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Capítulo II As matrizes de Tolkien

2.3 A Lenda de Sigurd e Gudrún

Os poemas das sagas de Sigurd e Gudrún estão presentes nos Eddas,47

Outro documento é o Codex Regius, com uma cópia do século XVII, porém com referências a um conjunto de poemas, mais antigos que a prosa de Sturluson, que contém elementos mais mitológicos que heroicos. Chamado Edda poética, ou Edda antiga, esse documento foi primeiramente atribuído a um sacerdote cristão da Islândia, Saemund, o Sábio

conjunto de poemas heroicos da mitologia escandinava. Os documentos que registram essa mitologia estão no Museu de Copenhague, na Dinamarca. O primeiro documento é chamado de Edda em prosa, ou Edda menor, e possui um autor reconhecido, Snorri Sturluson (1179-1241). Nesse documento podemos encontrar uma tentativa de estabelecer uma síntese das Escrituras bíblicas com uma compilação da mitologia escandinava. Oriundo da Islândia, o autor e confesso cristão, foi político erudito. Em sua obra, a ênfase está no processo de poder e autoridade na mitologia nórdica, ressaltando o perfil dos líderes e heróis, em contraponto com sua relação com os deuses e as tarefas destinadas a eles.

46 Chaucer was a great poet, and by the power of his poetry he tends to dominate the view of his time taken by

readers of literature. But his was not the only mood or temper of mind in those days. There were others, such as this author, who, while he may have lacked Chaucer’s subtlety and flexibility, had, what shall we say? – a nobility to which Chaucer scarcely reached.

(1056-1133), embora as críticas literárias posteriores rejeitassem a hipótese (TOLKIEN, 2010).

Atualmente, Edda poética é datado de entre os séculos X e XI, com sua primeira referência documental ao século XIV. De qualquer forma, o Edda maior, ou Edda poética, possui uma descrição mais centrada nos deuses nórdicos, a cosmogonia e a teogonia, as batalhas contra os gigantes e os monstros gerados por estes. Esse período os historiadores atribuem à era viking (800-1066 d.C.) na Escandinávia, caracterizada pela invasão do continente europeu, e também da Inglaterra, pelos povos da Noruega, Finlândia e Dinamarca, e posteriormente da Islândia, colônia escandinava (LANGER, 2009b).

O contraponto dos poemas ditos eddaicos são os poemas produzidos pelos skalds, ou poetas, compositores que surgiram depois da estabilização das cortes escandinavas, após a era viking. Marcados fortemente pela influência continental europeia, os poemas escáldicos possuem uma reduzida carga mitológica, ressaltando os heróis apenas por sua bravura e coragem, seja pela crescente cristianização, que afastava a legitimidade do paganismo, seja pelo interesse da aristocracia em promover sua própria legitimidade, independente dos deuses e heróis lendários (TOLKIEN, 2010).

O manuscrito datado do século XIII encontrado na Escandinávia, a Saga dos

Volsungos (TOLKIEN, 2010), faz referência aos Eddas, tanto de Sturluson quanto o Edda antigo. É um texto em prosa que narra as aventuras da família dos volsungos presentes nas duas Eddas, e considerado o grande drama dinamarquês. O poema germânico A canção dos

nibelungos, datado do século XIII, com muitos paralelos aos poemas escandinavos, traz fundamentalmente a mesma narrativa com nomes diferentes, mas simbolizando os mesmos cenários e personagens. A ópera O Anel dos Nibelungos de Richard Wagner, do século XIX, reflete também a mesma narrativa dos poemas escandinavos e germânico. Da mesma forma, os personagens Sigurd e Gudrún são protagonistas da Saga dos Volsungos (STURLUSON, 2006), unificando assim a matriz narrativa da qual Tolkien se inspirou para tecer seu poema.

O trabalho de Tolkien A Lenda de Sigurd e Gudrún (2010) é inspirado tanto nas Eddas quanto na prosa da Saga dos Volsungos. Publicado postumamente em 2010 por seu filho Christopher Tolkien, é citado em cartas desde 1951 (TOLKIEN; CARPENTER, 2006), e provavelmente foi escrito durante os anos quarenta.

Apesar de não ser um trabalho científico, como a análise de Beowulf e a tradução e análise de Sir Gawain and the Green Knight, consideramos esses poemas como exemplos da perícia filológica de Tolkien, que além de escrever os poemas inspirados nos textos

escandinavos e islandeses, também teceu os comentários e estudos sobre tais textos. De qualquer forma, a pertinência desse trabalho neste capítulo se justifica por demonstrar a erudição do autor, ao mesmo tempo em que, através de mais um exemplo, já direciona para uma unificação entre o estudo filológico e a criação mitopoética.

O livro editado por Christopher Tolkien traz uma Introdução à Edda Antiga, por J.R.R. Tolkien, além dos poemas A Nova Balada dos Volsungos e A Nova Balada de Gudrún, além de comentários e apêndices de Christopher Tolkien sobre os trechos e estrofes dos poemas, num estudo comparativo entre os poemas de J.R.R. Tolkien e as narrativas eddaicas e das sagas históricas.

Como referência histórica, o livro As Religiões que o mundo esqueceu (2008), possui um capítulo sobre os vikings e sua mitologia, escrito pelo historiador Johnni Langer, e do mesmo autor o livro Deuses, Monstros, Heróis – ensaios de mitologia e religião viking (2009b) traz elementos e informações para as reflexões históricas e simbólicas dessa matriz estudada por Tolkien. O livro de Carmen Seganfredo As melhores histórias da Mitologia

Nórdica (2007) traz uma versão em prosa dos poemas eddaicos. A versão da Edda em prosa de Snorri Sturluson consultada foi a publicada em 2006, traduzida para o inglês por Arthur Gilchrist Brodeur em 1916.

O texto de Tolkien sobre os volsungos está dividido em uma introdução mais nove poemas, que narram desde a criação do mundo na mitologia nórdica até a morte de Sigurd e a trágica contenda entre Brunild e Gudrún. O poema de Gudrún se estende das ações da jovem viúva desde o funeral de seu marido Sigurd até sua própria morte ao se lançar no mar.

O primeiro poema de A nova balada dos Volsungos, Uphaf (Início), trata da criação do mundo. Estabelece a descrição do Caos como princípio de tudo. Sem céu, nem mar, nem terra, apenas uma grande voragem. Desse caos surgem três reinos: o Ginnungagap (o Grande vazio), um abismo situado entre o Musspell (o reino do fogo) e Niflheim (a Terra da Neblina) (SEGANFREDO, 2007). Da relação entre esses reinos surge um enorme bloco de gelo, do qual nascem o gigante Ymir e a vaca Audhumla. Ymir geraria todos os gigantes, enquanto Audhumla revelaria outra criatura oriunda do gelo, Buri, que foi a progenitora dos deuses (STURLUSON, 2006; LANGER, 2009a).

Com o surgimento da raça dos deuses, começam os combates com os gigantes. Os deuses matam Ymir e constroem o mundo com seus ossos, sangue e carne. Odin, Thor, Heimdall, Frey e Freya reinam em Asgard, a morada dos deuses, e criam os homens, que moram em Midgard, a Terra Média. Outras criaturas são encontradas no corpo de Ymir, como

os elfos, seres sublimes e terríveis, ao mesmo tempo elevados e poderosos, e como os anões, diminutos, presos ao subterrâneo, hábeis construtores e forjadores, conhecedores dos segredos da terra, obstinados e resistentes (SEGANFREDO, 2007).

O primeiro poema termina com a profecia de Völva, a sábia, a sibila, a profetisa. Nessa profecia, aparece o Ragnarok, o crepúsculo dos deuses, onde finalmente Surtur, o grande demônio do fogo de Musspell, destruirá tudo, e todos os deuses tombarão, quando finalmente os heróis mortos durante as eras dignos de serem trazidos pelas valquírias ao Valhalla, o grande palácio de Odin, o rei deus, poderão lutar a última vez, mesmo sabendo que tombarão na derradeira batalha.

Finalmente, após o crepúsculo dos deuses, existe o retorno de Balder, o mais belo entre os deuses, e a sobrevivência de Vidar, o filho justo de Odin, e também de Magni, filho de Thor, juntamente com um casal humano, Lif e Lifhtrasir, que sobreviveu se escondendo na casca de Yggdrasil, a árvore que sustenta os nove reinos que tombará no Ragnarok. Esses sobreviventes, deuses e homens, poderão repovoar os novos céus e as novas terras que surgirão (STURLUSON, 2006). Aqui Tolkien segue a versão que se aproxima do cristianismo e do apocalipse, nem sempre considerada parte originária da mitologia (LANGER, 2009a).

No segundo poema, Andvari-Gull (O ouro de Andvari), é narrado o encontro de Ódin, Loki e Hoenir com o anão Otr, transformado em lontra. Nesse relato, os três deuses estão caminhando perto do rio Andvari, em busca de descanso e alimento e, ao encontrarem o rio, matam uma lontra, que na verdade era o anão Otr, filho de Hreidmar.

Depois de retirarem a pele da lontra, saem do rio em busca de abrigo, e encontram uma casa de anões. Nessa casa moram Hreidmar, o mestre anão em sua forjaria, e também seus filhos Regin e Fafnir. Os três deuses, ao solicitarem hospitalidade dos anões, se espantam ao perceberem que Hreidmar reconhece a pele da lontra como a pele de seu filho Otr. Diante de tal ofensa irreparável, os deuses são acuados em sua dívida, e Odin exige que Loki, o assassino, repare o mal causado.

Assim, Loki parte para Ran, terra da deusa do mar, e encontra o anão Andvari, do mesmo nome do rio, conhecido por sua riqueza. Após capturar Andvari, Loki exige seu tesouro, e o anão indefeso não tem outra saída a não ser ceder ao deus. Porém, após ter recebido tudo, Loki percebe um pequeno anel de ouro nas mãos de Andvari, e exige que também lhe entregue. Como era precioso para o anão, este roga uma maldição: o possuidor do anel morrerá ou será condenado a não usufruir da riqueza (STURLUSON, 2006).

Apesar da maldição, Loki retorna para libertar os demais deuses. Entrega todo ouro como paga pela morte de Otr, cobrindo todo o corpo do anão com ouro. Todavia, no fim apenas a ponta do focinho fica descoberta, e Hreidmar exige o anel maldito para cobrir. Loki, como astúcia para se livrar da maldição, entrega o anel, e os deuses são libertados. Após a saída dos deuses, fascinado pelo anel, Fafnir mata o pai e expulsa o irmão Regin. Após a conquista do ouro, Fafnir se transforma num monstruoso dragão, completamente dominado pela maldição do anel.

Aqui o dragão simboliza a maldade dos mortais, seu abraço despudorado no mal, condenando sua alma e sua própria condição finita, ainda que Fafnir seja um anão, sua ganância o desfigura completamente, e, embora lhe conceda poder, o bestializa. Inicialmente um símbolo de fertilidade e poder ao associar o chifre e a água, o dragão se estabelece como o orgulho opressor dos mortais ambiciosos, associado à entrega à natureza indomável e monstruosa (STURLUSON, 2006; LANGER, 2009b).

O terceiro poema, Signy, inicia a Saga dos Volsungos, que prolonga nos demais poemas. Este terceiro conta a história de Rerir, filho de Odin, que gerou Volsung, que recebeu uma valquíria por esposa. Depois Volsung e a esposa tiveram Sigmund e Signy, gêmeos, e geraram mais nove filhos. Signy foi dada como esposa a Siggeir, rei de Gautland, como arranjo político para fortalecer Volsung, porém Siggeir trai a todos, matando Volsung e todos os irmãos, com exceção de Sigmund.

Após isso, uma relação incestuosa mantém viva a linhagem dos volsungos, gerando Sinfjotli, filho de Sigmund com Signy. Enviado para junto do pai sem o saber, Sinfjotli se julga filho de Siggeir, mas aprende com Sigmund a arte da espada e da bravura, inclusive se transformando em lobisomem assim como Sigmund. Somente com a morte de Siggeir e de seus filhos com Signy, pela mão de Sigmund e Sinfjotli, que a verdade é revelada, sendo pai e filho reconhecidos mutuamente. Após essa revelação, com a destruição em chamas do castelo e do reino dos Gauts, Sygni decide morrer junto com o reino de seu outrora marido.

O quarto poema, Daudi Sinjotla (A morte de Sinfjotli), é mais curto, trata justamente da morte de Sinfjotli. Quando Sigmund retorna para sua terra, destrói os reis que haviam dividido o reino de Volsung e, com o auxílio de seu filho, reconstrói a linhagem de Odin. Após essa reconquista, casa com sua rainha, que tem raiva de Sinfjotli, pois fora ele que matara seu pai, um antigo rei. Num banquete, ao envenenar o filho de seu marido, elimina a concorrência de seus filhos como herdeiros reais de Sigmund (SEGANFREDO, 2007).

Assim como já acontece no terceiro poema, Odin interfere na trama, deixando claro que os bravos guerreiros de sua linhagem recebem um lugar no Valholl, ou Valhalla, o palácio dos guerreiros mortos, escoltados pelas valquírias. Nesse palácio se espera pelo Ragnarok, onde os melhores guerreiros terão a honra de lutar ao lado dos deuses.

No quinto poema, Fceddr Sigurdr (Nasce Sigurd), é relatado o casamento de Sigmund com Sirgrlinn, a mais cobiçada donzela. Após o casamento e a gravidez de Sirgrlinn, vários opositores do reinado de Sigmund realizam um ataque conjunto, e o reino é devastado. Novamente Odin aparece em meio à grande batalha e derruba Sigmund e a espada Grimmir. A lembrança da coleta dos melhores guerreiros para o Ragnarok justifica a ação de Odin, e dessa forma o tempo de Sigmund se finda em Midgard.

Sirgrlinn consegue fugir para a floresta. Depois da batalha, encontra Sigmund em ferimento mortal, que lhe entrega os fragmentos de sua espada, destinada a seu filho ainda no ventre, confiando na continuidade da linhagem dos Voslungos e de Odin. Após a morte de Sigmund, Sirgrlinn foge novamente para a floresta, onde, depois de trocar de lugar com a serva, é capturada por Alf, filho do rei da Dinamarca. Finalmente, é desposada pelo jovem rei, e concebe o filho de Sigmund, Sigurd, criado como rei na corte dinamarquesa.

No sexto poema, Regin, conta a vida de Sigrlinn e Sigurd na corte estrangeira. Sigurd nasce e é enviado para ser criado pelo anão Regin, irmão de Fafnir e filho de Hreidmar. Depois da morte do pai e da transformação do irmão em dragão, o anão Regin é acolhido nesta corte como sábio, ferreiro e forjador (SEGANFREDO, 2007).

Enquanto responsável pela criação de Sigurd, reconheceu na criança grande força e destino, e decidiu se vingar do irmão Fafnir. Após identificar a criança como descendente de Sigurd, e consequentemente da linhagem divina de Odin, Regin decide instigar o jovem, já homem feito, a buscar um reinado próprio e restabelecer a linhagem dos volsungos.

Sigurd é convencido pelo anão, que retoma os fragmentos de Grimmir, a espada de Sigmund, forjando Gram com o objetivo de destruir Fafnir. Após longa aventura, e tenso diálogo com o dragão, Sigurd finalmente o abate, somente para enfrentar as armadilhas do próprio Regin, que pretendia matar o jovem assim que o dragão fosse morto. Graças a um pedaço do coração do dragão que Sigurd devora, o volsungo consegue desvendar o plano de Regin, e também o mata, tornando-se senhor do tesouro e também da maldição do anel de Andvari (STURLUSON, 2006).

No sétimo poema, Brynhildr, conta-se como a valquíria Brynhildr foi sentenciada por Odin a casar-se e não mais combater ou buscar os mortos. Encerrada numa montanha

longínqua, cercada de um fogo eterno, adormecida, a valquíria somente seria desperta pelo maior guerreiro da terra, aquele escolhido que poderia atravessar os perigos de sua prisão e despertá-la com um beijo.

Segundo Langer (2009b), as valquírias são associadas ao símbolo de poder e fecundidade da aristocracia guerreira dos vikings. Sendo belas, são portadoras de armas mortais, ao mesmo tempo em que sendo filhas de Odin, o deus supremo, são proibidas de casar a não ser quando há desrespeito pelas ordens do deus, que as pune condenando-as a serem submetidas aos homens, relegando-as à tarefa matrimonial e de procriação.

As valquírias eram consideradas as filhas prediletas de Odin, matadoras de homens, feiticeiras sedutoras, guerreiras imbatíveis. Montadas em seus corcéis alados, iam buscar os guerreiros mais valorosos mortos em batalha para se juntarem ao banquete no palácio de Odin, onde esperariam até o combate final no Ragnarok, quando teriam a honra de lutar ao lado dos deuses até o fim dos tempos (LANGER, 2009b).

Após a morte do dragão e do anão, Sigurd parte em direção ao seu reino, e percebe na montanha os clarões da prisão de Brynhildr. Ao conseguir atravessar todos os perigos, encontra a valquíria ainda em trajes de guerra, com armas e armadura, ainda adormecida. Depois de Sigurd a despir, a jovem desperta e imediatamente conta sua sina e proclama ao jovem seu destino. Sigurd, encantado com a beleza de Brynhildr, aceita a união, e parte para estabelecer seu reino, organizar sua fortuna e assim vir buscar sua fascinante rainha valquíria (SEGANFREDO, 2007).

O oitavo poema, Gudrún, narra como a filha do rei dos gjúkings, Gudrún, tem um sonho que a perturba e vai até a sua mãe, a rainha Grímhild, que o interpreta como o anúncio da chegada de um bravo guerreiro que desposaria sua filha e seria o novo rei da terra do rei Gjúki, que além de Gudrún, tinha três filhos, Gunnar, Högni e Gotthorm.

Logo após deixar Brynhildr, Sigurd chega em terra dos gjúkings, ou dos niflungs, ou dos burgúndios, que posteriormente seriam os nibelungos, na versão germânica. Ao anunciar sua chegada, pede hospedagem, porque pretende recuperar as terras de Sigmund, seu pai, e tornar-se rei novamente. Ao ser bem acolhido, Sigurd reconhece o valor da casa dos niflungs e de seu ferrenho combate contra os hunos.

Após tocar harpa, Sigurd conta sua saga contra o dragão Fafnir e a libertação de sua valquíria. Ao beber e comer com os seus anfitriões, Sigurd bebe uma taça de hidromel com feitiço criado por Grímhild, que era feiticeira, que fora preparado como uma poção para que

Sigurd esquecesse qualquer outra mulher que não a que estivesse em sua frente. E justamente quem lhe serviu essa taça foi Gudrún.

Apaixonando-se por Gudrún e esquecendo Brynhildr, Sigurd assume as batalhas dos gjúkings contra os hunos. Lutando ao lado da casa real, torna-se seu maior combatente. As vitórias vão garantindo terras, ouro e prestígio, até mesmo a reconquista de terras que outrora pertenciam a Sigmund, seu pai.

O nono poema, Svikin Brynhildr (Brunhildr traída), narra a espera de Brynhildr por Sigurd, transformando-se numa senhora temível, com lendas se espalhando sobre seu tesouro, sua beleza e seu poder terrível. Odin reaparece, confirmando à sua valquíria que somente o escolhido mais bravo de todos os homens poderá desposá-la e atravessar o muro de chamas que envolvem seu palácio. Os poderes divinatórios e de aprisionamento, simbolizando tabus e eleições, são características presentes em Odin, que desafia o destino e forja suas próprias criações conforme seu desejo (LANGER, 2009a).

Ao mesmo tempo, Sigurd se prepara para seu casamento com Gudrún, no reino de Gjúki. Os festejos são grandes e somente a rainha Grímhild se preocupa com as consequências, pois almeja que seu filho Gunnar despose a famosa senhora valquíria a espera do mais valoroso guerreiro.

Assim, confabula com os filhos e pede para que levem Sigurd até a Brynhildr, pois é capaz de preparar um feitiço que transforme a aparência de Sigurd em Gunnar, fazendo com que a senhora saia de sua morada, e então Gunnar assuma o casamento com essa poderosa dama, ampliando ainda mais os domínios dos niflungs.

Então convencem Sigurd, ainda sob o feitiço de esquecimento de Grímhild, a acompanhá-los até a morada de Brynhildr. Ao chegarem, nem Gunnar nem os irmãos conseguem atravessar as chamas, restando utilizar o feitiço em Sigurd, que consegue chegar até Brynhildr. Atordoada, esperando a chegada de Sigurd, vê a figura de Gunnar, e presume que seu antigo prometido estava morto, sendo Gunnar então o mais bravo entre os guerreiros.

Após uma noite em que dormem juntos, mas sem consumar a união, Sigurd sob a aparência de Gunnar, troca o anel que Brynhildr usava pelo anel de ouro amaldiçoado por Andvaro, selando irrevogavelmente a tragédia. Brynhildr, ao despertar, aceita o anel assim como sair de sua prisão e casar-se com o filho de Gjúki (SEGANFREDO, 2007).

O décimo, mais longo e último poema, Deild (Contenda), narra os desdobramentos trágicos da Saga dos Volsungos, quando finalmente toda tragédia é revelada. Ao chegarem ao castelo dos niflungs, Brynhildr vê Sigurd em sua verdadeira aparência e o reconhece, sendo

tomada por uma emoção de contentamento e decepção. Orgulhosa, não comenta absolutamente nada com Sigurd, que já estava casado com Gudrún, e celebra seu casamento com o verdadeiro Gunnar, acreditando enfim que seu marido fora mais bravo que o próprio Sigurd, apesar de seus sentimentos pelo descendente dos volsungos ainda ser forte.

Certa vez, algum tempo depois do casamento, Gudrún e Brynhildr estão lavando seus cabelos no rio Reno, quando Brynhildr começa uma disputa invejosa com Gudrún sobre qual

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