O primeiro aspecto a destacar é que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação -
LDB 9394/96, diferentemente das legislações anteriores a ela, não faz determinações
especificamente sobre a estruturação dos cursos de pedagogia. Em seu Título VI, a
referida lei trata Dos Profissionais da Educação, partindo da definição de que sua
formação deve se dar “de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e
modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do
interessa aqui, ela determina que a formação de docentes seja feita em nível superior,
em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores
de educação.
No Decreto 3.276/99, o qual regulamenta estas determinações da LDB 9394/96,
consta que as diretrizes gerais para a organização dos cursos de formação de professores
para a educação básica, devem assegurar formação básica comum, distribuída ao longo
do curso, observando as “diretrizes curriculares nacionais definidas para a educação
básica e tendo como referência os parâmetros curriculares nacionais, sem prejuízo de
adaptações às peculiaridades regionais, estabelecidas pelos sistemas de ensino”
(Presidência da República, 1999). De acordo com o item III do artigo 2º do referido
decreto, essa formação deve ser distribuída ao longo do curso, assegurando as
especificidades do trabalho do professor na formação para atuação multidisciplinar e
em campos específicos do conhecimento, por meio da inclusão de habilitações.
Um segundo aspecto interessante de observar é que não há exigência de que
esses cursos de formação sejam em pedagogia, bem como não há definição do que
constitui a formação básica comum ou do que caracteriza as especificidades do trabalho
do professor. Mais relevante ainda é o fato de que a formação em pedagogia só é
exigida para profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção,
supervisão e orientação educacional para a educação básica (artigo 64), permitindo-se
também a formação em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino,
desde que garantida a base comum nacional.
Desse modo, é lícito pensar que a LDB 9394/96, mesmo afirmando que a
experiência docente é pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer outras
funções do magistério (art. 67, parágrafo único), não favorece a constituição desta como
exigências para formação de acordo com o nível de ensino, recriando uma fragmentação
em sua estruturação. Por outro, exige a formação em cursos de graduação em pedagogia
apenas para atuação em funções não-docentes, reiterando a idéia destes como lócus de
formação de especialistas nestas funções.
Entretanto, buscando pelas diretrizes curriculares para o curso de pedagogia, as
quais estão instituídas por meio da Resolução CNE/CP nº. 1, de 15 de maio de 2006,
encontramos um quadro que difere dessas conclusões. De acordo com seu artigo 2º, tais
diretrizes aplicam-se
à formação inicial para o exercício da docência na
Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade
Normal e em cursos de Educação Profissional na área de
serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas
quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos
(Presidência da República, 2006).
Afirma-se a compreensão da docência como ação educativa e processo
pedagógico metódico e intencional, cujas atividades também compreendem participação
na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino. Assim, além do
planejamento, execução e avaliação de atividades educativas, são englobadas atividades
de planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas
próprias do setor de educação e de projetos e experiências educativas não-escolares,
bem como a produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo
educacional, em contextos escolares e não-escolares.
No artigo 6º, determina-se que a estrutura do curso deve ser constituída de três
um de estudos integradores, sendo que o artigo 10º determina a extinção das
habilitações, a partir do período letivo seguinte à publicação da resolução. Desse modo,
observamos o esforço de constituição de uma estrutura curricular que proporcione uma
formação articulada e coesa, com vistas a uma atuação mais ampla do que a sugerida
pelos termos da LDB 9394/96 e mais próxima das elaborações produzidas vinte anos
antes da publicação da referida resolução, nos movimentos sociais contemporâneos da
redemocratização de 1985.
Sobre os profissionais de educação para atuação em administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, o
artigo 14 da resolução afirma que “a Licenciatura em Pedagogia, nos termos dos
Pareceres CNE/CP nos 5/2005 e 3/2006 e desta Resolução, assegura a formação de
profissionais da educação prevista no art. 64, em conformidade com o inciso VIII do art.
3º da Lei nº 9.394/96” (p. 5). O parágrafo primeiro do artigo determina que “esta
formação profissional também poderá ser realizada em cursos de pós-graduação,
especialmente estruturados para este fim e abertos a todos os licenciados” (p. 6). Estes
cursos, de acordo com o parágrafo segundo, “poderão ser complementarmente
disciplinados pelos respectivos sistemas de ensino, nos termos do parágrafo único do
art. 67 da Lei nº 9.394/96” (p. 6).
De acordo com o Parecer CNE/CP nº. 3/2006 (Presidência da República, 2006),
a redação desse artigo e seus parágrafos procura asseverar a observância do disposto no
artigo 64 da LDB 9394/96, reiterando a concepção de que a formação dos profissionais
da educação deve ser baseada no princípio da gestão democrática, superando a idéia de
trabalho em estruturas hierárquicas e burocráticas. Tal parecer esclarece ainda que a
formação para as funções de administração, planejamento, inspeção, supervisão e
pedagogia, uma vez que a concepção da organização escolar como eminentemente
colegiada prevê que todos os licenciados possam ter oportunidade de ulterior
aprofundamento da formação pertinente, no decorrer de sua vida profissional. Além
disso, é reforçada a disposição de que a experiência docente é pré-requisito para o
exercício profissional de quaisquer outras funções de magistério.
Desse modo, fica esclarecido que estamos tratando de funções do magistério,
que diferem da docência sem prescindir desta, cuja formação não é privativa dos cursos
de pedagogia, mas deve ser garantida na estruturação destes. Mais além, de acordo com
os referenciais acerca do processo de municipalização do ensino, são os sistemas
municipais de ensino que, com base nas determinações de nível federal, emitirão
normas e estabelecerão políticas para estruturação dessas funções, bem como da
docência.
Diante disso, buscamos os principais documentos produzidos pela Secretaria
Municipal de Educação de Natal/RN, em que pudéssemos encontrar as determinações
sobre a organização administrativa das instituições escolares, o apoio especializado a
estas instituições, bem como sobre os profissionais que nelas atuam, entre os quais se
encontram os profissionais sujeitos deste estudo.
Desse modo, estivemos estudando um total de quatro documentos, uma lei
complementar, uma lei ordinária e duas resoluções do Conselho Municipal de
Educação, sobre os quais trataremos a seguir.