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Evidências apontam a importância da presença de um acompanhante antes, durante e após o trabalho de parto, demonstrando imensos benefícios para parturiente e bebê. Contudo,

no Brasil, é recorrente que mulheres sejam impedidas de possuírem acompanhantes, principalmente antes e após o nascimento de seus filhos. Relatos dão conta de mulheres que afirmam terem se sentido sozinhas, solitárias e angustiadas, sem informações de seus filhos e desassistidas pela equipe médica do local no qual estavam. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012)

Quando acompanhadas por pessoas com as quais possuem algum vínculo, principalmente afetivo e uma relação de confiança, é possível notar em mulheres com partos normal,

(...) diminuição do tempo de trabalho de parto, (...) controle e comunicação, menor necessidade de medicação ou analgesia, menor necessidade de parto operatório ou instrumental, menores taxas de dor, pânico e exaustão, menos escores de apgar abaixo de 7, aumento nos índices de amamentação, melhor formação de vínculo mãe-bebê, maior satisfação da mulher e menos relatos de cansaço durante e após o parto. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 64)

Já naquelas que tiveram seus bebês por cesárea, os benefícios mais comumente citados foram: “diminuição do sentimento de ansiedade, diminuição do sentimento de solidão, diminuição do sentimento de preocupação com o estado da saúde do bebê, maior sentimento de prazer, auxílio na primeira mamada e maior duração do aleitamento materno” (p. 64). Contudo, ainda que demonstrados os efeitos positivos do acompanhante escolhido pela parturiente, muitos profissionais de saúde e até mesmo hospitais não permitem a presença de pessoas estranhas à equipe médica. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012; AGUIAR, 2010)

No Brasil, a Lei Federal nº 11.108, de 7 de abril de 2005, que dispõe exatamente sobre as garantias às parturientes do direito à presença de acompanhante “durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS” (BRASIL, 2005, on- line), modifica a lei do SUS para obrigar a permissão da presença de acompanhante indicado pela parturiente. Porém a lei não traz qualquer sanção para os serviços de saúde que infringirem o que ela própria dispõe.

A prática é encarada como violência obstétrica de caráter constitucional, com viés, principalmente, psicológico, mas também facilitando a ocorrência de outras violências de caráter físico e sexual e facilitando até a prática de estelionato, uma vez que mulheres em trabalho de parto são reconhecidamente mais vulneráveis e, quando sozinhas, se sentem ainda mais frágeis, tendo que confiar apenas na equipe médica que as acompanha, mesmo que não conheça nenhum dos profissionais de saúde ali presentes. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012; AGUIAR, 2010)

São diversos os argumentos para negar a presença de acompanhante para mulheres nas maternidades brasileiras, o dossiê “Parirás com Dor” (2012) cita as mais comuns como sendo: “o anestesista não deixa entrar”, “não tem estrutura para isso”, “aqui é sus, não tem luxo não”, “se quiser, pode pagar para ter, aí paga tudo particular”, “essa lei só vale para o sus, aqui é particular”, “o hospital tem suas próprias regras”, “só pode acompanhante durante o horário de visita” e ainda “a norma do hospital não permite acompanhante para quem não paga quarto.” (p. 65).

Em instituições públicas e conveniadas, a lei é constantemente descumprida sob o argumento de que possuir acompanhante é um privilégio da parturiente ou ainda sob a alegação de desconhecimento do dispositivo. Além disso, afirmam que as salas em que as mulheres ficam em seus trabalhos de parto são cheias e que as parturientes ficam constantemente sem roupa e gritando. Logo, a presença masculina tiraria a intimidade das mesmas, bem como a presença de qualquer outro indivíduo poderia assustá-las. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012)

Quando aos estabelecimentos privados, chamam atenção aqueles que se aproveitam de uma brecha na lei para descumpri-la. Muitos estabelecimentos negam acompanhantes quando na admissão das parturientes e, quando contestados com o dispositivo de lei, afirmam que a mesma só vincula as instituições públicas ou vinculadas ao SUS, não se aplicando às instituições privadas. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012) As alegações mais constantes dizem ainda que o hospital privado possui uma legislação própria vigente que se impõe como superior ao disposto em lei federal ou apenas que os profissionais de saúde não permitem a presença do acompanhante sem explicar os motivos exatos para tal, conforme se vê:

“Prezada Senhora,

Acusamos o recebimento de sua correspondência, e esclarecemos que a legislação questionada, Lei 11.108 de 07 de abril de 2005, vale somente para hospitais do SUS, conveniados ou credenciados. Informamos que o Hospital Unimed é uma empresa privada, que não faz parte do Sistema Único de Saúde, seja por credenciamento, seja por convênio. Assim sendo, o Hospital Unimed Limeira não se enquadra na referida Lei, possuindo regra e normatização própria, que prevê a possibilidade, do esposo acompanhar o parto, desde que tenha participado do Curso de Gestante oferecido pela Unimed Limeira. Diante do exposto acima, contamos com a sua compreensão e permanecemos a disposição para outros esclarecimentos necessários.

Atenciosamente, Dr. João Luís Zaros - Diretor Superintendente. Unimed Limeira, 13 de junho de 2011” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 67)

“Quando o médico chegou, pedi para deixar o meu marido entrar. Ele não quis deixar, mas meu marido estava com o papel da Lei que permite acompanhante no parto e ele mostrou para o médico. O médico se virou para o meu marido e disse ‘Então eu vou embora e você faz o parto’.” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 65)

“Entrei em contato com a Maternidade e me informaram que não conhecem a lei que dá o direito ao acompanhante no parto e por isso a maternidade não permitirá acompanhante na hora do parto.” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 69)

A referida lei traz que o acompanhante deve permanecer junto à mulher no pré-parto, no parto e no pós-parto imediato. Quando ao termo “pós-parto imediato” compreende os 10 primeiros dias após o parto, de acordo com a Portaria nº 2.418/05 do Ministério da Saúde. Ou seja, a mulher deve estar acompanhada de alguém de sua confiança mesmo que fique internada até por 10 dias, no mínimo, o que na prática não acontece. Para cooperar com a inobservância da lei de acordo com a referida portaria do MS, a Resolução Normativa nº 211 da Agência Nacional de Saúde (ANS) define que “entende-se pós-parto imediato como as primeiras 24 (vinte e quatro) horas após o parto” (on-line), em seu artigo 19, §1º, o que claramente restringe os direitos das mulheres. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012)

A Rede Parto do Princípio (2010), demonstra que muito comumente existem restrições quanto à pessoa que deve acompanhar a mulher, mesmo sendo escolha da própria, sendo dito que “só pode entrar se for mulher”, “só pode entrar se for o pai”, “só pode entrar se for da família” e até “só pode entrar se for profissional da área médica” (p. 65).

Muitas mulheres se queixam de permanecer sozinha por horas aguardando alguém que tenha as características exigidas pelo hospital em que se encontram:

“Apesar de ter sofrido uma cesárea, meu marido não conseguiu ficar como acompanhante, pois o serviço só permitia acompanhante mulher. Fiquei algumas horas sozinha até uma acompanhante mulher chegar. Durante o pós-parto imediato, e apesar de estar sofrendo vários desmaios, o hospital proibiu a permanência da acompanhante depois de 24h por protocolo da instituição.” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 66)

Outra restrição muito comum diz respeito ao tempo de permanência do acompanhante. Enquanto a lei é bem clara quanto à presença do mesmo “no pré-parto, no parto e no pós-parto imediato”, os hospitais e profissionais constantemente impedem essa presença, limitando-a apenas ao momento do parto ou, mais absurdo ainda, afirmando que só podem acompanhantes durante o horário de visita, como no relato:

“Consegui ter acompanhante no parto. Mas como meu plano era enfermaria, tive acompanhante só por 24h após o parto, depois disso só nos horários de visita, uma hora pela manhã e uma hora pela tarde.” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 72)

Acerca da imposição de acompanhante somente em horários de visita, é importante frisar que constitui o grau máximo de desrespeito à lei, uma vez que acompanhante é tratado

em lei própria como garantia da mulher como auxílio para o parto, enquanto às visitas não. A presença do pai ou outro membro da família quando no nascimento é, inclusive, também assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, até como garantia de respeito ao próprio recém-nascido e, portanto, menor de idade, uma vez que a mãe pode, muitas vezes, não ter condições físicas e até mesmo psicológicas para dar os devidos cuidados ao mesmo. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012)

Nos hospitais privados, como dito, constantemente é dito que a lei só serve para hospitais ligados ao SUS ou apenas para quem “paga quarto” ou “tem plano de quarto privativo”, sendo informado que “não pode ficar acompanhante com quem tem acomodação de enfermaria ou quarto coletivo” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 66). A dificuldade revela a violência psicológica por ser mantida distanciada de qualquer pessoa que venham a confiar:

“Sou mãe solteira de gêmeos. Não foi fácil conseguir ter minha irmã como acompanhante, pois o hospital alegou que o direito à escolha do acompanhante é somente para o SUS. Consegui uma carta de uma psicóloga dizendo da importância de um acompanhante e os venci pelo cansaço.” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 66)

Há ainda a restrição com o argumento de que só se pode ter o acompanhante quando o parto for normal ou se for ser realizada uma cesárea na mulher. Muito espertamente, alguns hospitais se utilizam do fato de que, oficialmente no Brasil, a cesárea é um subtipo de parto. Logo, por ser uma cirurgia, a lei do acompanhante não faria menção à ela e a mulher que passaria pelo procedimento não estaria coberta pela mesma. No caso de ficar internada em blocos cirúrgicos, o que comumente ocorre em cesariadas, não haveria também previsão de acompanhante em tempo integral.

“Imprimi a lei e levei para o meu médico ver. Mas ele leu e disse que não tem nada na lei [Lei Federal 11.108/05] escrito cesariana. Ele disse que o direito é só para parto e por isso eu não vou poder ter acompanhante na cesariana.” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 67)

Alguns médicos afirmam que os acompanhantes das pacientes, o Ministério Público, quando tenta fazer a lei ser cumprida, e a própria ANS, quando recomendou a presença do acompanhante, estariam lhes retirando as suas autonomias. Indo mais além, afirmam que estariam ferindo o Código de Ética Médico, por interpretarem que o acompanhante seria pessoa leiga em bloco cirúrgico (no caso da cesárea) e que só o médico teria competência para permitir ou não a entrada do mesmo no ambiente. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012)

Importa ressaltar que acompanhante em tempo integral também demanda gastos de hospitais, principalmente os privados, uma vez que tem que ser fornecidas todas as refeições, como café da manhã, almoço e jantar. Além disso, os acompanhantes também têm que adotar procedimentos específicos para o controle de infecção hospitalar, como vestes higienizadas, utilização de touca e máscara, o que têm que estar à disposição dos mesmos, bem como adotar movimentação restrita dentro da sala cirúrgica ou de parto, o que faz com que os hospitais tenham que reservar um espaço para que os acompanhantes permaneçam junto às parturientes. (DUARTE, 2015)

Por vezes, os próprios seguranças impedem a presença dos acompanhantes, não os deixando entrar com a promessa de que poderão depois ou até mesmo retirando-os dos quartos das recém-mães que se veem sozinhas com seus bebês, exaustas após uma cesariana ou um trabalho de parto intenso e cansativo:

“O segurança entrou no quarto e retirou meu marido de lá. Fiquei sozinha durante a madrugada depois do nascimento de nosso filho porque o hospital impõe limite nos horários.” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 69)

Os profissionais de saúde também acabam por reconhecer a importância do acompanhante, afirmando que estes têm um papel importante quanto à alegações de possíveis violências sofridas, quando podem testemunhar o tratamento que é dado às pacientes, como destacado por este obstetra:

“O acompanhante é a sua melhor testemunha. ‘Você viu como eu tratei ela?’, ‘Você viu como eu examinei?’. Isso é a melhor coisa. Talvez por isso as coisas tenham melhorado.” (AGUIAR, 2010, p. 183)

Observa-se que os próprios obstetras, ao terem os acompanhantes como possíveis testemunhas para o tratamento que dão às pacientes, demonstram “o quanto parecer ser comum para alguns profissionais a possibilidade de ocorrência da violência institucional” (AGUIAR, 2010, p. 118). Alguns defendem que a presença do acompanhante inibe a ocorrência de violência, pois os próprios acompanhantes defendem as parturientes; outros afirmam que o acompanhante é reconhecidamente benéfico para o trabalho de parto, uma vez que traz conforto à mulher, auxiliando também a manter a calma e poder observar a todas as mulheres que, porventura, necessitam de atenção, conforme se vê a partir dos relatos de um obstetra e de uma enfermeira:

“Aqui há quinze, dezessete, dezoito anos atrás era pior e eu via muita coisa pior. Hoje elas reclamam: ‘Não me trate assim’. (...) Consegue se defender. Ou então um acompanhante, um outro médico [as defendem].” (AGUIAR, 2010, p. 158)

“eu vou te falar que o gritar é uma coisa que incomoda muito. Você imagina que você tem 5 pacientes num pré parto e as 5 resolvem gritar e você sabe que é uma reação em cadeia né, a gente tenta deixar as pacientes o mais calmas possíveis, ‘você quer que chame alguém? Você quer que chame o acompanhante teu? Você quer ficar lá fora um pouco, com sua família?’ a gente tenta até pela... você imagina 8 horas de trabalho de parto, 8 horas uma mulher gritando ali?” (AGUIAR, 2010, p. 137)

Quando não ferem a lei de forma direta, não permitindo a presença de acompanhantes por qualquer um dos motivos que geralmente alegam, algumas instituições cobram taxas para permitirem a entrada e permanência dos acompanhantes. A existência dessas taxas, por vezes, é informada durante o pré-natal, com a justificativa de que pode ser parcelada durante a gestação. Já algumas maternidades cobram à vista no momento da internação, afirmando que é cobrança comum relativa a “taxa de paramentação” para fornecer as vestimentas necessárias para o acompanhante.

“A maternidade alegou que no SUS não pode ter acompanhante. Mas se eu quisesse muito, eu poderia pagar o parto todo particular para ter acompanhante no pré-parto, parto e no pós-parto e dividir o valor durante a gestação. Disseram que é só mil e quinhentos reais. Mil e quinhentos reais para ter o acompanhante, entendeu?” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 70)

Antes mesmo de nascer, um choro rasgava o silêncio do hospital esperança. Era madrugada. Aos prantos, Gustavo, pai do pequeno Marcos lamentava a falta de R$ 300,00 para acompanhar o parto do seu filho. Gustavo não pôde acompanhar o nascimento porque não tinha dinheiro para pagar a taxa exigida pelo estabelecimento. (ABREU, 2009 apud REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 73)

Alguns planos de saúde ousam informando que para o caso de gestação e parto coberto por eles, o acompanhante só seria permitido para os planos mais caros, enganando mulheres e familiares que, por não terem conhecimento acerca da previsão de acompanhante para todas as modalidades, acabam por pagá-los. O medo é de estarem sozinhas nos hospitais e não terem a devida atenção durante as fases do parto e logo após o mesmo, sofrendo negligência dos profissionais de saúde que as atendem.; (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012) (AGUIAR, 2010)

A negativa da presença do acompanhante ou a permissão mediante cobranças de taxas fere diretamente a única lei federal existente que se propõe a preservar a parturiente do sofrimento da violência obstétrica institucional e que intenta ainda proporcionar conforto e tranquilidade, por reconhecer que uma vez acompanhadas de pessoas de sua confiança, as

mulheres se sentem mais à vontade para que o parto flua de forma mais calma, bem como a recuperação tanto do parto normal quando da cirurgia cesárea se dê mais facilmente. Além disso, previne também do acontecimento das tantas outras violências já citadas. (AGUIAR, 2010)

A violação deste direito garantido por lei demonstra a “negligência na atenção à paciente quanto às suas necessidades de acolhimento familiar nesse momento” (AGUIAR, 2010, p. 155) de extrema fragilidade e vulnerabilidade, o que aponta ainda para a banalização do sofrimento daquelas mulheres que estão prestes à terem filhos ou acabaram de tê-los:

“Eu fui na ambulância e minha mãe foi comigo. Só que lá não podia ficar ninguém, minha mãe ficou pro lado de fora e aí eu subi, é tipo uma casa, um prédio, aí eu subi e minha mãe ficou lá fora. Aí o guarda falou assim pra minha mãe: “Ou você vai embora ou você vai dormir aqui na rua, aqui não pode ficar”, aí minha mãe foi embora e eu fiquei lá. (...) fiquei numa sala eu e mais uma moça, só que tipo assim, praticamente abandonada, né. E não tinha enfermeira, tinha uma enfermeira só, ela sumia, depois voltava e uma médica. E numa salinha, era pequenininha, eu de um lado e ela do outro. Aí a médica vinha, fazia o toque, né, mandava eu fazer força, eu fazia, e parece que ela tava... Enfiava a mão toda, a mão, o braço todo na gente, né, no toque. Aí ela: “Faz força”, aí eu fazia força, [e a médica dizia]“Ah, sabia que estava vindo sofrer” (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 156)

A importância do acompanhante é ainda maior para o caso das adolescentes em trabalho de parto ou para aquelas que estão prestes a ter seus primeiros filhos, por ser comum o medo do desconhecido, o que aumenta a angústia e o nervosismo, causando transtorno inclusive para os profissionais de saúde que tentam auxiliá-las:

“porque eu não sabia como que era a dor. Pra mim, então, era muita dor, era muita dor (...) e eu não tinha ninguém perto de mim, não tinha minha mãe, não tinha ninguém, então pra mim foi horrível (...) Por eu ser... ter dezessete anos, então eu era muito nova, então eu fiz muito escândalo. Fiz mesmo. Gritava, chutava. Todo mundo quando chegava, eu saía chutando. E então eles perderam a paciência comigo (...) Não sabia como é que era. Eu fiz muito escândalo. (...) Deixaram eu largada e jogada. Falavam que na hora de fazer ninguém... Eu não tava gritando, né, e agora tá gritando porquê? Falava assim: “Ah, agora tá gritando porque? Na hora que tava fazendo tava bom, né, e não tava gritando, porque agora tá gritando?”. Aí que eu gritava mais ainda, aí que eu chorava. (...) Eu me senti maltratada lá. Por isso, porque por eu ser nova e não saber das coisas tinham que ter mais paciência comigo, né, e explicar. Mas não, era tudo grosso mesmo.” (AGUIAR, 2010, p. 157)

Contudo, segundo Aguiar (2010), mesmo na presença de acompanhantes, as parturientes também sofrem violência, sedo infantilizadas, ouvindo frases de cunho grosseiro e sendo ignoradas quando se queixam de dores durante o trabalho de parto e até mesmo após. Ocorre que qualquer pessoa que venha a acompanhar as mulheres em trabalho de parto, geralmente também se sente coagida a respeitar a relação de poder existente no ambiente, se

sentindo inferior com relação aos profissionais de saúde ali presentes e também temendo serem retiradas do ambiente ou, no caso de questionarem qualquer tratamento, acabarem piorando a hostilidade com relação a parturiente. (AGUIAR, 2010; REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012) Seja como for, a Lei 11.108/05 é constantemente ferida e muito disso se deve à falta de punição para aqueles que a descumprirem. De qualquer forma, a vulnerabilidade das mulheres é claramente demonstrada. Seja sem acompanhante ou com acompanhante, após recorrer ao Ministério Público ou à polícia, as mulheres têm medo de serem atendidas e sofrerem nas mãos daqueles que deveriam lhes cuidar.

Na falta de sanção ás instituições e profissionais que descumprem o determinado, muitas mulheres recorrem ao Ministério Público ou acionam a polícia quando impedidas de entrarem com acompanhantes nos hospitais, mesmo quando em trabalho de parto. Outras relatam que acabam se esquecendo ou não têm forças para argumentar devido á fragilidade do momento ou porque têm medo de sofrer retaliações durante o atendimento por terem recorrido a polícia ou à justiça para manter um acompanhante durante suas estadias nos hospitais. (AGUIAR, 2010; REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012)

Alguns familiares de gestantes, inclusive, não sabem a quem recorrer quando as instituições se negam a permitir acompanhantes, realizando uma verdadeira peregrinação para ter informações acerca da eficácia da lei frente à ANVISA, às vigilâncias estaduais e municipais, aos planos de saúde e até ao próprio Proteção ao Consumidor (PROCON), sem, contudo ter suas dúvidas esclarecidas:

“Apesar de ter a Lei 11.108/05, a RDC 36 a RN 211/ANS impressas em mãos, a acompanhante da gestante foi barrada para entrar com alegação de que a norma do hospital não permite acompanhantes, mas que seria possível caso houvesse pagamento de uma taxa. Decidi comunicar à ANVISA, mas me repassaram para a Vigilância Estadual, depois para a Municipal que alegou que a demanda não era com eles e não saberia para onde me repassar. Liguei para ANS, porém me informaram que eu deveria passar primeiro pela operadora do plano. O SAC da Unimed estava com algum problema e não realizava o envio da mensagem. O PROCON municipal não possuía informações sobre essa questão, e ficaram de dar resposta depois.” (REDE PARTO