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A LEITURA PELA TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NA LÍNGUA

3 A LEITURA PELA TEORIA ENUNCIATIVA DA ARGUMENTAÇÃO NA

3.7 A LEITURA PELA TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NA LÍNGUA

Após ter sido feita a apresentação da Teoria da Argumentação na Língua, mostrando- se o caminho teórico evolutivo, os pressupostos, considera-se que é possível traçar um conceito de leitura pela TAL. Conceito esse que será utilizado nas análises de texto e reflexões sobre a leitura proposta em livros didáticos de ensino de inglês. Para a definição de leitura, será preciso considerar elementos como leitor, autor, texto, sob uma perspectiva Semântico-Argumentativa.

Pode-se entender que ler, pela TAL, é compreender o sentido que deriva do lingüístico, que está inscrito na língua. Para que seja possível essa compreensão, é preciso observar as relações entre as palavras e expressões, entre as frases e entre discursos. Assim, a leitura se dá a partir de um discurso produzido por um locutor para um interlocutor, sendo a língua um lugar de encontro para os indivíduos.

Como Ducrot diferencia discurso de texto, e toma texto como um construto teórico, e discurso como observável - com o encadeamento de enunciados, é possível pensar a leitura como a compreensão de discursos. Lê-se o discurso produzido. A TAL não toma por seu objeto de estudos a produção dos enunciados, ou seu processamento. O foco da TAL é o estudo do discurso, a fim de procurar a compreensão do sentido contido no lingüístico. No entanto, essa compreensão não significa apenas uma decodificação das palavras, e sim uma real compreensão do que essas palavras representam e de quais relações estão estabelecidas por elas no discurso.

O leitor, como sujeito, não é considerado objeto de estudos pela TAL, cabendo a outras áreas a compreensão de seus aspectos psicológicos, cognitivos, afetivos. Pela TAL, como teoria enunciativa, há um alocutário do discurso. Esse pode ser identificado por marcas lingüísticas utilizadas pelo locutor, no entanto, não se trata de um ser real no mundo, mas de um ser discursivo também. Por exemplo, pode-se dizer que um discurso tenha sido produzido para professores no dia quinze de outubro, no entanto, essa afirmação decorre do

reconhecimento de marcas lingüísticas e não se identifica no mundo os seres reais, mas uma representação desses.

A TAL estuda o discurso enunciado pelo locutor, analisando-se os enunciados para chegar ao sentido. Por isso, o autor, enquanto sujeito no mundo, equivale ao sujeito empírico de Ducrot, e não é objeto de estudos da TAL. Não há um estudo dos aspectos psicológicos, ou da biografia do autor, para se atribuir sentido ao discurso que fora produzido pelo autor. Ocorre um estudo do discurso, considerando-se o locutor como produtor do discurso, como o ser discursivo, buscando-se nos enunciados as relações semânticas que levem à construção do sentido, e também as marcas lingüísticas que permitam a análise polifônica da enunciação.

Assim, ler os enunciados produzidos por um locutor implica na análise dos enunciadores presentes nesse discurso, e na compreensão da relação do locutor com esses enunciadores, verificando qual enunciador é assimilado pelo locutor e quais são as atitudes assumidas pelo locutor em relação aos enunciadores em seu discurso, para apresentar seu ponto de vista, para argumentar. Assim, ler é reconhecer o(s) ponto(s) de vista do locutor e compreender a argumentação do locutor.

A concepção de leitura pela TAL, ao ser transposta para o ensino da linguagem, pode modificar toda uma forma de abordagem e concepção de entendimento do discurso pelo professor. Ao estudar o discurso, seguindo a terminologia e os conceitos da TAL, o professor busca no lingüístico a compreensão primeira do sentido, por meio das relações estabelecidas nos enunciados e entre enunciados. A partir dessa análise, do discurso escrito ou oral, é possível uma aproximação do alocutário do sentido construído pelo locutor em seus enunciados. Conseqüentemente, o alocutário compreende o locutor por meio do discurso, da língua.

Quando o lingüístico não for suficiente em si para a compreensão, essas lacunas podem ser preenchidas com informações contextuais, porém, essas devem ser evocadas e permitidas pelo lingüístico. O trabalho com o discurso terá o movimento de ir do lingüístico para expressar subjetivamente o entendimento do mundo e do outro.

A leitura pelo lingüístico é fundamental para a compreensão do discurso, e após essa compreensão, outras abordagens do texto se fazem possíveis. Uma delas é a da criação de outros discursos, em que o alocutário irá se transformar em locutor, assumindo pontos de vista próximos ou distintos do que foi lido para argumentar.

Após essa revisão teórica e a apresentação de um entendimento de leitura pela TAL, pensa-se que é importante mostrar uma aplicação da teoria à leitura de discursos. Para isso, no

próximo capítulo, desenvolver-se-á uma metodologia que leva em consideração os pressupostos da TAL e o entendimento de leitura e do ensino de língua inglesa, para a análise da construção de sentido em discursos em língua inglesa. Far-se-á, com essa base teórica, um estudo das questões propostas nos livros didáticos dos quais os discursos foram selecionados.

4 METODOLOGIA E ANÁLISES

A presente análise conta com seis textos e suas respectivas propostas de leitura, retirados de três livros didáticos14 de inglês do ensino médio, publicados após o ano de 2002. Esses livros didáticos foram selecionados de acordo com sua atualidade e por serem distribuídos aos professores em escolas. Assim, considera-se que esse material é de conhecimento dos docentes de LE e utilizado por esses para prepararem suas aulas. A análise dos textos visa mostrar que pela TAL é possível estudar o funcionamento da linguagem a partir do lingüístico e apreender o sentido construído por um eu, que faz uso da língua para interagir com o outro. Os textos abrangem vários gêneros, a fim de verificar a leitura pela TAL.

Dividiu-se a análise em duas etapas, uma primeira, que tem por objetivos avaliar, sob a perspectiva argumentativo-enunciativa, as propostas de leitura e os exercícios dos LDs sobre os textos selecionados. Essa etapa mostra na prática como é abordada a leitura e a teoria adotada pelo livro didático.

Como segunda etapa, propõe-se a análise dos textos pela TAL, a fim de explicitar como o sentido é construído nos textos e apresentar uma leitura argumentativo-enunciativa aos professores de língua inglesa.

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