3 A PESQUISA NA FORMAÇÃO DOCENTE NO CURSO DE PEDAGOGIA
3.1.2 A ligação da pesquisa com as linhas estabelecidas no Projeto
Uma vez definidos os orientadores para os trabalhos, foi importante verificar a
ligação das pesquisas com as linhas estabelecidas no projeto curricular do curso e
como elas direcionam o trabalho investigativo. É preciso, no entanto, discutir este
tópico na perspectiva de tentar perceber se as linhas dão conta das necessidades
suscitadas pelos estudantes ou mesmo se precisam ser revistas no sentido de
ampliar a possibilidade para outras linhas de pesquisa.
Barreirinha ao tratar sobre o assunto diz que ao iniciar sua pesquisa a mesma
não estava ligada a nenhuma das linhas.
A minha pesquisa variou um pouco de linha, no caso da pedagogia tinha
que ser voltado ao cognitivo, ao ensino aprendizagem, o meu direcionava
mais à questão da leitura, direcionava mais para área de Letras, tanto é que
foi aí minha maior dificuldade de orientador para minha pesquisa.
(BARREIRINHA).
É normal que, durante o processo de estudos, o estudante busque os mais
diversos assuntos para suas pesquisas, uma vez que a proposta curricular do curso
traz uma diversidade de disciplinas de todas as áreas de formação, e isso pode
motivar a busca pelos mais diferentes assuntos para pesquisas, caso contrário,
poderia ocasionar o que afirma Silva (2012, p. 67):
O professor restringe sua dimensão de pesquisador à procura de modelos
corretos que deve favorecer os alunos. Igualmente, para esse professor, a
pesquisa deve ser conduzida como aplicação de um roteiro que ele mesmo
elabora, no qual ele indica as obras, os autores e os tópicos a serem
copiados. O professor, em sua prática, não age e, realmente, não pesquisa,
ele consulta uma listagem dos conteúdos da disciplina.
Seringueira, ao ser questionada sobre a linha de pesquisa que orientou os
trabalhos, afirmou:
Na verdade, elas foram criadas independentes, mas depois foram
convergindo, até porque – como eu pertenço a uma das linhas, então tentei
adequar o tema delas para linha que eu trabalhava, que é... aquela... é...
não lembro [...], mas em nenhum momento houve preocupação se vai
encaixar nessa linha ou se não vai. (SERINGUEIRA).
Foi interessante perceber alguns momentos de silêncio em que se buscava
encontrar a resposta, mas em seguida, mesmo se não respondeu a linha específica,
explicou sobre o processo de construção do trabalho.
Nhamundá, ao falar sobre as linhas de pesquisa, fez minutos prolongados de
silêncio, enquanto tentava recuperar pela memória a qual estava vinculada a sua
pesquisa, mas respondeu dizendo: “Tinha uma sim, eu que não me lembro bem,
mas tinha uma que se encaixava porque meu tema era voltado para o processo da
alfabetização [...]”. Fica evidente que a linha estabelecida no projeto curricular não é
uma camisa de força, mas uma proposta para suscitar as diferentes temáticas da
pesquisa. No entanto, é interessante que os professores avaliem até que ponto
estas linhas que estão estabelecidas no projeto correspondem às suas
necessidades, uma vez que o Projeto Curricular do Curso de Pedagogia não fora
construído por nenhum dos professores que estão atuando no referido curso,
considerando que ao chegarem ao CESP/UEA para iniciarem seus trabalhos após
aprovação no concurso público o projeto curricular já estava em vigor.
Urucará também não conseguiu lembrar com precisão a linha de pesquisa de
seu trabalho, mas justificou a escolha: “Ela estava ligada a uma linha de pesquisa
sobre a qual eu conversei com a professora, não lembro aqui no momento, ela
estava ligada à educação especial [...]”.
A resposta que mais nos chamou a atenção foi a da egressa Boa Vista do
Ramos. Ela não hesitou em responder: “Foi na educação mesmo”. Esta resposta é
sinal que as linhas não são o ponto chave para definir as pesquisas, pois da mesma
forma foi a resposta de Parintins que embora tenha buscado em sua memória, após
alguns instantes respondeu de forma sucinta: “Não lembro”.
Maués foi firme em sua resposta. Mesmo se teve dúvidas para expor a linha
de sua pesquisa, ela trouxe muitas informações importantes para o nosso trabalho.
A princípio, nós tivemos que seguir a linha de pesquisa, até mesmo para
nós termos em mente quem seriam os supostos orientadores, [...] nós
tentamos acompanhar a linha de pesquisa, mas eu penso que em
determinado momento foi fugindo, e a gente não levou até o final [...]
(MAUÉS).
Esta resposta reforça o entendimento que a linha serve de base para definir
os possíveis orientadores, mas não necessariamente direcionam os trabalhos,
tampouco assegura o orientador pretendido pelo estudante. Diante das respostas,
percebe-se que as linhas de pesquisa parecem não terem sido o primordial para
escolha do tema, mas o que mais nos chamou a atenção durante as entrevistas foi a
dificuldade dos pesquisadores em lembrar das linhas dos referidos trabalhos.
O orientador Açaizeiro buscou pela memória, mas não lembrou, no entanto
explicou: “elas estão relacionadas a uma das linhas de pesquisa do PPC, só
confesso no momento não sei definir qual, mas elas estão atreladas a uma das
linhas”. Diante da resposta, pode-se dizer que não houve clareza quanto às linhas
de pesquisa, porém isso não foi um fator para que a pesquisa deixasse de
acontecer.
Guaranazeiro, ao se referir sobre o assunto, disse: “[...] ela está relacionada
com a educação de crianças, então nesse sentido a gente entende que este tema
está relacionado sim com a linha de pesquisa do curso”. Embora não tenha sido
mencionada a linha, a professora justificou.
Nas entrevistas, nem os estudantes e nem os professores orientadores
souberam responder com precisão as linhas que motivaram as pesquisas
realizadas, porém isso não indica que a pesquisa deixara de acontecer. No caso
específico do curso de Pedagogia do CESP/UEA, é possível perceber uma falta de
esclarecimento quanto às linhas de pesquisa, visto que elas não se fecham em si,
ou no processo ensino aprendizagem, podendo o estudante buscar em diversas
áreas do conhecimento a temática para investigação que não esteja contemplada na
proposta do curso.
Neste sentido, verificamos que as cinco linhas de pesquisas estabelecidas no
projeto do curso nem sempre são o ponto de partida para o desenvolvimento do
trabalho devido a vários fatores, como por exemplo, a preocupação de encontrar o
objeto da pesquisa e definir a temática do trabalho, por isso, durante o processo da
investigação, tenta-se encaixar as investigações nas linhas propostas pelo curso.
invenção, descobre as possibilidades, inventa novos desafios. E nessa pedagogia
da invenção o professor pesquisador também se estabelece como sujeito ativo, e
encontra a plenitude de sua docência. Desta forma, compreendemos que as linhas
de pesquisa não comprometeram o desenvolvimento do trabalho porque os
pesquisadores, professores e estudantes se colocaram na perspectiva de enfrentar
juntos os desafios.
No documento
Manaus 2015
(páginas 71-74)