia na região nordeste do Brasil e nem fechado da maneira pronunciada em Portugal.

A vogal de compromisso <e> é a mais próxima da vogal de compromisso <i>. O som desta vogal, quando cantado, deverá ser prolongado nos registros médio e grave, e prolongada em todos os registros quando vocalizada. Do mesmo modo, deverá ser feito nos sons em movimentos mais lentos, no início de melodia e de frases depois de pausa, em síncopas ou sons fortemente acentuados e em sons agudos e sobreagudos. Utilizar uma vogal de compromisso equidistante do <e> e do <i> para vocalizações nos sons rápidos em qualquer registro. Nos sons intermediários e em finais de palavras e de frases, a vogal de compromisso <e> deverá estar mais próxima da vogal <i>.

A vogal de compromisso <i> tem sempre seu valor específico no canto da língua-padrão. São rejeitadas a troca do <i> pelo <e>, <dereito, menistro> ou nasalizar o <i>, <inlustre>. Executa-se naturalmente a palavra <muito> em que o ditongo soa nasal.

A vogal de compromisso <o> pode ser aberta, fechada ou nasal. Em geral, em todas as variantes regionais, o <o> tônico aberto ou fechado não há oposições, embora deva ser definida caso a caso. A tendência comum é mantê-lo fechado quando estiver no plural. Nas sílabas pretônicas, quando o <o> inicia a palavra, ele é sempre fechado ou nasal <omitir, ostentação, ondina>. O <o> tônico ou pretônico, como regra geral da língua padrão, aparece sistematicamente sempre fechado e nunca aberto <sôneca, nômade, ôntem, tônico>. Como a voga <e>, o <o> quando apresentado surdo, troca-se pelo <u> ou por uma vogal de compromisso entre o <o> e <u>. É também surdo quando aparece em qualquer sílaba postônica <épuca, módulo>, em síncopas ou em sons fortemente acentuados, em sons agudos ou em fermatas no mesmo registro. Para a vogal de compromisso mais próxima do <o> que do <u>: nos sons longos nos registros médio e grave; em fermatas nos

mesmos registros; nas palavras <com, conforme, como> em sons lentos e moderados. Para a vogal de compromisso equidistante do <o> e do <u>, usa-se em vocalizações e mais próxima do <u> que do <o>, usa-se em sons rápidos em qualquer registro, em sons intermediários em finais de palavras ou de frases em qualquer andamento, e também na palavra <com> em sons rápidos.

A vogal de compromisso <u> não apresenta particularidades, sendo sempre oral ou nasal fechada. Alguns cantores, por vezes, tendem erroneamente a nasalizá-la, conforme descreve Mariz.

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